Aires de Libertad

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      VINICIUS DE MORAES  - Página 12 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Miér Feb 17, 2021 5:26 am

      SONETO DE MAIO


      Suavemente Maio se insinua
      Por entre os véus de Abril, o mês cruel
      E lava o ar de anil, alegra a rua
      Alumbra os astros e aproxima o céu.

      Até a lua, a casta e branca lua
      Esquecido o pudor, baixa o dossel
      E em seu leito de plumas fica nua
      A destilar seu luminoso mel.

      Raia a aurora tão tímida e tão frágil
      Que através do seu corpo transparente
      Dir-se-ia poder-se ver o rosto

      Carregado de inveja e de presságio
      Dos irmãos Junho e Julho, friamente
      Preparando as catástrofes de Agosto...


      Ouro Preto, maio de 1967


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      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
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      VINICIUS DE MORAES  - Página 12 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Jue Feb 18, 2021 1:32 pm

      Pela noite quente eu caminhei...
      Caminhei sem rumo, para o ruído longínquo
      Que eu ouvia, do mar.
      Caminhei talvez para a carne
      Que vira fugir de mim.

      No desespero das árvores paradas busquei consoloção
      E no silêncio das folhas que caíam senti o ódio
      Nos ruídos do mar ouvi o grito de revolta
      E de pavor fugi.

      Nada mais existe para mim
      Só talvez tu, Senhor.
      Mas eu sinto em mim o aniquilamento...

      Dá-me apenas a aurora, Senhor
      Já que eu não poderei jamais ver a luz do dia.


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 12 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Sáb Feb 20, 2021 3:09 am

      ELEGIA QUASE UMA ODE


      Meu sonho, eu te perdi; tornei-me em homem.

      O verso que mergulha o fundo de minha alma
      É simples e fatal, mas não traz carícia...
      Lembra-me de ti, poesia criança, de ti
      Que te suspendias para o poema como que para um seio no espaço.
      Levavas em cada palavra a ânsia
      De todo o sofrimento vivido.

      Queria dizer coisas simples, bem simples
      Que não ferissem teus ouvidos, minha mãe.
      Queria falar em Deus, falar docemente em Deus
      Para acalentar tua esperança, minha avó.
      Queria tornar-me mendigo, ser miserável
      Para participar de tua beleza, meu irmão.
      Queria, meus amigos... queria, meus inimigos...
      Queria...
      queria tão exaltadamente, minha amiga!

      Mas tu, Poesia
      Tu desgraçadamente Poesia
      Tu que me afogaste em desespero e me salvaste
      E me afogaste de novo e de novo me salvaste e me trouxeste
      À borda de abismos irreais em que me lançaste e que depois eram abismos verdadeiros
      Onde vivia a infância corrompida de vermes, a loucura prenhe do Espírito Santo, e idéias em lágrimas, e castigos e redenções mumificados em sêmen cru
      Tu!
      Iluminaste, jovem dançarina, a lâmpada mais triste da memória…

      Pobre de mim, tornei-me em homem.
      De repente, como a árvore pequena
      Que à estação das águas bebe a seiva do húmus farto
      Estira o caule e dorme para despertar adulta
      Assim, poeta, voltaste para sempre.

      No entanto, era mais belo o tempo em que sonhavas...

      Que sonho é minha vida?
      A ti direi que és tu, Maria Aparecida!
      A vós, no pudor de falar ante a vossa grandeza
      Direi que é esquecer todos os sonhos, meus amigos.
      Ao mundo, que ama a lenda dos destinos
      Direi que é o meu caminho de poeta.
      A mim mesmo, hei de chamá-lo inocência, amor, alegria, sofrimento, morte, serenidade
      Hei de chamá-lo assim que sou fraco e mutável
      E porque é preciso que eu não minta nunca para poder dormir.
      Ah
      Devesse eu jamais atender aos apelos do íntimo...

      Teus braços longos, coruscantes; teus cabelos de oleosa cor; tuas mãos musicalíssimas; teus pés que levam a dança prisioneira; teu corpo grave de graça instantânea; o modo com que olhas o âmago da vida; a tua paz, angústia paciente; o teu desejo irrevelado; o grande, o infinito inútil poético! tudo isso seria um sonho a sonhar no teu seio que é tão pequeno...

      Ó, quem me dera não sonhar mais nunca
      Nada ter de tristezas nem saudades
      Ser apenas Moraes sem ser Vinicius!
      Ah, pudesse eu jamais, me levantando
      Espiar a janela sem paisagem
      O céu sem tempo e o tempo sem memória!
      Que hei de fazer de mim que sofro tudo
      Anjo e demônio, angústias e alegrias
      Que peco contra mim e contra Deus!
      Às vezes me parece que me olhando
      Ele dirá, do seu celeste abrigo:
      Fui cruel por demais com esse menino...
      No entanto, que outro olhar de piedade
      Curará neste mundo as minhas chagas?
      Sou fraco e forte, venço a vida: breve
      Perco tudo; breve, não posso mais...
      Oh, natureza humana, que desgraça!
      Se soubesses que força, que loucura
      São todos os teus gestos de pureza
      Contra uma carne tão alucinada!
      Se soubesses o impulso que te impele
      Nestas quatro paredes de minha alma
      Nem sei o que seria deste pobre
      Que te arrasta sem dar um só gemido!
      É muito triste se sofrer tão moço
      Sabendo que não há nenhum remédio
      E se tendo que ver a cada instante
      Que é assim mesmo, que mais tarde passa
      Que sorrir é questão de paciência
      E que a aventura é que governa a vida
      Ó ideal misérrimo, te quero:
      Sentir-me apenas homem e não poeta!

      E escuto... Poeta! triste Poeta!
      Não, foi certamente o vento da manhã nas araucárias
      Foi o vento... sossega, meu coração; às vezes o vento parece falar...
      E escuto... Poeta! pobre Poeta!
      Acalma-te, tranqüilidade minha... é um passarinho, só pode ser um passarinho
      Eu nem me importo... e se não for um passarinho, há tantos lamentos nesta terra...
      E escuto... Poeta! sórdido Poeta!
      Oh angústia! desta vez... não foi a voz da montanha? Não foi o eco distante
      Da minha própria voz inocente?

      Choro.
      Choro atrozmente, como os homens choram.
      As lágrimas correm milhões de léguas no meu rosto que o pranto faz gigantesco.
      Ó lágrimas, sois como borboletas dolorosas
      Volitais dos meus olhos para os caminhos esquecidos…
      Meu pai, minha mãe, socorrei-me!
      Poetas, socorrei-me!
      Penso que daqui a um minuto estarei sofrendo
      Estarei puro, renovado, criança, fazendo desenhos perdidos no ar…
      Venham me aconselhar, filósofos, pensadores
      Venham me dizer o que é a vida, o que é o conhecimento, o que quer dizer a memória
      Escritores russos, alemães, franceses, ingleses, noruegueses
      Venham me dar idéias como antigamente, sentimentos como antigamente
      Venham me fazer sentir sábio como antigamente!
      Hoje me sinto despojado de tudo que não seja música
      Poderia assoviar a idéia da morte, fazer uma sonata de toda a tristeza humana
      Poderia apanhar todo o pensamento da vida e enforcá-lo na ponta de uma clave de Fá!

