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    Mensaje por Maria Lua Jue 08 Sep 2022, 08:00

    CONSIDERAÇÃO DO POEMA


    Não rimarei a palavra sono
    com a incorrespondente palavra outono.
    Rimarei com a palavra carne
    ou qualquer outra, que todas me convém.
    As palavras não nascem amarradas,
    elas saltam, se beijam, se dissolvem,
    no céu livre por vezes um desenho,
    são puras, largas, autênticas, indevassáveis.
    Uma pedra no meio do caminho
    ou apenas um rastro, não importa.

    Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
    de toda a precisão se incorporaram
    ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius
    sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
    Que Neruda me dê sua gravata
    chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski.
    São todos meus irmãos, não são jornais
    nem deslizar de lancha entre camélias:
    é toda a minha vida que joguei.
    Estes poemas são meus. É minha terra
    e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
    ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
    em qualquer estalagem, se ainda as há.
    — Há mortos? há mercados? há doenças?
    É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
    por que falsa mesquinhez me rasgaria?

    Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes
    [rugas.
    O beijo ainda é um sinal, perdido embora,
    da ausência de comércio,
    boiando em tempos sujos.
    Poeta do finito e da matéria,
    cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
    boca tão seca, mas ardor tão casto.
    Dar tudo pela presença dos longínquos,
    sentir que há ecos, poucos, mas cristal,
    não rocha apenas, peixes circulando
    sob o navio que leva esta mensagem,
    e aves de bico longo conferindo
    sua derrota, e dois ou três faróis,
    últimos! esperança do mar negro.
    Essa viagem é mortal, e começá-la.

    Saber que há tudo. E mover-se em meio
    a milhões e milhões de formas raras,
    secretas, duras. Eis ai meu canto.
    Ele é tão baixo que sequer o escuta
    ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
    que as pedras o absorvem. Está na mesa
    aberta em livros, cartas e remédios.
    Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,
    o uniforme de colégio se transformam,
    são ondas de carinho te envolvendo.

    Como fugir ao mínimo objeto
    ou recusar-se ao grande? Os temas passam,
    eu sei que passarão, mas tu resistes,
    e cresces como fogo, como casa,
    como orvalho entre dedos,
    na grama, que repousam.
    Já agora te sigo a toda parte,
    e te desejo e te perco, estou completo,
    me destino, me faço tão sublime,
    tão natural e cheio de segredos,
    tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina,
    o povo, meu poema, te atravessa.


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    y en ese vuelo y en ese sueño
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    Mensaje por Maria Lua Jue 08 Sep 2022, 08:02

    PROCURA DA POESIA


    Não faças versos sobre acontecimentos.
    Não há criação nem morte perante a poesia.
    Diante dela, a vida é um sol estático,
    não aquece nem ilumina.
    As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
    Não faças poesia com o corpo,
    esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à
    [efusão lírica.
    Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
    são indiferentes.
    Nem me reveles teus sentimentos,
    que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.

    O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
    Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
    O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das
    [casas.
    Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas
    [junto à linha de espuma.
    O canto não é a natureza
    nem os homens em sociedade.
    Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.

    A poesia (não tires poesia das coisas)
    elide sujeito e objeto.
    Não dramatizes, não invoques,
    não indagues. Não percas tempo em mentir.
    Não te aborreças.
    Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
    vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
    desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
    Não recomponhas
    tua sepultada e merencória infância.
    Não osciles entre o espelho e a
    memória em dissipação.
    Que se dissipou, não era poesia.
    Que se partiu, cristal não era.
    Penetra surdamente no reino das palavras.
    Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
    Estão paralisados, mas não há desespero,
    há calma e frescura na superfície intata.
    Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
    Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
    Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
    Espera que cada um se realize e consume
    com seu poder de palavra
    e seu poder de silêncio.

    Não forces o poema a desprender-se do limbo.
    Não colhas no chão o poema que se perdeu.
    Não adules o poema. Aceita-o
    como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
    no espaço.
    Chega mais perto e contempla as palavras.
    Cada uma
    tem mil faces secretas sob a face neutra
    e te pergunta, sem interesse pela resposta,
    pobre ou terrível, que lhe deres:
    Trouxeste a chave?
    Repara:
    ermas de melodia e conceito
    elas se refugiaram na noite, as palavras.
    Ainda úmidas e impregnadas de sono,
    rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.


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    Mensaje por Maria Lua Jue 08 Sep 2022, 08:26

    A FLOR E A NÁUSEA


    Preso à minha classe e a algumas roupas,
    vou de branco pela rua cinzenta.
    Melancolias, mercadorias espreitam-me.
    Devo seguir até o enjôo?
    Posso, sem armas, revoltar-me?
    Olhos sujos no relógio da torre:

    Não, o tempo não chegou de completa justiça.
    O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
    O tempo pobre, o poeta pobre
    fundem-se no mesmo impasse.
    Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

    Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
    O sol consola os doentes e não os renova.
    As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
    Vomitar esse tédio sobre a cidade.

    Quarenta anos e nenhum problema
    resolvido, sequer colocado.
    Nenhuma carta escrita nem recebida.
    Todos os homens voltam para casa.
    Estão menos livres mas levam jornais
    e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
    Crimes da terra, como perdoá-los?
    Tomei parte em muitos, outros escondi.
    Alguns achei belos, foram publicados.
    Crimes suaves, que ajudam a viver.
    Ração diária de erro, distribuída em casa.

    Os ferozes padeiros do mal.
    Os ferozes leiteiros do mal.
    Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
    Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
    Porém meu ódio é o melhor de mim.
    Com ele me salvo
    e dou a poucos uma esperança mínima.

    Uma flor nasceu na rua!
    Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
    Uma flor ainda desbotada
    ilude a polícia, rompe o asfalto.
    Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
    garanto que uma flor nasceu.
    Sua cor não se percebe.

    Suas pétalas não se abrem.
    Seu nome não está nos livros.
    É feia. Mas é realmente uma flor.
    Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
    e lentamente passo a mão nessa forma insegura.

    Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
    Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico
    É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.




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    Mensaje por Maria Lua Lun 12 Sep 2022, 16:22

    CARREGO COMIGO


    Carrego comigo
    há dezenas de anos
    há centenas de anos
    o pequeno embrulho.

    Serão duas cartas?
    será uma flor?
    será um retrato?
    um lenço talvez?

    Já não me recordo
    onde o encontrei.
    Se foi um presente
    ou se foi furtado.

    Se os anjos desceram
    trazendo-o nas mãos,
    se boiava no rio,
    se pairava no ar.

    Não ouso entreabri-lo.
    Que coisa contém,
    ou se algo contém,
    nunca saberei.

    Como poderia
    tentar esse gesto?
    O embrulho é tão frio
    e também tão quente.

    Ele arde nas mãos,
    é doce ao meu tato.
    Pronto me fascina
    e me deixa triste.

    Guardar um segredo
    em si e consigo,
    não querer sabê-lo
    ou querer demais.

    Guardar um segredo
    de seus próprios olhos,
    por baixo do sono,
    atrás da lembrança.

    A boca experiente
    saúda os amigos.
    Mão aperta mão,
    peito se dilata.

    Vem do mar o apelo,
    vêm das coisas gritos.
    O mundo te chama:
    Carlos! Não respondes?

    Quero responder.
    A rua infinita
    vai além do mar.
    Quero caminhar.

