CANCIONERO IV
A la orilla de este río
O en los bordes de aquel otro,
Pasan en fila mis días.
Nada me impide o me impele,
Ni me da calor o frío.
Miro al río y a lo que hace
Cuando no hace nada el río.
Miro los rastros que deja
En su tránsito al borrarse
Lo que se ha quedado atrás.
Miro y mirando medito,
No en la corriente que pasa
Sino en lo que estoy pensando,
Pues lo que miro en el agua
Es no ver que está pasando.
Voy por la orilla del río
Que pasa no sé por dónde
Y a su corriente me fío:
Visto o no visto este río,
Él pasa y yo me confío.
CANCIONERO V
Otro, ser otro siempre,
Viajar, perder países,
Vivir un ver constante,
Alma ya sin raíces.
Ir al frente de mí,
Ansia de conseguir,
Ya sin pertenecerme,
La ausencia que es seguir.
¡Viajar así, qué viaje!
Sólo en sus pensamientos
Mi pensamiento viaja:
El resto es tierra y cielo.
CANCIONERO
VII
Soy un evadido.
Luego que nací
En mí me encerraron
Pero yo me fui.
La gente se cansa
Del mismo lugar,
¿De estar en mí mismo
No me he de cansar?
Mi alma me busca
Por montes y valles.
Ojalá que nunca
Mi alma me halle.
Ser uno es cadena,
No ser es ser yo.
Huyéndome vivo
Y así vivo estoy.
FERNANDO PESSOA
Portugal-1888
Madrid, 14-7-05
CANCIONERO
XI
Reposa, sobre el trigo
que ondula, un sol parado.
No me entiendo conmigo,
Ando siempre engañado.
Si yo hubiese logrado
Nunca saber de mí,
Habríame olvidado
De este olvidarme así.
El trigo mece leve
Al sol ajeno, igual.
El alma aquí, ¡qué breve,
Con su bien y su mal!
FERNANDO PESSOA
Portugal-1888
Madrid, 15-7-05
CANCIONERO
I
Hojas, audible sonrisa,
Apenas rumor de viento.
Si yo te miro y me miras,
¿Quién primero se sonríe?
El primero luego ría.
Ríe y mira de repente,
Lo mira por no mirar,
Entre las hojas tupidas
El son del viento pasar.
Todo es disfraz, todo es viento.
El que mira está mirando
Adonde no ve: se vuelve:
Estamos los dos hablando
Lo que no se conversó.
¿Esto se acaba o empieza?
FERNANDO PESSOA
Portugal-1888
**************************
EN PORTUGUÉS
CANCIONEIRO IV
Na ribeira deste rio
Na ribeira deste rio
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio.
Nada me impede, me impele,
Me dá calor ou dá frio.
Vou vendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada.
Vejo os rastros que ele traz,
Numa sequência arrastada,
Do que ficou para trás.
Vou vendo e vou meditando,
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando,
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando.
Vou na ribeira do rio
Que está aqui ou ali,
E do seu curso me fio,
Porque, se o vi ou não vi.
Ele passa e eu confio.
02/10/1933
Viajar! Perder países
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Sou um evadido
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
Repousa sobre o trigo
Repousa sobre o trigo
Que ondula um sol parado.
Não me entendo comigo.
Ando sempre enganado.
Tivesse eu conseguido
Nunca saber de mim,
Ter-me-ia esquecido
De ser esquecido assim.
O trigo mexe leve
Ao sol alheio e igual.
Como a alma aqui é breve
Com o seu bem e mal!
Sorriso Audível das Folhas Sorriso audível das folhas
Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.
Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.
Mas o olhar, de estar olhando
Onde não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Hoy a las 5:17 pm por Pascual Lopez Sanchez
» XII. SONETOS POETAS ESPAÑOLES SIGLO XX (VII)
Hoy a las 4:37 pm por Pascual Lopez Sanchez
» POESÍA SOCIAL XX. . CUBA. (Cont.)
Hoy a las 4:14 pm por Pascual Lopez Sanchez
» CÉSAR VALLEJO (1892-1938) ROSA ARELLANO
Hoy a las 4:08 pm por Pascual Lopez Sanchez
» ANTOLOGÍA DE GRANDES POETAS HISPANOAMÉRICANAS
Hoy a las 2:25 pm por Lluvia Abril
» EDUARDO GALEANO (1940-2015)
Hoy a las 11:49 am por Maria Lua
» CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)
Hoy a las 11:46 am por Maria Lua
» LITERATURA LIBANESA - POESÍA LIBANESA
Hoy a las 11:40 am por Maria Lua
» POESÍA ÁRABE
Hoy a las 11:37 am por Maria Lua
» : POEMAS SIDERALES II: Sol, Luna, Estrellas, Tierra, Naturaleza, Galaxias...
Hoy a las 6:47 am por Maria Lua