      Minha Nossa Senhora, dai-me paciência
      Meu Santo Antônio, dai-me muita paciência
      Meu São Francisco de Assis, dai-me muitíssima paciência!
      Se volto os olhos tenho vertigens
      Sinto desejos estranhos de mulher grávida
      Quero o pedaço de céu que vi há três anos, atrás de uma colina que só eu sei
      Quero o perfume que senti não me lembro quando e que era entre sândalo e carne de seio.
      Tanto passado me alucina
      Tanta saudade me aniquila
      Nas tardes, nas manhãs, nas noites da serra.
      Meu Deus, que peito grande que eu tenho
      Que braços fortes que eu tenho, que ventre esguio que eu tenho!
      Para que um peito tão grande
      Para que uns braços tão fortes
      Para que um ventre tão esguio
      Se todo meu ser sofre da solidão que tenho
      Na necessidade que tenho de mil carícias constantes da amiga?
      Por que eu caminhando
      Eu pensando, eu me multiplicando, eu vivendo
      Por que eu nos sentimentos alheios
      E eu nos meus próprios sentimentos
      Por que eu animal livre pastando nos campos
      E príncipe tocando o meu alaúde entre as damas do senhor rei meu pai
      Por que eu truão nas minhas tragédias
      E Amadis de Gaula nas tragédias alheias?

      Basta!
      Basta, ou dai-me paciência!
      Tenho tido muita delicadeza inútil
      Tenho me sacrificado muito demais, um mundo de mulheres em excesso tem me vendido
      Quero um pouso
      Me sinto repelente, impeço os inocentes de me tocarem
      Vivo entre as águas torvas da minha imaginação
      Anjos, tangei sinos
      O anacoreta quer a sua amada
      Quer a sua amada vestida de noiva
      Quer levá-la para a neblina do seu amor...

      Mendelssohn, toca a tua marchinha inocente
      Sorriam pajens, operárias curiosas
      O poeta vai passar soberbo
      Ao seu abraço uma criança fantástica derrama os óleos santos das últimas lágrimas
      Ah, não me afogueis em flores, poemas meus, voltai aos livros
      Não quero glórias, pompas, adeus!
      Solness, voa para a montanha, meu amigo
      Começa a construir uma torre bem alta, bem alta...



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      VINICIUS DE MORAES  - Página 12 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Lun Feb 22, 2021 3:43 am

      ELEGIA LÍRICA


      Um dia, tendo ouvido bruscamente o apelo da amiga desconhecida
      Pus-me a descer contente pela estrada branca do sul
      E em vão eram tristes os rios e torvas as águas
      Nos vales havia mais poesia que em mil anos.

      Eu devia ser como o filósofo errante à imagem da Vida
      O riso me levava nas asas vertiginosas das andorinhas
      E em vão eram tristes os rios e torvas as águas
      Sobre o horizonte em fogo cavalos vermelhos pastavam.

      Por todos os lados flores, não flores ardentes, mas outras flores
      Singelas, que se poderiam chamar de outros nomes que não os seus
      Flores como borboletas prisioneiras, algumas pequenas e pobrezinhas
      Que lá aos vossos pés riam-se como orfãozinhas despertadas.

      Que misericórdia sem termo vinha se abatendo sobre mim!
      Meus braços se fizeram longos para afagar os seios das montanhas
      Minhas mãos se tornaram leves para reconduzir o animalzinho transviado
      Meus dedos ficaram suaves para afagar a pétala murcha.

      E acima de tudo me abençoava o anjo do amor sonhado...
      Seus olhos eram puros e mutáveis como profundezas de lago
      Ela era como uma nuvem branca num céu de tarde
      Triste, mas tão real e evocativa como uma pintura.

      Cheguei a querê-la em lágrimas, como uma criança
      Vendo-a dançar ainda quente de sol nas gazes frias da chuva
      E a correr para ela, quantas vezes me descobri confuso
      Diante de fontes nuas que me prendiam e me abraçavam...

      Meu desejo era bom e meu amor fiel
      Versos que outrora fiz vinham-me sorrir à boca...
      Oh, doçura! que colméia és de tanta abelha
      Em meu peito a derramares mel tão puro!

      E vi surgirem as luzes brancas da cidade
      Que me chamavam; e fui... Cheguei feliz
      Abri a porta... ela me olhou e perguntou meu nome:
      Era uma criança, tinha olhos exaltados, parecia me esperar.

      *

      A minha namorada é tão bonita, tem olhos como besourinhos do céu
      Tem olhos como estrelinhas que estão sempre balbuciando aos passarinhos...
      É tão bonita! tem um cabelo fino, um corpo de menino e um andar pequenino
      E é a minha namorada... vai e vem como uma patativa, de repente morre de amor
      Tem fala de S e dá a impressão que está entrando por uma nuvem adentro...
      Meu Deus, eu queria brincar com ela, fazer comidinha, jogar nai-ou-nentes
      Rir e num átimo dar um beijo nela e sair correndo
      E ficar de longe espiando-lhe a zanga, meio vexado, meio sem saber o que faça...
      A minha namorada é muito culta, sabe aritmética, geografia, história, contraponto
      E se eu lhe perguntar qual a cor mais bonita ela não dirá que é a roxa porém brique.
      Ela faz coleção de cactos, acorda cedo vai para o trabalho
      E nunca se esquece que é a menininha do poeta.
      Se eu lhe perguntar: Meu anjo, quer ir à Europa? ela diz: Quero se mamãe for!
      Se eu lhe perguntar: Meu anjo, quer casar comigo? ela diz... - não, ela não acredita.
      É doce! gosta muito de mim e sabe dizer sem lágrimas: Vou sentir tantas saudades quando você for...
      É uma nossa senhorazinha, é uma cigana, é uma coisa
      Que me faz chorar na rua, dançar no quarto, ter vontade de me matar e de ser presidente da república.
      É boba, ela! tudo faz, tudo sabe, é linda, ó anjo de Domremy!
      Dêem-lhe uma espada, constrói um reino; dêem-lhe uma agulha, faz um crochê
      Dêem-lhe um teclado, faz uma aurora, dêem-lhe razão, faz uma briga...!
      E do pobre ser que Deus lhe deu, eu, filho pródigo, poeta cheio de erros
      Ela fez um eterno perdido...

      "Meu benzinho adorado minha triste irmãzinha eu te peço por tudo o que há de mais sagrado que você me escreva uma cartinha sim dizendo como é que você vai que eu não sei eu ando tão zaranza por causa do teu abandono eu choro e um dia pego tomo um porre danado que você vai ver e aí nunca mais mesmo que você me quer e sabe o que eu faço eu vou-me embora para sempre e nunca mas vejo esse rosto lindo que eu adoro porque você é toda a minha vida e eu só escrevo por tua causa ingrata e só trabalho para casar com você quando a gente puder porque agora tudo está tão difícil mas melhora não se afobe e tenha confiança em mim que te quero acima do próprio Deus que me perdoe eu dizer isso mais é sincero porque ele sabe que ontem pensei todo o dia em você e acabei chorando no rádio por causa daquele estudo de Chopin que você tocou antes de eu ir-me embora e imagina só que estou fazendo uma história para você muito bonita e quando chega de noite eu fico tão triste que até dá pena e tenho vontade de ir correndo te ver e beijo o ar feito bobo com uma coisa no coração que já fui até no médico mas ele disse que é nervoso e me falou que eu sou emotivo e eu peguei ri na cara dele e ele ficou uma fera que a medicina dele não sabe que o meu bem está longe melhor para ele eu só queria te ver uma meia hora eu pedia tanto que você acabava ficando enfim adeus que já estou até cansado de tanta saudade e tem gente aqui perto e fica feio eu chorar na frente deles eu não posso adeus meu rouxinol me diz boa-noite e dorme pensando neste que te adora e se puder pensa o menos possível no teu amigo para você não se entristecer muito que só mereces felicidade do teu definitivo e sempre amigo..."

