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    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Nov 2023, 10:28

    MANEIRA DE BEM SONHAR


    Cuidarás primeiro em nada respeitar, em nada crer, em nada Ei. Guardarás
    da tua atitude ante o que não respeites, a vontade de respeitar alguma coisa;
    do teu desgosto ante o que não ames, o desejo doloroso de amar alguém; do
    teu desprezo pela vida guardarás a ideia de que deve ser bom vivê-la e amá-la.
    E assim terás construído os alicerces para o edifício dos teus sonhos.
    Repara bem que a obra que te propões fazer é no mais alto de tudo. Sonhar
    é encontrarmo-nos. Vais ser o Colombo da tua alma. Vais buscar as suas
    paisagens. Cuida bem pois em que o teu rumo seja certo e não possam errar
    os teus instrumentos.
    A arte de sonhar é difícil porque é uma arte de passividade, onde o que é de
    esforço é na concentração da ausência de esforço. A arte de dormir, se a
    houvesse, deveria ser de qualquer forma parecida com esta.
    Repara bem: a arte de sonhar não é a arte de orientar os sonhos. Orientar é
    agir. O sonhador verdadeiro entrega-se a si próprio, deixa-se possuir por si
    próprio.
    Foge a todas as provocações materiais. Há no início a tentação de te
    masturbares. Há a do álcool, a do ópio, a Ei. Tudo isso é esforço e procura.
    Para seres um bom sonhador, tens de não ser senão sonhador. Ópio e
    morfina compram-se nas farmácias — como, pensando nisto, queres poder
    sonhar através deles? Masturbação é uma coisa física como queres tu que te
    sonhes masturbando-te, vá; que em sonhar talvez fumando ópio, recebendo
    morfina, te embriagues da ideia do ópio, da morfina dos sonhos — não há
    senão que elogiar-te por isso: estás no teu papel áureo de sonhador perfeito.
    Julga-te sempre mais triste e mais infeliz do que és. Isso não faz mal.
    É mesmo, por ilusão, um pouco escadas para o sonho.
    ***
    — Adia tudo. Nunca se deve fazer hoje o que se pode deixar de fazer
    também amanhã’. Nem mesmo é necessário que se faça qualquer coisa,
    amanhã ou hoje.
    — Nunca penses no que vais fazer. Não o faças.
    — Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela. Na verdade e no erro, no gozo
    e no mal-estar sê o teu próprio ser. Só poderás fazer isso sonhando, porque a
    tua vida real, a tua vida humana é aquela que não é tua, mas dos outros.
    Assim, substituirás o sonho à vida e cuidarás apenas em que sonhes com
    perfeição. Em todos os teus actos da vida real, desde o de nascer até ao de
    morrer, tu não ages: és agido; tu não vives: és vivido apenas.
    Torna-te, para os outros, uma esfinge absurda. Fecha-te, mas sem bater
    com a porta, na tua torre de marfim. E a tua torre de marfim és tu próprio.
    Esse alguém te disser que isto é falso e absurdo não o acredites. Mas não
    acredites também no que eu te digo, porque se não deve acreditar em nada.
    — Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te
    julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso.
    ***
    Com este sonhar tudo, tudo na vida te fará sofreres mais,
    Será a tua cruz.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Nov 2023, 10:30

    MANEIRA DE BEM SONHAR NOS METAFÍSICOS



    Raciocínio, — tudo será fácil e porque é tudo para mim sonho. Mando-me
    sonhá-lo e sonho-o. As vezes crio em mim um filósofo, que me traça
    cuidadosamente as filosofias enquanto eu, pajem namoro a filha dele, cuja
    alma sou, à janela da sua casa.
    Limito-me, é claro, aos meus conhecimentos. Não posso criar um
    matemático... Mas contento-me com o que tenho, que dá para combinações
    infinitas e sonhos sem número. Quem sabe, de resto, se à força de sonhar, eu
    não conseguirei ainda mais. Mas não vale a pena. Basto-me assim.
    Pulverização da personalidade. Não sei quais são as minhas ideias, nem os
    meus sentimentos, nem o meu caracter... Se sinto uma coisa, vagamente a
    sinto na pessoa visualizada de uma qualquer criatura que aparece em mim.
    Substitui os meus sonhos a mim próprio. Cada pessoa é apenas o seu sonho
    de si próprio. Eu nem isso sou.
    Nunca ler um livro até ao fim, nem lê-lo a seguir e sem saltar.
    Não soube nunca o que sentia. Quando me falavam de tal ou tal emoção e
    a descreviam, sempre senti que descreviam qualquer coisa da minha alma,
    mas, depois, pensando, duvidei sempre. O que me sinto ser, nunca sei se o
    sou realmente, ou se julgo que o sou apenas. Sou uma personagem’ de dramas
    meus.
    O esforço é inútil, mas entretém. O raciocínio é estéril, mas é engraçado.
    Amar é maçador, mas é talvez preferível a não amar. O sonho, porém,
    substitui tudo. Nele pode haver toda a noção do esforço sem o esforço real.
    Dentro do sonho posso entrar em batalhas sem risco de ter medo ou de ser
    ferido. Posso raciocinar, sem que tenha em vista chegar a uma verdade, a que
    nunca chegue sem querer resolver um problema, que veja que nunca resolvo;
    sem que . Posso amar sem me recusarem ou me traírem, ou me aborrecerem.
    Posso mudar de amada e ela será sempre a mesma. E se quiser que me traia e
    se me esquive, tenho às ordens que isso me aconteça, e sempre como eu
    quero, sempre como eu o gozo. Em sonho posso viver as maiores angústias,
    as maiores torturas, as maiores vitórias. Posso viver tudo isso tal como se fora
    da vida: depende apenas do meu poder em tornar o sonho vívido, nítido, real.
    Isso exige estudo e paciência interior









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    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Nov 2023, 10:31

