Aires de Libertad

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    Luís Vaz de Camões (c.1524-1580)

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    Luís Vaz de Camões (c.1524-1580) - Página 8 Empty Re: Luís Vaz de Camões (c.1524-1580)

    Mensaje por Maria Lua 18.09.20 7:39

    ELEGIA DE SEXTA-FEIRA DE ENDOENÇAS



    Divino, almo Pastor, Délio dourado,
    a quem de Anfriso já viram os prados
    guardar fermoso, rico e branco gado;

    aos quais adormentavas, enlevados
    no doce som da lira, e alternando
    com versos e cantares namorados,

    e às Ninfas e pastoras ensinando
    o caminho de Cipro e dos amores,
    as onças, feras e aves enlevando!

    Ó fermosura e honra dos pastores,
    que de um a outro pólo do horizonte
    a natureza pintas de mil cores!

    Ó pai das nove Irmãs, Senhor da fonte
    a quem as ondas cedem de Leteu,
    posta no mais excelso e sacro monte!

    Por que causa, me dize, almo Timbreu,
    o céu resplandecente hoje cobriste
    de tão mal-assombrado e negro véu?

    Se lembranças te fazem, Febo, triste,
    de Dafne, para ti tão fera e crua,
    a quem com tal vontade já seguiste;

    também te lembrará como por tua
    causa foi transformada em vez de rama,
    por não se ver da roupa casta nua;

    por onde aquela dor e aquela chama,
    no insensato corpo difundida,
    nenhum vigor nem força já, derrama.

    Pois tu, da praia Hespéria esclarecida
    adonde Thétis, Xanto e Galateia
    a teus cavalos vem tirar a brida;

    e a fermosa Clio e Panopeia,
    com Dóris, sobre as ondas levantadas,
    te vem receber com boa estreia;

    e ainda estas aquém duas jornadas,
    e no outro hemisfério a noute escura
    tem as nocturnas sombras encerradas.

    Se acaso a caída e má ventura
    de Faeton te lembra, cuja morte
    te deu sempre jamais tanta tristura,

    o não teres tu culpa te conforte,
    que o moço, de soberbo, não podia
    cair em menos miserável sorte.

    Mas vós, castas irmãs, que noute e dia
    cantais com versos élegos o choro,
    com o cândido Cisne em companhia;

    unidas todas, a vicenda, em coro,
    um padre consolai tão descontente,
    em módulo cantar doce e canoro.

    Se a dor que manifesta e mostra a gente
    desta causa procede, mais parece
    que outra pena maior é a que sente.

    Pois a prenhada terra brota e crece,
    de mil flores enchendo os verdes prados,
    e tarda bem o tempo que anoutece.

    Eolo, nas montanhas, encerrados
    os cruéis ventos tem mais furiosos,
    de mil prisões de ferro carregados.

    Só Zéfiro Favónio, de amorosos
    'spíritos cheio, brandamente aspira
    por estes vales verdes e fermosos.

    Naís fermosa por Amor suspira
    e Flora, em companhia da Alvorada,
    que, agora, o seu veneno tem mais ira,

    pois tu, no Touro, fazes a morada
    deixando Aquário e Píscis – , de mau brio,
    com Vénus entre os cornos assentada,

    o qual meteu Europa no mar frio.
    Assi que, bem olhado e bem sentido,
    triunfas do inverno e seco estio.

    Se mortal rogo foi jamais ouvido,
    Délio imortal, de ti; se nalgüa hora
    à piadade foste comovido;

    dize-me por que causa o mundo chora,
    mostrando tais sinais e tal tristura,
    escondendo a rosada e fresca Aurora

    que, segundo os segredos de Natura
    nos mostram claramente os elementos,
    o mundo não será de muita dura.

    Vejo o furor do mar e bravos ventos;
    das estrelas e signos e planetas
    de seus lugares fora e firmamentos;

    vejo coriscos, raios e cometas,
    relâmpagos, trovões mui acendidos
    sair por diferentes e altas metas;

    e nos mais altos montes e subidos
    de Pélio, Emo, Ossa, Pindo, Atlante,
    os robustos carvalhos destruídos.

    Quer porventura algum novo gigante
    subir por estes ao firmamento
    e derrubar a Júpiter possante?

    O qual, movido de soberbo intento,
    qual os de Flegra que de já passados,
    em pago de tamanho atrevimento?

    Os eixos dos dous orbes, ordenados
    a sustentar a máquina mundana,
    parecem já desfeitos e quebrados.

    Ó mente baixa de matéria humana,
    cega no bem e vista na maldade,
    que tão soberba vás e tão ufana

    que vás buscando a fonte da verdade,
    e cega-te a mentira de maneira
    que não vês palmo já de claridade!

    Põe os olhos da fé pura e sincera
    nas altas cimas do Calvário monte,
    por donde irás à glória verdadeira:

    verá a cristalina e clara fonte
    da vida pura posta em um madeiro,
    por te livrar da barca de Aqueronte.

    Ó verdadeira Luz, manso Cordeiro,
    Jesus benigno, manso e piadoso,
    Filho do Padre eterno e verdadeiro!

    Que causa te moveu, Rei poderoso,
    tão escondida lá na mente eterna,
    a padeceres fim tão desonroso,

    e deixares a mais alta e mais superna.
    cadeira e vida pela mais escura
    de quantas a mortal fama governa?

    Se te moveu, Senhor, esta feitura,
    e. morte condenada eternalmente
    por a lei quebrantada de Natura,

    lembra-te quão malvada e má semente
    é esta a quem te dás crucificado,
    que sempre te tem pago ingratamente.

    Ó mundo ingrato, cego, descuidado,
    cheio de falsidades enganosas,
    em pecados e vícios ocupado,

    que não derramas lágrimas chorosas
    em tanta quantidade que pareça
    mostrar sequer entranhas amorosas!

    Tu, mar, que não levantas a cabeça
    por tomar a cobrir o que cobriste,
    para que tudo acabe e que pereça!

    Vós, ventos, a quem nada não resiste,
    que não transtornais tudo em desconcerto!
    Tu, dura terra, porque não te abriste!

    Vós, plantas, feras e aves do deserto,
    que não chorais, pois chora a Natureza,
    vendo-se posta em tamanho aperto!

    Vós, altos Céus, de lá da mor alteza,
    bem sei quanto sentis a Divindade
    em tal miséria posta e tal baixeza,

    pois vedes o Senhor da Majestade,
    que vos criou de nada, submetido,
    por amor puro, aos pés da humildade.

    Senhor! que amor foi este tão crecido
    que tão dobradas forças faz singelas,
    só tão alto, baixo e abatido?

    Ó preciosas chagas roxas, belas
    luminárias da noute tenebrosa,
    de toda luz privada das estrelas!

    Ó Cruz bendita, cara, preciosa!
    Contempla bem o passo que te deram,
    ó coroa de espinhos amargosa!

    Vós, santos cravos, quando vos meteram
    à força de martelo, logo à hora,
    os serpentes e dragos se esconderam.

    O coração, a alma que não chora,
    vendo-te, Redentor, com tantas dores,
    em pedra viva de diamante mora.

    Que não contemplais isto, pecadores,
    e derramais mil lágrimas no dia,
    vendo o Senhor tão triste dos senhores?

    Tu, Virgem pura, Santa Avé Maria.,
    cheia de Graça, Esposa, Filha e Madre,
    mais fermosa que o sol ao meio-dia,

    que vás buscando ao Esposo, Filho e Padre,
    qual cordeira perdida da manada,
    sem guarda de pastora nem cão que ladre;

    vai, Rainha dos Anjos mui amada,
    e preciosa pedra diamantina,
    de perfeições e graças esmaltada;

    vai, estrela do mar; vai, luz divina,
    escolhida do Céu, vai, cordeirinha,
    branca açucena e rosa matutina;

    vai caminho da glória, vai, pombinha
    branca sem fel; bendita entre as mulheres;
    vai, mãe da lei da Graça, vai asinha

    ao monte Calvário, se ver queres
    ao teu precioso Filho antes de morto.
    Desconsolada vai, vai, não esperes;

    a o qual acharás bem sem conforto,
    posto na Cruz, por partes mil chagado,
    por nos dar sossegado e manso porto.

    Escarnecido, só, desemparado
    e antre dous malfeitores condenados,
    de fariseus e armas rodeado.

    Ó duros corações desatinados,
    cegos, malditos, torpes, de má casta,
    lobos no sangue justo encarniçados!

    Dizei: que tigre hircana, ou que cerasta,
    que aspe, basilisco, ou que dipsarta,
    das quais a quente Líbia é cheia e basta;

    que Trácia, Grécia, Colcos, Cítia, Esparta,
    ou que bárbara gente, crua e fera,
    de trágicos insultos nunca farta,

    humana não deixara e não perdera
    a crueldade toda, se te vira,
    Jesus benigno, posto na Cruz vera?

    Mas vós, cruéis, perversos, cheios de ira,
    com grita e escárnio, risos tudo misto,
    estais asidos todos na mentira,

    dizendo em alta voz: «Se tu és Cristo,
    dece-te dessa Cruz em que estais posto!»,
    não bastando os milagres que haveis visto.

    e tu, Senhor, metido em tal desgosto,
    estás sofrendo penas tão estranhas
    com humilde, sereno e manso rosto.

    Ó algozes ingratos, de más manhas,
    de troncos e penedos produzidos
    nas mais altas e ásperas montanhas;

    que não vos humilhais, dizei, perdidos,
    e não pedis perdão do que vos toca,
    que, segundo é meu Deus, sereis ouvidos?

    Pois ele, com humilde rogo, invoca
    ao Padre por vós, benignamente,
    deitando o fel e sangue pela boca,

    dizendo: «Padre meu omnipotente,
    pedir-te quero, antes que me acabem,
    que tudo isto perdoeis a esta gente,

    pois o que fazem, certo, não no sabem!»
    Ó palavras altíssimas, celestes,
    nas quais secretos e mistérios cabem!

    Mas vós, malditos, como não soubestes
    senão idolatrar como gentios,
    nenhüa cousa destas conhecestes,

    que sempre caminhastes por desvios,
    deixando a Lei de Deus sagrada e pura,
    desterrados por montes, selvas, rios.