    Mas o embrulho pesa.
    Vem a tentação
    de jogá-lo ao fundo
    da primeira vala.

    Ou talvez queimá-lo:
    cinzas se dispersam
    e não fica sombra
    sequer, nem remorso.

    Ai, fardo sutil
    que antes me carregas
    do que és carregado,
    para onde me levas?

    Por que não me dizes
    a palavra dura
    oculta em teu seio,
    carga intolerável?

    Seguir-te submisso
    por tanto caminho
    sem saber de ti
    senão que te sigo.

    Se agora te abrisses
    e te revelasses
    mesmo em forma de erro,
    que alivio seria!

    Mas ficas fechado.
    Carrego-te à noite
    se vou para o baile.
    De manhã te levo

    para a escura fábrica
    de negro subúrbio.
    És, de fato, amigo
    secreto e evidente.

    Perder-te seria
    perder-me a mim próprio.
    Sou um homem livre
    nas levo uma coisa.

    Não sei o que seja.
    Eu não a escolhi.
    Jamais a fitei.
    Mas levo uma coisa.

    Não estou vazio,
    não estou sozinho,
    pois anda comigo
    algo indescritível.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 12 Sep 2022, 16:23

    ANOITECER

    É a hora em que o sino toca,
    mas aqui não há sinos;
    há somente buzinas,
    sirenes roucas, apitos
    aflitos, pungentes, trágicos,
    uivando escuro segredo;
    desta hora tenho medo.

    É a hora em que o pássaro volta,
    mas de há muito não há pássaros;
    só multidões compactas
    escorrendo exaustas
    como espesso óleo
    que impregna o lajedo;
    desta hora tenho medo.

    A Dolores
    É a hora do descanso,
    mas o descanso vem tarde,
    o corpo não pede sono,
    depois de tanto rodar;
    pede paz — morte — mergulho
    no poço mais ermo e quedo;
    desta hora tenho medo.

    Hora de delicadeza,
    gasalho, sombra, silêncio.
    Haverá disso no mundo?
    Ê antes a hora dos corvos,
    bicando em mim, meu passado,
    meu futuro, meu degredo;
    desta hora, sim, tenho medo.





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    Mensaje por Maria Lua Vie 16 Sep 2022, 08:17

    Antología
    :copyright: Carlos Drummond de Andrade

    © Arquitrave Editores
    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]
    Edición y diseño Harold Alvarado Tenorio y Héctor Hernán Gómez
    Impreso en Colombia - Printed in Colombia
    Todos los derechos reservados. Esta publicación no puede ser reproducida, ni en
    todo ni en parte, ni registrada en o transmitida por, un sistema de recuperación de
    información, en ninguna forma ni por ningún medio, sea mecánico, fotoquímico,
    electrónico, magnético, electroóptico, por fotocopia, o cualquier otro, sin el permiso
    previo por escrito de la editorial.



    Carlos Drummond de Andrade



    Fue en la rumorosa Feria del Libro, en Buenos Aires, y precisamente en
    la sala Jorge Luis Borges, colmada por cientos de personas ese sábado 27 de
    abril de 2002. Junto con tres colegas brasileños, invitados todos por su Embajada, conmemoramos el centenario del nacimiento de uno de los más
    grandes poetas del continente: Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
    Profundamente emocionado, pronto abandoné el texto escrito previamente
    para permitirme improvisar, más libremente, dejando fluir mis sentimientos junto con mis razones. Porque esa poesía y ese hombre, con una misteriosa precisión, estaban muy hondamente relacionados con mi vida.
    Hijo de gallegos, el primero de mi familia nacido en Buenos Aires, de
    familia bilingüe, me descubrí escribiendo poesía en mi primera adolescencia. Y, casi al mismo tiempo, me descubrí igualmente traduciendo poesía,
    sobre todo del portugués pero también del italiano y del francés. Y lo primero que traduje fueron poemas de Carlos Drummond de Andrade, que siempre me atrajeron fuertemente. Y que no sólo proseguí divulgando en mi país
    sino también en Latinoamérica y España.

    Todo se potenció al verme convertido, un día antes de cumplir diecisiete
    años, en el miembro más joven de un movimiento argentino de vanguardia,
    reunido alrededor de la revista Poesía Buenos Aires (1950-1960), que iba a
    modificar de raíz la teoría y la práctica de la poesía argentina. A partir de
    entonces, todo se aceleró, y la viva presencia de Carlos Drummond de Andrade
    comenzó a ser una riqueza generosamente compartida. Entre nosotros, y
    con los otros. Allí publiqué mi versión de El obrero en el mar, ese texto
    magnífico, de honda significación estética y humana. Allí se llamó Sentimiento del mundo una de nuestras colecciones. Allí fue Drummond uno de
    los cuatro primeros autores incluidos en los pocos cuadernillos que llegaron
    a publicarse de una ambiciosa serie, Poetas del Siglo Veinte, luego interrumpida.
    Acusados entonces de europeizantes y de afrancesados (y es verdad que
    adorábamos a Éluard y Apollinaire, a Char y Dylan Thomas, por ejemplo),
    también nos preciábamos de Huidobro y de Vallejo, de Oliverio Girondo y
    Carlos Drummond de Andrade de Juan L. Ortiz, entre otros grandes latinoamericanos. Y a través de
    Drummond me tocó, a partir de entonces, convertirme en el devoto impulsor de los indelebles modernistas brasileños, que vengo traduciendo y difundiendo sin cesar.

    Capaz de ser al mismo tiempo absolutamente renovador y legítimamente
    nacional, en el mejor sentido, el modernismo brasileño constituye una prueba
    evidente de la originalidad de las vanguardias latinoamericanas, tantas veces
    acusadas de ser mero reflejo de recursos europeos. Y, con ser originalísima, la
    obra de Carlos Drummond se vuelve también significativa en ese contexto
    modernista, del cual constituye muy probablemente el paradigma. Popular
    sin demagogia, discreta sin pavoneos, distante pero cálida, precisa sin frialdad, incluso en sus comienzos abiertamente comprometida pero con tal intensidad de vida y de lenguaje que sus poemas de ese tipo continúan en
    vigencia y conmoviéndonos, el desarrollo de la poesía de Drummond constituyó para nosotros, y especialmente para mí, una experiencia enriquecedora.

    Donde lo estético y lo humano se daban como evidencia viva, lograda, cabal,
    y al mismo tiempo temblorosamente inerme, transida, contagiosa.
    Si pudo ofrecernos, en Búsqueda de la poesia, una lúcida, ejemplar arte
    poética, de luminosa inteligencia y contagiosa sensibilidad, capaz de precavernos contra toda demagogia, y que cada día cobra más justificadas dimensiones (especialmente en estos tiempos de ácida banalización y consiguiente
    aridez del lenguaje, inclusive cotidiano, asolado por los medios audiovisuales
    globalizados), ¿no es llamativo que haya logrado hacerlo después de su tocante Consideración del poema, humanísima obertura con la que abre, en los
    duros y crueles años que fueron de 1943 a 1945, en lucha mundial contra
    el fascismo, nada menos que un libro que quiso llamar La rosa del pueblo?

