Aires de Libertad

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      VINICIUS DE MORAES  - Página 20 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Jue 03 Nov 2022, 07:35

      O DIA DA CRIAÇÃO




      Macho e fêmea os criou.
      Bíblia: Gênese, 1, 27


      I

      Hoje é sábado, amanhã é domingo
      A vida vem em ondas, como o mar
      Os bondes andam em cima dos trilhos
      E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.

      Hoje é sábado, amanhã é domingo
      Não há nada como o tempo para passar
      Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
      Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.

      Hoje é sábado, amanhã é domingo
      Amanhã não gosta de ver ninguém bem
      Hoje é que é o dia do presente
      O dia é sábado.

      Impossível fugir a essa dura realidade
      Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
      Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
      Todos os maridos estão funcionando regularmente
      Todas as mulheres estão atentas
      Porque hoje é sábado.


      II

      Neste momento há um casamento
      Porque hoje é sábado.
      Há um divórcio e um violamento
      Porque hoje é sábado.
      Há um homem rico que se mata
      Porque hoje é sábado.
      Há um incesto e uma regata
      Porque hoje é sábado.
      Há um espetáculo de gala
      Porque hoje é sábado.
      Há uma mulher que apanha e cala
      Porque hoje é sábado.
      Há um renovar-se de esperanças
      Porque hoje é sábado.
      Há uma profunda discordância
      Porque hoje é sábado.
      Há um sedutor que tomba morto
      Porque hoje é sábado.
      Há um grande espírito de porco
      Porque hoje é sábado.
      Há uma mulher que vira homem
      Porque hoje é sábado.
      Há criancinhas que não comem
      Porque hoje é sábado.
      Há um piquenique de políticos
      Porque hoje é sábado.
      Há um grande acréscimo de sífilis
      Porque hoje é sábado.
      Há um ariano e uma mulata
      Porque hoje é sábado.
      Há uma tensão inusitada
      Porque hoje é sábado.
      Há adolescências seminuas
      Porque hoje é sábado.
      Há um vampiro pelas ruas
      Porque hoje é sábado.
      Há um grande aumento no consumo
      Porque hoje é sábado.
      Há um noivo louco de ciúmes
      Porque hoje é sábado.
      Há um garden-party na cadeia
      Porque hoje é sábado.
      Há uma impassível lua cheia
      Porque hoje é sábado.
      Há damas de todas as classes
      Porque hoje é sábado.
      Umas difíceis, outras fáceis
      Porque hoje é sábado.
      Há um beber e um dar sem conta
      Porque hoje é sábado.

      Há uma infeliz que vai de tonta
      Porque hoje é sábado.
      Há um padre passeando à paisana
      Porque hoje é sábado.
      Há um frenesi de dar banana
      Porque hoje é sábado.
      Há a sensação angustiante
      Porque hoje é sábado.
      De uma mulher dentro de um homem
      Porque hoje é sábado.
      Há a comemoração fantástica
      Porque hoje é sábado.
      Da primeira cirurgia plástica
      Porque hoje é sábado.
      E dando os trâmites por findos
      Porque hoje é sábado.
      Há a perspectiva do domingo
      Porque hoje é sábado.


      III

      Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
      De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
      E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
      E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
      Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
      Na verdade, o homem não era necessário
      Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
      Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
      Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
      Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
      Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
      Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
      Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
      Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
      Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
      Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
      Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
      A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
      A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
      Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
      Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
      Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
      Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
      E para não ficar com as vastas mãos abanando
      Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
      Possivelmente, isto é, muito provavelmente
      Porque era sábado.


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      y en ese vuelo y en ese sueño
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      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
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      Mensaje por Maria Lua Jue 03 Nov 2022, 07:37

      SONETO DE SEPARAÇÃO





      De repente do riso fez-se o pranto
      Silencioso e branco como a bruma
      E das bocas unidas fez-se a espuma
      E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

      De repente da calma fez-se o vento
      Que dos olhos desfez a última chama
      E da paixão fez-se o pressentimento
      E do momento imóvel fez-se o drama.

      De repente, não mais que de repente
      Fez-se de triste o que se fez amante
      E de sozinho o que se fez contente.

      Fez-se do amigo próximo o distante
      Fez-se da vida uma aventura errante
      De repente, não mais que de repente.





      Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot, a caminho da Inglaterra, setembro de 1938





      Fin de POEMAS, SONETOS E BALADAS
      São Paulo, Edições Gavetas, 1946


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      Mensaje por Maria Lua Sáb 05 Nov 2022, 14:52

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      ANTOLOGIA POÉTICA

      Rio de Janeiro, A Noite, 1954


      Organizado pelo próprio autor, esse livro é a primeira Antologia da obra de Vinicius. Publicado em 1954, apesar da primeira edição não trazer a data, é reeditado de forma ampliada em 1960, pela Editora do Autor, de seus amigos Rubem Braga e Fernando Sabino. Na edição de 1954, é o mesmo Rubem Braga quem assina a orelha do livro.

      A Antologia dava conta de um percurso de 21 anos de publicações, com livros então esgotados ou de tiragens limitadíssimas. Na apresentação da primeira edição, Vinicius dá a sua explicação para a reunião dos textos escolhidos pelo autor (por ele identificado como “A.”):

      “Poderia este livro ser dividido em duas partes, correspondentes a dois períodos distintos na poesia do A.

      A primeira, transcendental, frequentemente mística, resultante de sua fase cristã, termina com o poema "Ariana, a mulher", editado em 1936. Salvo, aqui e ali, umas pequenas emendas, a única alteração digna de nota nesta parte foi reduzir-se o poema "O cemitério da madrugada" às quatro estrofes iniciais, no que atendeu o A. a uma velha ideia de seu amigo Rodrigo M.F. de Andrade.

      À segunda parte, que abre com o poema "O falso mendigo", o primeiro, ao que se lembra o A., escrito em oposição ao transcendentalismo anterior, pertencem algumas poesias do livro Novos poemas, também representado na outra fase, e os demais versos publicados posteriormente em livros, revistas e jornais. Nela estão nitidamente marcados os movimentos de aproximação do mundo material, com a difícil mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos.

      De permeio foram colocadas as Cinco elegias (1943), como representativas do período de transição entre aquelas duas tendências contraditórias, - livro também onde elas melhor se encontraram e fundiram em busca de uma sintaxe própria.

      Não obstante certas disparidades, facilmente verificáveis no índice, impôs-se o critério cronológico para uma impressão verídica do que foi a luta mantida pelo A.contra si mesmo no sentido de uma libertação, hoje alcançada, dos preconceitos e enjoamentos de sua classe e do seu meio, os quais tanto, e tão inutilmente, lhe angustiaram a formação.

      Los Angeles, junho de 1949”.




      NOTA BIBLIOGRÁFICA


      As orelhas da primeira edição trazem o seguinte texto de Rubem Braga (1913-1990):

      Este livro reúne a maior e a melhor parte da obra de um dos grandes poetas do Brasil.