    Quem cuidará, Senhor, na tua brandura,
    misericórdia grande e piadade
    que excede ser e ordem de Natura,

    por mais duro que seja na maldade,
    que não derrame sempre noite e dia
    lágrimas, qual um rio, em quantidade?

    Leitor que lendo vás esta elegia,
    Quero-te perguntar, de amor vencido,
    se contemplando lá na fantasia

    algüa vez, acaso, no sentido,
    vendo raiar o sol na mor altura,
    de rubicundos raios acendido;

    e, despois que se põe, a fermosura
    de diversas estrelas espalhadas,
    quando Hécate cobre a terra dura;

    e as ondas do mar bravo salgadas,
    tão sujeitas num ser sem se espalharem,
    nem de rios ou chuva acrecentadas,

    os quais, cursando sempre sem faltarem,
    digo de muitos que há aí que são famosos,
    que correm sempre, sem jamais pararem;

    se ver os campos verdes deleitosos,
    qual fermoso pavão, feras e aves
    nos apartados bosques mais sombrosos;

    as quais, com cantos doces e suaves,
    saúdam a manhã, mui prazenteiras,
    com passos ora agudos, ora graves;

    se ao ver os ritos, vidas e maneiras
    tão diversos que há aí por nosso dano
    nas apartadas gentes estrangeiras;

    se ver tanta mudança num só ano,
    escuro, claro, chuva, frio e calma,
    e tudo para prol do bem humano,

    contemplaste lá dentro na tua alma,
    porventura, algum dia separado
    da pesada, mortal, terrestre salma,

    em tantas criaturas que há criado
    o criador do mundo, Padre Eterno,
    no alto Céu com os olhos enlevado;

    e neste pensamento tão superno,
    com tão ligeiras asas desprezando
    a trabalhosa vida deste inferno?

    Pois olha, pecador, que vás nadando
    nas procelosas ondas deste mundo,
    nos mistérios divinos contemplando,

    e verás o mais alto, sem segundo,
    posto na vera Cruz, no Monte santo,
    por te livrar do lago mui profundo;

    não aquele que lá te punha espanto,
    fabricado na mente que sempre erra,
    coberta de mortal e cego manto,

    mas o próprio que fez o céu e a terra,
    e santas maravilhas que cá vemos,
    afora as outras que consigo encerra.

    Dizei, dizei, mortais, que lhe daremos,
    por mais que o amemos ou sirvamos,
    que a mais pequena parte lhe paguemos?

    este domingo atrás nos alegrámos,
    Senhor, com festas, danças e alegrias,
    dando-te capas e olorosos ramos;

    e agora, por cumprir as profecias
    pelos profetas santos declaradas,
    te vemos morto dentro em cinco dias,

    com as carnes feridas e chagadas,
    de mil açoutes cheio, arrepelado
    de couces, empurrões e bofetadas.

    Estás, Jesus benigno, qual no prado
    o lírio branco fica decomposto,
    do homicida ferro derribado;

    ou qual o sol se mostra antes de posto,
    de cores tristes, ou qual branca rosa
    de frio trespassada ou mês de Agosto;

    ou qual cisne na ribeira umbrosa,
    que, pressago do fim, brando enternece
    a circunstante selva em voz melosa.

    Senhor, com cuidar isto se entristece
    a minha alma de modo, e meu sentido,
    que de seu próprio alento desfalece.

    Contemplo-te, meu Deus, na cruz subido,
    e vejo-te com os olhos verdadeiros
    cercado de mil anjos e servido;

    os quais, voando leves e ligeiros,
    qual enxame de abelhas, pressurosos
    trabalham por curar os teus marteiros:

    uns cobrem com unguentos olorosos,
    e outros com vasos de poção divina,
    os teus sagrados membros preciosos;

    outro com água pura e cristalina
    está lavando as chagas, e outros prestes
    acodem com toalha rica e fina;

    outros parecem entre todos estes
    com cálices do novo testamento,
    tomando as gotas de licor celestes;

    outros, batendo as asas sempre ao vento,
    parece que trabalham quanto podem
    por te tomar a dar vital alento;

    outros de novo pelo ar acodem;
    e outros, feitos bizarros soldados,
    com espadas na mão, postos em ordem,

    querem ir cometer, mui denodados,
    aquela gente torpe, endiabrada!
    Mas tu, Senhor, os tens só refreados,

    vendo quão pouco ganham na jornada,
    porque, se tu quiseras, de um aceno
    só, Pedro os destruíra sem espada.

    Recebe, Pão de vida, este pequeno
    sacrifício de mim, à sombra escrito
    dum alto freixo deste vale ameno,

    e dá-me tanta graça e tanto esprito,
    para que sempre louve, qual espero,
    o teu saber profundo e infinito.

    Tomara ser Virgílio ou ser Homero,
    somente no saber, que foi divino,
    – que ser quem eles foram não no quero –,

    para poder cantar, ó Rei benino,
    em puro choro as chagas que te vejo,
    a dor das quais provoca a desatino.

    Mas, já que ver não posso este desejo,
    o qual tomara só para louvar-te,
    meu Deus, de dar-te pouco não me pejo;
    porque eu, para dar mais, sou pouca parte.


    SONETO DO PRÓPRIO A QUEM SE DIRIGIU:

    A ti, Senhor, a quem as sacras Musas
    nutrem e cibam de poção divina,
    não as da fonte Délia cabalina,
    que são Medeias, Circes e Medusas,

    mas aquelas em cujo peito, infusas,
    as leis estão, que as leis da Graça ensina,
    beninas no amor e na doutrina
    e não soberbas, cegas e confusas;

    este pequeno parto, produzido
    de meu saber e fraco entendimento,
    üa vontade grande te oferece.

    Se for de ti notado de atrevido,
    daqui peço perdão do atrevimento,
    o qual esta vontade te merece.


    _________________



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    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





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    Mensaje por Maria Lua 18.09.20 7:40

    Canção I



    Fermosa e gentil Dama, quando vejo
    a testa de ouro e neve, o lindo aspeito,
    a boca graciosa, o riso honesto,
    o marmóreo colo e branco peito,
    de meu não quero mais que meu desejo,
    nem mais de vos que ver tão lindo gesto.
    Ali me manifesto
    por vosso a Deus e ao mundo; ali me inflamo
    nas lágrimas que choro;
    e de mim, que vos amo,
    em ver que soube amar-vos, me namoro;
    e fico por mim só perdido, de arte
    que hei ciúmes de mim por vossa parte.

    Se porventura vivo descontente
    por fraqueza de esprito, padecendo
    a doce pena que entender não sei,
    fujo de mim e acolho-me, correndo,
    à vossa vista; e fico tão contente
    que zombo dos tormentos que passei.
    De quem me queixarei
    se vós me dais a vida deste jeito
    nos males que padeço,
    senão de meu sujeito,
    que não cabe com bem de tanto preço?
    Mas ainda isso de mim cuidar não posso,
    de estar muito soberbo com ser vosso.

    Se, por algum acerto, Amor vos erra,
    por parte do desejo cometendo
    algum nefando e torpe desatino;
    se ainda mais que ver, enfim, pretendo;
    fraquezas são do corpo, que é de terra,
    mas não do pensamento, que é divino.
    Se tão alto imagino
    que de vista me perco – peco nisto –,

    desculpa-me o que vejo;
    que se, enfim, resisto
    contra tão atrevido e vão desejo,
    faço-me forte em vossa vista pura,
    e armo-me de vossa fermosura.

    Das delicadas sobrancelhas pretas
    os arcos, com que fere, Amor tomou,
    e fez a linda corda dos cabelos;
    e, porque de vós tudo lhe quadrou,
    dos raios desses olhos fez as setas
    com que fere quem alça os seus, a vê-los.
    Olhos, que são tão belos,
    dão armas de vantagem ao Amor,
    com que as almas destrui;
    porém, se é grande a dor,
    co a alteza do mal a restitui;
    e as armas com que mata são de sorte
    que ainda lhe ficais devendo a morte.

    Lágrimas e suspiros, pensamentos,
    quem deles se queixar, fermosa Dama,
    mimoso está do mal que por vós sente.
    Que maior bem deseja quem vos ama
    que estar desabafando seus tormentos,
    chorando, imaginando docemente?
    Quem vive descontente
    não há-de dar alívio a seu desgosto,
    por que se lhe agradeça;
    mas com alegre rosto
    sofra seus males, para que os mereça;
    que quem do mal se queixa, que padece,
    fá-lo porque esta glória não conhece.

    De modo que, se cai o pensamento
    em algüa fraqueza, de contente
    é porque este segredo não conheço:
    assi que com razões, não tão-somente
    desculpo ao Amor de meu tormento,
    mas ainda a culpa sua lhe agradeço.
    Por esta fé mereço
    a graça, que esses olhos acompanha,
    o bem do doce riso;
    mas porém não se ganha
    cum paraíso outro paraíso.
    E assi, de enleada, a esperança
    se satisfaz co bem que não alcança.

    Se com razões escuso meu remédio,
    sabe, Canção, que, porque não vejo,
    engano com palavras o desejo.


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua 01.10.20 13:25


    Canção II



    Se este meu pensamento,
    como é, doce e suave,
    de alma pudesse vir gritando fora,
    mostrando seu tormento
    cruel, áspero e grave,
    diante de vós só, minha Senhora,
    pudera ser que agora
    o vosso peito duro
    tornara manso e brando.
    E eu que sempre ando
    pássaro solitário, humilde, escuro,
    tornado um cisne puro,
    brando e sonoro pelo ar voando,
    com canto manifesto,
    pintara meu tormento e vosso gesto.

    Pintara os olhos belos
    que trazem nas mininas
    o Minino que os seus neles cegou;
    e os dourados cabelos
    em tranças de ouro finas
    a quem o Sol seus raios abaixou;
    a testa que ordenou
    Natura tão fermosa;
    o bem proporcionado
    nariz, lindo, afilado,
    que a cada parte tem a fresca rosa;
    a boca graciosa
    – que querê-la louvar é escusado –,
    enfim, é um tesouro:
    os dentes, perlas; as palavras, ouro.

