por Maria Lua Sáb 01 Abr 2023, 09:40
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POETA PALESTINO MAHMOUD DARWISH É TRADUZIDO NO BRASIL
Claudio Daniel
A terra nos é estreita e outros poemas (São Paulo: Edições Bibliaspa, 2012) é a primeira antologia do poeta palestino Mahmoud Darwish publicada no Brasil, numa edição organizada e traduzida por Paulo Farah, professor de língua e literatura árabes na Universidade de São Paulo. O livro traz, além dos poemas, traduzidos com finíssima sensibilidade estética, um estudo sobre a vida e época do autor, considerado um dos mais representativos poetas de língua árabe do século XX e até há pouco tempo quase desconhecido em nosso país. Foram publicados alguns poemas de Darwish na antologia Poesia palestina de combate, editada no Brasil na década de 1980, e disponível hoje apenas em sebos, e em revistas literárias como a Zunái, Revista de Poesia e Debates (http://www.revistazunai.com/editorial/23ed_mahmouddarwish.htm). Apesar disso, o nome do poeta vem sendo ouvido com mais frequência nos últimos anos, assim como o do escritor palestino Edward Said, autor do clássico livro Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente, devido ao crescimento dos movimentos de solidariedade à causa palestina e do interesse pela literatura, artes e pensamento desse povo milenar.
Mahmoud Darwish nasceu em 1942 na aldeia palestina de Birwa, nos arredores de Akka (Acre), situada próxima à costa mediterrânea. Quando o poeta tinha apenas seis anos de idade, a aldeia em que vivia com os seus pais foi totalmente destruída pelos sionistas, assim como 400 outras aldeias palestinas, durante a operação de “limpeza étnica” que ficou conhecida como Nakba (“catástrofe”, em árabe), que levou cerca de 750 mil palestinos para o exílio. Sobre este trágico acontecimento, escreveu o poeta, “Eu me recordo muito bem... Enquanto nós dormíamos, conforme a tradição nos vilarejos, no telhado da casa... Os tiros que atingiam uma aldeia pacífica, Birwa, naquela noite de verão de 1948, não poupavam ninguém. Eu me vi (no dia em que completava seis anos) caçado até o olival, escalando aquela montanha íngreme, por vezes rastejando. Depois de uma longa noite de sangue, terror e sede, cheguei a uma aldeia estrangeira com crianças desconhecidas, eu perguntei: ‘Onde estou?’ E pela primeira vez ouvi a palavra ‘Líbano’”.
Em 1950, a família de Darwish retornou clandestinamente à Palestina, que agora se chamava Estado de Israel, e estabeleceu-se numa aldeia próxima a Dayr Al’Asad, onde o garoto realizou os seus estudos, chamando a atenção das autoridades por seus primeiros poemas, que já abordavam a questão da identidade árabe. Por causa de um desses poemas, que ele recitou em sala de aula numa celebração em homenagem à criação do estado sionista, Darwish foi repreendido pelo governador militar, que em represália ordenou a demissão do pai daquele jovem que ousava contestar a “história oficial” israelense. Já na adolescência, Mahmoud Darwish continuou a escrever poemas e a escrever artigos para a sucursal árabe do jornal do Partido Comunista Israelense, Alittihad (A União). Na década de 1960 filiou-se ao Partido e tornou-se um dos editores do jornal Aljadid. Conforme escreve Paulo Farah em sua apresentação ao livro, “A poesia e o envolvimento político de Darwish foram uma fonte contínua de conflito com as autoridades. Em 1962, ele foi acusado de incitamento à revolução por recitar um poema sobre Gaza em um festival de poesia. Nos anos seguintes, foi preso diversas vezes”. Poesia e revolução caminhavam lado a lado para Mahmoud Darwish, e em seu primeiro livro publicado, Pássaros sem asas, de 1960, já encontramos um poema como Carteira de identidade, até hoje o seu texto mais conhecido:
Toma nota!
Sou árabe.
Número da identidade: 50 mil
Número de filhos: oito
E o nono... já chega depois do verão.
E vais te irritar por isso?
Toma nota!
Sou árabe
Trabalho numa pedreira
Com meus companheiros de dor
Pra meus oito filhos
O pedaço de pão
As roupas e os livros
Arranco da rocha...
Não mendigo esmolas à tua porta,
Nem me rebaixo
No portão do teu palácio
E vais te irritar por isso?
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