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    Mensaje por Maria Lua Sáb 23 Mayo 2020, 03:42

    ADORMECIDA



    Uma noite, eu me lembro… Ela dormia

    Numa rede encostada molemente…

    Quase aberto o roupão… solto o cabelo

    E o pé descalço do tapete rente.




    ‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste

    Exalavam as silvas da campina…

    E ao longe, num pedaço do horizonte,

    Via-se a noite plácida e divina.



    De um jasmineiro os galhos encurvados,

    Indiscretos entravam pela sala,

    E de leve oscilando ao tom das auras,

    Iam na face trêmulos – beijá-la.



    Era um quadro celeste!… A cada afago

    Mesmo em sonhos a moça estremecia…

    Quando ela serenava… a flor beijava-a…

    Quando ela ia beijar-lhe… a flor fugia…



    Dir-se-ia que naquele doce instante

    Brincavam duas cândidas crianças…

    A brisa, que agitava as folhas verdes,

    Fazia-lhe ondear as negras tranças!



    E o ramo ora chegava ora afastava-se…

    Mas quando a via despeitada a meio,

    Pra não zangá-la… sacudia alegre

    Uma chuva de pétalas no seio…



    Eu, fitando esta cena, repetia

    Naquela noite lânguida e sentida:

    “Ó flor! – tu és a virgem das campinas!

    “Virgem! – tu és a flor da minha vida!…”





    **********************











    ADORMECIDA





    Una noche, recuerdo … Ella dormía

    Recostada en la hamaca, tranquilamente …

    Casi abierta la bata … Suelto el pelo.

    Desnudo el pie sobre la estera ardiente.



    Abierta la ventana. Un vaho agreste

    Exhalaba el zarzal de la campiña …

    Y venía en un trazo de horizonte

    La noche, lejos, plácida y divina.



    Los ramajes doblados, indiscretos

    De un jazminero, entraban por la sala

    Y al vaivén de las brisas oscilando

    Trémulos como labios la besaban.



    ¡Era un cuadro celeste!. .. Como ensueño

    Cada roce a la moza estremecía …

    Cuando ella se calmaba … La besaban

    Flores que si ella iba a besar, huían …



    Era como si en ese dulce instante

    Jugaran a sonar dos inocencias …

    Mecía el aire los ramajes verdes

    ¡Haciendo ondear las renegridas trenzas!



    Ora el jazmín se iba… Ora llegaba…

    Mas si enfados urdía su despecho

    Sólo por sosegarla… lloviznaba

    Sobre su seno un perfumar de pétalos.



    Yo, enmudecido, viéndola decía

    Entre la noche de albas encendida:

    “!Tú eres la Virgen —flor— de las campiñas!”

    “!Tú eres la flor —Oh Virgen— de mi vida!…”


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    o un ciego soñando
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    Mensaje por Maria Lua Jue 28 Mayo 2020, 03:44

    Hino ao Sono
     
     
    Ó Sono !ó noivo pálido
    Das noites perfumosas,
    Que um chão de nebulosas
    Trilhas pela amplidão!
    Em vez de verdes pâmpanos,
    Na branca fronte enrolas
    As lânguidas papoulas,
    Que agita a viração.
     
     
    Nas horas solitárias,
    Em que vagueia a lua,
    E lava a planta nua
    Na onda azul do mar,
    Com um dedo sobre os lábios
    No vôo silencioso,
    Vejo-te cauteloso
    No espaço viajar!
     
     
    Deus do infeliz, do mísero!
    Consolação do aflito!
    Descanso do precito,
    Que sonha a vida em ti!
    Quando a cidade tétrica
    De angústia e dor não geme...
    É tua mão que espreme
    A dormideira ali.
     
     
    Em tua branca túnica
    Envolves meio mundo.
    E teu seio fecundo
    De sonhos e visões,
    Dos templos aos prostíbulos
    Desde o tugúrio ao Paço,
    Tu lanças lá do espaço
    Punhados de ilusões!...
     
     
    Da vida o sumo rúbido,
    Do hatchiz a essência,
    O ópio, que a indolência
    Derrama em nosso ser,
    Não valem, gênio mágico,
    Teu seio, onde repousa
    A placidez da lousa
    E o gozo de viver...
     
     
    Ó sono! Unge-me as pálpebras..
    Entorna o esquecimento
    Na luz do pensamento,
    Que abrasa o crânio meu.
    Como o pastor da Arcádia,
    Que uma ave errante aninha...
    Minh'alma é uma andorinha...
    Abre-lhe o seio teu.
     
     
    Tu, que fechaste as pétalas
    Do lírio, que pendia,
    Chorando a luz do dia
    E os raios do arrebol,
    Também fecha-me as pálpebras...
    Sem Ela o que é a vida?
    Eu sou a flor pendida
    Que espera a luz do sol.
     
     
    O leite das eufórbias
    P'ra mim não é veneno...
    Ouve-me, ó Deus sereno!
    Ó Deus consolador!
    Com teu divino bálsamo
    Cala-me a ansiedade!
    Mata-me esta saudade,
    Apaga-me esta dor.
     
     
    Mas quando, ao brilho rútilo
    Do dia deslumbrante,
    Vires a minha amante
    Que volve para mim,
    Então ergue-me súbito...
    É minha aurora linda...
    Meu anjo... mais ainda...
    É minha amante enfim!
     