    Vira-se claramente,
    ó Dama delicada,
    que em vós se esmerou a Natureza;
    e eu, de gente em gente,
    trouxera trasladada
    em meu tormento vossa gentileza.
    Somente a aspereza
    de vossa condição,
    Senhora, não dissera,
    por que se não soubera
    que em vós podia haver algum senão.
    E se alguém, com razão,
    «Porque morres?» dissera, respondera:
    «Mouro porque é tão bela
    que inda não sou pera morrer por ela».

    E se porventura,
    Dama, vos ofendesse,
    escrevendo de vós o que não sento,
    e vossa fermosura
    tão baixo não descesse
    que a alcançasse um baixo entendimento,
    seria o fundamento
    daquilo que cantasse
    todo de puro amor,
    por que vosso louvor
    em figura de mágoas se mostrasse.
    E onde se julgasse
    a causa pelo efeito, minha dor
    diria ali sem medo:
    «quem me sentir verá de quem procedo».

    Então amostraria
    os olhos saudosos,
    o suspirar que a alma traz consigo,
    a fingida alegria,
    os passos vagarosos,
    o falar, o esquecer-me do que digo;
    um pelejar comigo,
    e logo desculpar-me;
    um recear, ousando;
    andar meu bem buscando,
    e de poder achá-lo acovardar-me;
    enfim, averiguar-me
    que o fim de tudo quanto estou falando
    são lágrimas e amores;
    são vossas isenções e minhas dores.

    Mas quem terá, Senhora,
    palavras com que iguale
    com vossa fermosura minha pena;
    que em doce voz de fora
    aquela glória fale
    que dentro na minh' alma Amor ordena?
    Não pode tão pequena
    força de engenho humano
    com carga tão pesada,
    se não for ajudada
    dum piadoso olhar, dum doce engano
    que, fazendo-me o dano
    tão deleitoso e a dor tão moderada,
    que enfim se convertesse
    nos gostos dos louvores que escrevesse.

    Canção, não digas mais; e se teus versos
    à pena vêm pequenos,
    não queiram de ti mais, que dirás menos.


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    Mensaje por Maria Lua 08.10.20 6:17

    Canção III



    Tomei a triste pena
    já de desesperado
    de vos lembrar as muitas que padeço,
    com ver que me condena
    a ficar eu culpado
    o mal que me tratais e o que mereço.
    Confesso que conheço
    que, em parte, eu causei
    o mal em que me vejo,
    pois sempre meu desejo
    tão comprido, em vós cumprir deixei;
    mas não tive suspeita
    que seguísseis tenção tão imperfeita.

    Se em vosso esquecimento
    tão envolto estou
    como os sinais demonstram, que mostrais;
    vivo neste tormento,
    lembranças mais não dou
    que a que de razão tomar queirais.
    Olhai que me tratais
    assi de dia em dia
    com vossas esquivanças;
    e as vossas esperanças,
    de que vamente eu me enriquecia,
    renovam a memória;
    pois com tê-la de vós só tenho glória.

    E se isto conhecêsseis
    que e verdade pura,
    como ouro de Arábia reluzente,
    inda que não quisésseis,
    a condição tão dura
    mudáreis noutra muito diferente.
    E eu, como inocente
    que estou neste caço,
    isto em mãos pusera
    de quem sentença dera
    – que ficasse o direito justo e raso –,
    se não arreceara
    que a vós por mim, e a mim por vós, matara.

    Em vós escrita vi
    vossa grande dureza,
    e n' alma escrita está que de vós vive.
    Não que acabasse ali
    sua grande firmeza
    o triste desengano que então tive;
    porque antes que a dor prive
    de todo meus sentidos,
    ao grande tormento
    acode o entendimento
    com dous fortes soldados, guarnecidos
    de rica pedraria,
    que ficam sendo minha luz e guia.

    Destes acompanhado,
    estou posto sem medo
    a tudo o que o fatal destino ordene;
    pode ser que, cansado,
    ou seja tarde ou cedo,
    com pena de penar-me, me despene.
    E quando me condene
    - que isto e o que espero -
    inda a maiores dores,
    perdidos os temores.
    por mais que venha, não direi: não quero.
    Contudo estou tão forte
    que nem me mudara a mesma morte.

    Canção, se já não queres
    ver tanta crueldade,
    lá vás onde verás minha verdade.


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    Mensaje por Maria Lua 09.10.20 13:22

    Canção IV



    A instabilidade da Fortuna,
    os enganos suaves de Amor cego,
    – suaves, se duraram longamente –,
    direi, por dar a vida algum sossego;
    que pois a grave pena me importuna,
    importune meu canto a toda a gente.
    E se o passado bem co mal presente
    me endurece a voz no peito frio,
    o grande desvario
    dará de minha pena sinal certo;
    que um erro, em tantos erros, e concerto.
    E pois nesta verdade me confio
    – se verdade se achar no mal que digo –,
    saiba o mundo de Amor o desconcerto,
    que já co a Razão se fez amigo,
    só por não deixar culpa sem castigo.

    Já Amor fez leis, sem ter comigo algüa;
    já se tornou, de cego, arrazoado,
    só por usar comigo sem-razões.
    E se em algüa cousa o tenho errado,
    com siso grande dor não vi nenhüa,
    nem ele deu sem erros afeições.
    Mas, por usar de suas isenções,
    buscou fingidas causas por matar-me;
    que, para derrubar-me
    no abismo infernal de meu tormento,
    não foi soberbo nunca o pensamento,
    nem pretende mais alto alevantar-me
    daquilo que ele quis; e se ele ordena
    que eu pague seu ousado atrevimento,
    saiba que o mesmo Amor, que me condena,
    me fez cair na culpa e mais na pena.

    Os olhos que eu adoro, aquele dia
    que desceram ao baixo pensamento,
    n' alma os aposentei suavemente;
    e pretendendo mais, como avarento,
    o coração lhe dei por iguaria,
    que a meu mandado tinha obediente.
    Porém como ante si lhe foi presente
    que entenderam o fim de meu desejo,
    ou por outro despejo,
    que a língua descobriu por desvario,
    de sede morto estou posto num rio,
    onde de meu serviço o fruto vejo;
    mas logo se alça, se a colhê-lo venho,
    e foge-me a água, se beber porfio.
    Assi que em fome e sede me mantenho:
    não tem Tântalo a pena que eu sustenho.

    Despois que aquela em quem minh' alma vive
    quis alcançar o baixo atrevimento,
    debaixo deste engano a alcancei:
    a nuvem do contino pensamento
    ma afigurou nos braços, e assi a tive,
    sonhando o que acordado desejei.
    Porque a meu desejo me gabei
    de alcançar um bem de tanto preço,
    além do que padeço,
    atado em üa roda estou penando,
    que em mil mudanças me anda rodeando,
    onde, se a algum bem subo, logo deço.
    E assi ganho e perco a confiança;
    e assi de mi fugindo, trás mi ando;
    e assi me tem atado üa vingança,
    como Ixião, tão firme na mudança.

    Quando a vista suave e inumana
    meu humano desejo, de atrevido,
    cometeu, sem saber o que fazia,
    que de sua beleza foi nacido,
    o cego Moço que, coa seta insana,
    o pecado vingou desta ousadia,
    e afora este mal que eu merecia,
    me deu outra maneira de tormento:
    que nunca o pensamento,
    que sempre voa düa a outra parte,
    destas entranhas tristes não se farte,
    imaginando sobre o famulento,
    quanto mais come, mais está crecendo,
    por que de atormentar-me não se aparte.
    Assi que para a pena estou vivendo,
    sou outro novo Tício, e não me entendo.

    De vontades alheias, que roubava,
    e que enganosamente recolhia
    em meu fingido peito, me mantinha.
    De maneira o engano lhe fingia
    que, depois que a meu mando as sojugava,
    com amor as matava, que eu não tinha.
    Porém, logo o castigo que convinha
    o vingativo Amor me fez sentir,
    fazendo-me subir
    ao monte da aspereza que em vós vejo,
    co pesado penedo do desejo,
    que do cume do bem me vai cair.
    Torno a subi-lo ao desejado assento;
    torna a cair-me; embalde, enfim, pelejo.
    Não te espantes, Sísifo, deste alento,
    que às costas o subi do sofrimento.

    Dest'arte o sumo bem se me oferece
    ao faminto desejo, por que sinta
    a perda de perdê-lo mais penosa.
    Como o avaro a quem o sonho pinta
    achar tesouro grande, onde enriquece
    e farta sua sede cobiçosa
    e, acordando, com fúria pressurosa
    vai cavar o lugar onde sonhava,
    mas tudo o que buscava
    lhe converte em carvão a desventura;
    ali sua cobiça mais se apura,
    por lhe faltar aquilo que esperava;
    dest'arte Amor me faz perder o siso.
    Porque aqueles, que estão na noite escura,
    nunca sentirão tanto o triste abiso,
    se ignorarem o bem do Paraíso.

    Canção, nô mais, que já não sei que digo;
    mas por que a dor me seja menos forte,
    diga o pregão a causa desta morte.


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    Mensaje por Maria Lua 10.10.20 4:17



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    Mensaje por Maria Lua 13.10.20 4:22

    Que me quereis, perpétuas saudades?

    Que me quereis, perpétuas saudades?
    Com que esperança inda me enganais?
    Que o tempo que se vai não torna mais,
    E se torna, não tornam as idades.

    Razão é já, ó anos, que vos vades,
    Porque estes tão ligeiros que passais,
    Nem todos pera um gosto são iguais,
    Nem sempre são conformes as vontades.

    Aquilo a que já quis é tão mudado,
    Que quase é outra cousa, porque os dias
    Têm o primeiro gosto já danado.

    Esperanças de novas alegrias
    Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
    Que do contentamento são espias.

    Luí s de Camões


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    Mensaje por Maria Lua 14.10.20 5:43

    No mundo quis o Tempo que se achasse

    No mundo quis o Tempo que se achasse
    O bem que por acerto ou sorte vinha;
    E, por exprimentar que dita tinha,
    Quis que a Fortuna em mim se exprimentasse.

    Mas por que meu destino me mostrasse
    Que nem ter esperanças me convinha,
    Nunca nesta tão longa vida minha
    Cousa me deixou ver que desejasse.

    Mudando andei costume, terra e estado,
    Por ver se se mudava a sorte dura;
    A vida pus nas mãos de um leve lenho.