    ***


    Há várias maneiras de sonhar. Uma é abandonar-se aos sonhos, sem
    procurar torná-los nítidos, deixar-se ir no vago e no crepúsculo das suas
    sensações. É inferior e cansa, porque esse modo de sonhar é monótono,
    sempre o mesmo. Há o sonho nítido e dirigido, mas aí o esforço em dirigir o
    sonho trai o artifício demasiadamente. O artista supremo, o sonhador como
    eu o sou, tem só o esforço de querer que o sonho seja tal, que tome tais
    caprichos... E ele desenrola-se diante dele assim como ele o desejaria, mas não
    poderia conceber, sem justificação de fazê-lo. Quero sonhar-me rei... Num
    acto brusco quero-o. E eis -me súbito rei de um país qualquer. Qual, de que
    espécie, o sonho mo dirá... Porque eu cheguei a esta vitória sobre o que sonho
    — que os meus sonhos trazem-me sempre inesperadamente o que eu quero.
    Muitas vezes aperfeiçoo, ao trazê-la nítida, a ideia cuja vaga ordem apenas
    recebera. Eu sou totalmente incapaz de idear conscientemente as Idades
    Médias de diversas épocas e de diversas Terras que tenho vivido em sonhos.
    Deslumbra-me o excesso de imaginação que desconhecia em mim e vou
    vendo. Deixo os sonhos ir... Tenho-os tão puros que eles excedem sempre o
    que eu espero deles. São sempre mais belos do que eu quero. Mas isto só o
    sonhador aperfeiçoado pode esperar obter. Tenho levado anos a buscar
    sonhadoramente isto. Hoje consigo-o sem esforço...
    A melhor maneira de começar a sonhar é mediante livros. Os romances
    servem de muito para o principiante. Aprender a entregar-se totalmente à
    leitura, a viver absolutamente com as personagens de um romance, eis o
    primeiro passo. Que a nossa família e as suas mágoas nos pareçam chilras e
    nojentas ao lado dessas, eis o sinal do progresso.






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    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Nov 2023, 10:31

    ***

    É preciso evitar o ler romances literários onde a atenção seja desviada para
    a forma do romance. Não tenho vergonha em confessar que assim comecei. É
    curioso mas os romances policiais, os é que por uma intuição eu lia. Nunca
    pude ler romances amorosos detidamente. Mas isso é uma questão pessoal,
    por não ter feitio de amoroso, nem mesmo em sonhos. Cada qual cultive,
    porém, o feitio que tiver. Recordemo-nos sempre de que sonhar é
    procurarmo-nos. O sensual deverá, para suas leituras, escolher as opostas às
    que foram as minhas.
    Quando a sensação física chega, pode dizer-se que o sonhador passou além
    do primeiro grau do sonho. Isto é, quando um romance sobre combates,
    fugas, batalhas, nos deixa o corpo realmente moído, as pernas cansadas... O
    primeiro grau está assegurado. No caso do sensual, deverá ele — sem receber
    a imagem mais que mentalmente — ter uma ejaculação quando um momento
    desses chegar no romance.
    Depois procurará trazer tudo isso para mental. A ejaculação, no caso do
    sensual (que escolho para exemplo, porque é o mais violento e frisante) deverá
    ser sentida sem se ter dado. O cansaço será muito maior, mas o prazer é
    completamente mais intenso.
    No terceiro grau passa toda a sensação a ser mental. Aumenta o prazer e
    aumenta o cansaço, mas o corpo já nada sente, e em vez dos membros lassos,
    a inteligência, a vida e a emoção é que ficam bambos e frouxos... Chegando
    aqui é tempo de passar para o grau supremo do sonho.




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    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Nov 2023, 10:32

    ***

    O segundo grau é o construir romances para si próprio. Só deve tentar-se
    isto quando está perfeitamente mentalizado o sonho, como antes disse. Se
    não, o esforço inicial em criar os romances, perturbará a perfeita mentalização
    do gozo.
    Terceiro grau.
    Já educada a imaginação, basta querer, e ela se encarregará de construir os
    sonhos por si.
    Já aqui o cansaço é quase nulo, mesmo mental. Há uma dissolução absoluta
    da personalidade. Somos mera cinza, dotada de alma, sem forma — nem
    mesmo a da água que é a da vasilha que a contém.
    Bem aprontada esta EI, dramas podem aparecer em nós, verso a verso,
    desenrolando-se alheios e perfeitos. Talvez já não haja a força de os
    escrevermos... Nem isso será preciso. Poderemos criar em segunda mão —
    imaginar em nós um poeta a escrever, e ele escrevendo de uma maneira, outro
    poeta entretanto escreverá de outra... Eu, em virtude de ter apurado imenso
    esta faculdade, posso escrever de inúmeras maneiras diversas, originais todas.
    O mais alto grau do sonho é quando, criado um quadro com personagens,
    vivemos todas elas ao mesmo tempo — somos todas essas almas conjunta e
    interactivamente. E incrível o grau de despersonalização e encinzamento do
    espírito a que isto leva e é difícil, confesso-o, fugir a um cansaço geral de todo
    o ser ao fazê-lo... Mas o triunfo é tal!
    Este é o único ascetismo final. Não há nele fé, nem um Deus.
    Deus sou eu.




    FIN


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    Mensaje por Maria Lua Mar 21 Nov 2023, 14:27