     
    Ó sono! Ó Deus noctívago!
    Doce influência amiga!
    Gênio que a Grécia antiga
    Chamava de Morfeu,
    Ouve!... E se minhas súplicas
    Em breve realizares...
    Voto nos teus altares
    Minha lira de Orfeu!


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 30 Mayo 2020, 03:21

    Versos a Um Viajante
     
     
    Ai! nenhum mago da Caldéia sábia
    A dor abrandará que me devora.
     
    F. VARELA
     
     
    Tenho saudades das cidades vastas,
    Dos ínvios cerros, do ambiente azul...
    Tenho saudades dos cerúleos mares
    Das belas filhas do país do sul!
     
     
    Tenho saudades de meus dias idos
     — Pét'las perdidas em fatal paul —
    Pét'las, que outrora desfolhamos juntos,
    Morenas filhas do país do sul!
     
     
    Lá onde as vagas nas areias rolam,
    Bem como aos pés da Oriental 'Stambul...
    E da Tijuca na nitente espuma
    Banham-se as filhas do país do sul.
     
     
    Onde ao sereno a magnólia esconde
    Os pirilampos "de lanterna azul",
    Os pirilampos, que trazeis nas coifas,
    Morenas filhas do pais do sul.
     
     
    Tenho saudades... ai! de ti, São Paulo,
     — Rosa de Espanha no hibernal Friul  —
    Quando o estudante e a serenata acordam
    As belas filhas do país do sul.
     
     
    Das várzeas longas, das manhãs brumosas
    Noites de névoas, ao rugitar do sul,
    Quando eu sonhava nos morenos seios
    Das belas filhas do país do sul.


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    Mensaje por Maria Lua Dom 31 Mayo 2020, 09:48

    O Livro e a América
     
      Ao Grêmio Literário
     
     
     
     
    Talhado para as grandezas,
    P'ra crescer, criar, subir,
    O Novo Mundo nos músculos
    Sente a seiva do porvir.
     — Estatuário de colossos  —
    Cansado doutros esboços
    Disse um dia Jeová:
    "Vai, Colombo, abre a cortina
    "Da minha eterna oficina...
    "Tira a América de lá".
     
     
    Molhado inda do dilúvio,
    Qual Tritão descomunal,
    O continente desperta
    No concerto universal.
    Dos oceanos em tropa
    Um — traz-lhe as artes da Europa,
    Outro  —  as bagas de Ceilão...
    E os Andes putrificados,
    Como braços levantados,
    Lhe apontam para a amplidão.
     
     
    Olhando em torno então brada:
    "Tudo marcha!... O grande Deus!
    As cataratas  —  p'ra terra,
    As estrelas — para os céus
    Lá, do pólo sobre as plagas,
    O seu rebanho de vagas
    Vai o mar apascentar...
    Eu quero marchar com os ventos,
    Com os mundos... co'os firmamentos!!!
    E Deus responde  —  "Marchar!"
     
     
    "Marchar!... Mas como?... Da Grécia
    Nos dóricos Partenons
    A mil deuses levantando
    Mil marmóreos Panteons?...
    Marchar cota espada de Roma
     — Leoa de raiva coma
    De presa enorme no chão,
    Saciando o ódio profundo...
     — Com as garras nas mãos do mundo,
     — Com os dentes no coração?...
     
     
    "Marchar!... Mas como a Alemanha
    Na tirania feudal,
    Levantando uma montanha
    Em cada uma catedral?...
    Não!... Nem templos feitos de ossos,
    Nem gládios a cavar fossos
    São degraus do progredir...
    Lá brada César morrendo:
    "No pugilato tremendo
    "Quem sempre vence é o porvir!'
     
     
    Filhos do séc'lo das luzes!
    Filhos da Grande nação!
    Quando ante Deus vos mostrardes,
    Tereis um livro na mão:
    O livro  —  esse audaz guerreiro
    Que conquista o mundo inteiro
    Sem nunca ter Waterloo...
    Eólo de pensamentos,
    Que abrira a gruta dos ventos
    Donde a Igualdade voou!...
     
     
    Por uma fatalidade
    Dessas que descem de além,
    O séc'lo, que viu Colombo,
    Viu Guttenberg também.
    Quando no tosco estaleiro
    Da Alemanha o velho obreiro
    A ave da imprensa gerou...
    O Genovês salta os mares...
    Busca um ninho entre os palmares
    E a pátria da imprensa achou...
     
     
    Por isso na impaciência
    Desta sede de saber,
    Como as aves do deserto  —
    As almas buscam beber...
    Oh! Bendito o que semeia
    Livros... livros à mão cheia...
    E manda o povo pensar!
    O livro caindo n'alma
    É germe — que faz a palma,
    É chuva — que faz o mar.
     
     
    Vós, que o templo das idéias
    Largo  —  abris às multidões,
    P'ra o batismo luminoso
    Das grandes revoluções,
    Agora que o trem de ferro
    Acorda o tigre no cerro
    E espanta os caboclos nus,
    Fazei desse "rei dos ventos"
     — Ginete dos pensamentos,
     — Arauto da grande luz!...
     
     
    Bravo! a quem salva o futuro
    Fecundando a multidão!...
    Num poema amortalhada
    Nunca morre uma nação.
    Como Goethe moribundo
    Brada "Luz!" o Novo Mundo
    Num brado de Briaréu...
    Luz! pois, no vale e na serra...
    Que, se a luz rola na terra,
    Deus colhe gênios no céu! ...