    Mas, segundo o que o Céu me tem mostrado,
    Já sei que deste meu buscar ventura
    Achado tenho já que não a tenho.

    Luís de Camões


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    Mensaje por Maria Lua 19.10.20 4:15

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    Mensaje por Maria Lua 19.10.20 4:16

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    Mensaje por Maria Lua 23.10.20 8:10


    Canção V



    Já a roxa manhã clara
    do Oriente as portas vem abrindo,
    dos montes descobrindo
    a negra escuridão da luz avara.
    O Sol, que nunca pára,
    de sua alegre vista saudoso,
    trás ela, pressuroso,
    nos cavalos cansados do trabalho,
    que respiram nas ervas fresco orvalho,
    se estende, claro, alegre e luminoso.
    Os pássaros, voando
    de raminho em raminho, modulando
    com üa suave e doce melodia,
    o claro dia estão manifestando.

    A manhã bela e amena
    seu rosto descobrindo, a espessura
    se cobre de verdura
    branda, suave, angélica, serena.
    Ó deleitosa pena,
    ó efeito de Amor tão preeminente
    que permite e consente
    que, onde quer que me ache e onde esteja,
    o seráfico gesto sempre veja,
    por quem de viver triste sou contente!
    Mas tu, Aurora pura,
    de tanto bem dá graças à ventura,
    pois as foi pôr em ti tão diferentes,
    que representes tanta fermosura.

    A luz suave e leda
    a meus olhos me mostra por quem mouro,
    e os cabelos de ouro
    não igual' aos que vi, mas arremeda:
    esta é a luz que arreda
    a negra escuridão do sentimento
    ao doce pensamento;
    o orvalho das flores delicadas
    são nos meus olhos lágrimas cansadas,
    que eu choro co prazer de meu tormento;
    os pássaros que cantam
    os meus espritos são, que a voz levantam,
    manifestando o gesto peregrino
    com tão divino som que o mundo espantam.

    Assi como acontece
    a quem a cara vida esta perdendo,
    que, enquanto vai morrendo,
    algüa visão santa lhe aparece;
    a mim, em quem falece
    a vida, que sois vós, minha Senhora,
    a esta alma que em vós mora
    - enquanto da prisão se está apartando -
    vos estais juntamente apresentando
    em forma da fermosa e roxa Aurora.
    Ó ditosa partida!
    Ó glória soberana, alta e subida,
    se mo não impedir o meu desejo;
    porque o que vejo, enfim, me torna a vida!

    Porém a Natureza,
    que nesta vida pura se mantinha,
    me falta tão asinha,
    quão asinha o Sol falta à redondeza.
    Se houverdes que é fraqueza
    morrer em tão penoso e triste estado,
    Amor será culpado,
    ou vós, onde ele vive tão isento
    que causastes tão longo apartamento,
    por que perdesse a vida co cuidado.
    Que se viver não posso
    - um homem sou só, de carne e osso –,
    esta vida que perco, Amor ma deu;
    que não sou meu: se mouro, o dano é vosso.

    Canção de cisne, feita n'hora extrema:
    na dura pedra fria
    da memória te deixo, em companhia
    do letreiro de minha sepultura;
    que a sombra escura já me impede o dia.


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    Mensaje por Maria Lua 24.10.20 4:25


    Canção VI



    Vão as serenas águas
    do Mondego descendo
    mansamente que até o mar não param;
    por onde minhas mágoas,
    pouco a pouco crecendo,
    para nunca acabar se começaram.
    Ali se ajuntaram
    neste lugar ameno,
    aonde agora mouro,
    testa de neve e ouro,
    riso brando, suave, olhar sereno,
    um gesto delicado,
    que sempre n' alma me estará pintado.

    Nesta florida terra,
    leda, fresca e serena,
    ledo e contente para mim vivia,
    em paz com minha guerra,
    contente com a pena
    que de tão belos olhos procedia.
    Um dia noutro dia
    o esperar me enganava;
    longo tempo passei,
    com a vida folguei,
    só porque em bem tamanho me empregava.
    Mas que me presta já,
    que tão fermosos olhos não os há?

    Oh, quem me ali dissera
    que de amor tão profundo
    o fim pudesse ver inda algüa hora!
    Oh, quem cuidar pudera
    que houvesse aí no mundo
    apartar-me eu de vós, minha Senhora,
    para que desde agora
    perdesse a esperança,
    e o vão pensamento,
    desfeito em um momento,
    sem me poder ficar mais que a lembrança,
    que sempre estará firme
    até o derradeiro despedir-me.
    Mas a mor alegria
    que daqui levar posso,
    com a qual defender-me triste espero,
    é que nunca sentia
    no tempo que fui vosso
    quererdes-me vós quanto vos eu quero;
    porque o tormento fero
    de vosso apartamento
    não vos dará tal pena
    como a que me condena:
    que mais sentirei vosso sentimento
    que o que minha alma sente.
    Morra eu, Senhora; e vós ficai contente!

    Canção, tu estarás
    aqui acompanhando
    estes campos e estas claras águas,
    e por mim ficarás
    chorando e suspirando,
    e ao mundo mostrando tantas mágoas
    que, de tão larga história,
    minhas lágrimas fiquem por memória.


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    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





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    Mensaje por Maria Lua 25.10.20 6:45

    Canção VII



    Junto de um seco, fero e estéril monte,
    inútil e despido, calvo, informe,
    da natureza em tudo aborrecido,
    onde nem ave voa, ou fera dorme,
    nem rio claro corre, ou ferve fonte,
    nem verde ramo faz doce ruído;
    cujo nome, do vulgo introduzido,
    é Félix, por antífrase infelice;
    o qual a Natureza
    situou junto a parte
    onde um braço de mar alto reparte
    Abássia da arábica aspereza,
    onde fundada já foi Berenice,
    ficando a parte donde
    o Sol que nele ferve se lhe esconde;

    nele aparece o Cabo com que a costa
    africana, que vem do Austro correndo,
    limite faz, Arómata chamado
    (Arómata outro tempo; que, volvendo
    os céus, a ruda língua mal composta
    dos próprios outro nome lhe tem dado).
    Aqui, no mar que quer apressurado
    entrar pela garganta deste braço,
    me trouxe um tempo e teve
    minha fera ventura.
    Aqui, nesta remota, áspera e dura
    parte do mundo, quis que a vida breve
    também de si deixasse um breve espaço,
    por que ficasse a vida
    pelo mundo em pedaços repartida.

    Aqui me achei gastando uns tristes dias,
    tristes, forçados, maus e solitários,
    trabalhosos, de dor e de ira cheios,
    não tendo tão-somente por contrários
    a vida, o sal ardente e águas frias,
    os ares grossos, férvidos e feios;
    mas os meus pensamentos, que são meios
    para enganar a própria Natureza,
    também vi contra mi,
    trazendo-me à memória
    algüa já passada e breve glória,
    que eu já no mundo vi, quando vivi,
    por me dobrar dos males a aspereza,
    por me mostrar que havia
    no mundo muitas horas de alegria.

    Aqui estive eu co estes pensamentos
    gastando o tempo e a vida; os quais tão alto
    me subiam nas asas que caía
    – e vede se seria leve o salto! –
    de sonhados e vãos contentamentos
    em desesperação de ver um dia.
    Aqui o imaginar se convertia
    num súbito chorar e nuns suspiros,
    que rompiam os ares.
    Aqui, a alma cativa,
    chagada toda, estava em carne viva,
    de dores rodeada e de pesares,
    desamparada e descoberta aos tiros
    da soberba Fortuna:
    soberba, inexorável e importuna.

    Não tinha parte donde se deitasse,
    nem esperança algüa onde a cabeça
    um pouco reclinasse, por descanso.
    Todo lhe é dor e causa que padeça,
    mas que pereça não, por que passasse
    o que quis o Destino nunca manso.
    Oh! que este irado mar, gritando, amanso!
    Estes ventos da voz importunados,
    parece que se enfreiam!
    Somente o Céu severo,
    as Estrelas e o Fado sempre fero
    com meu perpétuo dano se recreiam,
    mostrando-se potentes e indignados
    contra um corpo terreno,
    bicho da terra vil e tão pequeno.

    Se de tantos trabalhos só tirasse
    saber inda por certo que algüa hora
    lembrava a uns claros olhos que já vi;
    e se esta triste voz, rompendo fora,
    as orelhas angélicas tocasse
    daquela em cujo riso já vivi;
    a qual, tornada um pouco sobre si,
    revolvendo na mente pressurosa
    os tempos já passados
    de meus doces errores,
    de meus suaves males e furores,
    por ela padecidos e buscados,
    tornada – inda que tarde – piadosa,
    um pouco lhe pesasse
    e consigo por dura se julgasse;

    isto só que soubesse, me seria
    descanso para a vida que me fica;
    co isto afagaria o sofrimento.
    Ah! Senhora, Senhora, que tão rica
    estais que, cá tão longe, de alegria
    me sustentais cum doce fingimento!
    Em vos afigurando o pensamento,
    foge todo o trabalho e toda a pena.
    Só com vossas lembranças
    me acho seguro e forte
    contra o rosto feroz da fera Morte,
    e logo se me ajuntam esperanças
    com que a fronte, tornada mais serena,
    torna os tormentos graves
    em saudades brandas e suaves.

    Aqui co eles fico, perguntando
    aos ventos amorosos, que respiram
    da parte donde estais, por vós, Senhora;
    às aves que ali voam, se vos viram,
    que fazíeis, que estáveis praticando,
    onde, como, com quem, que dia e que hora.
    Ali a vida cansada, que melhora,
    toma novos espritos, com que vença
    a Fortuna e Trabalho,
    só por tornar a ver-vos,
    só por ir a servir-vos e querer-vos.
    Diz-me o Tempo que a tudo dará talho;
    mas o Desejo ardente, que detença
    nunca sofreu, sem tento
    me abre as chagas de novo ao sofrimento.

    Assi vivo; e se alguém te perguntasse,
    Canção, como não mouro,
    podes-lhe responder que porque mouro.