    MARCHA FÚNEBRE



    Que faz cada um neste mundo, que o perturbe ou o altere? Cada homem
    que vale, que outro homem não valha? Valem os homens vulgares uns pelos
    outros, os homens de ação pela força que interpretam, os homens do
    pensamento por o que criam.
    O que criaste para a humanidade, está à mercê do esfriamento da Terra. O
    que deste aos pósteros, ou é cheio de ti, e ninguém o entenderá, ou da tua
    época, e as outras épocas não o entenderão, ou tem apelo para todas as épocas
    e não o entenderá o abismo final, em que todas as épocas se precipitam.
    Fazemos, janelas, gestos na sombra. Por detrás de nós o Mistério nos El
    Somos todos mortais, com uma duração justa. Nunca maior ou menor.
    Alguns morrem logo que morrem, outros vivem um pouco, na memória dos
    que os viram e amaram; outros, ficam na memória da nação que os teve;
    alguns alcançam a memória da civilização que os possuiu; raros abrangem, de
    lado a lado, o lapso contrário de civilizações diferentes. Mas a todos cerca o
    abismo do tempo, que por fim os some, a todos come a fome do abismo, que
    o perene é um Desejo, e o eterno uma ilusão.
    Morte somos e morte vivemos. Mortos nascemos, mortos passamos;
    mortos já, entramos na Morte.
    Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa,
    morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente
    se nega, se furta à vida.
    A vida é pois um intervalo, um nexo, uma relação, mas uma relação entre o
    que passou e o que passará, intervalo morto entre a Morte e a Morte.
    ... A inteligência, ficção da superfície e do descaminho.
    A vida da matéria ou é puro sonho, ou mero jogo atómico, que desconhece
    as conclusões da nossa inteligência e os motivos da nossa emoção. Assim a
    essência da vida é um olhar, uma aparência, e ou é só ser ou não ser, e a ilusão
    e aparência de nada ser, tem que ser não-ser, a vida é a morte.
    Vão o esforço que constrói com os olhos na ilusão de não morrer! "Poema
    eterno", dizemos nós; "palavras que nunca morrerão". Mas o esfriamento
    material da terra levará não só os vivos que a cobrem, como o um Homero ou
    um Milton não podem mais que um cometa que bata na terra.


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    Mensaje por Maria Lua Mar 21 Nov 2023, 14:28

    MARCHA FÚNEBRE PARA O REI LUÍS II DA BAVIERA


    Hoje, mais demorada do que nunca, veio a Morte vender ao meu limiar.
    Diante de mim, mais demorada do que nunca, desdobrou os tapetes, as sedas,
    e os damascos, do seu esquecimento e da sua consolação. Sorria deles, por
    elogio, e não se importando que eu a visse . Mas quando eu me tentava por
    comprar, falou-me que não os vendia. Não viera para que eu quisesse o que
    me mostrava mas para que, por o que mostrava a quisesse a ela. E, dos seus
    tapetes, disse-me que eram os que se gozavam no seu palácio longínquo; das
    suas sedas, que outras se não trajavam no seu castelo na sombra; dos seus
    damascos, que melhores ainda eram os que cobriam, toalhas, os retábulos da
    sua estância para além do mundo.
    O apego natal que me prendia ao meu limiar desvestido, com gesto suave o
    desligou. "O teu lar", disse, "não tem lume: para que queres tu ter um lar?" "A
    tua casa ", disse, "não tem pão: para que te serve a tua mesa?" "A tua vida",
    disse, "não tem quem a acompanha: para que te seduz a tua vida?"
    "Eu sou", disse ela, "o lume das lareiras apagadas, o pão das mesas desertas,
    a companheira solícita dos solitários e dos incompreendidos . A glória, que
    falta no mundo, é pompa no meu negro domínio. No meu império o amor
    não cansa, porque sofra por ter; nem dói, porque canse de nunca ter tido. A
    minha mão pousa de leve nos cabelos dos que pensam, e eles esquecem;
    contra o meu seio se encostam os que em vão esperaram, e eles enfim
    confiam."



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    Mensaje por Maria Lua Mar 21 Nov 2023, 14:29

    ***


    "O amor, que me têm", ela disse, "não tem paixão que consuma; ciúme que
    desvaire; esquecimento que deslustre. Amar-me é como uma noite de verão,
    quando os mendigos dormem ao relento, e parecem pedras à beira dos
    caminhos. Dos meus lábios mudos não vem canto como o das sereias, nem
    melodia como a das árvores e das fontes; mas o meu silêncio acolhe como
    uma música indecisa o meu sossego afaga como o torpor de uma brisa."
    "Que tens tu", ela disse, "que te ligue à vida? O amor não te busca, a glória
    não te procura, o poder não te encontra. A casa, que herdaste, a herdaste em
    ruínas. As terras, que recebeste, tinha a geada queimado as suas primícias, e o
    sol ardido as suas promessas. Nunca viste, senão seco, o poço da tua quinta.
    Apodreceram, de antes de as veres, as folhas nos teus tanques. As ervas ruins
    cobriram as áleas e as alamedas, por onde os teus pés nunca passaram."
    "Mas no meu domínio, onde só a noite reina, terás a consolação, porque
    não terás a esperança; terás o esquecimento, porque não terás o desejo, terás o
    repouso, porque não terás a vida."

    E mostrou-me como era estéril a esperança de melhores dias, quando se
    não nascera com alma, em que os dias bons se obtivessem. Mostrou-me como
    o sonho não consola, porque a vida dói mais quando se acorda. Mostrou-me
    como o sono não repousa, porque o habitam fantasmas, sombras das coisas,
    rastos dos gestos, embriões mortos dos desejos, despojos do naufrágio de
    viver



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    Mensaje por Maria Lua Mar 21 Nov 2023, 14:30

    ***

    E, assim dizendo, dobrava devagar, mais demorada do que nunca, os seus
    tapetes, onde os meus olhos se tentavam, as suas sedas, que a minha alma
    cobiçava, os damascos dos seus retábulos, onde já as minhas lágrimas caíam.
    "Por que hás de tentar ser como os outros, se estás condenado a ti? Para
    que hás de rir, se, quando ris, a tua própria alegria sincera é falsa, porque nasce
    de te esqueceres de quem és? Para que hás de chorar, se sentes que de nada te
    serve, e choras mais as lágrimas não te consolarem, que porque as lágrimas te
    consolem?
    Se és feliz quando ris, quando ris venci; se então és feliz, porque te não
    lembras de quem és, quão mais feliz serás comigo, onde não mais te lembrarás
    de nada? Se descansas perfeitamente, se acaso dormes sem sonhar, como não
    descansarás no meu leito, onde o sono nunca tem sonhos? Se um momento te
    elevas, porque vês a Beleza, e te esqueces de ti e da Vida, como não te elevarás
    no meu palácio, cuja beleza noturna não sofre discordância, nem idade, nem
    corrupção; nas minhas salas onde nenhum vento perturba os reposteiros,
    nenhum pó cobre os espaldares, nenhuma luz desbota, pouco a pouco, os
    veludos e os estofos, nenhum tempo amarelece a brancura dos ornatos
    brancos.
    Vem ao meu carinho, que não sofre mudança; ao meu amor, que não tem
    cessação! Bebe da minha taça, que não se esgota, o néctar supremo que não
    enjoa nem amarga, que não desgosta nem inebria. Contempla, da janela do
    meu castelo, não o luar e o mar, que são coisas belas e por isso imperfeitas;
    mas a noite vasta e materna, o esplendor indiviso do abismo profundo!