      Tudo é expressão.

      Neste momento, não importa o que eu te diga
      Voa de mim como uma incontensão de alma ou como um afago.
      Minhas tristezas, minhas alegrias
      Meus desejos são teus, toma, leva-os contigo!
      És branca, muito branca
      E eu sou quase eterno para o teu carinho.
      Não quero dizer nem que te adoro
      Nem que tanto me esqueço de ti
      Quero dizer-te em outras palavras todos os votos de amor jamais sonhados

      Alóvena, ebaente
      Puríssima, feita para morrer...


      Crucificado estou
      Na ânsia deste amor
      Que o pranto me transporta sobre o mar
      Pelas cordas desta lira
      Todo o meu ser delira
      Na alma da viola a soluçar!"
      Bordões, primas
      Falam mais que rimas.
      É estranho
      Sinto que ainda estou longe de tudo
      Que talvez fosse cantar um blues
      Yes!
      Mas
      O maior medo é que não me ouças
      Que estejas deitada sonhando comigo
      Vendo o vento soprar o avental da tua janela
      Ou na aurora boreal de uma igreja escutando se erguer o sol de Deus.
      Mas tudo é expressão!
      Insisto nesse ponto, senhores jurados
      O meu amor diz frases temíveis:
      Angústia mística
      Teorema poético
      Cultura grega dos passeios no parque...

      No fundo o que eu quero é que ninguém me entenda Para eu poder te amar tragicamente!


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 12 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Mar Feb 23, 2021 3:45 am

      ELEGIA DESESPERADA

      Alguém que me falasse do mistério do Amor
      Na sombra — alguém; alguém que me mentisse
      Em sorrisos, enquanto morriam os rios, enquanto morriam
      As aves do céu! e mais que nunca
      No fundo da carne o sonho rompeu um claustro frio
      Onde as lúcidas irmãs na branca loucura das auroras
      Rezam e choram e velam o cadáver gelado ao sol!
      Alguém que me beijasse e me fizesse estacar
      No meu caminho — alguém! — as torres ermas
      Mais altas que a lua, onde dormem as virgens
      Nuas, as nádegas crispadas no desejo
      Impossível dos homens — ah! deitariam a sua maldição!
      Ninguém... nem tu, andorinha, que para seres minha
      Foste mulher alta, escura e de mãos longas...
      Revesti-me de paz? — não mais se me fecharão as chagas
      Ao beijo ardente dos ideais — perdi-me
      De paz! sou rei, sou árvore
      No plácido país do Outono; sou irmão da névoa
      Ondulante, sou ilha no gelo, apaziguada!
      E no entanto, se eu tivesse ouvido em meu silêncio uma voz
      De dor, uma simples voz de dor... mas! fecharam-me
      As portas, sentaram-se todos à mesa e beberam o vinho
      Das alegrias e penas da vida (e eu só tive a lua
      Lívida, a lésbica que me poluiu da sua eterna
      Insensível polução...) Gritarei a Deus? — ai dos homens!
      Aos homens? — ai de mim! Cantarei
      Os fatais hinos da redenção? Morra Deus
      Envolto em música! — e que se abracem
      As montanhas do mundo para apagar o rasto do poeta!

      *

      E o homem vazio se atira para o esforço desconhecido
      Impassível. A treva amarga o vento. No silêncio
      Troa invisível o tantã das tribos bárbaras
      E descem os rios loucos para a imaginação humana.

      Do céu se desprende a face maravilhosa de Canópus
      Para o muito fundo da noite... — e um grito cresce desorientado
      Um grito de virgem que arde... — na copa dos pinheiros
      Nem um piar de pássaro, nem uma visão consoladora da lua.

      É o instante em que o medo poderia ser para sempre
      Em que as planícies se ausentam e deixam as entranhas cruas da terra
      Para as montanhas, a imagem do homem crispado, correndo
      É a visão do próprio desespero perdido na própria imobilidade.

      Ele traz em si mesmo a maior das doenças
      Sobre o seu rosto de pedra os olhos são órbitas brancas
      À sua passagem as sensitivas se fecham apavoradas
      E as árvores se calam e tremem convulsas de frio.

      O próprio bem tem nele a máscara do gelo
      E o seu crime é cruel, lúcido e sem paixão
      Ele mata a avezinha só porque a viu voando
      E queima florestas inteiras para aquecer as mãos.

      Seu olhar que rouba às estrelas belezas recônditas
      Debruça-se às vezes sobre a borda negra dos penhascos
      E seu ouvido agudo escuta longamente em transe
      As gargalhadas cínicas dos vampiros e dos duendes.

      E se acontece encontrar em seu fatal caminho
      Essas imprudentes meninas que costumam perder-se nos bosques
      Ele as apaixona de amor e as leva e as sevicia
      E as lança depois ao veneno das víboras ferozes.

      Seu nome é terrível. Se ele o grita silenciosamente
      Deus se perde de horror e se destrói no céu.
      Desespero! Desespero! Porta fechada ao mal
      Loucura do bem, desespero, criador de anjos!

      *

      (O desespero da piedade)

      Meu senhor, tende piedade dos que andam de bonde
      E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
      Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
      Quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.

      Tende piedade das pequenas famílias suburbanas
      E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
      Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
      E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina.

      Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
      Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
      Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
      E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.

      Tende imensa piedade dos músicos dos cafés e casas de chá
      Que são virtuoses da própria tristeza e solidão
      Mas tende piedade também dos que buscam o silêncio
      E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.

      Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram
      E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
      Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
      E tornam-se heroicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.

      Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos
      Que em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
      E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão
      Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe aonde vão...

      Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros
      Que se efeminam por profissão mas que são humildes nas suas carícias
      Mas tende mais piedade ainda dos que cortam o cabelo:
      Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!

      Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria
      Que lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
      Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
      Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.

      Tende piedade dos homens úteis como os dentistas
      Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
      Mas tende mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
      Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

      Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
      Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
      Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
      Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

      E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tende piedade das mulheres
      Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
      Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
      Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

      Tende piedade da moça feia que serve na vida
      De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
      Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
      Que o homem molesta — que o homem não presta, não presta, meu Deus!

      Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais
      Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
      E sonham exaltadas nos quartos humildes
      Os olhos perdidos e o seio na mão.

      Tende piedade da mulher no primeiro coito
      Onde se cria a primeira alegria da Criação
      E onde se consuma a tragédia dos anjos
      E onde a morte encontra a vida em desintegração.

      Tende piedade da mulher no instante do parto
      Onde ela é como a água explodindo em convulsão
      Onde ela é como a terra vomitando cólera
      Onde ela é como a lua parindo desilusão.

      Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
      Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
      Mas tende piedade também das mulheres casadas
      Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

      Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
      Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
      Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
      E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

      Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
      De corpo hermético e coração patético
      Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçadas
      Que se creem vestidas mas que em verdade vivem nuas.

      Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
      Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
      Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
      Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.

      Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
      Que são crianças e são trágicas e são belas
      Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
      E que têm a única emoção da vida nelas.

      Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
      Ter piedade de si mesma e de sua louca mocidade
      E outra, à simples emoção do amor piedoso
      Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

      Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
      A vida fere mais fundo e mais fecundo
      E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
      E a loucura reside nesse mundo.

      Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
      Dos meninos velhos, dos homens humilhados — sede enfim
      Piedoso com todos, que tudo merece piedade
      E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!



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      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
      (Hánjel)





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      VINICIUS DE MORAES  - Página 12 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Miér Feb 24, 2021 5:03 am

      ELEGIA AO PRIMEIRO AMIGO

      Seguramente não sou eu
      Ou antes: não é o ser que eu sou, sem finalidade e sem história.
      É antes uma vontade indizível de te falar docemente
      De te lembrar tanta aventura vivida, tanto meandro de ternura
      Neste momento de solidão e desmesurado perigo em que me encontro.
      Talvez seja o menino que um dia escreveu um soneto para o dia de teus anos
      E te confessava um terrível pudor de amar, e que chorava às escondidas
      Porque via em muitos dúvidas sobre uma inteligência que ele estimava genial.
      Seguramente não é a minha forma.
      A forma que uma tarde, na montanha, entrevi, e que me fez tão tristemente temer minha própria poesia.
      É apenas um prenúncio do mistério
      Um suspiro da morte íntima, ainda não desencantada...
      Vim para ser lembrado
      Para ser tocado de emoção, para chorar
      Vim para ouvir o mar contigo
      Como no tempo em que o sonho da mulher nos alucinava, e nós
      Encontrávamos força para sorrir à luz fantástica da manhã.
      Nossos olhos enegreciam lentamente de dor
      Nossos corpos duros e insensíveis
      Caminhavam léguas — e éramos o mesmo afeto
      Para aquele que, entre nós, ferido de beleza
      Aquele de rosto de pedra
      De mãos assassinas e corpo hermético de mártir
      Nos criava e nos destruía à sombra convulsa do mar.
      Pouco importa que tenha passado, e agora
      Eu te possa ver subindo e descendo os frios vales
      Ou nunca mais irei, eu
      Que muita vez neles me perdi para afrontar o medo da treva...
      Trazes ao teu braço a companheira dolorosa
      A quem te deste como quem se dá ao abismo, e para quem cantas o teu desespero como um grande pássaro sem ar.
      Tão bem te conheço, meu irmão; no entanto
      Quem és, amigo, tu que inventaste a angústia
      E abrigaste em ti todo o patético?
      Não sei o que tenho de te falar assim: sei
      Que te amo de uma poderosa ternura que nada pede nem dá
      Imediata e silenciosa; sei que poderias morrer
      E eu nada diria de grave; decerto
      Foi a primavera temporã que desceu sobre o meu quarto de mendigo
      Com seu azul de outono, seu cheiro de rosas e de velhos livros...
      Pensar-te agora na velha estrada me dá tanta saudade de mim mesmo
      Me renova tanta coisa, me traz à lembrança tanto instante vivido:
      Tudo isso que vais hoje revelar à tua amiga, e que nós descobrimos numa incomparável aventura
      Que é como se me voltasse aos olhos a inocência com que um dia dormi nos braços de uma mulher que queria me matar.
      Evidentemente (e eu tenho pudor de dizê-lo)
      Quero um bem enorme a vocês dois, acho vocês formidáveis
      Fosse tudo para dar em desastre no fim, o que não vejo possível
      (Vá lá por conta da necessária gentileza...)
      No entanto, delicadamente, me desprenderei da vossa companhia, deixar-me-ei ficar para trás, para trás...
      Existo também; de algum lugar
      Uma mulher me vê viver; de noite, às vezes
      Escuto vozes ermas
      Que me chamam para o silêncio.
      Sofro
      O horror dos espaços
      O pânico do infinito
      O tédio das beatitudes.
      Sinto
      Refazerem-se em mim mãos que decepei de meus braços
      Que viveram sexos nauseabundos, seios em putrefação.
      Ah, meu irmão, muito sofro! de algum lugar, na sombra
      Uma mulher me vê viver... — perdi o meio da vida
      E o equilíbrio da luz; sou como um pântano ao luar.

      *

      Falarei baixo
      Para não perturbar tua amiga adormecida
      Serei delicado. Sou muito delicado. Morro de delicadeza.
      Tudo me merece um olhar. Trago
      Nos dedos um constante afago para afagar; na boca
      Um constante beijo para beijar; meus olhos
      Acarinham sem ver; minha barba é delicada na pele das mulheres.
      Mato com delicadeza. Faço chorar delicadamente
      E me deleito. Inventei o carinho dos pés; minha palma
      Áspera de menino de ilha pousa com delicadeza sobre um corpo de adúltera.
      Na verdade, sou um homem de muitas mulheres, e com todas delicado e atento
      Se me entediam, abandono-as delicadamente, desprendendo-me delas com uma doçura de água
      Se as quero, sou delicadíssimo; tudo em mim
      Desprende esse fluido que as envolve de maneira irremissível
      Sou um meigo energúmeno. Até hoje só bati numa mulher
      Mas com singular delicadeza. Não sou bom
      Nem mau: sou delicado. Preciso ser delicado
      Porque dentro de mim mora um ser feroz e fratricida
      Como um lobo. Se não fosse delicado
      Já não seria mais. Ninguém me injuria
      Porque sou delicado; também não conheço o dom da injúria.
      Meu comércio com os homens é leal e delicado; prezo ao absurdo
      A liberdade alheia; não existe
      Ser mais delicado que eu; sou um místico da delicadeza
      Sou um mártir da delicadeza; sou
      Um monstro de delicadeza.

      *

      Seguramente não sou eu:
      É a tarde, talvez, assim parada
      Me impedindo de pensar. Ah, meu amigo
      Quisera poder dizer-te tudo; no entanto
      Preciso desprender-me de toda lembrança; de algum lugar
      Uma mulher me vê viver, que me chama; devo
      Segui-la, porque tal é o meu destino. Seguirei
      Todas as mulheres em meu caminho, de tal forma
      Que ela seja, em sua rota, uma dispersão de pegadas
      Para o alto, e não me reste de tudo, ao fim
      Senão o sentimento desta missão e o consolo de saber
      Que fui amante, e que entre a mulher e eu alguma coisa existe
      Maior que o amor e a carne, um secreto acordo, uma promessa
      De socorro, de compreensão e de fidelidade para a vida.


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 12 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Jue Feb 25, 2021 6:13 am

      O MÁGICO

      Diante do mágico a multidão boquiaberta se esquece. Não há mais lugar na Grande Praça: as ruas adjacentes se cobrem de uma negra onda humana. Em todas as casas a curiosidade do mistério abriu todas as janelas. A espantosa fachada da Catedral se apinha de garotos acrobatas que se penduram nos relevos como anjos. É talvez Paris do Terror, porque os velhos pardieiros como que se inclinam para o espetáculo incessante e na porta das hospedarias há velhas tabuletas pendentes, mas também pode ser uma vila alemã, onde as campainhas das lojas tilintam alegremente, ou mesmo o Rio do tempo dos Vice-Reis, com os seus Capitães-Mores traficando em suas redes e fitando duramente o artista.

      O mágico está sobre o antigo pelourinho ou forca ou guilhotina por onde muitas gerações passaram.

      As abas da sua casaca vão ao vento — é uma negra andorinha saltitante! As brancas mãos se misturam em ondulantes movimentos de dança.