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    Mensaje por Maria Lua 31.10.20 9:10

    Canção VIII



    Com força desusada
    aquenta o fogo eterno
    üa ilha lá nas partes do Oriente,
    de estranhos habitada,
    aonde o duro Inverno
    os campos reverdece alegremente.
    A lusitana gente,
    por armas sanguinosas,
    tem dela o senhorio.
    Cercada está dum rio
    de marítimas águas saudosas;
    das ervas que aqui nascem,
    os gados juntamente e os olhos pascem.

    Aqui minha ventura
    quis que üa grã parte
    da vida, que não tinha, se passasse,
    para que a sepultura
    nas mãos do fero Marte
    de sangue e de lembranças matizasse.
    Se Amor determinasse
    que, a troco desta vida,
    de mim qualquer memória
    ficasse, como história
    que de uns fermosos olhos fosse lida,
    a vida e alegria
    por tão doce memória trocaria.

    Mas este fingimento,
    por minha dura sorte,
    com falsas esperanças me convida.
    Não cuide o pensamento
    que pode achar na morte
    o que não pôde achar tão longa vida.
    Está já tão perdida
    a minha confiança
    que, de desesperado
    em ver meu triste estado,
    também da morte perco a esperança.
    Mas oh! que, se algum dia
    desesperar pudesse, viveria.

    De quanto tenho visto
    já agora não me espanto,
    que até desesperar se me defende.
    Outrem foi causa disto,
    que eu nunca pude tanto
    que causasse este fogo que me encende.
    Se cuidam que me ofende
    temor de esquecimento,
    oxalá meu perigo
    me fora tão amigo
    que algum temor deixara ao pensamento!
    Quem viu tamanho enleio
    que houvesse aí esperança sem receio?

    Quem tem que perder possa
    se pode recear.
    Mas triste quem não pode já perder!
    Senhora, a culpa é vossa,
    que para me matar
    bastara üa hora só de vos não ver.
    Pusestes-me em poder
    de falsas esperanças;
    e, do que mais me espanto:
    que nunca vali tanto
    que vivesse também com esquivanças.
    Valia tão pequena
    não pode merecer tão doce pena.

    Houve-se Amor comigo
    tão brando e pouco irado,
    quanto agora em meus males se conhece;
    que não há mor castigo
    para quem tem errado
    que negar-lhe o castigo que merece.
    E bem como acontece
    que, assi como ao doente
    da cura despedido,
    o médico sabido
    tudo quanto deseja lhe consente.
    assi me consentia
    esperança, desejo e ousadia.

    E agora venho a dar
    conta do bem passado
    a esta triste vida e longa ausência.
    Quem pode imaginar
    que pode haver pecado
    que mereça tão grave penitência?
    Olhai que e consciência,
    por tão pequeno erro,
    Senhora, tanta pena!
    Não vedes que é onzena?
    Mas se tão longo e mísero desterro
    vos dá contentamento,
    nunca se acabe nele meu tormento.

    Rio fermoso e claro,
    e vós, ó arvoredos,
    que os justos vencedores coroais,
    e ao cultor avaro,
    continuamente ledos,
    dum tronco só diversos frutos dais:
    assi nunca sintais
    do tempo injúria algüa;
    que em vós achem abrigo
    as mágoas que aqui digo,
    enquanto der o Sol virtude à Lüa;
    por que de gente em gente
    saibam que já não mata a vida ausente.

    Canção, neste desterro viverás,
    voz nua e descoberta,
    até que o tempo em Eco te converta.


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    Mensaje por Maria Lua 31.10.20 9:11

    Canção IX



    Manda-me Amor que cante docemente
    o que ele já em minh' alma tem impresso
    com pressuposto de desabafar-me;
    e por que com meu mal seja contente,
    diz que ser de tão lindos olhos preso,
    contá-lo bastaria a contentar-me.
    Este excelente modo de enganar-me
    tomara eu só de Amor por interesse,
    se não se arrependesse,
    coa pena o engenho escurecendo.
    Porém a mais me atrevo,
    em virtude do gesto de que escrevo;
    e se é mais o que canto que o que entendo,
    invoco o lindo aspeito,
    que pode mais que Amor em meu defeito.

    Sem conhecer Amor viver soía,
    seu arco e seus enganos desprezando,
    quando vivendo deles me mantinha.
    O Amor enganoso, que fingia
    mil vontades alheias enganando,
    me fazia zombar de quem o tinha.
    No Touro entrava Febo, e Progne vinha;
    o corno de Aqueloo Flora entornava,
    quando o Amor soltava
    os fios de ouro, as tranças encrespadas
    ao doce vento esquivas,
    dos olhos rutilando chamas vivas,
    e as rosas antre a neve semeadas,
    co riso tão galante
    que um peito desfizera de diamante.

    Um não sei que suave, respirando,
    causava um admirado e novo espanto,
    que as cousas insensíveis o sentiam.
    E as gárrulas aves levantando
    vozes desordenadas em seu canto,
    como em meu desejo se encendiam.
    As fontes cristalinas não corriam,
    inflamadas na linda vista pura;
    florescia a verdura
    que, andando, cos divinos pés tocava;
    os ramos se abaixavam,
    tendo enveja das ervas que pisavam
    - ou porque tudo ante ela se abaixava -.
    Não houve cousa, enfim,
    que não pasmasse dela, e eu de mim.

    Porque quando vi dar entendimento
    às cousas que o não tinham, o temor
    me fez cuidar que efeito em mim faria.
    Conheci-me não ter conhecimento;
    e nisto só o tive, porque Amor
    mo deixou, por que visse o que podia.
    Tanta vingança Amor de mim queria
    que mudava a humana natureza:
    os montes e a dureza
    deles, em mim, por troca, traspassava.
    Oh, que gentil partido:
    trocar o ser do monte sem sentido
    pelo que num juízo humano estava!
    Olhai que doce engano:
    tirar comum proveito de meu dano!

    Assi que, indo perdendo o sentimento
    a parte racional, me entristecia
    vê-la a um apetite sometida;
    mas dentro n' alma o fim do pensamento
    por tão sublime causa me dezia
    que era razão ser a razão vencida.
    Assi que, quando a via ser perdida,
    a mesma perdição a restaurava;
    e em mansa paz estava
    cada um com seu contrário num sujeito.
    Oh, grão concerto este!
    Quem será que não julgue por celeste
    a causa donde vem tamanho efeito,
    que faz num coração
    que venha o apetite a ser razão?

    Aqui senti de Amor a mor fineza,
    como foi ver sentir o insensível,
    e o ver a mim de mim mesmo perder-me.
    Enfim, senti negar-se a natureza;
    por onde cri que tudo era possível
    aos lindos olhos seus, senão querer-me.
    Despois que já senti desfalecer-me,
    em lugar do sentido que perdia,
    não sei que me escrevia
    dentro n' alma, coas letras da memória,
    o mais deste processo
    co claro gesto juntamente impresso
    que foi a causa de tão longa história.
    Se bem a declarei,
    eu não a escrevo, da alma a trasladei.

    Canção, se quem te ler
    não crer dos olhos lindos o que dizes,
    pelo que em si escondem,
    os sentidos humanos lhe respondem:
    bem podem dos divinos ser juízes.


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    Mensaje por Maria Lua 31.10.20 9:11


    Canção X



    Vinde cá, meu tão certo secretário
    dos queixumes que sempre ando fazendo,
    papel, com que a pena desafogo!
    As sem-razões digamos que, vivendo,
    me faz o inexorável e contrário
    Destino, surdo a lágrimas e a rogo.
    Deitemos água pouca em muito fogo;
    acenda-se com gritos um tormento
    que a todas as memórias seja estranho.
    Digamos mal tamanho
    a Deus, ao mundo, à gente e, enfim, ao vento,
    a quem já muitas vezes o contei,
    tanto debalde como o conto agora;
    mas, já que para errores fui nascido,
    vir este a ser um deles não duvido.
    Que, pois já de acertar estou tão fora,
    não me culpem também, se nisto errei.
    Sequer este refúgio só terei:
    falar e errar sem culpa, livremente.
    Triste quem de tão pouco está contente!

    Já me desenganei que de queixar-me
    não se alcança remédio; mas quem pena,
    forçado lhe é gritar se a dor é grande.
    Gritarei; mas é débil e pequena
    a voz para poder desabafar-me,
    porque nem com gritar a dor se abrande.
    Quem me dará sequer que fora mande
    lágrimas e suspiros infinitos
    iguais ao mal que dentro n'alma mora?
    Mas quem pode algü'hora
    medir o mal com lágrimas ou gritos?
    Enfim, direi aquilo que me ensinam
    a ira, a mágoa, e delas a lembrança,
    que é outra dor por si, mais dura e firme.
    Chegai, desesperados, para ouvir-me,
    e fujam os que vivem de esperança
    ou aqueles que nela se imaginam,
    porque Amor e Fortuna determinam
    de lhe darem poder para entenderem,
    à medida dos males que tiverem.

    Quando vim da materna sepultura
    de novo ao mundo, logo me fizeram
    Estrelas infelices obrigado;
    com ter livre alvedrio, mo não deram,
    que eu conheci mil vezes na ventura
    o milhor, e pior segui, forçado.
    E, para que o tormento conformado
    me dessem com a idade, quando abrisse
    inda minino, os olhos, brandamente,
    manda que, diligente,
    um Minino sem olhos me ferisse.
    As lágrimas da infância já manavam
    com üa saudade namorada:
    o som dos gritos, que no berço dava.
    já como de suspiros me soava.
    Co a idade e Fado estava concertado;
    porque quando, por caso, me embalavam,
    se versos de Amor tristes me cantavam,
    logo m adormecia a natureza,
    que tão conforme estava co a tristeza.

    Foi minha ama üa fera, que o destino
    não quis que mulher fosse a que tivesse
    tal nome para mim; nem a haveria.
    Assi criado fui, porque bebesse
    o veneno amoroso, de minino,
    que na maior idade beberia,
    e. por costume, não me mataria.
    Logo então vi a imagem e semelhança
    daquela humana fera tão fermosa,
    suave e venenosa,
    que me criou aos peitos da esperança;
    de quem eu vi despois o original,
    que de todos os grandes desatinos
    faz a culpa soberba e soberana.
    Parece-me que tinha forma humana,
    mas cintilava espíritos divinos.
    Um meneio e presença tinha tal
    na vista dela; a sombra, co a viveza,
    excedia o poder da Natureza.