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    Mensaje por Maria Lua Miér 03 Jun 2020, 06:38

    ADORMECIDA


    Trad. de Arturo Corchera

    Una noche, recuerdo … Ella dormía
    Recostada en la hamaca, tranquilamente …
    Casi abierta la bata … Suelto el pelo.
    Desnudo el pie sobre la estera ardiente.

    Abierta la ventana. Un vaho agreste
    Exhalaba el zarzal de la campiña …
    Y venía en un trazo de horizonte
    La noche, lejos, plácida y divina.

    Los ramajes doblados, indiscretos
    De un jazminero, entraban por la sala
    Y al vaivén de las brisas oscilando
    Trémulos como labios la besaban.

    ¡Era un cuadro celeste!. .. Como ensueño
    Cada roce a la moza estremecía …
    Cuando ella se calmaba … La besaban
    Flores que si ella iba a besar, huían …

    Era como si en ese dulce instante
    Jugaran a sonar dos inocencias …
    Mecía el aire los ramajes verdes
    ¡Haciendo ondear las renegridas trenzas!

    Ora el jazmín se iba… Ora llegaba…
    Mas si enfados urdía su despecho
    Sólo por sosegarla… lloviznaba
    Sobre su seno un perfumar de pétalos.

    Yo, enmudecido, viéndola decía
    Entre la noche de albas encendida:
    “!Tú eres la Virgen —flor— de las campiñas!”
    “!Tú eres la flor —Oh Virgen— de mi vida!…”

     
    Antônio Frederico de Castro Alves (nacido en Cachoeira, Bahia, el 14 de marzo de 1847 y fallecido en Río de Janeiro el 6 de julio de 1871), fue un poeta romántico brasileño, conocido por sus poemas abolicionistas y republicanos.
    En 1862 comienza sus estudios de Derecho en la Universidad de Recife, y fue líder estudiantil, en esta época escribió sus primeros poemas Os Escravos e A Cachoeira de Paulo Afonso
    En 1867 abandonó Recife y regresó a Bahía, donde escribe la obra Gonzaga. Luego se mudó a Río de janeiro, donde conoció importantes personalidades como José de Alencar, Francisco Otaviano y Machado de Assis.
    Más tarde se traslada a San Pablo donde se reune con importantes políticos y escritores, como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Rodrigues Alves, Afonso Pena y Bias Fortes. El 11 de noviembre de 1868, mientras cazaba en las afueras de la ciudad, es herido por un tiro en el talón y su pie izquierdo debe ser amputado.
    Su poesía se centra más que nada en temas humanísticos y sociales, versando principalmente contra el tráfico de esclavos y propugnando la abolición de la esclavitud. Su popularidad y reconocimiento como poeta fueron un importante apoyo a la campaña en favor de la promulgación de la Ley de libertad de vientres de 1871, prohibiendo la esclavitud a hijos de esclavos. Ingresó a la Academia Brasileña de Letras, donde ocupó la silla número 7. Contrae tuberculosis y fallece en 1871.
    Obras
    1870 Espumas Flutuantes.

    Os escravos.

    Gonzaga ou a Revolução de Minas.

    Cachoeira de Paulo Afonso.

    Vozes D’África.

    O Navio Negreiro.


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    Mensaje por Maria Lua Vie 05 Jun 2020, 04:09

    Castro Alves fue un hombre muy culto y refinado, amante de las artes en general, que se entregaría en cuerpo y alma a su obra literaria, misma que comenzó a escribir a los 17 años. Esta incluía obras de teatro, poesía romántica y poesía de fuerte corte abolicionista. Su vida personal fue trágica, ya que pierde a su madre a muy temprana edad y su hermano, que padecía un desequilibrio mental, se suicidó. Su padre muere dos años después. Tuvo algunas relaciones amorosas que no terminaron muy bien, y fue amante de una famosa actriz portuguesa de la época, Eugénia Câmara, mujer que ejerció una gran influencia en su vida. A la edad de 22 años le fue amputado un pie debido a un accidente de cacería, y este hecho le provocó una recaída en la tuberculosis, enfermedad con la que había luchado una gran parte de su vida. Regresó a Salvador, luego fue a Curralinho y más tarde retorna a Salvador, buscando un mejor clima para su salud. Una vez allí realizó la lectura de su obra A Cachoeira de Paulo Afonso, y lanzó su libro Espumas Flutuantes (donde está el poema Adormecida, mismo que adoro). Poco después, murió de tuberculosis un 6 de julio de 1871, en Salvador de Bahia. Tenía sólo 24 años.


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    Mensaje por Maria Lua Vie 05 Jun 2020, 09:01

    Quando Eu Morrer
     
     
    Eu morro, eu morro. A matutina brisa
    Já não me arranca um riso. A rósea tarde
    Já não me doura as descoradas faces
    Que gélidas se encovam.
     
    JUNQUEIRA FREIRE
     
     
    Quando eu morrer... não lancem meu cadáver
    No fosso de um sombrio cemitério...
    Odeio o mausoléu que espera o morto
    Como o viajante desse hotel funéreo.
     
     
    Corre nas veias negras desse mármore
    Não sei que sangue vil de messalina,
    A cova, num bocejo indiferente,
    Abre ao primeiro o boca libertina.
     
     
    Ei-la a nau do sepulcro — o cemitério...
    Que povo estranho no porão profundo!
    Emigrantes sombrios que se embarcam
    Para as plagas sem fim do outro mundo.
     