      É de tarde, hora do trabalho. Na primeira fila estão os senhores e na última os escravos do dever. Os senhores procuram adivinhar, os escravos procuram rir. O mágico se diverte com a multidão, a multidão se diverte com o mágico. Um filósofo e um dançarino perdidos confundem a multidão com o mágico e aguardam.

      Todos se divertem à sua maneira.

      *

      Silêncio, o mágico fala, todos escutam! “Ahora, presentaré el famoso entretenimiento de las palomas.” A dama oriental faz uma pirueta ágil e mostra ao público a cartola milagrosa. O mágico faz passes, cobre a cartola com um lenço vermelho de seda. “Un dos y...!” voam pombas brancas para o céu de safira. A multidão olha para cima, as mãos aparando o sol. O movimento prossegue. Toda a praça, toda a rua, toda a cidade olha para cima, o subúrbio olha para cima, os camponeses olham para cima. “O que estará para acontecer? Dizem que um tufão caminha do levante!” Acendem-se ícones nas isbás da estepe russa, fazem-se procissões em Portugal. O chefe guerreiro da tribo vê o sinal da guerra no céu, rugem os trocanos. O mágico joga a cartola para a multidão, que aplaude. O poeta apanha a cartola e recolhe nela o encantamento que se processou. As pombas invisíveis voltam, o poeta as contempla. Só elas são o Íntimo da Vida.

      *

      E o tufão cai de súbito, vindo do Levante. Os garotos escorrem pelas colunas, formigam pelas escadarias, escondem-se nos nichos. O povo se escoa como uma água lodosa pelas portas das casas que abrem e fecham. A um gesto de guignol todas as janelas se retraem e após um minuto de rumor intenso desce uma eternidade de silêncio. Uma procelária passando em busca do mar só vê da cidade as suas torres acima do grande nevoeiro. Os rios rugem, as pontes desabam, nas sarjetas boiam cadáveres de crianças ciganas. O dilúvio leva a música do mágico, leva as pinturas do mágico, leva as bonecas do mágico, só não leva o mágico na torrente.
      O poeta sobe ao palanque, castiga o mágico, possui a mulher do mágico, apresenta ao alto a cabeça e o coração, onde surgem e desaparecem pombas brancas e onde a realidade efêmera floresce no mistério perpétuo.
      Mágico do inescrutável, o poeta aguarda o raio de Deus.


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      Mensaje por Maria Lua Jue Feb 25, 2021 6:14 am

      A MÁSCARA DA NOITE

      Sim, essa tarde conhece todos os meus pensamentos
      Todos os meus segredos e todos os meus patéticos anseios
      Sob esse céu como uma visão azul de incenso
      As estrelas são perfumes passados que me chegam...

      Sim! essa tarde que eu não conheço é uma mulher que me chama
      E eis que é uma cidade apenas, uma cidade dourada de astros
      Aves, folhas silenciosas, sons perdidos em cores
      Nuvens como velas abertas para o tempo...

      Não sei, toda essa evocação perdida, toda essa música perdida
      É como um pressentimento de inocência, como um apelo...
      Mas para que buscar se a forma ficou no gesto esvanecida
      E se a poesia ficou dormindo nos braços de outrora...

      Como saber se é tarde, se haverá manhã para o crepúsculo
      Nesse entorpecimento, neste filtro mágico de lágrimas?
      Orvalho, orvalho! desce sobre os meus olhos, sobre o meu sexo
      Faz-se surgir diamante dentro do sol!

      Lembro-me!... como se fosse a hora da memória
      Outras tardes, outras janelas, outras criaturas na alma
      O olhar abandonado de um lago e o frêmito de um vento
      Seios crescendo para o poente como salmos...

      Oh, a doce tarde! Sobre mares de gelo ardentes de revérbero
      Vagam placidamente navios fantásticos de prata
      E em grandes castelos cor de ouro, anjos azuis serenos
      Tangem sinos de cristal que vibram na imensa transparência!

      Eu sinto que essa tarde está me vendo, que essa serenidade está me vendo
      Que o momento da criação está me vendo neste instante doloroso de sossego em mim mesmo
      Oh criação que estás me vendo, surge e beija-me os olhos
      Afaga-me os cabelos, canta uma canção para eu dormir!

      És bem tu, máscara da noite, com tua carne rósea
      Com teus longos xales campestres e com teus cânticos
      És bem tu! ouço teus faunos pontilhando as águas de sons de flautas
      Em longas escalas cromáticas fragrantes...

      Ah, meu verso tem palpitações dulcíssimas! — primaveras!
      Sonhos bucólicos nunca sonhados pelo desespero
      Visões de rios plácidos e matas adormecidas
      Sobre o panorama crucificado e monstruoso dos telhados!

      Por que vens, noite? por que não adormeces o teu crepe
      Por que não te esvais — espectro — nesse perfume tenro de rosas?
      Deixa que a tarde envolva eternamente a face dos deuses
      Noite, dolorosa noite, misteriosa noite!

      Oh tarde, máscara da noite, tu és a presciência
      Só tu conheces e acolhes todos os meus pensamentos
      O teu céu, a tua luz, a tua calma
      São a palavra da morte e do sonho em mim!



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      VINICIUS DE MORAES  - Página 12 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Dom Feb 28, 2021 8:47 am

      Me quedaré solo como los veleros
      en los puertos silenciosos.
      Pero te poseeré más que nadie
      porque podré irme
      y todos los lamentos del mar,
      del viento, del cielo, de las aves,
      de las estrellas, serán tu voz presente,
      tu voz ausente, tu voz sosegada.


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      Mensaje por Maria Lua Mar Mar 02, 2021 11:25 am

      RETRATO, À SUA MANEIRA

      Magro entre pedras
      Calcárias possível
      Pergaminho para
      A anotação gráfica

      O grafito Grave
      Nariz poema o
      Fêmur fraterno
      Radiografável a

      Olho nu Árido
      Como o deserto
      E além Tu
      Irmão totem aedo

      Exato e provável
      No friso do tempo
      Adiante Ave
      Camarada diamante!


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      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
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      Mensaje por Maria Lua Mar Mar 09, 2021 5:00 am

      MENSAGEM À POESIA


      Não posso
      Não é possível
      Digam-lhe que é totalmente impossível
      Agora não pode ser
      É impossível
      Não posso.
      Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.
      Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
      Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
      Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
      E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
      A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
      Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
      Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso reconquistar a vida.
      Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
      Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
      Ponderem-lhe, com cuidado — não a magoem... — que se não vou
      Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
      Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
      Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
      Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
      Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
      E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
      Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
      Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
      A terrível participação, e que possivelmente

      Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
      Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.

      Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
      Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
      Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
      Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
      Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
      Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
      Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
      Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
      Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
      Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
      Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
      Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
      Há fantasmas que me visitam de noite
      E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
      No amanhã
      Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
      Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
      Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
      Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
      De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
      Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
      Por um momento, que não me chame
      Porque não posso ir
      Não posso ir
      Não posso.
      Mas não a traí.
      Em meu coração
      Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
      Envergonhá-la.
      A minha ausência.
      É também um sortilégio
      Do seu amor por mim.
      Vivo do desejo de revê-la
      Num mundo em paz.
      Minha paixão de homem
      Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
      Loucura resta comigo.
      Talvez eu deva
      Morrer sem vê-la mais, sem sentir mais
      O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
      Livre e nua nas praias e nos céus
      E nas ruas da minha insônia.
      Digam-lhe que é esse
      O meu martírio; que às vezes
      Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
      Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me impelem para a treva
      Mas que eu devo resistir, que é preciso...
      Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
      Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
      Num amor cheio de renúncia.
      Oh, peçam a ela
      Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
      A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
      A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
      Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
      A quem foi dado se perder de amor pelo direito
      De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
      E uma menininha de vermelho; e se perdendo
      Ser-lhe doce perder-se...
      Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
      Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
      Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
      É mais forte do que eu, não posso ir
      Não é possível
      Me é totalmente impossível
      Não pode ser não
      É impossível
      Não posso.