    Não sei como sabia estar roubando
    cos raios das entranhas, que fugiam
    por ela, pelos olhos sutilmente!
    Pouco a pouco invencíveis me saíam,
    bem como do véu húmido exalando
    está o sutil humor o Sol ardente.
    Enfim, o gesto puro e transparente,
    para quem fica baixo e sem valia
    deste nome de belo e de fermoso;
    o doce e piadoso
    mover d'olhos, que as almas suspendia
    foram as ervas mágicas, que o Céu
    me fez beber; as quais, por longos anos,
    noutro ser me tiveram transformado,
    e tão contente de me ver trocado
    que as mágoas enganava cos enganos;
    e diante dos olhos punha o véu
    que me encobrisse o mal, que assi creceu,
    como quem com afagos se criava
    daquele para quem crecido estava.

    Que género tão novo de tormento
    teve Amor, que não fosse, não somente
    provado em mim, mas todo executado?
    Implacáveis durezas, que o fervente
    desejo, que dá força ao pensamento,
    tinham de seu propósito abalado,
    e de se ver, corrido e injuriado;
    aqui, sombras fantásticas, trazidas
    de algüas temerárias esperanças;
    as bem-aventuranças
    nelas também pintadas e fingidas;
    mas a dor do desprezo recebido,
    que a fantasia me desatinava,
    estes enganos punha em desconcerto;
    aqui, o adevinhar e o ter por certo
    que era verdade quanto adevinhava,
    e logo o desdizer-se, de corrido;
    dar às cousas que via outro sentido,
    e para tudo, enfim, buscar razões;
    mas eram muitas mais as sem-razões.

    Pois quem pode pintar a vida ausente,
    com um descontentar-me quanto via,
    e aquele estar tão longe donde estava;
    o falar, sem saber o que dezia;
    andar, sem ver por onde, e juntamente
    suspirar sem saber que suspirava?
    Pois quando aquele mal m'atormentava
    e aquela dor que das Tartáreas águas
    saiu ao mundo, e mais que todas doe,
    que tantas vezes soe
    duras iras tornar em brandas mágoas;
    agora, co furor da mágoa irado,
    querer e não querer deixar d'amar,
    e mudar noutra parte por vingança
    o desejo privado de esperança,
    que tão mal se podia já mudar;
    agora, a saudade do passado
    tormento. puro, doce e magoado,
    fazia converter estes furores
    em magoadas lágrimas de amores.

    Que desculpas comigo que buscava
    quando o suave Amor me não sofria
    culpa na cousa amada, e tão amada!
    Enfim, eram remédios que fingia
    o medo do tormento que ensinava
    a vida a sustentar-se, de enganada.
    Nisto üa parte dela foi passada,
    na qual se tive algum contentamento
    breve, imperfeito, tímido, indecente,
    não foi senão semente
    de longo e amaríssimo tormento.
    Este curso contino de tristeza,
    estes passos tão vamente espalhados,
    me foram apagando o ardente gosto
    que tão de siso n'alma tinha posto,
    daqueles pensamentos namorados
    em que eu criei a tenra natureza,
    que do longo costume da aspereza,
    contra quem força humana não resiste,
    se converteu no gosto de ser triste.

    Destarte a vida noutra fui trocando;
    eu não, mas o destino fero, irado,
    que eu ainda assi por outra não trocara.
    Fez-me deixar o pátrio ninho amado,
    passando o longo mar, que ameaçando
    tantas vezes me esteve a vida cara.
    Agora, exprimentando a fúria rara
    de Marte, que cos olhos quis que logo
    visse e tocasse o acerbo fruto seu
    (e neste escudo meu
    a pintura verão do infesto fogo);
    agora, peregrino vago e errante,
    vendo nações, linguages e costumes,
    Céus vários, qualidades diferentes,
    só por seguir com passos diligentes
    a ti, Fortuna injusta, que consumes
    as idades, levando-lhe diante
    üa esperança em vista de diamante,
    mas quando das mãos cai se conhece
    que é frágil vidro aquilo que aparece.

    A piadade humana me faltava,
    a gente amiga já contrária via,
    no primeiro perigo; e, no segundo,
    terra em que pôr os pés me falecia,
    ar para respirar se me negava,
    e faltavam-me, enfim. o tempo e o mundo.
    Que segredo tão árduo e tão profundo:
    nascer para viver, e para a vida
    faltar-me quanto o mundo tem para ela!
    E não poder perdê-la,
    estando tantas vezes já perdida!
    Enfim, não houve transe de fortuna,
    nem perigos, nem casos duvidosos,
    injustiças daqueles, que o confuso
    regimento do mundo, antigo abuso,
    faz sobre os outros homens poderosos,
    que eu não passasse, atado à grã coluna
    do sofrimento meu, que a importuna
    perseguição de males em pedaços
    mil vezes fez, à força de seus braços.

    Não conto tanto males como aquele
    que, despois da tormenta procelosa,
    os casos dela conta em porto ledo;
    que inda agora a Fortuna flutuosa
    a tamanhas misérias me compele,
    que de dar um só passo tenho medo.
    Já de mal que me venha não me arredo,
    nem bem que me faleça já pretendo,
    que para mim não val astúcia humana;
    de força soberana,
    da Providência, enfim, divina, pendo.
    Isto que cuido e vejo, às vezes tomo
    para consolação de tantos danos.
    Mas a fraqueza humana, quando lança
    os olhos no que corre, e não alcança
    senão memória dos passados anos,
    as águas que então bebo, e o pão que como,
    lágrimas tristes são, que eu nunca domo
    senão com fabricar na fantasia
    fantásticas pinturas de alegria.

    Que se possível fosse, que tornasse
    o tempo para trás, como a memória,
    pelos vestígios da primeira idade,
    e de novo tecendo a antiga história
    de meus doces errores, me levasse
    pelas flores que vi da mocidade;
    e a lembrança da longa saudade
    então fosse maior contentamento,
    vendo a conversação leda e suave,
    onde üa e outra chave
    esteve de meu novo pensamento,
    os campos, as passadas, os sinais,
    a fermosura, os olhos, a brandura,
    a graça, a mansidão, a cortesia,
    a sincera amizade, que desvia
    toda a baixa tenção, terrena, impura,
    como a qual outra algüa não vi mais...
    Ah! vãs memórias, onde me levais
    o fraco coração, que ainda não posso
    domar este tão vão desejo vosso?

    Nô mais, Canção, nô mais; qu'irei falando
    sem o sentir, mil anos. E se acaso
    te culparem de larga e de pesada,
    não pode ser (lhe dize) limitada
    a água do mar em tão pequeno vaso.
    Nem eu delicadezas vou cantando
    co gosto do louvor, mas explicando
    puras verdades já por mim passadas.
    Oxalá foram fábulas sonhadas!


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    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
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    Mensaje por Maria Lua 31.10.20 9:13

    Redondilhas (Parte I)



    MOTE

    Descalça vai pera a fonte
    Lianor, pela verdura;
    vai fermosa e não segura.

    VOLTA

    Leva na cabeça o pote,
    o testo nas mãos de prata,
    cinta de fina escarlata,
    sainho de chamalote;
    traz a vasquinha de cote,
    mais branca que a neve pura;
    vai fermosa e não segura.

    Descobre a touca a garganta,
    cabelos d' ouro o trançado,
    fita de cor d' encarnado...
    Tão linda que o mundo espanta!
    Chove nela graça tanta
    que dá graça à fermosura;
    vai fermosa, e não segura.
     


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    Mensaje por Maria Lua 01.11.20 5:32

    MOTE SEU

    Descalça vai pola neve. . .
    Assi faz quem Amor serve.

    VOLTAS

    Os privilégios que os reis
    não podem dar, pode Amor,
    que faz qualquer amador
    livre das humanas leis.
    Mortes e guerras cruéis,
    ferro, frio, fogo e neve,
    tudo sofre quem o serve.

    Moça fermosa despreza
    todo o frio e toda a dor.
    Olhai quanto pode Amor
    mais que a própria natureza:
    medo nem delicadeza
    lhe impede que passe a neve.
    Assi faz quem Amor serve.

    Por mais trabalhos que leve,
    a tudo se of'receria;
    passa pela neve fria
    mais alva que a própria neve;
    com todo o frio se atreve...
    Vede em que fogo ferve
    o triste que o Amor serve.


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua 10.11.20 15:25

    CANTIGA ALHEIA

    Pastora da serra,
    da serra da Estrela,
    perco-me por ela.

    VOLTA

    Nos seus olhos belos
    tanto Amor se atreve
    que abrasa entre a neve
    quantos ousam vê-los.
    Não solta os cabelos
    Aurora mais bela:
    perco-me por ela.

    Não teve esta serra,
    no meio da altura,
    mais que a fermosura
    que nela se encerra.
    Bem céu fica a terra
    que tem tal estrela:
    perco-me por ela.

    Sendo entre pastores
    causa de mil males,
    não se ouvem nos vales
    senão seus louvores.
    Eu só por amores
    não sei falar nela:
    sei morrer por ela.

    De alguns que, sentindo,
    seu mal vão mostrando,
    se ri, não cuidando
    que inda paga, rindo.
    Eu, triste, encobrindo
    só meus males dela,
    perco-me por ela.

    Se flores deseja,
    (por ventura delas)
    das que colhe, belas,
    mil morrem de enveja.
    Não há quem não veja
    todo o milhor nela:
    perco-me por ela.

    Se na água corrente
    seus olhos inclina,
    faz luz cristalina
    parar a corrente.
    Tal se vê que sente
    por ver-se água nela:
    perco-me por ela.


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua 14.11.20 5:09


    Carta I

    Escrita de Ceuta


     
    Esta vai com a candeia na mão morrer nas de V. M.; e, se daí passar, seja em cinza, porque não quero que do meu pouco comam muitos. E se todavia, quiser meter mais mãos na escudela, mande-lhe lavar o nome, e valha sem cunhos.

    La mar en medio y tierras he dejado
    De quanto bien, cuitado, yo tenía.

    Cuan vano imaginar, cuan claro engaño
    Es darme yo a entender que, con partirme,
    De mi se ha de partir un mal tamaño!
     