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    Mensaje por Maria Lua Mar 21 Nov 2023, 14:31

    ***

    Nos meus braços esquecerás o próprio caminho doloroso que te trouxe a
    eles. Contra o meu seio não sentirás mais o próprio amor que fez com que o
    buscasses! Senta-te ao meu lado, no meu trono, e és para sempre o Imperador
    indestronável do Mistério e do Graal, coexistes com os deuses e com os
    destinos, em não seres nada, em não teres aquém e além, em não precisares
    nem do que te sobre, nem sequer mesmo do que te falte, nem sequer mesmo
    do que te baste.
    Serei tua esposa materna, tua irmã gémea encontrada. E casadas comigo
    todas as tuas angústias, reservado a mim tudo o que em ti procuravas e não
    tinhas, tu próprio te perderás na minha substância mística, na minha existência
    negada, no meu seio onde as coisas se apagam no meu seio onde as almas se
    abismam no meu seio onde os deuses se desvanecem."
    Senhor Rei do Desapego e da Renúncia, Imperador da Morte e do
    Naufrágio, sonho vivo errando, faustoso, entre as ruínas e as estradas do
    mundo!
    Senhor Rei da Desesperança entre pompas, dono doloroso dos palácios
    que o não satisfazem, mestre dos cortejos e dos aparatos que não conseguem
    apagar a vida!...
    Senhor Rei erguido dos túmulos, que viestes na noite e ao luar, contar a tua
    vida às vidas, pajem dos lírios desfolhados, arauto imperial da frieza dos
    marfins!







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    Mensaje por Maria Lua Mar 21 Nov 2023, 14:32

    ***

    Senhor Rei Pastor das Vigílias, cavaleiro andante das Angústias, sem glória
    e sem dama ao luar das estradas, senhor nas florestas, nas escarpas, perfil
    mudo, de viseira caída passando nos vales, incompreendido pelas aldeias,
    chasqueado pelas vilas, desprezado pelas cidades!
    Senhor Rei que a Morte sagrou o seu, pálido e absurdo, esquecido e
    desconhecido, reinando entre pedras foscas e veludos velhos, no seu trono ao
    fim do Possível, com a sua corte irreal cercando-o, sombras, e a sua milícia
    fantástica, guardando-o, misteriosa e vazia.
    Trazei, pajens; trazei, virgens; trazei servos e servas, as taças, as salvas e as
    grinaldas para o festim a que a Morte assiste! Trazei-as e vinde de negro, com
    a cabeça coroada de mirtos.
    Mandrágora seja o que tragais nas taças, El nas salvas, e as grinaldas sejam
    de violetas El, das flores todas que lembrem a tristeza.
    Vai o Rei a jantar com a Morte, no seu palácio antigo, à beira do lago, entre
    as montanhas, longe da vida, alheio ao mundo.
    Sejam de instrumentos estranhos, cujo mero som faça chorar, as orquestras
    que se preparam para a festa. Os servos vistam librés sóbrias, de cores
    desconhecidas, faustosos e simples como os catafalcos dos heróis.
    E antes que o festim comece, passe pelas alamedas dos grandes parques o
    grande cortejo medieval de púrpuras mortas, o grande cerimonial silencioso
    em marcha, como a beleza num pesadelo.







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    Mensaje por Maria Lua Mar 21 Nov 2023, 14:33

    ***


    A Morte é o triunfo da Vida!
    Pela morte vivemos, porque só somos hoje porque morremos para ontem.
    Pela morte esperamos, porque só podemos crer em amanhã pela confiança na
    morte de hoje. Pela Morte vivemos quando sonhamos, porque sonhar é negar
    a vida. Pela morte morremos quando vivemos, porque viver é negar a
    eternidade! A Morte nos guia, a morte nos busca, a morte nos acompanha.
    Tudo o que temos é morte, tudo o que queremos é morte, é morte tudo o que
    desejamos querer.
    Uma brisa de atenção percorre as alas.
    Ei-lo que vai chegar, com a morte que ninguém vê e a que não chega
    nunca.
    Arautos, tocai! Atendei!
    O teu amor pelas coisas sonhadas era o teu desprezo pelas coisas vividas.
    Rei-Virgem que desprezaste o amor, Rei-Sombra que desdenhaste a luz,
    Rei-Sonho que não quiseste a vida!
    Entre o estrépito surdo de címbalos e atabales, a Sombra te aclama
    Imperador!

    FIN



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    Mensaje por Maria Lua Mar 21 Nov 2023, 14:34

    ***



    MÁXIMAS

    — Ter opiniões definidas e certas, instintos, paixões e carácter fixo e
    conhecido — tudo isto monta ao horror de tornar a nossa alma um facto, de a
    materializar e tornar exterior. Viver num doce e fluido estado de
    desconhecimento das coisas e de si próprio é o único modo de vida que a um
    sábio convém e aquece.

    — Saber interpor-se constantemente entre si próprio e as coisas é o mais
    alto grau de sabedoria e prudência.

    — A nossa personalidade deve ser indevassável, mesmo por nós próprios:
    daí o nosso dever de sonharmos sempre, e incluirmo-nos nos nossos sonhos,
    para que nos não seja possível ter opiniões ao nosso respeito.
    E especialmente devemos evitar a invasão da nossa personalidade pelos
    outros. Todo o interesse alheio por nós é uma indelicadeza ímpar. O que
    desloca a vulgar saudação — como está? — de ser uma indesculpável
    grosseria é o ser ela em geral absolutamente oca e insincera.


    — Amar é cansar-se de estar só: é uma cobardia portanto, e uma traição a
    nós próprios (importa soberanamente que não amemos).

    — Dar bons conselhos é insultar a faculdade de errar que Deus deu aos
    outros. E, para além do mais, os actos alheios devem ter a vantagem de não
    serem também nossos. Apenas é compreensível que se peça conselhos aos
    outros para saber bem, ao agir ao contrário, que somos bem nós, bem em
    desacordo com a Outragem.