     
    Tem os fogos  —  errantes — por santelmo.
    Tem por velame  — os panos do sudário...
    Por mastro — o vulto esguio do cipreste,
    Por gaivotas  —  o mocho funerário...
     
     
    Ali ninguém se firma a um braço amigo
    Do inverno pelas lúgubres noitadas...
    No tombadilho indiferentes chocam-se
    E nas trevas esbarram-se as ossadas...
     
     
    Como deve custar ao pobre morto
    Ver as placas da vida além perdidas,
    Sem ver o branco fumo de seus lares
    Levantar-se por entre as avenidas!...
     
     
    Oh! perguntai aos frios esqueletos
    Por que não têm o coração no peito...
    E um deles vos dirá "Deixei-o há pouco
    De minha amante no lascivo leito."
     
     
    Outro: "Dei-o a meu pai". Outro: "Esqueci-o
    Nas inocentes mãos de meu filhinho"...
    ... Meus amigos! Notai... bem como um pássaro
    O coração do morto volta ao ninho!...


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    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
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    Mensaje por Maria Lua Sáb 06 Jun 2020, 04:03

    1ª SOMBRA
     
     
    MARIETA
     
     
    Como o gênio da noite, que desata
    O véu de rendas sobre a espádua nua,
    Ela solta os cabelos... Bate a lua
    Nas alvas dobras de um lençol de prata...
     
     
    O seio virginal, que a mão recata,
    Embalde o prende a mão... cresce, flutua...
    Sonha a moça ao relento... Além na rua
    Preludia um violão na serenata! ...
     
     
    ... Furtivos passos morrem no lajedo...
    Resvala a escada do balcão discreta
    Matam lábios os beijos em segredo...
     
     
    Afoga-me os suspiros, Marieta!
    Ó surpresa! ó palor! ó pranto! ó medo!
    Ai! noites de Romeu e Julieta!...


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    Mensaje por Maria Lua Dom 07 Jun 2020, 12:50

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    Mensaje por Maria Lua Mar 09 Jun 2020, 07:44



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    Mensaje por Maria Lua Miér 10 Jun 2020, 09:27

    “E amamos – Este amor foi um delírio...
    Foi ela minha crença, foi meu lírio,

    Minha estrela sem véu...
    Seu nome era o meu canto de poesia,
    Que com o sol – pena de ouro – eu escrevia
    Nas lâminas do céu.

    “Em teu seio escondi-me ... como a noite
    Incauto colibri, temendo o açoite
    Das iras do tufão,
    A cabecinha esconde sob asas,
    Faz seu leito gentil por entre as gazas
    Da rosa do Japão”.

    (Dalila, p. 130)


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    Mensaje por Maria Lua Dom 14 Jun 2020, 08:11

    As Três Irmãs do Poeta

     
    É Noite! as sombras correm nebulosas.
    Vão três pálidas virgens silenciosas
    Através da procela irrequieta.
    Vão três pálidas virgens... vão sombrias
    Rindo colar num beijo as bocas frias...
     
     
    Na fronte cismadora do — Poeta  —
     
     
    "Saúde, irmão! Eu sou a Indiferença.
    Sou eu quem te sepulta a idéia imensa,
    Quem no teu nome a escuridão projeta...
    Fui eu que te vesti do meu sudário...
    Que vais fazer tão triste e solitário?..."
     
     
     —  "Eu lutarei!" — responde-lhe o Poeta.
     
     
    "Saúde, meu irmão! Eu sou a Fome.
    Sou eu quem o teu negro pão consome...
    O teu mísero pão, mísero atleta!
    Hoje, amanhã, depois... depois (qu'importa?)
    Virei sempre sentar-me à tua porta..."
     
     
     — "Eu sofrerei" — responde-lhe o Poeta.
     
     
    "Saúde, meu irmão! Eu sou a Morte.
    Suspende em meio o hino augusto e forte.
    Marquei-te a fronte, mísero profeta!
    Volve ao nada! Não sentes neste enleio
    Teu cântico gelar-se no meu seio?!"
     
     
     — "Eu cantarei no céu"  —  diz-lhe o Poeta!


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    Mensaje por Maria Lua Dom 21 Jun 2020, 10:14

    A Volta da Primavera
     
     
    Aime et tu renaîtras, fais-toi fleur pour éclore,
    Après avoir souffert, il faut souffrir encore;
    Il faut aimer sans cesse après avoir aimé.
     
    A. DE MUSSET
     
     
    Ai! Não maldigas minha fronte pálida,
    E o peito gasto ao referver de amores.
    Vegetam louros  —  na caveira esquálida
    E a sepultura se reveste em flores.
     
     
    Bem sei que um dia o vendaval da sorte
    Do mar lançou-me na gelada areia.
    Serei... que importa? o D. Juan da morte
    Dá-me o teu seio — e tu serás Haidéia!
     
     
    Pousa esta mão — nos meus cabelos úmidos!...
    Ensina à brisa ondulações suaves!
     
     
    Dá-me um abrigo dos teus seios túmidos!
     Fala!... que eu ouço o pipilar das aves!
     
     
    Já viste às vezes, quando o sol de maio
    Inunda o vale, o matagal e a veiga?
    Murmura a relva: "Que suave raio!"
    Responde o ramo: "Como a luz é meiga!"
     