    Quão mal está no caso quem cuida que a mudança do lugar muda a dor do sentimento! E se não, diga-o "quien dijo que la ausencia causa olvido". Porque, enfim, "en la tierra queda, e o mais a alma acompanha". Ao alvo destes cuidados jogam meus pensamentos à barreira, tendo-me já, pelo costume, tão contente de triste, que triste me faria ser contente; porque "o longo uso dos anos se converte em natureza". Pois o "que é pera mor mal, tenho eu pera mor bem". Ainda que, pera viver no mundo, me debruo de outro pano, por não parecer coruja entre pardais, fazendo-me um pera ser outro, sendo outro pera ser um; mas "dor dissimulada dará seu fruito", que a tristeza no coração é como a traça no pano.

    E por tão triste me tenho
    Que, se sentisse alegria,
    De triste, não viveria.
    Porque ,a tal sorte vim,
    Que não vejo bem algum
    Enquanto vejo,
    Que não nasceu pera mim;
    E por não sentir nenhum,
    Nenhum desejo.
     
    Porque cousas impossíveis, é melhor esquecê-las que
    desejá-las. E Por isso

    Só tristeza ver queria,
    Pois minha ventura quer
    Que só a ela
    Conheça por alegria,
    E que, se outra ver quiser,
    Moura por ela.
     
    Pouco sabe da tristeza quem, sem remédio pera ela, diz ao triste que se alegre; pois não vê que alheios contentamentos a um coração descontente, não lhe remediando o que sente, lhe dobram o que padece. Vós, se vem à mão, esperais de mim palavrinhas joeiradas, enforcadas de bons propósitos. Pois desenganai-vos, que, dês que professei tristeza, nunca mais soube jogar a outro fito. E, por que não digais que sou gente fora do meu bairro, vedes, vai üa volta feita a este mote, que nada dos enjeitados; e cuido que não é tão dedo queimado que não seja dos que el-Rei mandou chamar; o qual fala assim:

    Não quero e não quero
    Jubão amarelo.

    Se de negro for,
    Melhor me parece.
    Quanto me aborrece
    Toda a alegre cor!
    Cor que mostra dor
    Quero, e não quero
    Jubão amarelo.
     
    Parece-vos que se pode dizer mais? Não me respondais: Quem gabará a noiva? Porque assentai que fui comendo e fazendo, ou assoprando, que não é tão pequena habilidade. E, por que vos não pareça que foi mais acertar que querê-lo fazer, vedes, vai outra do mesmo jaez, contanto que se não vá a pasmar:

    Perdigão perdeu a pena,
    Não há sinal que lhe não venha.

    Em um mal outro começa,
    Que nunca vem só nenhum;
    E o triste que tem um
    A sofrer outro se of'reça;
    E, só pelo ar, conheça,
    Que basta um só que tenha,
    Pera que outro lhe venha.
     
    Que graça será esperardes de mim propósitos, em cousa que os não tem pera comigo? Pois, ainda que queira, não posso o que quero; que um sentido remontado, de não pôr pé em ramo verde, tudo lhe sucede assim; e cada um acode ao que lhe mais dói; e mais eu, que o que mais me entristece é ter contentamento, pois fujo dele, que minha alma o aborrece, porque lhe lembra que é virtude viver sem ele. Que já sabeis que mágoa é: vê-lo-ás e não o paparás. Por fugir destes inconvenientes,

    Toda a cousa descontente
    Contentar-me só convinha,

    De meu gosto;
    Que o mal de que sou doente,
    Sua mais certa mezinha
    É desgosto.
     
    Já ouviríeis dizer: "Mouro que não podes haver, dá-o
    pela tua alma". O mal sem remédio, o mais certo que tem é fazer da necessidade virtude; quanto mais, se tudo tão pouco dura como o passado prazer. Porque, enfim, "allegados son iguales / los que viven por sus manos / y los ricos", etc. A este propósito, pouco mais ou menos, se fizeram üas voltas a um mote de enche-mão, que diz por sua arte, zombando mais, que não de siso, que toda a galantaria é tirá-la de onde se não espera, o qual crede que tem mais que roer do que um praguento. Portanto "recuerde el alma adormida", e mande escumar o entendimento, que, de outra maneira, "de fuera dormiredes, pastorcico". E o meu, Senhor, diz assi:

    Dava-lhe o vento no chapeirão,
    Quer lhe dê, quer não.

    Bem o pode revolver,
    Que o vento não traz mais fruito;
    E mas vento é sentir muito
    O que, enfim, fim há-de ter.
    O melhor é melhor ser
    Que o vento no chapeirão,
    Quer lhe dê, quer não.
     
    Üa cousa sabei de mim: que queria antes o bem do mal, que o mal do bem; porque muita mais se sente o porvir, que o passado; e a morte, até matar, mata. Não sei se sereis marca de voar tão alto; porque, pera tomar a palha a esta matéria, são necessárias asas de nebri. Mas vós sois homem de prol, e desculpa-me a conta em que vos tenho. E a que de mim vos sei dar, é que

    Esperança me despede,
    Tristeza não me falece,
    E tudo o mas me aborrece.
    Já que mais não mereceu
    Minha estrela,
    Só a tristeza conheço,
    Pois que pera mim nasceu
    E eu pera ela.
     
    No mundo não tem boa sorte senão quem tem por boa a que tem. E daqui me vem contentar-me de triste. Mas olhai de que maneira:

    Vivo assi ao revés,
    Tomando por certa vida
    Certa morte,
    Com que folgo em que me pês,
    Pois minha sorte é servida
    De tal sorte.
     
    Üa cousa sabei: que o mal, inda que às vezes o vejais louvar, não há quem o louve com a boca que o não tache com o coração.

    Ajuda-me a sofrer
    Vida tão sem sofrimento
    E tão sem vida,
    Ver que, enfim, fim hão-de ter
    Desgosto e contentamento,
    Sem medida
     
    Atentai que não são maus confeitos de enforcada pera os que estão com o baraço na garganta, cuidar que o bem e o mal, ainda que sejam diferentes na vida, são conformes na morte; porque vemos

    Que não há tão alta sorte
    Nem ventura tão subida
    Ou desastrada,
    A quem o assopro da morte
    Não sopre o fogo da vida,
    E torne em nada

    A seu fim todas cousas vão correndo,
    Nem há cousa que o tempo não consuma
    Nem vida que de si tanto presuma,
    Que se não veja nada em se vendo.

    Que o mais certo que temos
    É não termos nada certo
    Cá na terra,
    Pois pera seus não nascemos
    Se o seu nos dá incerto,
    Nada erra.
     
    Quero-vos dar corta de um soneto sem pernas, que se fez a um certo recontro que se teve com este destruidor de bons propósitos, e não se acabou, porque se teve por mal empregada a obra; cujo teor é o seguinte:

    Forçou-me Amor, um dia, que jogasse;
    Deu as cartas, e [ás] de ouros levantou;
    E, sem respeitar mão, logo trunfo,
    Cuidando que o metal que me enganasse,

    Dizendo, pois trunfou, que trunfasse,
    A üa sota de ouros que jogou;
    Eu então, por burlar quem me burlou,
    Três paus joguei, e disse que ganhasse.
     
    Príncipes de condição, ainda que o sejam de sangue, são mais enfadonhos que a pobreza; fazem, com sua fidalguia, com que lhe cavemos fidalguias de seus avós, onde não há trigo tão joeirado que não tenha algüa ervilhaca. Já sabeis que basta um frade ruim pera dar que falar a um convento. Duas cousas não se sofrem sem discórdia: companhia no amar, mandar vilão ruim sobre cousa de seu interesse. Não se pode ter paciência com quem quer que lhe façam o que não faz.
    Desagardecimentos de boas obras destruem a vontade pera não fazê-las a amigo, que tem mais conta com o interesse que com a amizade; rezai dele, que é dos cá nomeados.
    Grande trabalho é querer fazer alegre rosto quando o coração está triste; pano é que não toma nunca bem esta tinta; que a Lüa recebe a claridade do Sol, o rosto do coração. Nada dá quem não dá honra no que dá; não tem que agardecer quem, no que recebe, a não recebe; porque bem comprado vai o que com ela se compra. Não se dá de graça o que se pede muito. Estai certo que quem não tem üa vida tem muitas. Onde a razão se governa pela vontade, há muito que praguejar e pouco que louvar.
    Nenhüa cousa homizia os homens tanto consigo como males de que se não guardaram, podendo. Não há alma sem corpo, que tantos corpos faça sem alma, como este purgatório a que chamais honra; onde muitas vezes os homens cuidam que a ganham, aí a perdem. Onde há enveja, não há amizade; nem a pode haver em desigual conversação. Bem mereceu o engano quem creu mais o que lhe dizem que o que viu. Agora, ou se há-de viver no mundo sem verdade, ou com verdade sem mundo. E pera muito pontual, perguntai-lhe de onde vem; vereis que "algo
    tiene en el cuerpo, que le duele".
    Ora temperai-me lá esta gaita, que nem assi, nem assi achareis meio real de descanso nesta vida; ela nos trata somente como alheios de si, e com razão:

    Pois somente nos é dada
    Pera que ganhemos nela
    O que sabemos.
    Se se gasta mal gastada,
    Juntamente com perdê-la
    Nos perdemos.
     
    Enfim, esta minha senhora, sendo a cousa por que mais fazemos, é a mais fraca alfaia de que nos servimos. E se queremos ver quão breve é,

    Ponderemos e vejamos
    Que ganhamos em viver
    Os que nascemos:
    Veremos que não ganhamos
    Senão algum bem fazer,
    Se o fazemos.

    E por isso, respeitando

    Que o porvir tal será,
    Entesouremos;
    Porque [ao certo] não sabemos
    Quando a morte pedirá
    Que lhe paguemos.
     
    Nunca vi cousa mais pera lembrar e menos lembrada que a morte; sendo mais aborrecida que a verdade, tem-se em menos conta que a virtude. Mas contudo, com o seu pensamento, quando lhe vem à vontade, acarreta mil pensamentos vãos; que tudo pera com ela é um lume de palhas. Nenhüa cousa me enche tanto as medidas pera com estes que vivem na mor bonança, como ela; porque quando lhe menos lembra, então lhe arranca as amarras, dando com os corpos à costa; e, se vem à mão, com as almas no Inferno, que é bem ruim gasalhado. E pois todos isto temos,

    Não nos engane a riqueza,
    Porque tanto esmorecemos,
    Trás que vamos;
    Já que temos a certeza
    Que, quando mais a queremos,
    A deixamos.