    Es la misma temblorosa precisión con que, como el torero a la hora de la
    verdad, en un golpe de gracia, culmina allí mismo ese otro poema imborrable: Pasaje del año, como si quisiera dar una demostración definitiva a aquel
    lúcido aserto de Huidobro («el adjetivo, cuando no da vida, mata»), con
    estas palabras indelebles: «La vida es gorda, oleosa, mortal, subrepticia.» No
    sólo calidad literaria, ni mucho menos habilidad retórica, como se ve, sino
    precisamente lenguaje encarnado, belleza-verdad hecha voz, inflexión y sentido. Porque, como él mismo dijo, no se trata apenas de escribir bien, de tener buenos sentimientos o buenas razones sino de «ser hombre en el poema», apenas, nada menos. Después de todo, aunque con sobria dignidad él
    haya aludido a «razones de conciencia», ¿no habrá sido asimismo por razones estéticas que, en 1975, Drummond rechazó el bien dotado Premio de
    Literatura de Brasilia que celebraba el aniversario de la dictadura militar?
    Si vuelvo la vista atrás, continúo sin salir de mi asombro. ¿Cómo consiguió el adolescente tímido que yo era, tomar contacto epistolar con
    Drummond de Andrade, que me contestó con increíble generosidad? Libros
    y cartas me llegaban, entibiándome el corazón, desde su domicilio carioca en
    Conselheiro Lafaiete 60/701. (Y algo similar me iba a seguir ocurriendo,
    poco tiempo después, con Murilo Mendes.) Pero no era sorprendente. Con
    ese clima de fraternidad exigente, con esa amistad desinteresada y generosa
    pero al mismo tiempo profundamente respetuosa de la dignidad, estética y
    humana, de la poesía, los modernistas brasileños habían creado entre ellos y
    sus obras lazos que los sostenían y los intercomunicaban. Son memorables,
    y envidiables, entre muchas otras por ejemplo las relaciones de Bandeira con
    Mário de Andrade, de Drummond con Bandeira, de Murilo con todos. Y de
    ello ha quedado vigente testimonio no sólo en cartas, gestos y opiniones sino
    también en algunos poemas imborrables.
    Y yo también tuve pruebas de ello. En 1957, colaboraba con Paco Urondo
    (otro miembro de Poesía Buenos Aires) en la Primera Reunión de Arte Contemporáneo, organizada para la Universidad Nacional del Litoral en la ciudad de Santa Fe, y donde se reunieron entonces las vertientes más avanzadas
    del arte y la cultura moderna en la Argentina. Sólo hubo tres invitados
    especiales, y uno de ellos fue Drummond, el único extranjero. Quien contestó a mi pedido enviando, de inmediato, el original de su bello poema

    Especulaciones alrededor de la palabra hombre, por entonces todavía inédito,
    que traduje conmovido y que no sólo fue expuesto sino también incluido en
    el volumen que se publicó al año siguiente.
    El primer libro de Drummond de Andrade que tuve entre mis manos fue
    Fazendeiro do Ar & Poesia até Agora, que Livraria José Olympio Editôra
    publicó en 1954. Y precisamente ese libro culmina con uno de los pocos
    poemas de Drummond explícitamente relacionados con Buenos Aires. Se
    trata de A Luís Maurício, niño, dedicado a uno de sus tres nietos argentinos,
    y donde Buenos Aires aparece explícitamente aludida. No sólo por esa «ventana / que da hacia el Ministerio de Trabajo», cuya efigie burocrática es
    engalanada por la primavera, sino también por «el enano de Harrods, hoy
    viejo, entre niños enormes», que sólo los mayores recordarán ahora, o el
    ciego sentado «en su inmovilidad, / en la esquina de Córdoba y Florida» , o
    algunos habitantes de nuestro Jardín Zoológico, sin duda visitado con los
    niños («Fíjate que hay terciopelo en los osos. / Incómodos y prisioneros, en
    Palermo»), o también, como todos sabemos que «los chicos y las palomas
    confraternizan en la Plaza de Mayo»).

    Lo que me trae de inmediato el recuerdo de su única hija, María Julieta
    (cuya muerte iba a causarle la muerte), casada y viviendo en Buenos Aires, a
    quien una noche memorable de 1967 invité a mi casa, para recibir allí juntos a Giuseppe Ungaretti (a quien también traduje en 1962), que había
    vivido en Brasil y como para volver a reunirlo con Drummond, reuniendo
    así de paso en dos figuras ejemplares mi devoción de siempre por la poesía
    italiana y la poesía brasileña, acaso las otras dos patrias de mi espíritu.
    Poco después, en una carta del 3 de enero de 1968, Drummond comienza definiéndose «como el animal menos epistológrafo del mundo» para terminar adjuntando, tan discreta como generosamente, «unas pocas líneas»
    para prologar mi libro Hago el amor (1969), a pesar de que «ya no escribo
    prefacios.»
    Aunque en medio de la supuesta globalización continúe en Latinoamérica
    la insoportable balcanización de nuestros pueblos, siempre me pareció especialmente doloroso que esa absurda incomunicación se produzca también

    con el Brasil, cuya cultura contagiosamente vital, extraordinariamente viva,
    ha de resultar especialmente fecunda para un continente del cual, por otra
    parte, constituye prácticamente la mitad. No son los intereses que quieren
    ver justos, libres y fuertes a nuestros pueblos los que nos mantienen, todavía
    en gran medida, tan absurdamente incomunicados. En la medida de mis
    posibilidades, y siempre que me ha sido posible, he tratado de contribuir a
    que la gran poesía de Brasil se mantenga bien viva entre nosotros, los otros
    pueblos hermanos de habla castellana. Y en ese impulso, desde un comienzo, la gran poesía de Carlos Drummond de Andrade ha resultado siempre un
    protagonista fundamental. Alrededor del fuego de la voz de Drummond,
    fraterna y exigente, cada día más viva, cada día más vivos, habremos de continuar reuniéndonos, todos nosotros, brasileños, argentinos, colombianos,
    latinoamericanos todos, en ese legítimo «sentimiento del mundo» que, hijo
    del planeta, abarcará al planeta.



    Rodolfo Alo
    nso




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    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
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    Mensaje por Maria Lua Vie 16 Sep 2022, 08:33

    Política literaria


    El poeta municipal
    discute con el poeta provincial
    cual de ellos es capaz de vencer al poeta federal.

    Mientras tanto el poeta federal
    se saca oro de la nariz.


    ********************


    Original en portugués:




    Política Literária


    A Manuel Bandeira


    O poeta municipal
    discute com o poeta estadual
    qual deles é capaz de bater o poeta federal.

    Enquanto isso o poeta federal
    tira ouro do nariz.




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    Mensaje por Maria Lua Vie 16 Sep 2022, 08:37

    Sentimental

    Me pongo a escribir tu nombre
    con fideos de letritas.
    En el plato, la sopa se enfría, llena de escamas
    y acodados en la mesa todos contemplan
    ese romántico trabajo.

    Desgraciadamente falta una letra,
    ¡una letra solamente
    para acabar tu nombre!

    — ¿Estás soñando? ¡Mira que la sopa se enfría!

    Yo estaba soñando...
    Y hay en todas las conciencias un cartel amarillo:
    «En este país está prohibido soñar.»


    *****************


    Original en portugués:


    Sentimental



    Ponho-me a escrever teu nome
    com letras de macarrão.
    No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
    e debruçados na mesa todos contemplam
    esse romântico trabalho.

    Desgraçadamente falta uma letra,
    uma letra somente
    para acabar teu nome!

    — Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

    Eu estava sonhando...
    E há em todas as consciências este cartaz amarelo:
    "Neste país é proibido sonhar."





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    Mensaje por Amalia Lateano Vie 16 Sep 2022, 20:17

    Carlos Drumond de Andrade, considero que es una maravilla, y que representa estilística y temáticamente hablando, una síntesis, consciente y didáctica de la obra que busca el principio de la esperanza.-

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    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 14 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Sáb 17 Sep 2022, 08:49


    Quadrilha

    João amava Teresa que amava Raimundo
    que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
    que não amava ninguém.
    João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
    Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
    Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
    que não tinha entrado na história


    ***************


    Cuadrilla


    Juan amaba a Teresa que amaba a Raimundo
    que amaba a María que amaba a Joaquín que amaba a Lilí
    que no amaba a nadie.
    Juan se fue a los Estados Unidos, Teresa al convento,
    Raimundo murió en un desastre, María quedó para tía,
    Joaquín se suicidó y Lilí se casó con J. Pinto Fernández
    que no tenía nada que ver en el asunto.


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 17 Sep 2022, 08:51

    Anedota Búlgara

    Era uma vez um czar naturalista
    que caçava homens.
    Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
    ficou muito espantado
    e achou uma barbaridade.




    *************

    Anécdota Búlgara

    Había una vez un zar naturalista
    que cazaba hombres.
    Cuando le dijeron que también se cazan
    mariposas y golondrinas,
    quedó muy espantado
    y le pareció una barbaridad.





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    Mensaje por Maria Lua Dom 18 Sep 2022, 08:47

    En la escuela


    [Minicuento - Texto completo.]

    Carlos Drummond de Andrade



    Es democrática doña Amarilis, maestra de una escuela pública situada en una calle que no voy a nombrar; también el nombre de doña Amarilis es inventado, pero el hecho aconteció.

    La maestra se dirigió a los alumnos, al comienzo de la clase, y dijo:

    -Hoy quiero que ustedes resuelvan algo muy importante. ¿Puede ser?

    -¡Sí! -respondió la chiquilinada en coro.

    -Muy bien. Será una especie de plebiscito. La palabra es complicada, pero la cosa es simple. Cada uno da su opinión, sumamos y la mayoría decide. Cuando den su opinión no hablen todos a la vez, porque así va a ser muy difícil que yo sepa lo que cada uno piensa. ¿Está bien?

    -¡Muy bien! -respondió el coro, interesadísimo.

    -Excelente. Entonces, vamos al grano. Ha surgido un movimiento para que las maestras puedan usar pantalones en las escuelas. El gobierno ya dijo que lo permite, la directora también, pero yo, personalmente, no quiero decidir por mí misma. En el aula todo debe hacerse de acuerdo con los alumnos, para que todos queden satisfechos y nadie pueda decir que no le gusta. Así no hay problemas. Bien, voy a empezar por Renato Carlos. Renato Carlos: ¿crees que tu maestra debe o no usar pantalón en la escuela?

    -Creo que no debe -respondió bajando los ojos.

    -¿Por qué?

    -Porque es mejor no usar pantalones.

    -¿Y por qué es mejor?

    -Porque la minifalda es mucho más linda.

    -¡Perfecto! Un voto en contra. Marilena, por favor, anota en tu cuaderno los votos en contra. Y tú, Leonardo, anota los votos a favor, si los hay. Ahora va a responder Inesita.

    -Claro que debe, señorita. Usted usa pantalones fuera de la escuela. ¿Por qué no los va a usar aquí dentro?

    -Pero aquí es otro lugar.

    -Es lo mismo. El otro día la vi en la calle con uno rojo que estaba bárbaro.

    -Uno a favor. ¿Y tú, Aparecida?

    -¿Puedo ser sincera, señorita?

    -No puedes, tienes que ser sincera.

    -Yo, si fuese usted, no usaría pantalones.

    -¿Por qué?

    -Y… por las caderas, ¿sabe? Como las tiene medio anchas…

    -Muchas gracias, Aparecida. ¿Anotaste, Marilena? Ahora tú, Edmundo.

    -Yo creo que Aparecida no tiene razón, señorita. Usted debe quedar fenómeno de pantalones. Sus caderas son muy lindas.

    -No estamos votando a favor o en contra de mis caderas sino de los pantalones. ¿Estás a favor o en contra?

    -A favor, ciento por ciento.

    -¿Y tú, Peter?

    -A mí me da lo mismo.

    -¿No tienes preferencia?

    -No sé. En cosas de mujeres yo no me meto, señorita.

    -Una abstención. Mónica, tú quedas encargada de tomar nota de los votos como el de Peter: ni a favor ni en contra.

    Y seguían votando como si estuviesen eligiendo al presidente de la República, tarea que tal vez ¿quién sabe? sean llamados a desempeñar en el futuro. Votaban con la mayor seriedad. Le tocó el turno a Rinalda.

    -¡Ah! Cada uno en la suya.

    -¿Cómo en la suya?

    -Yo en la mía, usted en la suya, cada uno en la propia. ¿Estamos?

    -Explicáte mejor.

    -La cosa es así: si usted quiere venir con pantalones, viene. Yo quiero venir de midi, de maxi, de pantalón corto, vengo. El uniforme es una estupidez.

    -Fuiste más allá de la pregunta, Rinalda. ¿Entonces estás a favor?

    -Evidente. Cada cual se copa como quiere.

    -¡Mil! -exclamó Jorgito-. El uniforme está superado, señorita. Usted viene de pantalones y nosotros aparecemos como se nos dé la gana.

    -¡Ah, no! -refutó Gilberto-. Ahí se arma un lío. En mi casa nadie anda en pijama o con la camisa abierta en el sala. Hay que respetar el uniforme.

    Que hay que respetar, que no hay que respetar, la discusión subía de tono. Doña Amarilis pedía orden, orden, así no se puede, pero los grupos asumían posiciones extremas, hablaban todos al mismo tiempo, nadie conseguía hacerse oír, por lo cual, con cuatro votos a favor de los pantalones, dos en contra y una abstención, y antes de que se decretara por mayoría absoluta la abolición del uniforme escolar, la maestra consideró prudente dar por terminado el plebiscito y pasó a la lección de historia de Brasil.







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    Mensaje por Maria Lua Lun 10 Oct 2022, 08:34

    El enterrado vivo

    Está siempre en el pasado el mismo orgasmo,
    y siempre en el presente el mismo doble,
    y siempre en el futuro el mismo pánico.

    Esta siempre en mi pecho la misma garra.
    Y siempre en mi tedio la misma llamada.
    Y siempre en mi sueño la misma guerra.

    Está siempre en mi acuerdo el gran desacuerdo.
    Siempre en mi firma la antigua furia.
    Siempre en el mismo engaño otro retrato.

    Está siempre en mis saltos el límite.
    Y siempre en mis labios la estampilla.
    Y siempre en mi no el mismo trauma.

    Y siempre en mi amor la noche rompe.
    Y siempre dentro de mí mi enemigo.
    Y en mi siempre la misma ausencia siempre.



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    Mensaje por Maria Lua Mar 18 Oct 2022, 18:11

    A noite está fria.
    Noite indifferente.
    Vamos morrer daqui a um minuto
    (si você não roer a corda)
    e no entanto o Cruzeiro do Sul parece
    dizer: que m'importa,
    E astros aguas e terras repetem
    machinalmente: que m'importa.