     
    E, ao doce influxo do clarão do dia,
    O junco exausto, que cedera à enchente,
    Levanta a fronte da lagoa fria...
    Mergulha a fronte na lagoa ardente...
     
     
    Se a natureza apaixonada acorda
    Ao quente afago do celeste amante,
    Diz!... Quando em fogo o teu olhar transborda,
    Não vês minh'alma reviver ovante?
     
     
    É que teu riso me penetra n'alma
     — Como a harmonia de uma orquestra santa
     — É que teu riso tanta dor acalma...
    Tanta descrença!... Tanta angústia!... Tanta!
     
     
    Que eu digo ao ver tua celeste fronte:
    "O céu consola toda dor que existe.
    Deus fez a neve  —  para o negro monte!
    Deus fez a virgem  —  para o bardo triste!"


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    Mensaje por Maria Lua Jue 25 Jun 2020, 08:43

    O Coração
     
     
    O Coração é o colibri dourado
    Das veigas puras do jardim do céu.
    Um — tem o mel da granadilha agreste,
    Bebe os perfumes, que a bonina deu.
     
     
    O outro — voa em mais virentes balças,
    Pousa de um riso na rubente flor.
    Vive do mel — a que se chama — crenças — ,
    Vive do aroma — que se diz — amor. —


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    Mensaje por Maria Lua Dom 28 Jun 2020, 03:44



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    Mensaje por Maria Lua Miér 15 Jul 2020, 04:19

    De um jasmineiro os galhos encurvados,

    Indiscretos entravam pela sala,

    E de leve oscilando ao tom das auras,

    Iam na face trêmulos – beijá-la.



    Era um quadro celeste!… A cada afago

    Mesmo em sonhos a moça estremecia…

    Quando ela serenava… a flor beijava-a…

    Quando ela ia beijar-lhe… a flor fugia…


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    Mensaje por Maria Lua Lun 17 Ago 2020, 13:22

    Onde estás

    É meia-noite. . . e rugindo
    Passa triste a ventania,
    Como um verbo de desgraça,
    Como um grito de agonia.
    E eu digo ao vento, que passa
    Por meus cabelos fugaz:
    "Vento frio do deserto,
    Onde ela está? Longe ou perto? "
    Mas, como um hálito incerto,
    Responde-me o eco ao longe:
    "Oh! minh'amante, onde estás?...

    Vem! É tarde! Por que tardas?
    São horas de brando sono,
    Vem reclinar-te em meu peito
    Com teu lânguido abandono!...
    'Stá vazio nosso leito...


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 22 Ago 2020, 08:08

    En las arenas doradas,
    del país de los palmares,
    esas mozas agraciadas,
    tenían amor y lares...
    La caravana fue un día,
    cuando la Virgen sentía,
    elevarse su alma a Dios...
    ¡Adiós monte y adiós choza!...
    ¡Palmares que el agua roza!...
    ¡Adiós, amores... Adiós!...


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 29 Ago 2020, 04:07

    A Cachoeira de Paulo Afonso


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    Era a hora em que a tarde se debruça
    Lá da crista das serras mais remotas...
    E d'araponga o canto, que soluça,
    Acorda os ecos nas sombrias grotas;
    Quando sobre a lagoa, que s'embuça,
    Passa o bando selvagem das gaivotas ...
    E a onça sobre as lapas salta urrando,
    Da cordilheira os visos abalando.

    Era a hora em que os cardos rumorejam
    Como um abrir de bocas inspiradas,
    E os angicos as comas espanejam
    Pelos dedos das auras perfumadas ...
    A hora em que as gardênias, que se beijam,
    São tímidas, medrosas desposadas;
    E a pedra... a flor... as selvas ... os condores
    Gaguejam... falam... cantam seus amores!

    Hora meiga da Tarde! Como és bela
    Quando surges do azul da zona ardente!
    ... Tu és do céu a pálida donzela,
    Que se banha nas termas do oriente...
    Quando é gota do banho cada estrela.
    Que te rola da espádua refulgente...
    E, — prendendo-te a trança a meia lua,
    Te enrolas em neblinas seminua!...

    Eu amo-te, ó mimosa do infinito!
    Tu me lembras o tempo em que era infante.
    Inda adora-te o peito do precito
    No meio do martírio excruciante;
    E, se não te dá mais da infância o grito
    Que menino elevava-te arrogante,
    É que agora os martírios foram tantos,
    Que mesmo para o riso só tem prantos! ...

    Mas não m'esqueço nunca dos fraguedos
    Onde infante selvagem me guiavas,
    E os ninhos do sofrer que entre os silvedos
    Da embaíba nos ramos me apontavas;
    Nem, mais tarde, dos lânguidos segredos
    De amor do nenufar que enamoravas...
    E as tranças mulheris da granadilha!. . .
    E os abraços fogosos da baunilha! ...

    E te amei tanto - cheia de harmonias
    A murmurar os cantos da serrana, —
    A lustrar o broquei das serranias,
    A doirar dos rendeiros a cabana...
    E te amei tanto — à flor das águas frias
    Da lagoa agitando a verde cana,
    Que sonhava morrer entre os palmares,
    Fitando o céu ao tom dos teus cantares! ...

    Mas hoje, da procela aos estridores,
    Sublime, desgrenhada sobre o monte,
    Eu quisera fitar-te entre os condores
    Das nuvens arruivadas do horizonte...
    ... Para então, — do relâmpago aos livores,
    Que descobrem do espaço a larga fronte, --
    Contemplando o infinito. . ., na floresta
    Rolar ao som da funeral orquestra!!!