      Vinicius de Moraes nasceu no Rio, em 1913, aqui se formou em Direito e entrou, por concurso, para a carreira diplomática. Serviu durante quatro anos no consulado brasileiro em Los Angeles e está no momento como secretário de nossa embaixada em Paris. Seu primeiro livro foi O caminho para a distância, do qual pouco aproveitou nesta seleção, seguindo-se Ariana, a mulher e Forma e exegese, com o qual conquistou o Prêmio Felipe de Oliveira. Publicou a seguir Novos poemas, Cinco elegias, Poemas, sonetos e baladas e Pátria minha que firmaram seu nome, no consenso da crítica, como o melhor poeta da turma que hoje entra pela casa dos quarenta. Alguns desses livros foram feitos em edições limitadas; todos estão há longo tempo esgotados, o que faz com que grandes admiradores de Vinicius de Moraes conheçam apenas uma pequena parte de sua obra. Esta seleção, feita pelo próprio poeta com a ajuda de amigos - principalmente Manuel Bandeira - adquire, assim, uma grande importância, pois possibilita um estudo da evolução do poeta e a admiração do que ele tem feito de mais alto e melhor.

      Vindo de um misticismo de fundo religioso para uma poesia nitidamente sensual que depois se muda em versos marcados por um fundo sentimento social, a obra de Vinicius tem como constante um lirismo de grande força e pureza. Ainda com o risco de incorrer na censura dos que levam suas preocupações puritanas ao domínio das artes, não quiseram os amigos do poeta, principalmente o que assina esta nota, e assim se faz responsável por esta resolução, suprimir algumas palavras ou expressões mais fortes que de raro em raro aparecem em seus versos. Isso fará com que não seja recomendável a presença deste livro em mãos juvenis - mas resguarda a pureza de sua poesia, que tudo, em poesia, transfigura. Estamos certos de que, com a edição deste livro, a obra de Vinicius de Moraes ganhará uma popularidade maior, e passará a ter, entre o público, o lugar de honra que há muito ocupa no espírito e no sentimento dos poetas e dos críticos.


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 20 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Sáb 05 Nov 2022, 14:53

      BALADA DOS MORTOS DOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO



      Cadáveres de Nordhausen Erla, Belsen e Buchenwald!
      Ocos, flácidos cadáveres
      Como espantalhos, largados
      Na sementeira espectral
      Dos ermos campos estéreis
      De Buchenwald e Dachau.
      Cadáveres necrosados
      Amontoados no chão
      Esquálidos enlaçados
      Em beijos estupefatos
      Como ascetas siderados
      Em presença da visão.
      Cadáveres putrefatos
      Os magros braços em cruz
      Em vossas faces hediondas
      Há sorrisos de giocondas
      E em vossos corpos, a luz
      Que da treva cria a aurora.
      Cadáveres fluorescentes
      Desenraizados do pó
      Que emoção não dá-me o ver-vos
      Em vosso êxtase sem nervos
      Em vossa prece tão-só
      Grandes, góticos cadáveres!
      Ah, doces mortos atônitos
      Quebrados a torniquete
      Vossas louras manicuras
      Arrancaram-vos as unhas
      No requinte de tortura
      Da última toalete...
      A vós vos tiraram a casa
      A vós vos tiraram o nome
      Fostes marcados a brasa
      Depois voz mataram de fome!
      Vossa peles afrouxadas
      Sobre os esqueletos dão-me
      A impressão que éreis tambores —
      Os instrumentos do Monstro —
      Desfibrados a pancada:
      Ó mortos de percussão!
      Cadáveres de Nordhausen Erla, Belsen e Buchenwald!
      Vós sois o húmus da terra
      De onde a árvore do castigo
      Dará madeira ao patíbulo
      E de onde os frutos da paz
      Tombarão no chão da guerra!


      _________________



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      Mensaje por Maria Lua Sáb 05 Nov 2022, 14:54

      REPTO


      Vossos olhos raros
      Jovens guerrilheiros
      Aos meus, cavalheiros
      Fazem mil reparos...
      Se entendeis amor
      Com vero brigar
      Combates de olhar
      Não quero propor.
      Sei de um bom lugar
      Onde contender
      E haveremos de ver
      Quem há de ganhar.
      Não sirvo justar
      Em pugna tão vã...
      Que tal amanhã
      Lutarmos de amar?
      Em campos de paina
      Pretendo reptar-vos
      E em seguida dar-vos
      Muita, muita faina
      Guerra sem quartel
      E tréguas só se
      Pedires mercê
      Com os olhos no céu.
      Exaustão de gozo
      Que tal seja a regra
      E longa a refrega
      Que aguardo ansioso
      E caiba dizer-vos
      Que inda vencedor
      Sou, de vossos servos
      O mais servidor...



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      Mensaje por Maria Lua Sáb 05 Nov 2022, 14:55

      O POETA E A LUA


      Em meio a um cristal de ecos
      O poeta vai pela rua
      Seus olhos verdes de éter
      Abrem cavernas na lua.
      A lua volta de flanco
      Eriçada de luxúria
      O poeta, aloucado e branco
      Palpa as nádegas da lua.
      Entre as esferas nitentes
      Tremeluzem pelos fulvos
      O poeta, de olhar dormente
      Entreabre o pente da lua.
      Em frouxos de luz e água
      Palpita a ferida crua
      O poeta todo se lava
      De palidez e doçura.
      Ardente e desesperada
      A lua vira em decúbito
      A vinda lenta do espasmo
      Aguça as pontas da lua.
      O poeta afaga-lhe os braços
      E o ventre que se menstrua
      A lua se curva em arco
      Num delírio de volúpia.
      O gozo aumenta de súbito
      Em frêmitos que perduram
      A lua vira o outro quarto
      E fica de frente, nua.
      O orgasmo desce do espaço
      Desfeito em estrelas e nuvens
      Nos ventos do mar perspassa
      Um salso cheiro de lua
      E a lua, no êxtase, cresce
      Se dilata e alteia e estua
      O poeta se deixa em prece
      Ante a beleza da lua.
      Depois a lua adormece
      E míngua e se apazigua...
      O poeta desaparece
      Envolto em cantos e plumas
      Enquanto a noite enlouquece
      No seu claustro de ciúmes.


      _________________



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      Mensaje por Maria Lua Sáb 05 Nov 2022, 14:56

      SONETO DA ROSA


      Mais um ano na estrada percorrida
      Vem, como o astro matinal, que a adora
      Molhar de puras lágrimas de aurora
      A morna rosa escura e apetecida.

      E da fragrante tepidez sonora
      No recesso, como ávida ferida
      Guardar o plasma múltiplo da vida
      Que a faz materna e plácida, e agora

      Rosa geral de sonho e plenitude
      Transforma em novas rosas de beleza
      Em novas rosas de carnal virtude

      Para que o sonho viva da certeza
      Para que o tempo da paixão não mude
      Para que se una o verbo à natureza.





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      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
      (Hánjel)





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      Mensaje por Maria Lua Dom 06 Nov 2022, 09:25

      VALSA À MULHER DO POVO
      Oferenda

      Oh minha amiga da face múltipla
      Do corpo periódico e geral!
      Lúdica, efêmera, inconsútil
      Musa central-ferroviária!
      Possa esta valsa lenta e súbita
      Levemente copacabanal
      Fazer brotar do povo a flux
      A tua imagem abruptamente
      Ó antideusa!