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    Mensaje por Maria Lua Mar 21 Nov 2023, 14:35

    ***

    — A única vantagem de estudar é gozar o quanto os outros não disseram.

    — A arte é um isolamento. Todo o artista deve buscar isolar os outros,
    levar-lhes às almas o desejo de estarem sós. O triunfo supremo de um artista é
    quando ao ler suas obras o leitor prefere tê-las e não as ler. Não é porque isto
    aconteça aos consagrados; é porque é o maior tributo

    — Ser lúcido é estar indisposto consigo próprio, O legítimo estado de
    espírito com respeito a olhar para dentro de si próprio é o estado de quem
    olha nervos e indecisões.

    — A única atitude intelectual digna de uma criatura superior é a de uma
    calma e fria compaixão por tudo quanto não é ele próprio. Não que essa
    atitude tenha o mínimo cunho de justa e verdadeira; mas é tão invejável que é
    preciso tê-la.






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    Mensaje por Maria Lua Mar 21 Nov 2023, 14:37

    ***


    MILÍMETROS
    (sensações de coisas mínimas)
    Como o presente é antiquíssimo, porque tudo, quando existiu foi presente,
    eu tenho para as coisas, porque pertencem ao presente, carinhos de
    antiquário, e fúrias de colecionador precedido para quem me tira os meus
    erros sobre as coisas com plausíveis, e até verdadeiras, explicações científicas e
    baseadas.
    As várias posições que uma borboleta que voa ocupa sucessivamente no
    espaço são aos meus olhos maravilhados várias coisas que ficam no espaço
    visivelmente. As minhas reminiscências são tão vívidas que só as sensações
    mínimas, e de coisas pequeníssimas, é que eu vivo intensamente. Será pelo
    meu amor ao fútil que isto me acontece. Pode ser que seja pelo meu escrúpulo
    no detalhe. Mas creio mais — não o sei, estas são as coisas que eu nunca
    analiso — que é porque o mínimo, por não ter absolutamente importância
    nenhuma social ou prática, tem, pela mera ausência disso, uma independência
    absoluta de associações sujas com a realidade, O mínimo sabe-me a irreal. O
    inútil é belo porque é menos real que o útil, que se continua e prolonga, ao
    passo que o maravilhoso fútil, o glorioso infinitesimal fica onde está, não
    passa de ser o que é, vive liberto e independente, O inútil e o fútil abrem na
    nossa vida real intervalos de estética humilde. Quanto não me provoca na
    alma de sonhos e amorosas delícias a mera existência insignificante de um
    alfinete pregado numa fita! Triste de quem não sabe a importância que isso
    tem!
    Depois, entre as sensações que mais penetrantemente doem até serem
    agradáveis, o desassossego do mistério é uma das mais complexas e extensas.
    E o mistério nunca transparece tanto como na contemplação das pequeninas
    coisas, que, como se não movem, são perfeitamente translúcidas a ele, que
    param para o deixar passar. E mais difícil ter o sentimento do mistério
    contemplando uma batalha, e contudo pensar no absurdo que é haver gente, e
    sociedades e combates delas é o que mais pode desfraldar dentro do nosso
    pensamento a bandeira de conquista do mistério — do que diante da
    contemplação de uma pequena pedra parada numa estrada, que, porque
    nenhuma ideia provoca além da de que existe, outra ideia não pode provocar,
    se continuarmos pensando, do que, imediatamente a seguir, a do seu mistério
    de existir.
    Benditos sejam os instantes, e os milímetros, e as sombras das pequenas
    coisas, ainda mais humildes do que elas! Os instantes . Os milímetros — que
    impressão de assombro e ousadia que a sua existência lado a lado e muito
    aproximada numa fita métrica me causa. As vezes sofro e gozo com estas
    coisas. Tenho um orgulho tosco nisso.
    Sou uma placa fotográfica prolixamente impressionável. Todos os detalhes
    se me gravam desproporcionadamente a haver um todo. Só me ocupa de
    mim. O mundo exterior é-me sempre evidentemente sensação. Nunca me
    esqueço de que sinto.


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    Mensaje por Maria Lua Mar 21 Nov 2023, 14:38

    ***


    NA FLORESTA DO ALHEAMENTO



    Sei que despertei e que ainda durmo. O meu corpo antigo, moído de eu
    viver, diz-me que é muito cedo ainda... Sinto-me febril de longe. Peso-me, não
    sei porquê...
    Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre o sono e a
    vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. A minha atenção boia entre
    dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um
    céu; e estas profundezas interpenetram-se, misturam-se, e eu não sei onde
    estou nem o que sonho.
    Um vento de sombras sopra cinzas de propósitos mortos sobre o que eu
    sou de desperto. Cai de um firmamento desconhecido um orvalho morno de
    tédio. Uma grande angústia inerte manuseia-me a alma por dentro e, incerta,
    altera-me, como a brisa aos perfis das copas.
    Na alcova mórbida e morna a antemanhã de lá fora é apenas um hálito de
    penumbra. Sou todo confusão quieta... Para quê há de um dia raiar?... Custame o saber que ele raiará, como se fosse um esforço meu que houvesse de o
    fazer aparecer.
    Com uma lentidão confusa acalmo. Entorpeço-me. Boio no ar, entre velar
    e dormir, e uma outra espécie de realidade surge, e eu no meio dela, não sei de
    que onde que não é este...
    Surge mas não apaga esta, esta da alcova tépida, essa de uma floresta
    estranha. Coexistem na minha atenção algemada as duas realidades, como dois
    fumos que se misturam



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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Nov 2023, 10:23

    ***


    Que nítida de outra e de ela essa trémula paisagem transparente!...
    E quem é esta mulher que comigo veste de observada essa floresta alheia?
    Para que é que tenho um momento de mo perguntar?... Eu nem sei querê-lo
    saber...
    A alcova vaga é um vidro escuro através do qual, consciente dele, vejo essa
    paisagem,... E a essa paisagem conheço-a há muito, e há muito que com essa
    mulher que desconheço erro, outra realidade, através da irrealidade dela. Sinto
    em mim séculos de conhecer aquelas árvores e aquelas flores e aquelas vias em
    desvios e aquele ser meu que ali vagueia, antigo e ostensivo ao meu olhar, que
    o saber que estou nesta alcova veste de penumbras de ver...
    De vez em quando pela floresta onde de longe me vejo e sinto, um vento
    lento varre um fumo, e esse fumo é a visão nítida e escura da alcova em que
    sou atual, destes vagos móveis e reposteiros e do seu torpor de noturna.
    Depois esse vento passa e torna a ser toda só ela a paisagem daquele outro
    mundo...