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 29 Ago 2020, 04:08

    Maria


    ONDE VAIS à tardezinha,
    Mucama tão bonitinha,
    Morena flor do sertão?

    A grama um beijo te furta
    Por baixo da saia curta,
    Que a perna te esconde em vão...

    Mimosa flor das escravas!
    O bando das rolas bravas
    Voou com medo de ti!...
    Levas hoje algum segredo...
    Pois te voltaste com medo
    Ao grito do bem-te-vi!

    Serão amores deveras?
    Ah! Quem dessas primaveras
    Pudesse a flor apanhar!
    E contigo, ao tom d'aragem,
    Sonhar na rede selvagem...
    À sombra do azul palmar!

    Bem feliz quem na viola
    Te ouvisse a moda espanhola
    Da lua ao frouxo clarão...
    Com a luz dos astros — por círios,
    Por leito — um leito de lírios...
    E por tenda — a solidão!


     


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 29 Ago 2020, 04:09




    O baile na flor



    QUE BELAS as margens do rio possante,
    Que ao largo espumante campeia sem par!...
    Ali das bromélias nas flores doiradas
    Há silfos e fadas, que fazem seu lar...
       E, em lindos cardumes,
       Sutis vaga-lumes
       Acendem os lumes
       P'ra o baile na flor.
       E então — nas arcadas
       Das pét’las doiradas,
       Os grilos em festa
       Começam na orquestra
       Febris a tocar...
          E as breves
          Falenas
          Vão leves,
          Serenas,
          Em bando
          Girando,
          Valsando,
          Voando
          No ar! ...


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 29 Ago 2020, 04:09

    Castro Alves



    Na margem



    "VAMOS! VAMOS! Aqui por entre os juncos
    Ei-la a canoa em que eu pequena outrora
    Voava nas maretas... Quando o vento,
    Abrindo o peito à camisinha úmida,
    Pela testa enrolava-me os cabelos,
    Ela voava qual marreca brava
    No dorso crespo da feral enchente!

    Voga, minha canoa! Voga ao largo!
    Deixa a praia, onde a vaga morde os juncos
    Como na mata os caititus bravios...

    Filha das ondas! andorinha arisca!
    Tu, que outrora levavas minha infância
    — Pulando alegre no espumante dorso
    Dos cães-marinhos a morder-te a proa, —
    Leva-me agora a mocidade triste
    Pelos ermos do rio ao longe... ao longe..."

    Assim dizia a Escrava...
    Iam caindo
    Dos dedos do crepúsc'lo os véus de sombra,
    Com que a terra se vela como noiva
    Para o doce himeneu das noites límpidas ...

    Lá no meio do rio, que cintila,
    Como o dorso de enorme crocodilo,
    Já manso e manso escoa-se a canoa.
    Parecia, assim vista ao sol poente,
    Esses ninhos, que tombam sobre o rio,
    E onde em meio das flores vão chilrando
    — Alegres sobre o abismo — os passarinhos!...

     


    _________________



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    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
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    Mensaje por Maria Lua Dom 30 Ago 2020, 09:00

    A queimada


    MEU NOBRE perdigueiro! vem comigo.
    Vamos a sós, meu corajoso amigo,
       Pelos ermos vagar!
    Vamos Já dos gerais, que o vento açoita,
    Dos verdes capinais n'agreste moita
       A perdiz levantar!...

    Mas não!... Pousa a cabeça em meus joelhos...
    Aqui, meu cão! ... Já de listrões vermelhos
       O céu se iluminou.
    Eis súbito da barra do ocidente,
    Doudo, rubro, veloz, incandescente,
       O incêndio que acordou!

    A floresta rugindo as comas curva...
    As asas foscas o gavião recurva,
       Espantado a gritar.
    O estampido estupendo das queimadas
    Se enrola de quebradas em quebradas,
       Galopando no ar.

    E a chama lavra qual jibóia informe,
    Que, no espaço vibrando a cauda enorme,
       Ferra os dentes no chão...
    Nas rubras roscas estortega as matas....
    Que espadanam o sangue das cascatas
       Do roto coração!...

    O incêndio — leão ruivo, ensangüentado,
    A juba, a crina atira desgrenhado
       Aos pampeiros dos céus!...
    Travou-se o pugilato e o cedro tomba...
    Queimado..., retorcendo na hecatomba
       Os braços para Deus.

    A queimada! A queimada é uma fornalha!
    A irara — pula; c cascavel — chocalha...
        Raiva, espuma o tapir!
    ... E às vezes sobre o cume de um rochedo
    A corça e o tigre — náufragos do medo —
        Vão trêmulos se unir!

    Então passa-se ali um drama augusto...
    N'último ramo do pau-d'arco adusto
       O jaguar se abrigou...
    Mas rubro é o céu... Recresce o fogo em mares...
    E após... tombam as selvas seculares...
       E tudo se acabou!...


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua Sáb 12 Sep 2020, 14:01

    O São Francisco


    LONGE, bem longe, dos cantões bravios,
    Abrindo em alas os barrancos fundos;
    Dourando o colo aos perenais estios,
    Que o sol atira nos modernos mundos;
    Por entre a grita dos ferais gentios,
    Que acampam sob os palmeirais profundos;
    Do São Francisco a soberana vaga
    Léguas e léguas triunfante alaga!