      Valsa

      Te encontrarei na barca Cubango, nas amplas salas da Cubango
      Vestida de tangolomango
      Te encontrarei!
      Te encontrarei nas brancas praias, pelas pudendas brancas praias
      Itinerante de gandaias
      Te encontrarei.
      Te encontrarei nas feiras-livres
      Entre moringas e vassouras, emolduradas de cenouras
      Te encontrarei.
      Te encontrarei tarde na rua
      De rosto triste como a lua, passando longe como a lua
      Te encontrarei.
      Te encontrarei, te encontrarei
      Nos longos footings suburbanos, tecendo os sonhos mais humanos
      Capaz de todos os enganos
      Te encontrarei.
      Te encontrarei nos cais noturnos
      Junto a marítimos soturnos, sombras de becos taciturnos
      Te encontrarei.
      Te encontrarei, oh mariposa
      Oh taxi-girl, oh virginete pregada aos homens a alfinete
      De corpo saxe e clarinete
      Te encontrarei.
      Oh pulcra, oh pálida, oh pudica
      Oh grã-cupincha, oh nova-rica
      Que nunca sais da minha dica: sim, eu irei
      Ao teu encontro onde estiveres
      Pois que assim querem os malmequeres
      Porque és tu santa entre as mulheres
      Te encontrarei!



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      Mensaje por Maria Lua Dom 06 Nov 2022, 09:26

      CINEPOEMA


      O preto no branco
      Manuel Bandeira


      O preto no banco
      A branca na areia
      O preto no banco
      A branca na areia
      Silêncio na praia
      De Copacabana.
      A branca no branco
      Dos olhos do preto
      O preto no banco
      A branca no preto
      Negror absoluto
      Sobre um mar de leite.
      A branca de bruços
      O preto pungente
      O mar em soluços
      A espuma inocente
      Canícula branca
      Pretidão ardente.
      A onda se alteia
      Na verde laguna
      A branca se enfuna
      Se afunda na areia
      O colo é uma duna
      Que o sol incendeia.
      O preto no branco
      Da espuma da onda
      A branca de flanco
      Brancura redonda
      O preto no banco
      A gaivota ronda.
      O negro tomado
      Da linha do asfalto
      O espaço imantado:
      De súbito um salto
      E um grito na praia
      De Copacabana.
      Pantera de fogo
      Pretidão ardente
      Onda que se quebra
      Violentamente
      O sol como um dardo
      Vento de repente.
      E a onda desmaia
      A espuma espadana
      A areia ventada
      De Copacabana
      Claro-escuro rápido
      Sombra fulgurante.
      Luminoso dardo
      O sol rompe a nuvem
      Refluxo tardo
      Restos de amarugem
      Sangue pela praia
      De Copacabana...



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      Mensaje por Maria Lua Dom 06 Nov 2022, 09:26

      MENSAGEM À POESIA


      Não posso
      Não é possível
      Digam-lhe que é totalmente impossível
      Agora não pode ser
      É impossível
      Não posso.
      Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.
      Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
      Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
      Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
      E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
      A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
      Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
      Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso reconquistar a vida.
      Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
      Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
      Ponderem-lhe, com cuidado — não a magoem... — que se não vou
      Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
      Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
      Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
      Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
      Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
      E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
      Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
      Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
      A terrível participação, e que possivelmente

      Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
      Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.

      Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
      Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
      Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
      Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
      Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
      Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
      Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
      Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
      Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
      Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
      Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
      Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
      Há fantasmas que me visitam de noite
      E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
      No amanhã
      Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
      Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
      Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
      Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
      De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
      Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
      Por um momento, que não me chame
      Porque não posso ir
      Não posso ir
      Não posso.
      Mas não a traí.
      Em meu coração
      Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
      Envergonhá-la.
      A minha ausência.
      É também um sortilégio
      Do seu amor por mim.
      Vivo do desejo de revê-la
      Num mundo em paz.
      Minha paixão de homem
      Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
      Loucura resta comigo.
      Talvez eu deva
      Morrer sem vê-la mais, sem sentir mais
      O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
      Livre e nua nas praias e nos céus
      E nas ruas da minha insônia.
      Digam-lhe que é esse
      O meu martírio; que às vezes
      Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
      Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me impelem para a treva
      Mas que eu devo resistir, que é preciso...
      Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
      Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
      Num amor cheio de renúncia.
      Oh, peçam a ela
      Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
      A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
      A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
      Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
      A quem foi dado se perder de amor pelo direito
      De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
      E uma menininha de vermelho; e se perdendo
      Ser-lhe doce perder-se...
      Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
      Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
      Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
      É mais forte do que eu, não posso ir
      Não é possível
      Me é totalmente impossível
      Não pode ser não
      É impossível
      Não posso.


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 20 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Dom 06 Nov 2022, 09:27

      O TEMPO NOS PARQUES



      O tempo nos parques é íntimo, inadiável, imparticipante, imarcescível.
      Medita nas altas frondes, na última palma da palmeira
      Na grande pedra intacta, o tempo nos parques.
      O tempo nos parques cisma no olhar cego dos lagos
      Dorme nas furnas, isola-se nos quiosques
      Oculta-se no torso muscular dos fícus, o tempo nos parques.
      O tempo nos parques gera o silêncio do piar dos pássaros
      Do passar dos passos, da cor que se move ao longe.
      É alto, antigo, presciente o tempo nos parques
      É incorruptível; o prenúncio de uma aragem
      A agonia de uma folha, o abrir-se de uma flor
      Deixam um frêmito no espaço do tempo nos parques.
      O tempo nos parques envolve de redomas invisíveis
      Os que se amam; eterniza os anseios, petrifica
      Os gestos, anestesia os sonhos, o tempo nos parques.
      Nos homens dormentes, nas pontes que fogem, na franja
      Dos chorões, na cúpula azul o tempo perdura
      Nos parques; e a pequenina cutia surpreende
      A imobilidade anterior desse tempo no mundo
      Porque imóvel, elementar, autêntico, profundo
      É o tempo nos parques.





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      VINICIUS DE MORAES  - Página 20 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Mar 08 Nov 2022, 14:50

      A MANHÃ DO MORTO

      O poeta, na noite de 25 de fevereiro de 1945,
      sonha que vários amigos seus perderam a vida num desastre de avião,
      em meio a uma inexplicável viagem para São Paulo.

      Noite de angústia: que sonho
      Que debater-se, que treva...

      ...é um grande avião que leva amigos meus no seu bojo...
      ...depois, a horrível notícia:
      FOI UM DESASTRE MEDONHO!

      A mulher do poeta dá-lhe a dolorosa nova às oito da manhã,
      depois de uma telefonada de Rodrigo M. F. de Andrade.

      Me acordam numa carícia...
      O que foi que aconteceu? Rodrigo telefonou:

      MÁRIO DE ANDRADE MORREU.

      Ao se levantar, o poeta sente incorporar-se a ele o amigo morto.

      Ergo-me com dificuldade
      Sentindo a presença dele
      Do morto Mário de Andrade
      Que muito maior do que eu
      Mal cabe na minha pele.

      Escovo os dentes na saudade
      Do amigo que se perdeu
      Olho o espelho: não sou eu
      É o morto Mário de Andrade
      Me olhando daquele espelho
      Tomo o café da manhã:
      Café, de Mário de Andrade.

      A necessidade de falar com o amigo denominador comum,
      e o eco de Manuel Bandeira.

      Não, meu caro, que eu me digo
      Pensa com serenidade
      Busca o consolo do amigo
      Rodrigo M. F. de Andrade

      Telefono para Rodrigo
      Ouço-o; mas na realidade
      A voz que me chega ao ouvido
      É a voz de Mário de Andrade.

      O passeio com o morto
      Remate de males

      E saio para a cidade
      Na canícula do dia
      Lembro o nome de Maria
      Também de Mário de Andrade
      Do poeta Mário de Andrade.

      Gesto familiar

      Com grande dignidade
      A dignidade de um morto
      Anda a meu lado, absorto
      O poeta Mário de Andrade
      Com a manopla no meu ombro.