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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Nov 2023, 10:24

    ***

    Outras vezes este quarto estreito é apenas uma cinza de bruma no
    horizonte dessa terra diversa... E há momentos em que o chão que ali pisamos
    é esta alcova visível...
    Sonho e perco-me, duplo de ser eu e essa mulher... Um grande cansaço é
    um fogo negro que me consome... Uma grande ânsia passiva é a vida falsa que
    me estreita...
    Ó felicidade baça!... O eterno estar no bifurcar dos caminhos!... Eu sonho e
    por detrás da minha atenção sonha comigo alguém... E talvez eu não seja
    senão um sonho desse Alguém que não existe...
    Lá fora a antemanhã tão longínqua! A floresta tão aqui ante outros olhos
    meus!
    E eu, que longe dessa paisagem quase a esqueço, é ao tê-la que tenho
    saudades dela, é ao percorrê-la que a choro e a ela aspiro...
    As árvores! As flores! O esconder-se copado dos caminhos!...
    Passeávamos às vezes, braço dado, sob os cedros e as olaias e nenhum de
    nós pensava em viver. A nossa carne era-nos um perfume vago e a nossa vida
    um eco de som de fonte. Dávamo-nos as mãos e os nossos olhares
    perguntavam-se o que seria o ser sensual e o querer realizar em carne a ilusão
    do amor...






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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Nov 2023, 10:25

    ***

    No nosso jardim havia flores de todas as belezas... — rosas de contornos
    enrolados, lírios de um branco amarelecendo-se, papoilas que seriam ocultas
    se o seu rubro lhes não espreitasse presença, violetas pouco na margem rufada
    dos canteiros, miosótis mínimos, camélias estéreis de perfume... E, pasmados
    por cima das ervas altas, olhos, os girassóis isolados fitavam-nos grandemente.
    Nós roçávamos a alma toda vista pelo frescor visível dos musgos e
    tínhamos, ao passar pelas palmeiras, a intuição esguia de outras terras... E
    subia-nos o choro à lembrança, porque nem aqui, ao sermos felizes, o
    éramos...
    Carvalhos cheios de séculos nodosos faziam tropeçar os nossos pés nos
    tentáculos mortos das suas raízes... Plátanos estacavam... E ao longe, entre
    árvore e árvore de perto, pendiam no silêncio das latadas os cachos
    negrejantes das uvas...
    O nosso sonho de viver ia adiante de nós, alado, e nós tínhamos para ele
    um sorriso igual e alheio, combinado nas almas, sem nos olharmos, sem
    sabermos um do outro mais do que a presença apoiada de um braço contra a
    atenção entregue do outro braço que o sentia.
    A nossa vida não tinha dentro. Éramos fora e outros. Desconhecíamo-nos,
    como se houvéssemos aparecido às nossas almas depois de uma viagem
    através de sonhos...




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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Nov 2023, 10:26

    ***
    Tínhamo-nos esquecido do tempo, e o espaço imenso empequenara-se-nos
    na atenção. Fora daquelas árvores próximas, daquelas latadas afastadas,
    daqueles montes últimos no horizonte haveria alguma coisa de real, de
    merecedor do olhar aberto que se dá às coisas que existem?...
    Na clepsidra da nossa imperfeição gotas regulares de sonho marcavam
    horas irreais... Nada vale a pena, ó meu amor longínquo, senão o saber como
    é suave saber que nada vale a pena...
    O movimento parado das árvores; o sossego inquieto das fontes; o hálito
    indefinível do ritmo íntimo das seivas; o entardecer lento das coisas, que
    parece vir-lhes de dentro a dar mãos de concordância espiritual ao entristecer
    longínquo, e próximo à alma, do alto silêncio do céu; o cair das folhas,
    compassado e inútil, pingos de alheamento, em que a paisagem se nos torna
    toda para os ouvidos e se entristece em nós como uma pátria recordada —
    tudo isto, como um cinto a desatar-se, cingia-nos, incertamente.
    Ali vivemos um tempo que não sabia decorrer, um espaço para que não
    havia pensar em poder-se medi-lo. Um decorrer fora do Tempo, uma
    extensão que desconhecia os hábitos da realidade do espaço... Que horas, ó
    companheira inútil do meu tédio, que horas de desassossego feliz se fingiram
    nossas ali!... Horas de cinza de espírito, dias de saudade espacial, séculos
    interiores de paisagem externa... E nós não nos perguntávamos para que era
    aquilo, porque gozávamos o saber que aquilo não era para nada.



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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Nov 2023, 10:27

    ***

    Nós sabíamos ali, por uma intuição que por certo não tínhamos, que este
    dolorido mundo onde seríamos dois, se existia, era para além da linha extrema
    onde as montanhas são hálitos de formas, e para além dessa não havia nada. E
    era por causa da contradição de saber isto que a nossa hora de ali era escura
    como uma caverna em terra de supersticiosos, e o nosso senti-la era estranho
    como um perfil da cidade mourisca contra um céu de crepúsculo outonal...
    Orlas de mares desconhecidos tocavam, no horizonte de ouvirmos, praias
    que nunca poderíamos ver, e era-nos a felicidade escutar, até vê-lo em nós,
    esse mar onde sem dúvida singravam caravelas com outros fins em percorrêlo que não os fins úteis e comandados da Terra.
    Reparávamos de repente, como quem repara que vive, que o ar estava cheio
    de cantos de ave, e que, como perfumes antigos em cetins, o marulho
    esfregado das folhas estava mais entranhado em nós do que a consciência de o
    ouvirmos.
    E assim o murmúrio das aves, o sussurro dos arvoredos e o fundo
    monótono e esquecido do mar eterno punham à nossa vida abandonada uma
    auréola de não a conhecermos. Dormimos ali acordados dias, contentes de
    não ser nada, de não ter desejos nem esperanças, de nos termos esquecido da
    cor dos amores e do sabor dos ódios. Julgávamo-nos imortais...