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      siendo guardián en tu cielo
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      Mensaje por Maria Lua Mar Mar 09, 2021 5:39 am

      INTROSPECÇÃO

      Nuvens lentas passavam
      Quando eu olhei o céu.
      Eu senti na minha alma a dor do céu
      Que nunca poderá ser sempre calmo.

      Quando eu olhei a árvore perdida
      Não vi ninhos nem pássaros.
      Eu senti na minha alma a dor da árvore
      Esgalhada e sozinha
      Sem pássaros cantando nos seus ninhos.

      Quando eu olhei minha alma
      Vi a treva.
      Eu senti no céu e na árvore perdida
      A dor da treva que vive na minha alma.


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      Mensaje por Maria Lua Mar Mar 09, 2021 6:36 am

      POEMA PARA TODAS LAS MUJERES

      Sobre tus blancos pechos lloro,
      mis lágrimas bajan por tu vientre
      y se embriagan del perfume de tu sexo.
      ¿Mujer, qué máquina eres, que solo me tienes desesperado
      confuso, niño para contenerte?
      ¡Ah, no cierres tus brazos sobre mi tristeza, no!
      ¡Ah, no abandones tu boca a mi inocencia, no!
      Hombre, soy bello, Macho, soy fuerte; poeta soy altísimo
      y sólo la pureza me ama y ella es en mí, una ciudad
      y tiene allí mil y una puertas.
      ¡Ay! tus cabellos huelen a la flor del mirto
      ¡Mejor sería morir o verte muerta
      y nunca, nunca más poder tocarte!
      Pero, fauno, siento el viento del mar rozarme los brazos
      Ángel, siento el calor del viento en las espumas
      Pájaro, siento el nido en tu vello
      ¡Corred, corred, oh lágrimas nostálgicas
      ahogadme, sacadme de este tiempo
      llevadme hacia el campo de las estrellas
      entregadme de prisa a la luna llena
      dadme el lento poder del soneto,
      dadme la iluminación de las odas
      dadme el cantar de los cantares.
      Que no puedo más, ¡Ay!¡que esta mujer me devora!
      ¡que yo quiero huir, quiero a mi mamita,
      quiero el regazo de Nuestra Señora!

      -------------------


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      Mensaje por Maria Lua Mar Mar 09, 2021 8:12 am

      Na hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas
      Meu espírito te sentiu.
      Ele te sentiu imensamente triste
      Imensamente sem Deus
      Na tragédia da carne desfeita.

      Ele te quis, hora sem tempo
      Porque tu eras a sua imagem, sem Deus e sem tempo.
      Ele te amou
      E te plasmou na visão da manhã e do dia
      Na visão de todas as horas
      Ó hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas.


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      Mensaje por Maria Lua Miér Mar 10, 2021 6:38 am

      SACRIFÍCIO DA AURORA

      Um dia a aurora chegou-se
      Ao meu quarto de marfim
      E com seu riso mais doce
      Deitou-se junto de mim
      Beijei-lhe a boca orvalhada
      E a carne tímida e exangue
      A carne não tinha sangue
      A boca sabia a nada.

      Apaixonei-me da Aurora
      No meu quarto de marfim
      Todo o dia à mesma hora
      Amava-a só para mim
      Palavras que me dizia
      Transfiguravam-se em neve
      Era-lhe o peso tão leve
      Era-lhe a mão tão macia.

      Às vezes me adormecia
      No meu quarto de marfim
      Para acordar, outro dia
      Com a Aurora longe de mim
      Meu desespero covarde
      Levava-me dia afora
      Andando em busca da Aurora
      Sem ver Manhã, sem ver Tarde.

      Hoje, ai de mim, de cansado
      Há dias que até da vida
      Durmo com a Noite, ausentado
      Da minha Aurora esquecida...
      É que apesar de sombria
      Prefiro essa grande louca
      À Aurora, que além de pouca
      É fria, meu Deus, é fria!



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      Mensaje por Maria Lua Miér Mar 10, 2021 7:24 am

      REVOLTA


      Alma que sofres pavorosamente
      A dor de seres privilegiada
      Abandona o teu pranto, sê contente
      Antes que o horror da solidão te invada.

      Deixa que a vida te possua ardente
      Ó alma supremamente desgraçada.
      Abandona, águia, a inóspita morada
      Vem rastejar no chão como a serpente.

      De que te vale o espaço se te cansa?
      Quanto mais sobes mais o espaço avança...
      Desce ao chão, águia audaz, que a noite é fria.

      Volta, ó alma, ao lugar de onde partiste
      O mundo é bom, o espaço é muito triste...
      Talvez tu possas ser feliz um dia.


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      Mensaje por Maria Lua Jue Mar 11, 2021 4:30 am

      SONETO DO SÓ


      (Parábola de Malte Laurids Brigge)


      Depois foi só. O amor era mais nada
      Sentiu-se pobre e triste como Jó
      Um cão veio lamber-lhe a mão na estrada
      Espantado, parou. Depois foi só.

      Depois veio a poesia ensimesmada
      Em espelhos. Sofreu de fazer dó
      Viu a face do Cristo ensanguentada
      Da sua, imagem — e orou. Depois foi só.

      Depois veio o verão e veio o medo
      Desceu de seu castelo até o rochedo
      Sobre a noite e do mar lhe veio a voz

      A anunciar os anjos sanguinários...
      Depois cerrou os olhos solitários
      E só então foi totalmente a sós.



      Rio, 1946


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      Mensaje por Maria Lua Vie Mar 12, 2021 4:46 am

      SONETO DE ANIVERSÁRIO

      Passem-se dias, horas, meses, anos
      Amadureçam as ilusões da vida
      Prossiga ela sempre dividida
      Entre compensações e desenganos.

      Faça-se a carne mais envilecida
      Diminuam os bens, cresçam os danos
      Vença o ideal de andar caminhos planos
      Melhor que levar tudo de vencida.

      Queira-se antes ventura que aventura
      À medida que a têmpora embranquece
      E fica tenra a fibra que era dura.

      E eu te direi: amiga minha, esquece...
      Que grande é este amor meu de criatura
      Que vê envelhecer e não envelhece.


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      Mensaje por Maria Lua Vie Mar 12, 2021 4:47 am

      A QUE VEM DE LONGE

      A minha amada veio de leve
      A minha amada veio de longe
      A minha amada veio em silêncio
      Ninguém se iluda.

      A minha amada veio da treva
      Surgiu da noite qual dura estrela
      Sempre que penso no seu martírio
      Morro de espanto.

      A minha amada veio impassível
      Os pés luzindo de luz macia
      Os alvos braços em cruz abertos
      Alta e solene.

      Ao ver-me posto, triste e vazio
      Num passo rápido a mim chegou-se
      E com singelo, doce ademane
      Roçou-me os lábios.

      Deixei-me preso ao seu rosto grave
      Preso ao seu riso no entanto ausente
      Inconsciente de que chorava
      Sem dar-me conta.