      Goza a delícia de ver
      Em seus menores resquícios.
      Seus olhos refletem assombro.
      Depois me fala: Vinicius
      Que ma-ra-vilha é viver!

      A cara do morto

      Olho o grande morto enorme
      Sua cara colossal
      Nessa cara lábios roxos
      E a palidez sepulcral
      Específica dos mortos.

      Essa cara me comove
      De beatitude tamanha.
      Chamo-o: Mário! ele não ouve
      Perdido no puro êxtase
      Da beleza da manhã.

      Mas caminha com hombridade
      Seus ombros suportam o mundo
      Como no verso inquebrável
      De Carlos Drummond de Andrade
      E o meu verga-se ao defunto...

      O eco de Pedro Nava

      Assim passeio com ele
      Vou ao dentista com ele
      Vou ao trabalho com ele
      Como bife ao lado dele
      O gigantesco defunto
      Com a sua gravata brique
      E a sua infantilidade.

      À tarde o morto abandona subitamente
      o poeta para ir enterrar-se.

      Somente às cinco da tarde
      Senti a pressão amiga
      Desfazer-se do meu ombro...
      Ia o morto se enterrar
      No seu caixão de dois metros.

      Não pude seguir o féretro
      Por circunstâncias alheias
      À minha e à sua vontade
      (De fato, é grande a distância
      Entre uma e outra cidade...
      Aliás, teria medo
      Porque nunca sei se um sonho
      Não pode ser realidade).
      Mas sofri na minha carne
      O grande enterro da carne
      Do poeta Mário de Andrade
      Que morreu de angina pectoris:

      Vivo na imortalidade.




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      VINICIUS DE MORAES  - Página 20 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Miér 09 Nov 2022, 10:35

      MENSAGEM A RUBEM BRAGA


      Os doces montes cônicos de feno
      (Decassílabo solto num postal de Rubem Braga, da Itália.)

      A meu amigo Rubem Braga
      Digam que vou, que vamos bem: só não tenho é coragem de escrever
      Mas digam-lhe. Digam-lhe que é Natal, que os sinos
      Estão batendo, e estamos no Cavalão: o Menino vai nascer
      Entre as lágrimas do tempo. Digam-lhe que os tempos estão duros
      Falta água, falta carne, falta às vezes o ar: há uma angústia
      Mas fora isso vai-se vivendo. Digam-lhe que é verão no Rio
      E apesar de hoje estar chovendo, amanhã certamente o céu se abrirá de azul
      Sobre as meninas de maiô. Digam-lhe que Cachoeiro continua no mapa
      E há meninas de maiô, altas e baixas, louras e morochas
      E mesmo negras, muito engraçadinhas. Digam-lhe, entretanto
      Que a falta de dignidade é considerável, e as perspectivas pobres
      Mas sempre há algumas, poucas. Tirante isso, vai tudo bem
      No Vermelhinho. Digam-lhe que a menina da caixa
      Continua impassível, mas Caloca acha que ela está melhorando
      Digam-lhe que o Ceschiatti continua tomando chope, e eu também
      Malgrado uma avitaminose B e o fígado ligeiramente inchado.
      Digam-lhe que o tédio às vezes é mortal; respira-se com a mais extrema
      Dificuldade; bate-se, e ninguém responde. Sem embargo
      Digam-lhe que as mulheres continuam passando no alto de seus saltos, e a moda das saias curtas
      E das mangas japonesas dão-lhes um novo interesse: ficam muito provocantes.
      O diabo é de manhã, quando se sai para o trabalho, dá uma tristeza, a
      rotina: para a tarde melhora.
      Oh, digam a ele, digam a ele, a meu amigo Rubem Braga
      Correspondente de guerra, 250 FEB, atualmente em algum lugar da Itália
      Que ainda há auroras apesar de tudo, e o esporro das cigarras
      Na claridade matinal. Digam-lhe que o mar no Leblon
      Porquanto se encontre eventualmente cocô boiando, devido aos despejos
      Continua a lavar todos os males. Digam-lhe, aliás
      Que há cocô boiando por aí tudo, mas que em não havendo marola
      A gente se aguenta. Digam-lhe que escrevi uma carta terna
      Contra os escritores mineiros: ele ia gostar. Digam-lhe
      Que outro dia vi Elza-Simpatia-é-quase-Amor. Foi para os Estados Unidos
      E riu muito de eu lhe dizer que ela ia fazer falta à paisagem carioca
      Seu riso me deu vontade de beber: a tarde
      Ficou tensa e luminosa. Digam-lhe que outro dia, na rua Larga
      Vi um menino em coma de fome (coma de fome soa esquisito, parece
      Que havendo coma não devia haver fome: mas havia).
      Mas em compensação estive depois com o Aníbal
      Que embora não dê para alimentar ninguém, é um amigo.
      Digam-lhe que o Carlos
      Drummond tem escrito ótimos poemas, mas eu larguei o Suplemento.
      Digam-lhe que está com cara de que vai haver muita miséria-de-fim-de-ano
      Há, de um modo geral, uma acentuada tendência para se beber e uma ânsia
      Nas pessoas de se estrafegarem. Digam-lhe que o Compadre está na insulina
      Mas que a Comadre está linda. Digam-lhe que de quando em vez o Miranda passa
      E ri com ar de astúcia. Digam-lhe, oh, não se esqueçam de dizer
      A meu amigo Rubem Braga, que comi camarões no Antero
      Ovas na Cabaça e vatapá na Furna, e que tomei plenty coquinho
      Digam-lhe também que o Werneck prossegue enamorado, está no tempo
      De caju e abacaxi, e nas ruas
      Já se perfumam os jasmineiros. Digam-lhe que tem havido
      Poucos crimes passionais em proporção ao grande número de paixões
      À solta. Digam-lhe especialmente
      Do azul da tarde carioca, recortado
      Entre o Ministério da Educação e a ABI. Não creio que haja igual
      Mesmo em Capri. Digam-lhe porém que muito o invejamos
      Tati e eu, e as saudades são grandes, e eu seria muito feliz
      De poder estar um pouco a seu lado, fardado de segundo sargento. Oh
      Digam a meu amigo Rubem Braga
      Que às vezes me sinto calhorda mas reajo, tenho tido meus maus momentos
      Mas reajo. Digam-lhe que continuo aquele modesto lutador
      Porém batata. Que estou perfeitamente esclarecido
      E é bem capaz de nos revermos na Europa. Digam-lhe, discretamente,
      Que isso seria uma alegria boa demais: que se ele
      Não mandar buscar Zorinha e Roberto antes, que certamente
      Os levaremos conosco, que quero muito
      Vê-lo em Paris, em Roma, em Bucareste. Digam, oh digam
      A meu amigo Rubem Braga que é pena estar chovendo aqui
      Neste dia tão cheio de memórias. Mas
      Que beberemos à sua saúde, e ele há de estar entre nós
      O bravo capitão Braga, seguramente o maior cronista do Brasil
      Grave em seu gorro de campanha, suas sobrancelhas e seu bigode circunflexos
      Terno em seus olhos de pescador de fundo
      Feroz em seu focinho de lobo solitário
      Delicado em suas mãos e no seu modo de falar ao telefone
      E brindaremos à sua figura, à sua poesia única, à sua revolta, e ao seu cavalheirismo
      Para que lá, entre as velhas paredes renascentes e os doces montes cônicos de feno
      Lá onde a cobra está fumando o seu moderado cigarro brasileiro
      Ele seja feliz também, e forte, e se lembre com saudades
      Do Rio, de nós todos e ai! de mim.