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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Nov 2023, 10:28

    ***

    Ali vivemos horas cheias de um outro sentirmo-las, horas de uma
    imperfeição vazia e tão perfeitas por isso, tão diagonais à certeza retângula da
    vida... Horas imperiais depostas, horas vestidas de púrpura gasta, horas caídas
    nesse mundo de um outro mundo mais cheio do orgulho de ter mais
    desmanteladas angústias...
    E doía-nos gozar aquilo, doía-nos... Porque, apesar do que tinha de exílio
    calmo, toda essa paisagem nos sabia a sermos deste mundo, toda ela era
    húmida da pompa de um vago tédio, triste e enorme e perverso como a
    decadência de um império ignoto...
    Nas cortinas da nossa alcova a manhã é uma sombra de luz. Os meus
    lábios, que eu sei que estão pálidos, sabem um ao outro a não quererem ter
    vida.
    O ar do nosso quarto neutro é pesado como um reposteiro. A nossa
    atenção sonolenta ao mistério de tudo isto é mole como uma cauda de vestido
    arrastado num cerimonial no crepúsculo.
    Nenhuma ânsia nossa tem razão de ser. A nossa atenção é um absurdo
    consentido pela nossa inércia alada.







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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Nov 2023, 10:28

    ***
    Não sei que óleos de penumbra ungem a nossa ideia do nosso corpo. O
    cansaço que temos é a sombra de um cansaço. Vem-nos de muito longe,
    como a nossa ideia de haver a nossa vida...
    Nenhum de nós tem nome ou existência plausível. Se pudéssemos ser
    ruidosos ao ponto de nos imaginarmos rindo, riríamos sem dúvida de nos
    julgarmos vivos. O frescor aquecido do lençol acaricia-nos (a ti como a mim
    decerto) os pés que se sentem, um ao outro, nus.
    Desenganemo-nos, meu amor, da vida e dos seus modos. Fujamos a
    sermos nós... Não tiremos do dedo o anel mágico que chama, mexendo-selhe, pelas fadas do silêncio e pelos elfos da sombra e pelos gnomos do
    esquecimento...
    E ei-la que, ao irmos a sonhar falar nela, surge ante nós outra vez, a floresta
    muita, mas agora mais perturbada da nossa perturbação e mais triste da nossa
    tristeza. Foge de diante dela, como um nevoeiro que se esfolha, a nossa deia
    do mundo real, e eu possuo-me outra vez no meu sonho errante, que essa
    floresta misteriosa enquadra...
    As flores, as flores que ali vivi! Flores que a vista traduzia para seus nomes,
    conhecendo-as, e cujo perfume a alma colhia, não nelas mas na melodia dos
    nomes... Flores cujos nomes eram repetidos em sequência, orquestras de
    perfumes sonoros... Arvores cuja volúpia verde punha sombra e frescor no
    como eram chamadas... Frutos cujo nome era um cravar de dentes na alma da
    sua polpa... Sombras que eram relíquias de outrora felizes... Clareiras, clareiras
    claras, que eram sorrisos mais francos da paisagem que se bocejava em
    próxima... Ó horas multicolores!... Instantes-flores, minutos-árvores, ó tempo
    estagnado em espaço, tempo morto de espaço e coberto de flores, e do
    perfume de flores, e do perfume de nomes de flores!...




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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Nov 2023, 10:29

    ***


    Loucura de sonho naquele silêncio alheio!...
    A nossa vida era toda a vida... O nosso amor era o perfume do amor...
    Vivíamos horas impossíveis, cheias de sermos nós... E isto porque sabíamos,
    com toda a carne da nossa carne, que não éramos uma realidade...
    Éramos impessoais, ocos de nós, outra coisa qualquer... Éramos aquela
    paisagem esfumada em consciência de si própria... E assim como ela era duas
    — de realidade que era, e ilusão — assim éramos nós obscuramente dois,
    nenhum de nós sabendo bem se o outro não era ele-próprio, se o incerto
    outro viveria...
    Quando emergíamos de repente ante o estagnar dos lagos sentíamo-nos a
    querer soluçar... Ali aquela paisagem tinha os olhos rasos de água, olhos
    parados, cheios do tédio inúmero de ser... Cheios, sim, do tédio de ser, de ter
    de ser qualquer coisa, realidade ou ilusão — e esse tédio tinha a sua pátria e a
    sua voz na mudez e no exílio dos lagos... E nós, caminhando sempre e sem o
    saber ou querer, parecia ainda assim que nos demorávamos à beira daqueles
    lagos, tanto de nós com eles ficava e morava, simbolizado e absorto...
    E que fresco e feliz horror o de não haver ali ninguém! Nem nós, que por
    ali íamos, ali estávamos... Porque nós não éramos ninguém. Nem mesmo
    éramos coisa ...




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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Nov 2023, 10:30

    ***

    Não tínhamos vida que a Morte precisasse para matar. Eramos tão ténues e
    rasteirinhos que o vento do decorrer nos deixara inúteis e a hora passava por
    nós acariciando-nos como uma brisa pelo cimo de uma palmeira.
    Não tínhamos época nem propósito. Toda a finalidade das coisas e dos
    seres ficara-nos à porta daquele paraíso de ausência. Imobilizara-se, para nos
    sentir senti-la, a alma rugosa dos troncos, a alma estendida das folhas, a alma
    núbil das flores, a alma vergada dos frutos...
    E assim nós morremos a nossa vida, tão atentos separadamente a morrê-la
    que não reparámos que éramos um só, que cada um de nós era uma ilusão do
    outro, e cada um, dentro de si, o mero eco do seu próprio ser...
    Zumbe uma mosca, incerta e mínima...
    Raiam na minha atenção vagos ruídos, nítidos e dispersos, que enchem de
    ser já dia a minha consciência do nosso quarto... O nosso quarto? Nosso de
    que dois, se eu estou sozinho? Não sei. Tudo se funde e só fica, fugindo, uma
    realidade-bruma em que a minha incerteza soçobra e o meu compreender-me,
    embalado de ópios, adormece...