    Antemanhã, sob o sendal da bruma,
    Ele vagia na vertente ainda,
    — Linfa amorosa — co'a nitente espuma
    Orlava o seio da Mineira linda;
    Ao meio-dia, quando o solo fuma
    Ao bafo morto de lia calma infinda,
    Viram-no aos beijos, delamber demente
    As rijas formas da cabocla ardente.

    Insano amante! Não lhe mata o fogo
    O deleite da indígena lasciva...
    Vem — à busca talvez de desafogo
    Bater à porta da Baiana altiva.
    Nas verdes canas o gemente rogo
    Ouve-lhe à tarde a tabaroa esquiva...
    E talvez por magia à luz da lua
    Mole a criança na caudal flutua.

    Rio soberbo! Tuas águas turvas
    Por isso descem lentas, peregrinas...
    Adormeces ao pé das palmas curvas
    Ao músico chorar das casuarinas!
    Os poldros soltos — retesando as curvas, —
    Ao galope agitando as longas crinas,
    Rasgam alegres — relinchando aos ventos —
    De tua vaga os turbilhões barrentos.

    E tu desces, ó Nilo brasileiro,
    As largas ipueiras alagando,
    E das aves o coro alvissareiro
    Vai nas balças teu hino modilhando!
    Como pontes aéreas — do coqueiro
    Os cipós escarlates se atirando,
    De grinaldas em flor tecendo a arcada
    São arcos triunfais de tua estrada!...


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua Sáb 12 Sep 2020, 14:02

    Queres flores? Queres cantos?


    QUERES FLORES? Queres cantos?
    Como hei de dar-tos se prantos
    Só tenho no peito meu?
    Queres luzes e harmonias?...
    Debalde... só agonias
    Meu alaúde gemeu...


    Donzela! Fora loucura
    Pedir ao tufão doçura,
    Ao morto alegre canção,
    Buscar a flor dos quiosques
    Entre os ciprestes, os bosques
    Que ensombram funéreo chão.


    Porém escuta um conselho...
    Pede a Veneza um espelho...
    Mira o teu rosto... e verás
    Um desses quadros tão belos
    Que — homens não sabem fazê-los,
    Que — dous assim Deus não faz.


    Na tua boca formosa
    Verás uma linda rosa
    Meio fechada a sorrir,
    E, como gotas nitentes,
    As pérolas de teus dentes
    No seio da flor luzir.


    O perfume do Oriente
    — Quando rezas inocente —
    Se embala nos lábios teus.
    E no teu seio, se treme,
    Tens a Poesia, se geme,
    Tens a harmonia dos Céus.


    Queres ver o Paraíso?
    Descerra os lábios... Um riso
    Vem-nos o Éden mostrar...
    Canta!... E aos hinos sagrados
    Verás no Céu debruçados
    Os astros pra te escutar.


    Tens a noite nas madeixas
    Onde a brisa em temas queixas
    Geme... morre de languor.
    São mais que os astros — brilhantes
    Os teus olhos fascinantes,
    — Lindas estrofes de amor...


    E ainda pedes-me um canto?!...
    Quebra a lira o Bardo santo
    Ao ver um sorriso teu...
    Rasga a tela Rafael...
    Fídias estala o cinzel...
    Deus treme de amor no Céu.


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 12 Sep 2020, 14:04



    Poeta

     
    Meditar é trabalhar. Pensar é obrar.
    O olhar fito no céu é uma obra.
    V. HUGO.

    L'univers est ]e temple, et Ia serre rautel.
    Les cieux sont le dbme; et les astres vans nombre
    Sont les sacrés flambeaux pour ce temps aliurptés.
    LAMARTINE.


    POETA, às horas mortas que o cálice azulado
    — Da etérea flor — a noite — debruça-se p'ra o mar,
    E a pálida sonâmbula, cumprindo o eterno fado,
    As gazas transparentes espalha do luar,


    Eu vi-te ao clarão, trêmulo dos astros lá n'altura
    Pela janela aberta às virações azuis,
    — A amante sobre o peito sedento de ternura,
    A mente no infinito sedenta só de luz.


    Perto do candelabro teu Lamartine terno
    À tua espera abria as folhas de cetim;
    Mas tu lias no livro, onde escrevera o Eterno
    Letras — que são estrelas — no céu — folha sem fim


    Cismavas... de astro em astro teu pensamento errava
    Rasgando o reposteiro da seda azul dos céus:
    E teu ouvido atento... em êxtase escutava
    Nas virações da noite o respirar de Deus.


    O oceano de tua alma, do crânio transbordando,
    Enchia a natureza de sentimento e amor,
    As noites eram ninhos de amantes s'ocultando,
    O monte — um braço erguido em busca do Senhor.


    Nas selvas, nas neblinas o olhar visionário
    Via s'erguer fantasmas aqui... ali... além,
    P'ra ti era o cipreste — o dedo mortuário
    Com que o sepulcro aponta no espaço ao longe... alguém


    No cedro pensativo, que a sós no descampado
    Geme e goteja orvalhos ao sopro do tufão,
    Vias um triste velho — sozinho, desprezado
    Molhando a barba em prantos co'a fronte para o chão.


    Aqui — ondina louca — vogavas sobre os mares —
    Ali — silfo ligeiro — na murta ias dormir,
    Anjo — de algum cometa, que vaga pelos ares,
    Na cabeleira fúlgida brincavas a sorrir.