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      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
      (Hánjel)





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      VINICIUS DE MORAES  - Página 20 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Miér 09 Nov 2022, 10:36

      BALADA DA MOÇA DO MIRAMAR

      Silêncio da madrugada
      No Edifício Miramar...
      Sentada em frente à janela
      Nua, morta, deslumbrada
      Uma moça mira o mar.

      Ninguém sabe quem é ela
      Nem ninguém há de saber
      Deixou a porta trancada
      Faz bem uns dois cinco dias
      Já começa a apodrecer
      Seus ambos joelhos de âmbar
      Furam-lhe o branco da pele
      E a grande flor do seu corpo
      Destila um fétido mel.

      Mantém-se extática em face
      Da aurora em elaboração
      Embora formigas pretas
      Que lhe entram pelos ouvidos
      Se escapem por umas gretas
      Do lado do coração.
      Em volta é segredo: e móveis
      Imóveis na solidão...
      Mas apesar da necrose
      Que lhe corrói o nariz
      A moça está tão sem pose
      Numa ilusão tão serena
      Que, certo, morreu feliz.

      A vida que está na morte
      Os dedos já lhe comeu
      Só lhe resta um aro de ouro
      Que a morte em vida lhe deu
      Mas seu cabelo de ouro
      Rebrilha com tanta luz
      Que a sua caveira é bela
      E belo é seu ventre louro
      E seus pelinhos azuis.

      De noite é a lua quem ama
      A moça do Miramar
      Enquanto o mar tece a trama
      Desse conúbio lunar
      Depois é o sol violento
      O sol batido de vento
      Que vem com furor violeta
      A moça violentar.

      Muitos dias se passaram
      Muitos dias passarão
      À noite segue-se o dia
      E assim os dias se vão
      E enquanto os dias se passam
      Trazendo a putrefação
      À noite coisas se passam...
      A moça e a lua se enlaçam
      Ambas mortas de paixão.

      Ah, morte do amor do mundo
      Ah, vida feita de dar
      Ah, sonhos sempre nascendo
      Ah, sonhos sempre a acabar
      Ah, flores que estão crescendo
      Do fundo da podridão
      Ah, vermes, morte vivendo
      Nas flores ainda em botão
      Ah, sonhos, ah, desesperos
      Ah, desespero de amar
      Ah, vida sempre morrendo
      Ah, moça do Miramar!



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      Mensaje por Maria Lua Miér 09 Nov 2022, 10:36

      BALANÇO DO FILHO MORTO


      Homem sentado na cadeira de balanço
      Sentado na cadeira de balanço
      Na cadeira de balanço
      De balanço
      Balanço do filho morto.

      Homem sentado na cadeira de balanço
      Todo o teu corpo diz que sim
      Teu corpo diz que sim
      Diz que sim
      Que sim, teu filho está morto.

      Homem sentado na cadeira de balanço
      Como um pêndulo, para lá e para cá
      O pescoço fraco, a perna triste
      Os olhos cheios de areia
      Areia do filho morto.

      Nada restituirá teu filho à vida
      Homem sentado na cadeira de balanço
      Tua meia caída, tua gravata
      Sem nó, tua barba grande
      São a morte
      são a morte
      A morte do filho morto.

      Silêncio de uma sala: e flores murchas.
      Além um pranto frágil de mulher
      Um pranto... o olhar aberto sobre o vácuo
      E no silêncio a sensação exata
      Da voz, do riso, do reclamo débil.
      Da órbita cega os olhos dolorosos
      Fogem, moles, se arrastam como lesmas
      Empós a doce, inexistente marca
      Do vômito, da queda, da mijada.

      Do braço foge a tresloucada mão
      Para afagar a imponderável luz
      De um cabelo sem som e sem perfume.
      Fogem da boca lábios pressurosos
      Para o beijo incolor na pele ausente.
      Nascem ondas de amor que se desfazem
      De encontro à mesa, à estante, à pedra mármore.
      Outra coisa não há senão o silêncio
      Onde com pés de gelo uma criança
      Brinca, perfeitamente transparente
      Sua carne de leite, rosa e talco.
      Pobre pai, pobre, pobre, pobre, pobre
      Sem memória, sem músculo, sem nada
      Além de uma cadeira de balanço
      No infinito vazio... o sofrimento
      Amordaçou-te a boca de amargura
      E esbofeteou-te palidez na cara.
      Ergues nos braços uma imagem pura
      E não teu filho; jogas para cima
      Um bocado de espaço e não teu filho
      Não são cachos que sopras, porém cinzas
      A asfixiar o ar onde respiras.
      Teu filho é morto; talvez fosse um dia
      A pomba predileta, a glória, a messe
      O teu porvir de pai; mas novo e tenro
      Anjo, levou-o a morte com cuidado
      De vê-lo tão pequeno e já exausto
      De penar — e eis que agora tudo é morte
      Em ti, não tens mais lágrimas, e amargo
      É o cuspo do cigarro em tua boca.
      Mas deixa que eu te diga, homem temente
      Sentado na cadeira de balanço
      Eu que moro no abismo, eu que conheço
      O interior da entranha das mulheres
      Eu que me deito à noite com os cadáveres
      E liberto as auroras do meu peito:
      Teu filho não morreu! a fé te salva
      Para a contemplação da sua face
      Hoje tornada a pequenina estrela
      Da tarde, a jovem árvore que cresce
      Em tua mão: teu filho não morreu!
      Uma eterna criança está nascendo
      Da esperança de um mundo em liberdade.
      Serão teus filhos, todos, homem justo
      Iguais ao filho teu; tira a gravata
      Limpa a unha suja, ergue-te, faz a barba
      Vai consolar tua mulher que chora...
      E que a cadeira de balanço fique
      Na sala, agora viva, balançando
      O balanço final do filho morto.

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      Mensaje por Maria Lua Miér 09 Nov 2022, 10:37

      BALADA DAS ARQUIVISTAS

      Oh jovens anjos cativos
      Que as asas vos machucais
      Nos armários dos arquivos!
      Delicadas funcionárias
      Designadas por padrões
      Prisioneiras honorárias
      Da mais fria das prisões
      É triste ver-vos, suaves
      Entre monstros impassíveis
      Trancadas a sete chaves:
      Oh, puras e imarcescíveis!
      Dizer que vós, bem-amadas
      Conservai-vos impolutas
      Mesmo fazendo a juntada
      De processos e minutas!
      Não se amargam vossas bocas
      De índices e prefixos
      Nem lembram os olhos das loucas
      Vossos doces olhos fixos.
      Curvai-vos para colossos
      Hollerith, de aço hostil
      Como se fora ante moços
      Numa pavana gentil.
      Antes não classificásseis
      Os maços pelos assuntos
      Criando a luta de classes
      Num mundo de anseios juntos!
      Enfermeiras de ambições
      Conheceis, mudas, a nu
      O lixo das promoções
      E das exonerações
      A bem do serviço público.
      Ó Florences Nightingale
      De arquivos horizontais:
      Com que zelo alimentais
      Esses eunucos letais
      Que se abrem com chave yale!
      Vossa linda juventude
      Clama de vós, bem-amadas!
      No entanto, viveis cercadas
      De coisas padronizadas
      Sem sexo e sem saúde...
      Ah, ver-nos em primavera
      Sobre papéis de ocasião
      Na melancólica espera
      De uma eterna certidão!
      Ah, saber que em vós existe
      O amor, a ternura, a prece
      E saber que isso fenece
      Num arquivo feio e triste!
      Deixai-me carpir, crianças
      A vossa imensa desdita
      Prendestes as esperanças
      Numa gaiola maldita.
      Do fundo do meu silêncio
      Eu vos incito a lutardes
      Contra o Prefixo que vence
      Os anjos acorrentados
      E ir passear pelas tardes
      De braço com os namorados.