    Elles têm razão.
    Nós também temos.
    Dois contribuintes de menos,
    que perderá o Brasil com isso.
    No frio da noite os amorosos multiplicam a espécie.
    O Brasil é tão grande.
    Mais grande que o mundo inteiro.
    Estamos caceteados, vamos s'embora

    Adeus minha terra
    terra bonita
    pintada de verde
    com bichos exquesitos e moleques
    treteiros,
    abençoada pelo Deus brasileiro das
    felicidades e descarrilamentos. Meu povo
    amigos inimigos
    canalha miúda
    me despéço de todos sem excepção.
    Apezar de ser inútil,
    se lembrem de mim nas suas orações.

    Está na hora.
    Agora vamos.
    Me acompanhe nesse passo
    tão complicado.
    Me ajude a morrer,
    morre com a gente, irmãosinho.

    Vamos fazer a grande besteira: rebentar os miolos
    e ir receber no céo o castigo de nossos
    amores
    e o premio de nossas
    devassidões.


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua Vie 21 Oct 2022, 10:36

    Amar

    Que pode uma criatura senão,
    entre criaturas, amar?
    amar e esquecer,
    amar e malamar,
    amar, desamar, amar?
    sempre, e até de olhos vidrados, amar?

    Que pode, pergunto, o ser amoroso,
    sozinho, em rotação universal, senão
    rodar também, e amar?
    amar o que o mar traz à praia,
    o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
    é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

    Amar solenemente as palmas do deserto,
    o que é entrega ou adoração expectante,
    e amar o inóspito, o áspero,
    um vaso sem flor, um chão de ferro,
    e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

    Este o nosso destino: amor sem conta,
    distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
    doação ilimitada a uma completa ingratidão,
    e na concha vazia do amor a procura medrosa,
    paciente, de mais e mais amor.

    Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
    amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



    ***********************


    Amar

    ¿Qué puede una criatura sino,
    entre las criaturas, amar?
    amar y olvidar,
    amar y malamar,
    amar, desamar, amar?
    siempre, y hasta con ojos vidriados, amar?

    ¿Qué puede, pregunto, el ser amoroso
    solo, en rotación universal, sino
    rodar también, y amar?
    amar lo que el mar trae a la playa,
    lo que él sepulta, y lo que, en la brisa marina,
    es sal, o precisión de amor, o simples ansias?

    Amar solemnemente las palmas del desierto,
    lo que es entrega o adoración expectante,
    y amar lo inhóspito, lo áspero,
    un vaso sin flor, una planta de hierro,
    y el pecho inerte, y la calle vista en un sueño, y un ave de rapiña.

    Este es nuestro destino: amor sin cuenta,
    distribuido por las cosas pérfidas o nulas,
    donación ilimitada a una completa ingratitud,
    y en la concha vacía del amor la espera tímida,
    paciente, de más y más amor.

    Amar nuestra falta misma de amor, y en nuestra sequedad
    amar el agua implícita, y el beso tácito, y la sed infinita.


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    Mensaje por Maria Lua Vie 21 Oct 2022, 10:38

    BÚSQUEDA DE LA POESÍA

    No hagas versos sobre acontecimientos.
    No hay creación ni muerte ante la poesía.
    Ante ella es un sol estático la vida,
    ni calienta ni ilumina.
    Las afinidades, los cumpleaños, los incidentes personales nada cuentan.
    No hagas poesía con el cuerpo,
    ese excelente y confortable cuerpo, tan adverso a la efusión lírica.
    Tu gota de bilis, tu careta de gozo o de dolor en lo oscuro son indiferentes.
    No me reveles tus sentimientos,
    que se aprovechan del equívoco e intentan el largo viaje.
    Lo que piensas y sientes, eso aún no es poesía.

    No cantes a tu ciudad, déjala en paz.
    El canto no es el movimiento de las máquinas ni el secreto de las casas.
    No es música oída cuando pasas; rumor del mar en las calles junto a la línea de
    [espuma.
    El canto no es la naturaleza
    ni los hombres en sociedad.
    Para él, lluvia y noche, fatiga y esperanza, nada significan.
    La poesía (no saques poesía de las cosas)
    omite el sujeto y el objeto.

    No dramatices, no invoques,
    no indagues. No pierdas tiempo en mentir.
    No te aburras.
    Tu yate de marfil, tu zapato de diamante,
    vuestras mazurcas y supersticiones, vuestros esqueletos de familia
    desaparecen en la curva del tiempo, son algo inútil.

    No recompongas
    tu sepultada y melancólica infancia.
    No osciles entre el espejo y la
    memoria que se disipa.
    Si se disipó no era poesía.
    Si se partió cristal no era.

    Penetra sordamente en el reino de las palabras.
    Allí están los poemas que esperan ser escritos.
    Están paralizados, pero sin desesperación,
    hay calma y frescura en la intacta superficie.
    Helos aquí solos y mudos, en estado diccionario.
    Convive con tus poemas antes de escribirlos.
    Ten paciencia, si oscuros. Calma si te provocan.
    Espera que cada uno se realice y consuma
    con su poder de palabra
    y su poder de silencio.
    No fuerces al poema a desprenderse del limbo.
    No recojas del suelo el poema ya perdido.
    No adules al poema. Acéptalo
    como él aceptará su forma definitiva y concentrada
    en el espacio.

    Acércate y contempla las palabras.
    Cada una
    tiene mil facetas secretas bajo la faz neutra
    y te pregunta, sin interés por la respuesta,
    pobre o terrible, que le des:
    ¿Has traído la llave?

    Observa:
    yermas de melodía y de concepto
    se refugiaron en la noche, las palabras.
    Húmedas aún e impregnadas de sueño,
    ruedan en un difícil río y se transforman en desprecio.

    Una rosa del pueblo, 1945. Traducción de Pablo del Barco



    *****************


    PROCURA DA POESIA

    Não faças versos sobre acontecimentos.
    Não há criação nem morte perante a poesia.
    Diante dela, a vida é um sol estático,
    não aquece nem ilumina.
    As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
    Não faças poesia com o corpo,
    esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

    Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro
    são indiferentes.
    Não me reveles teus sentimentos,
    que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
    O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

    Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
    O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
    Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de
    [espuma.

    O canto não é a natureza
    nem os homens em sociedade.
    Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
    A poesia (não tires poesia das coisas)
    elide sujeito e objeto.

    Não dramatizes, não invoques,
    não indagues. Não percas tempo em mentir.
    Não te aborreças.
    Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
    vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
    desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

    Não recomponhas
    tua sepultada e merencória infância.
    Não osciles entre o espelho e a
    memória em dissipação.
    Que se dissipou, não era poesia.
    Que se partiu, cristal não era.

    Penetra surdamente no reino das palavras.
    Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
    Estão paralisados, mas não há desespero,
    há calma e frescura na superfície intata.
    Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

    Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
    Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
    Espera que cada um se realize e consume
    com seu poder de palavra
    e seu poder de silêncio.
    Não forces o poema a desprender-se do limbo.
    Não colhas no chão o poema que se perdeu.
    Não adules o poema. Aceita-o
    como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
    no espaço.

    Chega mais perto e contempla as palavras.
    Cada uma
    tem mil faces secretas sob a face neutra
    e te pergunta, sem interesse pela resposta,
    pobre ou terrível que lhe deres:
    Trouxeste a chave?