      Depois senti-lhe o tímido tato
      Dos lentos dedos tocar-me o peito
      E as unhas longas se me cravarem
      Profundamente.

      Aprisionado num só meneio
      Ela cobriu-me de seus cabelos
      E os duros lábios no meu pescoço
      Pôs-se a sugar-me.

      Muitas auroras transpareceram
      Do meu crescente ficar exangue
      Enquanto a amada suga-me o sangue
      Que é a luz da vida.


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      Mensaje por Maria Lua Vie Mar 12, 2021 4:48 am

      POEMA DOS OLHOS DA AMADA

      Vinicius de Moraes , Paulo Soledade


      Ó minha amada
      Que olhos os teus
      São cais noturnos
      Cheios de adeus
      São docas mansas
      Trilhando luzes
      Que brilham longe
      Longe nos breus...

      Ó minha amada
      Que olhos os teus
      Quanto mistério
      Nos olhos teus
      Quantos saveiros
      Quantos navios
      Quantos naufrágios
      Nos olhos teus...

      Ó minha amada
      Que olhos os teus
      Se Deus houvera
      Fizera-os Deus
      Pois não os fizera
      Quem não soubera
      Que há muitas eras
      Nos olhos teus.

      Ah, minha amada
      De olhos ateus
      Cria a esperança
      Nos olhos meus
      De verem um dia
      O olhar mendigo
      Da poesia
      Nos olhos teus.

      Edições Euterpe LTDA


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      Mensaje por Maria Lua Vie Mar 12, 2021 4:49 am

      SONETO DE CONTRIÇÃO


      Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
      Que o meu peito me dói como em doença
      E quanto mais me seja a dor intensa
      Mais cresce na minha alma teu encanto.

      Como a criança que vagueia o canto
      Ante o mistério da amplidão suspensa
      Meu coração é um vago de acalanto
      Berçando versos de saudade imensa.

      Não é maior o coração que a alma
      Nem melhor a presença que a saudade
      Só te amar é divino, e sentir calma...

      E é uma calma tão feita de humildade
      Que tão mais te soubesse pertencida
      Menos seria eterno em tua vida.

      Rio, 1938


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      o un ciego soñando
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      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
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      Mensaje por Maria Lua Sáb Mar 13, 2021 3:20 am

      O NASCIMENTO DO HOMEM

      I

      E uma vez, quando ajoelhados assistíamos à dança nua das auroras
      Surgiu do céu parado como uma visão de alta serenidade
      Uma branca mulher de cujo sexo a luz jorrava em ondas
      E de cujos seios corria um doce leite ignorado.

      Oh, como ela era bela! era impura — mas como ela era bela!
      Era como um canto ou como uma flor brotando ou como um cisne
      Tinha um sorriso de praia em madrugada e um olhar evanescente
      E uma cabeleira de luz como uma cachoeira em plenilúnio.

      Vinha dela uma fala de amor irresistível
      Um chamado como uma canção noturna na distância
      Um calor de corpo dormindo e um abandono de onda descendo
      Uma sedução de vela fugindo ou de garça voando.

      E a ela fomos e a ela nos misturamos e a tivemos...
      Em véus de neblina fugiam as auroras nos braços do vento
      Mas que nos importava se também ela nos carregava nos seus braços
      E se o seu leite sobre nós escorria e pelo céu?

      Ela nos acolheu, estranhos parasitas, pelo seu corpo desnudado
      E nós a amamos e defendemos e nós no ventre a fecundamos
      Dormíamos sobre os seus seios apojados ao clarão das tormentas
      E desejávamos ser astros para inda melhor compreendê-la.

      Uma noite o horrível sonho desceu sobre as nossas almas sossegadas
      A amada ia ficando gelada e silenciosa — luzes morriam nos seus olhos...
      Do seu peito corria o leite frio e ao nosso amor desacordada
      Subiu mais alto e mais além, morta dentro do espaço.

      Muito tempo choramos e as nossas lágrimas inundaram a terra
      Mas morre toda a dor ante a visão dolorosa da beleza
      Ao vulto da manhã sonhamos a paz e a desejamos
      Sonhamos a grande viagem através da serenidade das crateras.

      Mas quando as nossas asas vibraram no ar dormente
      Sentimos a prisão nebulosa de leite envolvendo as nossas espécies
      A Via Láctea — o rio da paixão correndo sobre a pureza das estrelas
      A linfa dos peitos da amada que um dia morreu.

      Maldito o que bebeu o leite dos seios da virgem que não era mãe mas era amante
      Maldito o que se banhou na luz que não era pura mas ardente
      Maldito o que se demorou na contemplação do sexo que não era calmo mas amargo
      O que beijou os lábios que eram como a ferida dando sangue!

      E nós ali ficamos, batendo as asas libertas, escravos do misterioso plasma
      Metade anjo, metade demônio, cheios da euforia do vento e da doçura do cárcere remoto
      Debruçados sobre a terra, mostrando a maravilhosa essência da nossa vida
      Lírios, já agora turvos lírios das campas, nascidos da face lívida da morte.

      II

      Mas vai que havia por esse tempo nas tribos da terra
      Estranhas mulheres de olhos parados e longas vestes nazarenas
      Que tinham o plácido amor nos gestos tristes e serenos
      E o divino desejo nos frios lábios anelantes.

      E quando as noites estelares fremiam nos campos sem lua
      E a Via Láctea como uma visão de lágrimas surgia
      Elas beijavam de leve a face do homem dormindo no feno
      E saíam dos casebres ocultos, pelas estradas murmurantes.

      E no momento em que a planície escura beijava os dois longínquos horizontes
      E o céu se derramava iluminadamente sobre a várzea
      Iam as mulheres e se deitavam no chão paralisadas
      As brancas túnicas abertas e o branco ventre desnudado.

      E pela noite adentro elas ficavam, descobertas
      O amante olhar boiando sobre a grande plantação de estrelas
      No desejo sem fim dos pequenos seres de luz alcandorados
      Que palpitavam na distância numa promessa de beleza.

      E tão maternalmente os desejavam e tão na alma os possuíam
      Que às vezes desgravitados uns despenhavam-se no espaço
      E vertiginosamente caíam numa chuva de fogo e de fulgores
      Pelo misterioso tropismo subitamente carregados.

      Nesse instante, ao delíquio de amor das destinadas
      Num milagre de unção, delas se projetava à altura
      Como um cogumelo gigantesco um grande útero fremente
      Que ao céu colhia a estrela e ao ventre retornava.

      E assim pelo ciclo negro da pálida esfera através do tempo
      Ao clarão imortal dos pássaros de fogo cruzando o céu noturno
      As mulheres, aos gritos agudos da carne rompida de dentro
      Iam se fecundando ao amor puríssimo do espaço.

      E às cores da manhã elas voltavam vagarosas
      Pelas estradas frescas, através dos vastos bosques de pinheiros
      E ao chegar, no feno onde o homem sereno inda dormia
      Em preces rituais e cantos místicos velavam.

      Um dia mordiam-lhes o ventre, nas entranhas — entre raios de sol vinha a tormenta...
      Sofriam... e ao estridor dos elementos confundidos
      Deitavam à terra o fruto maldito de cuja face transtornada
      As primeiras e mais tristes lágrimas desciam.