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      Mensaje por Maria Lua Miér 09 Nov 2022, 10:38

      A VERLAINE



      Em memória de uma poesia
      Cuja iluminação maldita
      Lembra a da estrela que medita
      Sobre a putrefação do dia:

      Verlaine, pobre alma sem rumo
      Louco, sórdido, grande irmão
      Do sangue do meu coração
      Que te despreza e te compreende
      Humildemente se desprende
      Esta rosa para o teu túmulo.


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      Mensaje por Maria Lua Miér 09 Nov 2022, 10:38

      A BOMBA ATÔMICA I

      e = mc2
      Einstein

      Deusa, visão dos céus que me domina
      … tu que és mulher e nada mais!
      (Deusa, valsa carioca.)

      Dos céus descendo
      Meu Deus eu vejo
      De paraquedas?
      Uma coisa branca
      Como uma forma
      De estatuária
      Talvez a forma
      Do homem primitivo
      A costela branca!
      Talvez um seio
      Despregado à lua
      Talvez o anjo
      Tutelar cadente
      Talvez a Vênus
      Nua, de clâmide
      Talvez a inversa
      Branca pirâmide
      Do pensamento
      Talvez o troço
      De uma coluna
      Da eternidade
      Apaixonado
      Não sei indago
      Dizem-me todos
      É A BOMBA ATÔMICA.

      Vem-me uma angústia.

      Quisera tanto
      Por um momento
      Tê-la em meus braços
      A coma ao vento
      Descendo nua
      Pelos espaços
      Descendo branca
      Branca e serena
      Como um espasmo
      Fria e corrupta
      Do longo sêmen
      Da Via Láctea
      Deusa impoluta
      O sexo abrupto
      Cubo de prata
      Mulher ao cubo
      Caindo aos súcubos
      Intemerata
      Carne tão rija
      De hormônios vivos
      Exacerbada
      Que o simples toque
      Pode rompê-la
      Em cada átomo
      Numa explosão
      Milhões de vezes
      Maior que a força
      Contida no ato
      Ou que a energia
      Que expulsa o feto
      Na hora do parto.

      II

      A bomba atômica é triste
      Coisa mais triste não há
      Quando cai, cai sem vontade
      Vem caindo devagar
      Tão devagar vem caindo
      Que dá tempo a um passarinho
      De pousar nela e voar...
      Coitada da bomba atômica
      Que não gosta de matar!

      Coitada da bomba atômica
      Que não gosta de matar
      Mas que ao matar mata tudo
      Animal e vegetal
      Que mata a vida da terra
      E mata a vida do ar
      Mas que também mata a guerra...
      Bomba atômica que aterra!
      Pomba atônita da paz!

      Pomba tonta, bomba atômica
      Tristeza, consolação
      Flor puríssima do urânio
      Desabrochada no chão
      Da cor pálida do helium
      E odor de radium fatal
      Lœlia mineral carnívora
      Radiosa rosa radical.

      Nunca mais, oh bomba atômica
      Nunca, em tempo algum, jamais
      Seja preciso que mates
      Onde houve morte demais:
      Fique apenas tua imagem
      Aterradora miragem
      Sobre as grandes catedrais:
      Guarda de uma nova era
      Arcanjo insigne da paz!

      III

      Bomba atômica, eu te amo! és pequenina
      E branca como a estrela vespertina
      E por branca eu te amo, e por donzela
      De dois milhões mais bélica e mais bela
      Que a donzela de Orleans; eu te amo, deusa
      Atroz, visão dos céus que me domina
      Da cabeleira loura de platina
      E das formas aerodivinais
      — Que és mulher, que és mulher e nada mais!
      Eu te amo, bomba atômica, que trazes
      Numa dança de fogo, envolta em gazes
      A desagregação tremenda que espedaça
      A matéria em energias materiais!
      Oh energia, eu te amo, igual à massa
      Pelo quadrado da velocidade
      Da luz! alta e violenta potestade
      Serena! Meu amor, desce do espaço
      Vem dormir, vem dormir no meu regaço
      Para te proteger eu me encouraço
      De canções e de estrofes magistrais!
      Para te defender, levanto o braço
      Paro as radiações espaciais
      Uno-me aos líderes e aos bardos, uno-me
      Ao povo, ao mar e ao céu brado o teu nome
      Para te defender, matéria dura
      Que és mais linda, mais límpida e mais pura
      Que a estrela matutina! Oh bomba atômica
      Que emoção não me dá ver-te suspensa
      Sobre a massa que vive e se condensa
      Sob a luz! Anjo meu, fora preciso
      Matar, com tua graça e teu sorriso
      Para vencer? Tua enérgica poesia
      Fora preciso, oh deslembrada e fria
      Para a paz? Tua fragílima epiderme
      Em cromáticas brancas de cristais
      Rompendo? Oh átomo, oh neutrônio, oh germe
      Da união que liberta da miséria!
      Oh vida palpitando na matéria
      Oh energia que és o que não eras
      Quando o primeiro átomo incriado
      Fecundou o silêncio das Esferas:
      Um olhar de perdão para o passado
      Uma anunciação de primaveras!

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      Mensaje por Maria Lua Miér 09 Nov 2022, 10:39

      AURORA, COM MOVIMENTO
      (Posto 3)

      A linha móvel do horizonte
      Atira para cima o sol em diabolô
      Os ventos de longe
      Agitam docemente os cabelos da rocha
      Passam em fachos o primeiro automóvel, a última estrela
      A mulher que avança
      Parece criar esferas exaltadas pelo espaço
      Os pescadores puxando o arrastão parecem mover o mundo
      O cardume de botos na distância parece mover o mar.





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      Mensaje por Maria Lua Jue 10 Nov 2022, 10:37

      BALADA DO MORTO VIVO



      Tatiana, hoje vou contar
      O caso do Inglês espírito
      Ou melhor: do morto vivo.

      Diz que mesmo sucedeu
      E a dona protagonista
      Se quiser pode ser vista
      No hospício mais relativo
      Ao sítio onde isso se deu.

      Diz também que é muito raro
      Que por mais cético o ouvinte
      Não passe uma noite em claro:
      Sendo assim, por conseguinte
      Se quiser diga que eu paro.

      Se achar que é mentira minha
      Olhe só para essa pele
      Feito pele de galinha...

      Dou início: foi nos faustos
      Da borracha do Amazonas.
      Às margens do Rio Negro
      Sobre uma balsa habitável
      Um dia um casal surgiu
      Ela chamada Lunalva
      Formosa mulher de cor
      Ele por alcunha Bill
      Um Inglês comercial
      Agente da “Rubber Co.”

      Mas o fato é que talvez
      Por ter nascido na Escócia
      E ser portanto escocês
      Ninguém de Bill o chamava
      Com exceção de Lunalva
      Mas simplesmente de Inglês.

      Toda manhã que Deus dava
      Lunalva com muito amor
      Fazia um café bem quente
      Depois o Inglês acordava
      E o homem saía contente
      Fumegando o seu cachimbo
      Na sua lancha a vapor.