    Repara:
    ermas de melodia e conceito
    elas se refugiaram na noite, as palavras.
    Ainda úmidas e impregnadas de sono,
    rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

    A rosa do povo, 1945.


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 05 Nov 2022, 15:20

    BRINDE NO JUÍZO FINAL

    Poetas de camiseiro, chegou vossa hora,
    poetas de elixir de inhame e de tonofosfan,
    chegou vossa hora, poetas do bonde e do rádio,
    poetas jamais acadêmicos, último ouro do Brasil.
    Em vão assassinaram a poesia nos livros,
    em vão houve putschs, tropas de assalto, depurações.
    Os sobreviventes aqui estão, poetas honrados,
    poetas diretos da Rua Larga.
    (As outras ruas são muito estreitas,
    só nesta cabem a poeira,
    o amor
    e a Light.

    **************




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    Mensaje por Maria Lua Dom 13 Nov 2022, 13:04

    RECORDATORIO

    Si busca bien usted acaba encontrando.
    No la explicación (dudosa) de la vida,
    Sino la poesía (inexplicable) de la vida.




    RECORDATORIO

    Se procurar bem você acaba encontrando.
    Não a explicação (duvidosa) da vida,
    Mas a poesia (inexplicável) da vida.


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    Mensaje por Maria Lua Dom 20 Nov 2022, 07:44

    Antología
    © Carlos Drummond de Andrade
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    Mensaje por Maria Lua Dom 20 Nov 2022, 07:48

    Poema de siete caras


    Cuando nací, un ángel chueco
    de esos que viven en la sombra
    dijo: Anda, ¡Carlos! a ser gauche en la vida.

    Las casas espían a los hombres
    que corren detrás de mujeres.
    La tarde tal vez fuese azul,
    si no hubiese tantos deseos.

    El tranvía pasa lleno de piernas:
    piernas blancas negras amarillas.
    Para qué tanta pierna, Dios mío, pregunta mi corazón.

    Sin embargo mis ojos no preguntan nada.
    El hombre detrás del bigote
    es serio, simple y fuerte. Casi no conversa.
    Tiene pocos, raros amigos
    el hombre detrás de los anteojos y el bigote.

    Dios mío, por qué me abandonaste
    si sabías que yo no era Dios
    si sabías que yo era débil.

    Mundo mundo vasto mundo, si me llamase Raimundo
    sería una rima, no sería una solución.
    Mundo mundo vasto mundo, más vasto es mi corazón.

    Yo no debía decírtelo
    pero esa luna
    pero ese coñac
    lo dejan a uno más conmovido que el diablo



    ************************



    Original en portugués

    Poema de Sete Faces



    Quando nasci, um anjo torto
    desses que vivem na sombra
    disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

    As casas espiam os homens
    que correm atrás de mulheres.
    A tarde talvez fosse azul,
    não houvesse tantos desejos.

    O bonde passa cheio de pernas:
    pernas brancas pretas amarelas.
    Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
    Porém meus olhos
    não perguntam nada.

    O homem atrás do bigode
    é sério, simples e forte.
    Quase não conversa.
    Tem poucos, raros amigos
    o homem atrás dos óculos e do bigode,

    Meu Deus, por que me abandonaste
    se sabias que eu não era Deus
    se sabias que eu era fraco.

    Mundo mundo vasto mundo,
    se eu me chamasse Raimundo
    seria uma rima, não seria uma solução.
    Mundo mundo vasto mundo,
    mais vasto é meu coração.

    Eu não devia te dizer
    mas essa lua
    mas esse conhaque
    botam a gente comovido como o diabo.






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    Mensaje por Maria Lua Miér 23 Nov 2022, 20:20

    Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
    para arrecadar as alfaias de muitos
    amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
    e ao vê-los amorosos e transidos em torno
    o sagrado terror converto em jubilação.


    Seu grão de angústia amor já me oferece
    na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
    os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
    e o mistério que além faz os seres preciosos
    à visão extasiada.


    Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
    há que amar diferente. De uma grave paciência
    ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
    tenha dilacerado a melhor doação.


    Há que amar e calar.
    Para fora do tempo arrasto meus despojos
    e estou vivo na luz que baixa e me confunde.



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    Mensaje por Maria Lua Sáb 26 Nov 2022, 07:55

    DULDE FANTASMA




    Dulce fantasma, ¿por qué me visitas
    como en otros tiempos nuestros cuerpos se visitaban?
    Me roza la piel tu transparencia, me invita
    a rehacernos caricias imposibles: nadie
    recibió nunca un beso de un rostro consumido.
    Pero insistes, dulzura. Oigo tu voz,
    la misma voz, el mismo timbre,
    las mismas leves sílabas,
    y aquel largo jadeo
    en que te desvanecías de placer,
    y nuestro final descanso de gamuza.
    Entonces, convicto,
    oigo tu nombre, única parte tuya indisoluble
    música pura en continua existencia.
    ¿A qué me abro?, a ese aire imposible
    en que te has convertido
    y beso, beso esa nada intensamente.




    Versión de Ángel Crespo


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    Mensaje por Maria Lua Mar 06 Dic 2022, 07:52

    Laguna

    Yo no vi el mar.
    No sé si el mar es lindo,
    no sé si es bravo.
    El mar no me importa.

    Yo vi la laguna.
    La laguna, sí.
    La laguna es grande
    y calma también.

    En la lluvia de colores
    de la tarde que estalla
    la laguna brilla
    la laguna se pinta
    de todos colores.
    Yo no vi el mar.
    Yo vi la laguna...


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    Mensaje por Maria Lua Mar 06 Dic 2022, 07:53

    Política literaria


    El poeta municipal
    discute con el poeta provincial
    cual de ellos es capaz de vencer al poeta federal.
    Mientras tanto el poeta federal
    se saca oro de la nariz


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    Mensaje por Maria Lua Mar 06 Dic 2022, 07:53

    Sentimental


    Me pongo a escribir tu nombre
    con fideos de letritas.
    En el plato, la sopa se enfría, llena de escamas
    y acodados en la mesa todos contemplan
    ese romántico trabajo.
    Desgraciadamente falta una letra,
    ¡una letra solamente
    para acabar tu nombre!
    — ¿Estás soñando? ¡Mira que la sopa se enfría!
    Yo estaba soñando...
    Y hay en todas las conciencias un cartel amarillo:
    «En este país está prohibido soñar.»



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    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 14 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Dom 11 Dic 2022, 08:43

    En la nueva entrega de “En línea recta”, Mijail Lamas presenta el trabajo prosístico de un poeta brasileño imprescindible del siglo XX, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) a través de la traducción de”Opiniones de Robinson”.





    “El que quiso ser apenas periodista terminará poeta fundamental…” Así describe Pablo del Barco a Carlos Drummond de Andrade en su introducción a la antología que éste hace del poeta brasileño en la Colección Visor de Poesía.

    Y es que si conocemos a Carlos Drummond de Andrade como un poeta fundamental, ya que los lectores de habla castellana tenemos acceso a diversas traducciones de su poesía, pero no hemos tenido muchas noticias de su trabajo como cronista, cuentista y articulista periodístico, facetas a las que el autor dedicó aproximadamente cincuenta años de su vida.