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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Nov 2023, 10:31

    ***

    A manhã rompeu, como uma queda, do cimo pálido da Hora...
    Acabaram de arder, meu amor, na lareira da nossa vida, as achas dos nossos
    sonhos...
    Desenganemo-nos da esperança, porque trai, do amor, porque cansa, da
    vida, porque farta e não sacia, e até da morte, porque traz mais do que se quer
    e menos do que se espera.
    Desenganemo-nos, ó Velada, do nosso próprio tédio, porque se envelhece
    de si próprio e não ousa ser toda a angústia que e não choremos, não
    odiemos, não desejemos...
    Cubramos, ó Silenciosa, com um lençol de linho fino o perfil hirto e morto
    da nossa Imperfeição...

    FIN



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    Mensaje por Maria Lua Jue 23 Nov 2023, 20:01


    NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO



    Às vezes quando, abatido e humilde, a própria força de sonhar se me
    desfolha e se me seca, e o meu único sonho só pode ser’ o pensar nos meus
    sonhos, folheio-os então, como a um livro que se folheia e se torna a folhear
    sem ler mais que palavras inevitáveis. É então que me interrogo sobre quem tu
    és, figura que atravessas todas as minhas antigas visões demoradas de
    paisagens outras e de interiores antigos e de cerimoniais faustosos de silêncio.
    Em todos os meus sonhos ou apareces, sonho, ou, realidade falsa, me
    acompanhas. Visito contigo regiões que são talvez sonhos teus, terras que são
    talvez corpos teus de ausência e desumanidade, o teu corpo essencial
    descontornado para planície calma e monte de perfil frio em jardim de palácio
    oculto. Talvez eu não tenha outro sonho senão tu, talvez seja nos teus olhos,
    encostando a minha face à tua, que eu lerei essas paisagens impossíveis, esses
    tédios falsos, esses sentimentos que habitam a sombra dos meus cansaços e as
    grutas dos meus desassossegos. Quem sabe se as paisagens dos meus sonhos
    não são o meu modo de não te sonhar? Eu não sei quem tu és, mas sei ao
    certo o que sou? Sei eu o que é sonhar para que saiba o que vale o chamar-te
    o meu sonho? Sei eu se não és uma parte, quem sabe se a parte essencial e
    real, de mim? E sei eu se não sou eu o sonho e tu a realidade, eu um sonho
    teu e não tu um Sonho que eu sonhe?



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     FERNANDO PESSOA II   (13/ 06/1888- 30/11/1935) ) - Página 4 Empty Re: FERNANDO PESSOA II (13/ 06/1888- 30/11/1935) )

    Mensaje por Maria Lua Jue 23 Nov 2023, 20:01

    ***


    Que espécie de vida tens? Que modo de ver é o modo como te vejo? O teu
    perfil? Nunca é o mesmo, mas não muda nunca. E eu digo isto porque sei,
    ainda que não saiba que o sei. O teu corpo? Nu é o mesmo que vestido,
    sentado está na mesma atitude do que quando deitado ou de pé. Que significa
    isto, que não significa nada?
    A minha vida é tão triste, e eu nem penso em chorá-la; as minhas horas tão
    falsas, e eu nem sonho o gesto de parti-las.
    Como não te sonhar? Como não te sonhar? Senhora das Horas que
    passam, Madona das águas estagnadas e das algas mortas, Deusa Tutelar dos
    desertos abertos e das paisagens negras de rochedos estéreis — livra-me da
    minha mocidade.
    Consoladora dos que não têm consolação, Lágrima dos que nunca choram,
    Hora que nunca soa — livra-me da alegria e da felicidade.






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     FERNANDO PESSOA II   (13/ 06/1888- 30/11/1935) ) - Página 4 Empty Re: FERNANDO PESSOA II (13/ 06/1888- 30/11/1935) )

    Mensaje por Maria Lua Jue 23 Nov 2023, 20:03

    ***


    Ópio de todos os silêncios, Lira para não se tanger, Vitral de lonjura e de
    abandono — faz com que eu seja odiado pelos homens e escarnecido pelas
    mulheres.
    Címbalo de Extrema-Unção, Carícia sem gesto, Pomba morta à sombra,
    Óleo de horas passadas a sonhar — livra-me da religião, porque é suave; e da
    descrença porque é forte.
    Lírio fanando à tarde, Cofre de rosas murchas, silêncio entre prece e prece .
    Enche-me de nojo de viver, de ódio de ser são, de desprezo por ser jovem.
    Torna-me inútil e estéril, ó Acolhedora de todos os sonhos vagos; faz-me
    puro sem razão para o ser, e falso sem amor a sê-lo, ó Água Corrente das
    Tristezas Vividas; que a minha boca seja uma paisagem de gelos, os meus
    olhos dois lagos mortos, os meus gestos um esfolhar lento de árvores
    velhinhas – ó Ladainha de Desassossegos, ó Missa-Roxa de Cansaços, ó
    Corola, ó Fluido, ó Ascensão!...
    Que pena eu ter de te rezar como a uma mulher, e não te querer como a
    um homem, e não te poder erguer os olhos do meu sonho como Aurora-
    ao contrário do sexo irreal dos anjos que nunca entraram no céu!






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    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





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     FERNANDO PESSOA II   (13/ 06/1888- 30/11/1935) ) - Página 4 Empty Re: FERNANDO PESSOA II (13/ 06/1888- 30/11/1935) )

    Mensaje por Maria Lua Jue 23 Nov 2023, 20:04

    ***


    ***

    Rezo a ti o meu amor porque o meu amor é já uma oração; mas nem te
    concebo como amada, nem te ergo ante mim como santa.
    Que os teus actos sejam a estátua da renúncia, os teus gestos o pedestal da
    indiferença, as tuas palavras os vitrais da negação.

    ***







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