      Tinha nascido o poeta. Sua face é bela, seu coração é trágico
      Seu destino é atroz; ao triste materno beijo mudo e ausente
      Ele parte! Busca ainda as viagens eternas da origem
      Sonha ainda a música um dia ouvida em sua essência.

      ---


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      Mensaje por Maria Lua Sáb Mar 13, 2021 3:21 am

      ILHA DO GOVERNADOR

      Esse ruído dentro do mar invisível são barcos passando
      Esse ei-ou que ficou nos meus ouvidos são os pescadores esquecidos
      Eles vêm remando sob o peso de grandes mágoas
      Vêm de longe e murmurando desaparecem no escuro quieto.
      De onde chega essa voz que canta a juventude calma?
      De onde sai esse som de piano antigo sonhando a Berceuse?
      Por que vieram as grandes carroças entornando cal no barro molhado?

      Os olhos de Susana eram doces mas Eli tinha seios bonitos
      Eu sofria junto de Susana — ela era a contemplação das tardes longas
      Eli era o beijo ardente sobre a areia úmida.
      Eu me admirava horas e horas no espelho.

      Um dia mandei: “Susana, esquece-me, não sou digno de ti — sempre teu...”
      Depois, eu e Eli fomos andando... — ela tremia no meu braço
      Eu tremia no braço dela, os seios dela tremiam
      A noite tremia nos ei-ou dos pescadores...

      Meus amigos se chamavam Mário e Quincas, eram humildes, não sabiam
      Com eles aprendi a rachar lenha e ir buscar conchas sonoras no mar fundo
      Comigo eles aprenderam a conquistar as jovens praianas tímidas e risonhas.
      Eu mostrava meus sonetos aos meus amigos — eles mostravam os grandes olhos abertos
      E gratos me traziam mangas maduras roubadas nos caminhos.

      Um dia eu li Alexandre Dumas e esqueci os meus amigos.
      Depois recebi um saco de mangas
      Toda a afeição da ausência...

      Como não lembrar essas noites cheias de mar batendo?
      Como não lembrar Susana e Eli?
      Como esquecer os amigos pobres?
      Eles são essa memória que é sempre sofrimento
      Vêm da noite inquieta que agora me cobre
      São o olhar de Clara e o beijo de Carmem
      São os novos amigos, os que roubaram luz e me trouxeram.
      Como esquecer isso que foi a primeira angústia
      Se o murmúrio do mar está sempre nos meus ouvidos
      Se o barco que eu não via é a vida passando
      Se o ei-ou dos pescadores é o gemido de angústia de todas as noites?


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      Mensaje por Maria Lua Dom Mar 14, 2021 2:05 am

      SONETO DE FLORENÇA



      Florença... que serenidade imensa
      Nos teus campos remotos, de onde surgem
      Em tons de terracota e de ferrugem
      Torres, cúpulas, claustros: renascença

      Das coisas que passaram mas que urgem...
      Como em teu seio pareceu-me densa
      A selva oscura onde silêncios rugem
      No meio do caminho da descrença...

      Que tristes sombras nos teus céus toscanos
      Onde, em meu crime e meu remorso humanos
      Julguei ver, na colina apascentada

      Na forma de um cipreste impressionante
      O grande vulto secular de Dante
      Carpindo a morte da mulher amada...



      Rio, janeiro de 1953


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      Mensaje por Maria Lua Dom Mar 14, 2021 2:07 am

      SONETO DA ROSA TARDIA


      Como uma jovem rosa, a minha amada...
      Morena, linda, esgalga, penumbrosa
      Parece a flor colhida, ainda orvalhada
      Justo no instante de tornar-se rosa.

      Ah, porque não a deixas intocada
      Poeta, tu que és pai, na misteriosa
      Fragrância do seu ser, feito de cada
      Coisa tão frágil que perfaz a rosa...

      Mas (diz-me a Voz) por que deixá-la em haste
      Agora que ela é rosa comovida
      De ser na tua vida o que buscaste

      Tão dolorosamente pela vida?
      Ela é rosa, poeta... assim se chama…
      Sente bem seu perfume... Ela te ama...


      Rio, julho de 1963


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      Mensaje por Maria Lua Miér Mar 24, 2021 7:58 am


      A PERA

      Como de cera
      E por acaso
      Fria no vaso
      A entardecer

      A pera é um pomo
      Em holocausto
      À vida, como
      Um seio exausto

      Entre bananas
      Supervenientes
      E maçãs lhanas

      Rubras, contentes
      A pobre pera:
      Quem manda ser a?

      Los Angeles, 1947


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      Mensaje por Maria Lua Miér Mar 24, 2021 8:00 am

      SONETO DO SÓ
      (Parábola de Malte Laurids Brigge)

      Depois foi só. O amor era mais nada
      Sentiu-se pobre e triste como Jó
      Um cão veio lamber-lhe a mão na estrada
      Espantado, parou. Depois foi só.

      Depois veio a poesia ensimesmada
      Em espelhos. Sofreu de fazer dó
      Viu a face do Cristo ensanguentada
      Da sua, imagem — e orou. Depois foi só.

      Depois veio o verão e veio o medo
      Desceu de seu castelo até o rochedo
      Sobre a noite e do mar lhe veio a voz

      A anunciar os anjos sanguinários...
      Depois cerrou os olhos solitários
      E só então foi totalmente a sós.

      Rio, 1946


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      Mensaje por Maria Lua Dom Mar 28, 2021 9:45 am

      RETRATO, À SUA MANEIRA

      Magro entre pedras
      Calcárias possível
      Pergaminho para
      A anotação gráfica

      O grafito Grave
      Nariz poema o
      Fêmur fraterno
      Radiografável a

      Olho nu Árido
      Como o deserto
      E além Tu
      Irmão totem aedo

      Exato e provável
      No friso do tempo
      Adiante Ave
      Camarada diamante!


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      Mensaje por Maria Lua Lun Abr 05, 2021 7:10 am

      El tiempo en los parques genera el silencio del piar
      de los pájaros.
      Del pasar de los pasos, del color que se mueve a
      lo lejos.
      Es alto, antiguo, presiente el tiempo en los parques.
      Es incorruptible. El prenuncio de un aura.
      La agonia de una hoje, el abrirse de una flor.
      Deja un estremecimento en el espacio del tiempo
      en los parques.


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      Mensaje por Maria Lua Mar Abr 13, 2021 12:51 pm

      SACRIFÍCIO DA AURORA

      Um dia a aurora chegou-se
      Ao meu quarto de marfim
      E com seu riso mais doce
      Deitou-se junto de mim
      Beijei-lhe a boca orvalhada
      E a carne tímida e exangue
      A carne não tinha sangue
      A boca sabia a nada.

      Apaixonei-me da Aurora
      No meu quarto de marfim
      Todo o dia à mesma hora
      Amava-a só para mim
      Palavras que me dizia
      Transfiguravam-se em neve
      Era-lhe o peso tão leve
      Era-lhe a mão tão macia.

      Às vezes me adormecia
      No meu quarto de marfim
      Para acordar, outro dia
      Com a Aurora longe de mim
      Meu desespero covarde
      Levava-me dia afora
      Andando em busca da Aurora
      Sem ver Manhã, sem ver Tarde.

      Hoje, ai de mim, de cansado
      Há dias que até da vida
      Durmo com a Noite, ausentado
      Da minha Aurora esquecida...
      É que apesar de sombria
      Prefiro essa grande louca
      À Aurora, que além de pouca
      É fria, meu Deus, é fria!


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