    Drummond de Andrade nació en la población minera de Itabira en 1902 y fue un periodista prolífico desde sus inicios como escritor; de hecho, en esa actividad fue ubicado al inicio de su carrera literaria. Posteriormente, y gracias a su trabajo poético, se vio relacionado con el movimiento modernista brasileño en su segunda etapa, es decir, con los llamados poetas de la generación del 45, escritores marcados por el fin de la Segunda Guerra Mundial y de la dictadura de Getúlio Dornelles Vargas.

    El mismo Drummond se asume como un narrador entusiasta, siempre irónico hasta consigo mismo. El texto «Auto-Retrato», que escribe para la revista Leitura, nos muestra ese talante irónico:



    Dice el espejo:

    El señor Carlos Drummond de Andrade es un prosista modesto que se juzga buen poeta; en eso se engaña. Como prosista ha elaborado algunas crónicas y cuentos que revelan cierto conocimiento de formas adecuadas de expresión, cierto humor y malicia.

    Como poeta le falta todo eso y le sobran los siguientes defectos: es desparpajado, nada eufónico, falto de conceptos, arbitrario, grotesco y titubeante.



    El ejercicio prosístico de Carlos Drummond de Andrade dialoga en muchos sentidos con su trabajo poético, ya que la mirada siempre atenta del cronista se encuentra de manera frecuente en la del poeta, así como la sensibilidad lírica del poeta se hace presente en la mirada del cronista. Aquí un ejemplo: «¿Cómo puedo referir en escala métrica las proporciones de una escultura de luz afilada y estelar que resplandece sobre la infancia entera?» este fragmento forma parte de la crónica «Fim do mundo» donde el poeta de Itabira relata el avistamiento de un cometa.

    La mayoría de los artículos y crónicas de Carlos Drummond de Andrade hacen evidente su inmediatez contextual y cronológica, lo que no es sino resultado de la naturaleza del género y el medio para el que fueron escritas. Lo dicho anteriormente puede restarles el interés que no sea el del mero investigador literario. Sin embargo, no son pocos los textos que conservan una gran frescura y actualidad: muchos de los temas tratados siguen siendo cercanos a nuestras preocupaciones tanto intelectuales como cotidianas. Así, el paisaje brasileño, la problemática social, el quehacer cultural y la intrincada naturaleza del hombre son algunos de los temas que el poeta brasileño retrató en sus crónicas; algunos de estos temas —sobre todo los de problemática social— son todavía vigentes ya que no están resueltos en la mayoría nuestras sociedades latinoamericanas.

    El texto aquí presentado proviene del libro Auto-Retrato e otras crônicas, recopilación póstuma de sus prosas y plantea un encuentro del autor de O sentimento do Mundo con el personaje emblemático de Daniel Defoe.





    Opiniones de Robinson


    Carlos Drummond de Andrade




    Robinsón se aproxima cautelosamente. Se ve que es un hombre dispuesto a defender su isla desierta.

    —Naturalmente, usted vino aquí para entrevistarme. Quiere conocer mis opiniones sobre el mundo de la posguerra, la mejor manera de domesticar a los alemanes, las posibilidades de dar alimento a toda la gente y otras tantas utopías. Pero yo soy un hombre sin opiniones. Yo apenas tengo mi hacha y mi cabaña. ¿Entiende?

    —No, viejo Robinsón. No vine a preguntarle sobre ninguna de esas cosas. Ta sólo me ocupo en hacer un número de una revista dedicado a la literatura infantil, y se me ocurrió buscarlo a usted, personaje típico de los libros infantiles, para oírlo discurrir sobre materia tan compleja.

    —No soy personaje de cuentos infantiles. Mi historia no fue escrita para niños.

    —Precisamente por eso lo escogí, mi querido amigo. ¿De qué manera se explica el hecho de que un libro para adultos llegara a tocar el difícil nicho de los niños y pasara a ser considerado un libro para ellos, y también, mucho más comprendido por ellos que por la gente grande?

    Robinsón se rasca la barba, que es de una exuberancia vegetal. Se muestra perturbado, pero ante todo soberbio.

    —¿Entonces en Brasil también?

    —También en Brasil, por qué no. Al principio su aventura fue contada a los niños brasileños en las bellas e ingenuas series de cuadros coloridos del Tico Tico. (Lloré mis lágrimas la semana en la que usted dejó la isla). Después vinieron otras adaptaciones y resúmenes, anticipando la técnica moderna de la condensación. Posteriormente usted fue presentado a nuestros infantes por el escritor Monteiro Lobato, uno de los hombres que más hizo por la niñez brasileña, contándoles historias entre fantásticas y realistas, en las que enseñaba de manera pintoresca la ciencia, la historia, la geografía, los fenómenos de la naturaleza.

    —¿Le cortaron mucho a mis peripecias?

    —Mucho. Pero era necesario y todo escritor ya está acostumbrado a esas operaciones. Lo importante era que el personaje perdurara. Y el personaje está vivo. Hicieron lo mismo con el Quijote…

    —Ese caballero es diferente —interrumpió Robinsón enfadado—. Nada tenemos en común. Se trata de un soñador, de un lunático, yo siempre fui un honrado comerciante (tal vez más comerciante que honrado) y sobre todo un espíritu práctico. Mi larga estadía en la isla, que cultivé y colonicé, no es una aventura romántica. No perdí el tiempo construyendo una torre, sino que lo aproveché haciendo una cabaña fortificada; y no perdí el tiempo escribiendo versos a la manera de los jóvenes poetas puros; en materia de escritura me limitaba a hacer marcas en la madera para contar los días y controlar el paso del tiempo. En fin, mi vida puede ser todo un ejemplo de vida práctica, laboriosa y constructiva; en ella se funden capacidad inventiva, fuerza de voluntad y poder de adaptación.

    —Lo sé, preciado Robinsón, y disculpe si recordé acaso el nombre de un ser tan diferente como el Quijote. Lo cierto es que los niños gustan de usted, hombre de vista culta y segura (esto no es burla), como del hidalgo manchego que era la propia imaginación desenfrenada. A los niños les gusta de todo, el apetito infantil en materia de historias y caracteres es infinito.

    —Más allá de mi caso, ¿qué es lo que ellos leen últimamente por allá?

    —Todo, y muchos leen a Robinsón sin saberlo. Porque usted tiene mil nombres. ¿Está consiente de esto? Los escritores e ilustradores norteamericanos no pecan de tener exceso de espíritu creador y muchas veces, con formas y rótulos diversos, hacen de usted o de otros personajes clásicos el objeto de sus historias aparentemente nuevas. Esas historias, como otras tantas mercancías estandarizadas, son despachadas por el mundo entero y aparecen simultáneamente en periódicos y revistas de todas partes. Su receta de vivir en una isla desierta ha sido muy explotada.

    —Sé de eso. Recibo el Selecciones y oigo el aviso de los navegantes… Hoy en día eso de isla desierta es cosa muy dicha.

    —Es igual, viejo Robinsón, y los niños también lo saben. Los niños han envejecido mucho en los últimos años. El cine les trajo una suma brutal de conocimiento. La radio también. No hablo de los niños que viven en países donde se realizan operaciones militares; ésos aprenderán de más. Me refiero a los niños de los países no invadidos ni bombardeados, los niños más felices y protegidos. Maduran mucho. Igual hay quien sospecha que los cuentos maravillosos ya no seducen a los niñitos más tiernos, a menos que esos cuentos se renueven y, por ejemplo, exhiban una moralidad más directa y cortante. En opinión de esas personas, las fábulas están desmoralizadas.La figura del lobo no interesa; un fascista impresiona mucho más. Y las hadas han perdido el prestigio después de que surgieron los paracaidistas.