      Toda a manhã que Deus dava.

      Somente com o sol-das-almas
      O Inglês à casa voltava.

      Que coisa engraçada: espia
      Como só de pensar nisso
      Meu cabelo se arrepia...

      Um dia o Inglês não voltou.

      A janta posta, Lunalva
      Até o cerne da noite
      Em pé na porta esperou.

      Uma eu lhe digo, Tatiana:
      A lua tinha enloucado
      Nesse dia da semana...
      Era uma lua tão alva
      Era uma lua tão fria
      Que até mais frio fazia
      No coração de Lunalva.
      No rio negroluzente
      As árvores balouçantes
      Pareciam que falavam
      Com seus ramos tateantes
      Tatiana, do incidente.

      Um constante balbucio
      Como o de alguém muito em mágoa
      Parecia vir do rio.

      Lunalva, num desvario
      Não tirava os olhos da água.

      Às vezes, dos igapós
      Subia o berro animal
      De algum jacaré feroz
      Praticando o amor carnal
      Depois caía o silêncio...

      E então voltava o cochicho
      Da floresta, entrecortado
      Pelo rir mal-assombrado
      De algum mocho excomungado
      Ou pelo uivo de algum bicho.
      Na porta em luzcancarada
      Só Lunalva lunalvada.

      Súbito, ó Deus justiceiro!
      Que é esse estranho ruído?
      Que é esse escuro rumor?
      Será um sapo-ferreiro
      Ou é o moço meu marido
      Na sua lancha a vapor?

      Na treva sonda Lunalva...
      Graças, meu Pai! Graças mil!
      Aquele vulto... era o Bill
      A lancha... era a Arimedalva!

      “Ah, meu senhor, que desejo
      De rever-te em casa em paz...
      Que frio que está teu beijo!
      Que pálido, amor, que estás!”

      Efetivamente o Bill
      Talvez devido à friagem
      Que crepitava do rio
      Voltara dessa viagem
      Muito branco e muito frio.

      “Tenho nada, minha nega
      Senão fome e amor ardente
      Dá-me um trago de aguardente
      Traz o pão, passa manteiga!
      E aproveitando do ensejo
      Me apaga esse lampião
      Estou morrendo de desejo
      Amemos na escuridão!”

      Embora estranhando um pouco
      A atitude do marido
      Lunalva tira o vestido
      Semilouca de paixão.

      Tatiana, naquele instante
      Deitada naquela cama
      Lunalva se surpreendeu

      Não foi mulher, foi amante
      Agiu que nem mulher-dama
      Tudo o que tinha lhe deu.

      No outro dia, manhãzinha
      Acordando estremunhada
      Lunalva soltou risada
      Ao ver que não estava o Bill.

      Muito Lunalva se riu
      Vendo a mesa por tirar.

      Indo se mirar ao espelho
      Lunalva mal pôde andar
      De fraqueza no joelho.

      E que olhos pisados tinha!

      Não rias, pobre Lunalva
      Não rias, morena flor
      Que a tua agora alegria
      Traz a semente do horror!

      Eis senão quando, no rio
      Um barulho de motor.

      À porta Lunalva voa
      A tempo de ver chegando
      Um bando de montarias
      E uns cabras dentro remando
      Tudo isso acompanhando
      A lancha a vapor do Bill
      Com um corpo estirado à proa.

      Tatiana, põe só a mão:
      Escuta como dispara
      De medo o meu coração.

      E frente da balsa para
      A lancha com o corpo em cima
      Os caboclos se descobrem
      Lunalva que se aproxima
      Levanta o pano, olha a cara
      E dá um medonho grito.

      “Meu Deus, o meu Bill morreu!
      Por favor me diga, mestre
      O que foi que aconteceu?”

      E o mestre contou contado:
      O Inglês caíra no rio
      Tinha morrido afogado.

      Quando foi?... ontem de tarde.

      Diz — que ninguém esqueceu
      A gargalhada de louca
      Que a pobre Lunalva deu.

      Isso não é nada, Tatiana:
      Ao cabo de nove luas
      Um filho varão nasceu.

      O filho que ela pariu
      Diz-que, Tatiana, diz-que era
      A cara escrita do Bill:

      A cara escrita e escarrada...

      Diz-que até hoje se escuta
      O riso da louca insana
      No hospício, de madrugada.

      É o que lhe digo, Tatiana...



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      o un ciego soñando
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      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
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      Mensaje por Maria Lua Jue 10 Nov 2022, 10:38

      SACRIFÍCIO DA AURORA



      Um dia a aurora chegou-se
      Ao meu quarto de marfim
      E com seu riso mais doce
      Deitou-se junto de mim
      Beijei-lhe a boca orvalhada
      E a carne tímida e exangue
      A carne não tinha sangue
      A boca sabia a nada.

      Apaixonei-me da Aurora
      No meu quarto de marfim
      Todo o dia à mesma hora
      Amava-a só para mim
      Palavras que me dizia
      Transfiguravam-se em neve
      Era-lhe o peso tão leve
      Era-lhe a mão tão macia.

      Às vezes me adormecia
      No meu quarto de marfim
      Para acordar, outro dia
      Com a Aurora longe de mim
      Meu desespero covarde
      Levava-me dia afora
      Andando em busca da Aurora
      Sem ver Manhã, sem ver Tarde.

      Hoje, ai de mim, de cansado
      Há dias que até da vida
      Durmo com a Noite, ausentado
      Da minha Aurora esquecida...
      É que apesar de sombria
      Prefiro essa grande louca
      À Aurora, que além de pouca
      É fria, meu Deus, é fria!



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      Mensaje por Maria Lua Jue 10 Nov 2022, 10:39

      CREPÚSCULO EM NEW YORK



      Com um gesto fulgurante o Arcanjo Gabriel
      Abre de par em par o pórtico do poente
      Sobre New York. A gigantesca espada de ouro
      A faiscar simetria, ei-lo que monta guarda
      A Heavens, Incorporations. Do crepúsculo
      Baixam serenamente as pontes levadiças
      De U.S.A. Sun até a ilha da Manhattan.
      Agora é tudo anúncio, irradiação, promessa
      Da Divina Presença. No imo da matéria
      Os átomos aquietam-se e cria-se o vazio
      Em cada coração de bicho, coisa e gente.

      E o silêncio se deixa assim, profundamente...

      Mas súbito sobe do abismo um som crestado
      De saxofone, e logo a atroz polifonia
      De cordas e metais, síncopas, arreganhos
      De jazz negro, vindos de Fifty Second Street.
      New York acorda para a noite. Oito milhões
      De solitários se dissolvem pelas ruas
      Sem manhã. New York entrega-se.
      Do páramo Balizas celestiais põem-se a brotar, vibrantes
      À frente da parada, enquanto anjos em nylon
      As asas de alumínio, as coxas palpitantes
      Fluem langues da Grande Porta diamantina.

      Cai o câmbio da tarde. O Sublime Arquiteto
      Satisfeito, do céu admira sua obra.
      A maquete genial reflete em cada vidro
      O olho meigo de Deus a dardejar ternuras.
      Como é bela New York!
      Aço e concreto armado
      A erguer sempre mais alto eternas estruturas!
      Deus sorri complacente. New York é muito bela!
      Apesar do East Side, e da mancha amarela
      De China Town, e da mancha escura do Harlem
      New York é muito bela! As primeiras estrelas Afinam na amplidão cantilenas singelas...
      Mas Deus, que mudou muito, desde que enriqueceu
      Liga a chave que acende a Broadway e apaga o céu
      Pois às constelações que no espaço esparziu
      Prefere hoje os ersätze sobre La Guardia Field.