    Sublime panteísta, que amor em ti resumes,
    Sentes a alma de Deus na criação brilhar!
    Perfume — tu subias, de um anjo entre os perfumes,
    Ave do céu — nas nuvens teu ninho ias buscar.


    Canta, poeta, os hinos, com que o silêncio acordas,
    A natureza — é uma harpa presa nas mãos de Deus.
    O mundo passa... e mira o brilho dessas cordas...
    E o hino?... O hino apenas chega aos ouvidos teus.


    Todo o universo é um templo — o céu a cúpula imensa,
    Os astros — lampas de ouro no espaço a cintilar,
    A ventania — é o órgão que enche a nave extensa,
    Tu és o sacerdote da terra — imenso altar.


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua Sáb 12 Sep 2020, 14:06

    Horas de saudade


    TUDO VEM me lembrar que tu fugiste,
    Tudo que me rodeia de ti fala.
    Inda a almofada, em que pousaste a fronte
    O teu perfume predileto exala


    No piano saudoso, à tua espera,
    Dormem sono de morte as harmonias.
    E a valsa entreaberta mostra a frase
    A doce frase qu'inda há pouco lias.


    As horas passam longas, sonolentas...
    Desce a tarde no carro vaporoso...
    D'Ave-Maria o sino, que soluça,
    É por ti que soluça mais queixoso.


    E não Vens te sentar perto, bem perto
    Nem derramas ao vento da tardinha,
    A caçoula de notas rutilantes
    Que tua alma entornava sobre a minha.


    E, quando uma tristeza irresistível
    Mais fundo cava-me um abismo n'alma,
    Como a harpa de Davi teu riso santo
    Meu acerbo sofrer já não acalma.


    É que tudo me lembra que fugiste.
    Tudo que me rodeia de ti fala...
    Como o cristal da essência do oriente
    Mesmo vazio a sândalo trescala.


    No ramo curvo o ninho abandonado
    Relembra o pipilar do passarinho.
    Foi-se a festa de amores e de afagos...
    Eras — ave do céu... minh'alma — o ninho!


    Por onde trilhas — um perfume expande-se.
    Há ritmo e cadência no teu passo!
    És como a estrela, que transpondo as sombras,
    Deixa um rastro de luz no azul do espaço ...


    E teu rastro de amor guarda minh'alma,
    Estrela que fugiste aos meus anelos!
    Que levaste-me a vida entrelaçada
    Na sombra sideral de teus cabelos! ...

     


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    Mensaje por Maria Lua Dom 13 Sep 2020, 03:52

    La flor del lirio de celeste albura

    Busca de la luciérnaga un halago.

    El cisne quiere en su agitar de plumas

    La perla de los lagos.



    ¡Es tarde! La paloma del desierto

    Su nido hace en la fronda perfumada ...

    ¡Paloma del amor! Cuida tus alas

    De los boscajes yertos.


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    Mensaje por Maria Lua Mar 13 Oct 2020, 03:29

    Obra




    • [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo] Espumas Flutuantes.

    • Os escravos.

    • Gonzaga ou a Revolução de Minas.

    • Cachoeira de Paulo Afonso.

    • Vozes D'África.

    • O Navio Negreiro.



    Escribió además de poesía, sobre temas históricos.


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 14 Nov 2020, 04:40

    Pelas sombras
     
    Ao Padre Francisco de Paula
    C'est que je suis frappé du doute.
    C'est que l'étoile de la foi
    N'éclaire plus ma noire route.
    Tout est abime autour de moi!
    La Morvonnais


    Senhor! A noite é brava... a praia é toda escolhos.
    Ladram na escuridão das Circes as cadelas...
    As lívidas marés atiram, a meus olhos,
    Cadáveres, que riem à face das estrelas!


    Da garça do oceano as ensopadas penas
    O mórbido suor enxugam-me da testa.
    Na aresta do rochedo o pé se firma apenas...
    No entanto ouço do abismo a rugidora festa! ...


    Nas orlas de meu manto o vendaval s'enrola. . .
    Como invisível destra açoita as faces minhas...
    Enquanto que eu tropeço... um grito ao longe rola...
    "Quem foi?" perguntam rindo as solidões marinhas.


    Senhor! Um facho ao menos empresta ao caminhante.
    A treva me assoberba... O' Deus! dá-me um clarão!


    ————


    E uma Voz respondeu nas sombras triunfante:
    "Acende, ó Viajor! — o facho da Razão!"


    ...........................................................................


    Senhor! Ao pé do lar, na quietação, na calma
    Pode a flama subir brilhante, loura, eterna;
    Mas quando os vendavais, rugindo, passam n'alma,
    Quem pode resguardar a trêmula lanterna?


    Torcida... desgrenhada aos dedos da lufada
    Bateu-me contra o rosto... e se abismou na treva,
    Eu vi-a vacilar... e minha mão queimada
    A lâmpada sem luz embalde ao raio eleva.


    Quem fez a gruta — escura, o pirilampo cria!
    Quem fez a noite — azul, inventa a estrela clara!
    Na fronte do oceano — acende uma ardentia!
    Com o floco do Santelmo — a tempestade aclara!


    Mas ai! Que a treva interna — a dúvida constante —
    Deixaste assoberbar-me em funda escuridão! ...
    E uma Voz respondeu nas sombras triunfante:
    "Acende, ó Viajor! a Fé no coração!..."


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