    —Bueno, ¿usted está entrevistando o está siendo entrevistado? —se extrañó Robinsón.

    —Tiene razón. Vine aquí para pedirle que me ayude a comprender el misterio de la lectura o un aspecto de él. Los niños leen historias para gente grande. Los hombres leen cuentos de Andersen y Perrault. Un cuento como «El príncipe feliz», de Oscar Wilde, no se sabe si fue compuesto para hombres o niños, todos lo adoran. ¿Qué es al final la literatura infantil?

    —Hijo mío —respondió Robinsón, gravemente, después de un minuto de reflexión— el problema es extraño a mis meditaciones habituales, pero es posible examinarlo a la luz de la naturaleza humana.

    La literatura infantil es tal vez una invención de los libreros. ¿Quién sabe?

    —Pero los especialistas…

    —Deje en paz a los especialistas. No es fuera de la historia del comercio o de la sociedad que un gusto o una tendencia son impuestos por el productor. El uso de la corbata en los países occidentales tal vez no tenga otra explicación sino la de que fue establecido por los fabricantes de corbatas. La literatura es una sola y no parece razonable que se divida en secciones correspondientes a fases del crecimiento físico y mental del hombre.

    —Pero —arriesgué—, cierta manera de contar…

    —¿Quiere decir que se dirige de preferencia al público infantil? Pero esa manera no basta para construir una nueva forma de literatura, ni tampoco un nuevo género. Dentro de la «literatura adulta», si es que ustedes le llaman así, caben todas las maneras, formas y géneros. Y la reducción microscópica de un género es aún el mismo género. Infantil, generalmente es el autor de la historia, no la historia en sí. Lo que hay de seriedad y conciencia de las cosas en el espíritu del niño, escapa generalmente a esos escritores especializados en libros infantiles. Como si los niños fueran un ser aparte, que se transforma visceralmente al crecer.

    Y el hombre práctico continuó:

    —No hay escritores para hombres y escritores para niños. Hay solamente buenos y malos escritores. Dentro de la categoría de los buenos, unos son particularmente dotados para la representación de personas, cosas y vestuarios, reales e imaginarios. Esos crearon historias y personajes que darán la vuelta al mundo, fascinarán a viejos y jóvenes, mujeres y hombres de todas las profesiones y serán inmortales. No tienen la preocupación de una clientela, de una clase o una zona de influencia. Son los escritores propiamente dichos. Los otros son malos, no interesan.

    Y después:

    —Al final y sumariamente la llamada literatura infantil tiene su principal depósito en el folclore. ¿Pero no es el folclore universal un proveedor de motivos para toda la literatura? El folclore, simplemente, sería insuficiente para individualizar esa pretendida literatura pre-púber. Otro elemento de caracterización sería su doble objetivo de recreación y educación (no hablo de propaganda, que ya es un desvío). Ahora, aquellos son objetivos que pueden coincidir con los de la literatura, pero no son los de la literatura. Es preciso divertir a los niños, como también es preciso enseñarles matemática elemental, pero no veo que esto envuelva una preocupación literaria, como no hay literatura en el acto de cantar para que el niño se duerma o en el de cambiarle los pañales mojados…

    —¡Pero la vida, ilustre Robinsón, hay vida!

    —¿Y la vida no es una sola, no obstante las diferencias biológicas?

    Huí. ¿Será que Robinsón es un conferencista reprimido?





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    Mensaje por Maria Lua Dom 11 Dic 2022, 08:47

    YO TAMBIÉN FUI BRASILEÑO


    Yo también fui brasileño,
    moreno como ustedes.
    Punteé la guitarra, guié ganado
    y aprendí en la mesa de los bares
    que el nacionalismo es una virtud.
    Pero hay una hora en que los bares se cierran
    y todas las virtudes se niegan.

    Yo también fui poeta.
    Bastaba mirar a la mujer,
    pensar luego en las estrellas
    y otros celestes sustantivos.
    Pero eran tantas, el cielo tan grande,
    que mi poesía se turbó.

    Yo también tuve mi ritmo.
    Hacía esto, decía aquello.
    Y mis amigos me querían
    y mis enemigos me odiaban.
    Yo, irónico, me escurría
    satisfecho en mi ritmo.
    Pero acabé confundiéndolo todo.
    Hoy no me deslizo más,
    no soy irónico más,
    ya no tengo ritmo.


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    Mensaje por Maria Lua Dom 11 Dic 2022, 08:49

    NOTA SOCIAL

    El poeta llega a la estación.
    El poeta se baja del tren.
    El poeta toma un auto.
    El poeta va al hotel.
    Y mientras hace eso
    como cualquier hombre común,
    una ovación lo persigue
    como una rechifla.

    Banderolas se apartan.
    Bandas de música. Cohetes.
    Discursos. El pueblo se pone su sombrero de paja.
    Cámaras fotográficas afocan.
    Coches parados.
    Bravos…
    El poeta está melancólico.

    En un árbol del paseo público
    (mejora de la actual administración)
    árbol gordo, prisionero
    de anuncios coloridos,
    árbol banal, árbol que nadie ve,
    canta una cigarra,
    canta una cigarra que nadie oye,
    un himno que nadie aplaude.
    Canta, bajo un sol endemoniado.

    El poeta entra en el elevador,
    el poeta sube,
    el poeta se encierra en su cuarto.

    El poeta está melancólico.




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    Mensaje por Maria Lua Dom 11 Dic 2022, 08:49

    CUADRILLA


    Juan amaba a Teresa que amaba a Raimundo
    que amaba a María que amaba a Joaquín que amaba a
    Lili
    que no amaba a nadie.
    Juan se fue a los Estados Unidos, Teresa entró a un
    convento,
    Raimundo murió en un desastre, María se quedó
    soltera,
    Joaquín se suicidó y Lili se casó con J. Pinto Fernández
    que no había entrado en la historia.


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    Mensaje por Maria Lua Dom 11 Dic 2022, 08:52

    POEMA DE SIETE FACES


    Cuando nací, un ángel tuerto
    de esos que viven en la sombra
    dijo: ve, Carlos! sé gauche en la vida.3

    Las casas espían a los hombres
    que corren tras de mujeres.
    La tarde tal vez fuese azul

    si no hubiesen tantos deseos.
    El camión pasa lleno de piernas:
    Piernas blancas, negras, amarillas.
    Para qué tanta pierna, Dios mío, pregunta mi corazón.

    Entretanto mis ojos
    no preguntan nada.
    El hombre tras el bigote
    es serio, simple y fuerte.
    Casi no conversa.
    Tiene pocos, raros amigos.
    El hombre tras de los lentes y del bigote.

    Dios mío por qué me abandonaste
    si sabías que yo no era Dios
    si sabías que yo era débil.

    Mundo mundo vasto mundo,
    si yo me llamase Raimundo
    sería una rima, no sería una solución.

    Mundo mundo vasto mundo,
    más vasto es mi corazón.
    Yo no debía decírtelo,
    pero esa luna
    pero ese coñac
    lo ponen a uno conmovido como un demonio.




    3 Gauche, en portugués, significa torpe, poco apto, etcétera.


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