    Gastamos em alcançá-la
    A vida; e quando queremos
    Usar dela,
    Nos tira a morte lográ-la;
    Assi que a Deus perdemos
    E a ela.
     
    Porque já ouviríeis dizer: "Ninho feito, pega morta". Que
    me dizeis ao contentamento do mundo, que toda a dura dele está enquanto se alcança? Porque acabado de passar, acabado de esquecer. E com razão, porque, acabado de alcançar, é passado; e maior saudade deixa do que é o contentamento que deu. Esperai, por me fazer mercê, que lhe quero dar üas palavrinhas de propósito:

    Mundo, se te conhecemos,
    Porque tanto desejamos
    Teus enganos?
    E, se assi te queremos,
    Mui sem casa nos queixamos
    De teus danos.

    Tu não enganas ninguém,
    Pois a quem te desejar
    Vemos que danas;
    Se te querem qual te vêem,
    Se se querem enganar
    Ninguém enganas.

    Vejam-se os bens que teveram
    Os que mais em alcançar-te
    Se esmeraram;
    Que uns, vivendo, não viveram,
    E outros só com deixar-te
    Descansaram.

    E se esta tão clara fé
    Te aclara teus enganos,
    Desengana;
    Sobejamente mal vê
    Quem com tantos desenganos
    Se engana.

    Mas como tu sempre mores
    No engano em que andamos
    E que vemos,
    Não cremos o que tu podes,
    Senão o que desejamos
    E queremos.

    Nada te pode estimar
    Quem bem quiser estimar-te
    E conhecer-te;
    Que, em te perder o ganhar,
    O mais seguro ganhar-te
    É perde-te.

    E quem em ti determina
    Descanso poder achar,
    Saiba que erra;
    Que, sendo a alma divina,
    Não pode descansar
    Nada da terra.

    Nascemos pera morrer,
    Morremos pera ter vida,
    Em ti morrendo.
    O mais certo é merecer
    Nós a vida conhecida,
    Cá vivendo.

    Enfim, Mundo, és estalagem
    Em que pousam nossas vidas
    De corrida;
    De ti levam de passagem
    Ser bem ou mal recebidas
    Na outra vida.
     
    "Afuera, afuera, Rodrigo", que eu, se muito for por este
    caminho, darei em enfadonho. Inda que me pareça já me não livrará privilégio de cidadão do Porto. E pois me vendo a vós, sofrei com meus encargos. E por que não digais que sou herege de Amor, e que lhe não sei orações, vedes, vai üa "Di, Juan, de que murió Blas"? com um pé à portuguesa e outro à castelhana; e não vos espanteis da libré, que eu em qualquer palmo desta matéria perco norte. E os suplicantes dizem assim:

    - Di, Juan, de que murió Blas,
    Tan niño y tan mal logrado?
    - Gil murió de desamado.

    - Dime, Juan, quién le engañó,
    Que con Amor se engañase,
    Pensando que el bien hallase
    Adonde el mal cierto halló?
    Despues que el engano vio,
    Que hizo, desengañado?
    - Gil, murió de desamado.

    Travou com ele pendença,
    Em ter razão confiado;
    Mas Amor, como é letrado,
    Houve contra ele a sentença;
    E com aquela diferença,
    Disse entre si o coitado:
    - João, morro eu de desamado.

    Quem tem razão tão cerrada
    Que não saiba, sendo rudo
    E sem respeito,
    Que, sem Deus, é tudo nada,
    E nada, com ele, tudo
    Sem defeito?

    E sendo isto assi tão certo,
    Como todos confessamos
    E sabemos,
    Não troquemos pelo incerto
    O em que tão certo estamos,
    Pois o vemos.
     
    A tudo isto podeis responder que todos morremos do mal de Faetão, porque "del dicho al hecho, va gran trecho". E de saber as cousas a passar por elas, há mais diferença que de consolar a ser consolado. Mas assi entrou o Mundo, e assi há-de sair; muitos a repreendê-lo e poucos a emendá-lo. E com isto amaino, beijando essas poderosas mãos üa quatrínqua de vezes, cuja vida e reverendíssima pessoa nosso Senhor, etc.


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    Mensaje por Maria Lua 19.11.20 6:12

    Epigrama


     
    De Luís de Camões ao Senhor D. Duarte, saindo em um jogo de canas:


    Não voa pelo céu com tanta graça
    o fermoso falcão, dando mil voltas,
    seguindo mui cruel a leve garça,
    com curvo bico e unhas tão revoltas;
    como hoje tu correste aquela praça
    no ligeiro ginete, a rédeas soltas,
    a cara dando à contrária parte
    com acertado assalto, graça e arte.


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    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
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    Mensaje por Maria Lua 19.11.20 6:13

    Epigrama

    De Luís de Camões a el-rei D. Sebastião, saindo aos touros:


    Não corre o céu o astro tão fermoso,
    nem pelo alto ar o nebri voa:
    um tão claro, tão puro e tão lustroso,
    outro que tão ligeiro os ares coa;
    como tu, Sebastião, Rei glorioso
    dás nova luz ao lume da coroa
    em teu ginete zaro que, voando,
    a terra, por ser teu, vai desprezando.


    _________________



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    y en ese vuelo y en ese sueño
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    Mensaje por Maria Lua 26.11.20 6:19

    Um mover de olhos, brando e piadoso,


    Um mover de olhos, brando e piadoso,
    Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
    Quase forçado; um doce e humilde gesto,
    De qualquer alegria duvidoso;

    Um despejo quieto e vergonhoso;
    Um repouso gravíssimo e modesto;
    Üa pura bondade, manifesto
    Indício da alma, limpo e gracioso;

    Um escolhido ousar; úa brandura;
    Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
    Um longo e obediente sofrimento:

    Esta foi a celeste fermosura
    Da minha Circe, e o mágico veneno
    Que pôde transformar meu pensamento.


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    Mensaje por Maria Lua 01.12.20 10:35

    Tanto de meu estado me acho incerto,
    Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
    Sem causa, juntamente choro e rio;
    O mundo todo abarco e nada aperto.

    É tudo quanto sinto um desconcerto;
    Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
    Agora espero, agora desconfio,
    Agora desvario, agora acerto.

    Estando em terra, chego ao Céu voando;
    Nu~a hora acho mil anos, e é de jeito
    Que em mil anos não posso achar u~a hora.

    Se me pergunta alguém porque assim ando,
    Respondo que não sei; porém suspeito
    Que só porque vos vi, minha Senhora.

    Luís de Camões


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    Mensaje por Maria Lua 05.12.20 6:06



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    Mensaje por Maria Lua 05.12.20 19:33

    Meu coração tem um sereno jeito
    E as minhas mãos o golpe duro e presto
    De tal maneira que, depois de feito
    Desencontrado, eu mesmo me confesso

    Se trago as mãos distantes do meu peito
    É que há distância entre intenção e gesto
    E se o meu coração nas mãos estreito
    Me assombra a súbita impressão de incesto

    Quando me encontro no calor da luta
    Ostento a agida empunhadora à proa
    Mas meu peito se desabotoa

    E se a sentença se anuncia bruta
    Mais que depressa a mão cega executa
    Pois que senão o coração perdoa"


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    Mensaje por Maria Lua 06.12.20 5:12

    O dia em que nasci moura e pereça,
    Não o queira jamais o tempo dar;
    Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
    Eclipse nesse passo o Sol padeça.

    A luz lhe falte, O Sol se [lhe] escureça,
    Mostre o Mundo sinais de se acabar,
    Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
    A mãe ao próprio filho não conheça.

    As pessoas pasmadas, de ignorantes,
    As lágrimas no rosto, a cor perdida,
    Cuidem que o mundo já se destruiu.

    Ó gente temerosa, não te espantes,
    Que este dia deitou ao Mundo a vida
    Mais desgraçada que jamais se viu!


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    Mensaje por Maria Lua 07.12.20 5:48

    Bem sei, Amor, que é certo o que receio


    Bem sei, Amor, que é certo o que receio;
    mas tu, porque com isso mais te apuras,
    de manhoso mo negas, e mo juras
    no teu dourado arco; e eu to creio.

    A mão tenho metida no teu seio,
    e não vejo meus danos às escuras;
    e tu contudo tanto me asseguras
    que me digo que minto, e que me enleio.

    Não somente consinto neste engano,
    mas inda to agradeço, e a mim me nego
    tudo o que vejo e sinto de meu dano.

    Oh! poderoso mal a que me entrego!
    Que, no meio do justo desengano,
    me possa inda cegar um moço cego!


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    Mensaje por Maria Lua 08.12.20 8:10

    Dizei, Senhora, da Beleza ideia


    Dizei, Senhora, da Beleza ideia:
    Para fazerdes esse áureo crino,
    Onde fostes buscar esse ouro fino?
    De que escondida mina ou de que veia?

    Dos vossos olhos essa luz febeia,
    Esse respeito, de um império dino?
    Se o alcançastes com saber divino,
    Se com encantamentos de Medeia?

    De que escondidas conchas escolhestes
    As perlas preciosas orientais
    Que, falando, mostrais no doce riso?

    Pois vos formastes tal como quisestes,
    Vigiai-vos de vós, não vos vejais;
    Fugi das fontes: lembre-vos Narciso.
     


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    Mensaje por Maria Lua 16.12.20 7:07

    DE PIEDRA, DE METAL, DE PIEDRA DURA



    De piedra, de metal, de cosa dura,

    El alma, dura ninfa, os ha vestido,

    Pues el cabello es oro endurecido,

    Y marmol es la fronte en su blancura.



    Los ojos, esmeralda verde y escura;

    Granata las mexillas; no fingido,

    El labio es un robí no poseydo;

    Los blancos dientes son de perla pura.



    La mano de marfil, y la garganta

    De alabastro, por donde como yedra

    Las venas van de azul mui rutilante.



    Mas lo que más en toda vos me espanta,

    Es ver que, por que todo fuese piedra,

    Tenéis el corazón como diamante.


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