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      Mensaje por Maria Lua Jue 10 Nov 2022, 10:40

      SONETO DA MULHER INÚTIL



      De tanta graça e de leveza tanta
      Que quando sobre mim, como a teu jeito
      Eu tão de leve sinto-te no peito
      Que o meu próprio suspiro te levanta.

      Tu, contra quem me esbato liquefeito
      Rocha branca! brancura que me espanta
      Brancos seios azuis, nívea garganta
      Branco pássaro fiel com que me deito.

      Mulher inútil, quando nas noturnas
      Celebrações, náufrago em teus delírios
      Tenho-te toda, branca, envolta em brumas.

      São teus seios tão tristes como urnas
      São teus braços tão finos como lírios
      É teu corpo tão leve como plumas.

      Rio, maio de 1943


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      Mensaje por Maria Lua Jue 10 Nov 2022, 10:40

      O RIO


      Uma gota de chuva
      A mais, e o ventre grávido
      Estremeceu, da terra.
      Através de antigos
      Sedimentos, rochas
      Ignoradas, ouro
      Carvão, ferro e mármore
      Um fio cristalino
      Distante milênios
      Partiu fragilmente
      Sequioso de espaço
      Em busca de luz.

      Um rio nasceu.




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      Mensaje por Maria Lua Vie 11 Nov 2022, 21:06

      BILHETE A BAUDELAIRE



      Poeta, um pouco à tua maneira
      E para distrair o spleen
      Que estou sentindo vir a mim
      Em sua ronda costumeira

      Folheando-te, reencontro a rara
      Delícia de me deparar
      Com tua sordidez preclara
      No velha foto de Carjat

      Que não revia desde o tempo
      Em que te lia e te relia
      A ti, a Verlaine, a Rimbaud...

      Como passou depressa o tempo
      Como mudou a poesia
      Como teu rosto não mudou!

      Los Angeles, 1947


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      Mensaje por Maria Lua Sáb 12 Nov 2022, 07:50

      O ASSASSINO


      Meninas de colégio
      Apenas acordadas
      Desuniformizadas
      Em vossos uniformes
      Anjos longiformes
      De faces rosadas
      E pernas enormes
      Quem vos acompanha?

      Quem vos acompanha
      Colegiais aladas
      Nas longas estradas
      Que vão da campanha
      Às vossas moradas?
      Onde está o pastor
      Que vos arrebanha
      Rebanho de risos?

      Rebanho de risos
      Que tingem o poente
      Da cor impudente
      Das coisas contadas
      Entre tanto riso!
      Meninas levadas
      Não tendes juízo
      Nas vossas cabeças?

      Nas vossas cabeças
      Como um cata-vento
      Nem por um momento
      A ideia vos passa
      Do grande perigo
      Que vos ameaça
      E a que não dais tento
      Meninas sem tino!

      Pois não tendes tino
      Brotos malfadados
      Que aí pelos prados
      Há um assassino
      Que à vossa passagem
      Põe olhos malvados
      Por entre a folhagem...

      Cuidado, meninas!


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      Mensaje por Maria Lua Sáb 12 Nov 2022, 07:51

      POEMA ENJOADINHO



      Filhos... Filhos?
      Melhor não tê-los!
      Mas se não os temos
      Como sabê-los?
      Se não os temos
      Que de consulta
      Quanto silêncio
      Como os queremos!
      Banho de mar
      Diz que é um porrete...
      Cônjuge voa
      Transpõe o espaço
      Engole água
      Fica salgada
      Se iodifica
      Depois, que boa
      Que morenaço
      Que a esposa fica!
      Resultado: filho.
      E então começa
      A aporrinhação:
      Cocô está branco
      Cocô está preto
      Bebe amoníaco
      Comeu botão.
      Filhos? Filhos
      Melhor não tê-los
      Noites de insônia
      Cãs prematuras
      Prantos convulsos
      Meu Deus, salvai-o!
      Filhos são o demo
      Melhor não tê-los...
      Mas se não os temos
      Como sabê-los?
      Como saber
      Que macieza
      Nos seus cabelos
      Que cheiro morno
      Na sua carne
      Que gosto doce
      Na sua boca!
      Chupam gilete
      Bebem xampu
      Ateiam fogo
      No quarteirão
      Porém, que coisa
      Que coisa louca
      Que coisa linda
      Que os filhos são!



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      Mensaje por Maria Lua Dom 13 Nov 2022, 12:53

      SONETO DO SÓ


      (Parábola de Malte Laurids Brigge)

      Depois foi só. O amor era mais nada
      Sentiu-se pobre e triste como Jó
      Um cão veio lamber-lhe a mão na estrada
      Espantado, parou. Depois foi só.

      Depois veio a poesia ensimesmada
      Em espelhos. Sofreu de fazer dó
      Viu a face do Cristo ensanguentada
      Da sua, imagem — e orou. Depois foi só.

      Depois veio o verão e veio o medo
      Desceu de seu castelo até o rochedo
      Sobre a noite e do mar lhe veio a voz

      A anunciar os anjos sanguinários...
      Depois cerrou os olhos solitários
      E só então foi totalmente a sós.

      Rio, 1946




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      Mensaje por Maria Lua Mar 15 Nov 2022, 08:06

      A PERA


      Como de cera
      E por acaso
      Fria no vaso
      A entardecer

      A pera é um pomo
      Em holocausto
      À vida, como
      Um seio exausto

      Entre bananas
      Supervenientes
      E maçãs lhanas

      Rubras, contentes
      A pobre pera:
      Quem manda ser a?

      Los Angeles, 1947


      _________________



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      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
      (Hánjel)





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      Mensaje por Maria Lua Mar 15 Nov 2022, 08:07

      A PAIXÃO DA CARNE


      Envolto em toalhas
      Frias, pego ao colo
      O corpo escaldante.
      Tem apenas dois anos
      E embora não fale
      Sorri com doçura.
      É Pedro, meu filho
      Sêmen feito carne
      Minha criatura
      Minha poesia.
      É Pedro, meu filho
      Sobre cujo sono
      Como sobre o abismo
      Em noites de insônia
      Um pai se debruça.
      Olho no termômetro:
      Quarenta e oito décimos
      E através do pano
      A febre do corpo
      Bafeja-me o rosto
      Penetra-me os ossos
      Desce-me às entranhas
      Úmida e voraz
      Angina pultácea
      Estreptocócica?
      Quem sabe... quem sabe...
      Aperto meu filho
      Com força entre os braços
      Enquanto crisálidas
      Em mim se desfazem
      Óvulos se rompem
      Crostas se bipartem
      E de cada poro
      Da minha epiderme
      Lutam lepidópteros
      Por se libertar.
      Ah, que eu já sentisse
      Os êxtases máximos
      Da carne nos rasgos
      Da paixão espúria!
      Ah, que eu já bradasse
      Nas horas de exalta-
      Ção os mais lancinantes
      Gritos de loucura!
      Ah, que eu já queimasse
      Da febre mais quente
      Que jamais queimasse
      A humana criatura!
      Mas nunca como antes
      Nunca! nunca! nunca!
      Nem paixão tão alta
      Nem febre tão pura.



      _________________



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