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    Mensaje por Maria Lua Lun 15 Mar 2021, 09:34

    Conversa telefônica’, uma crônica fabulosa de Clarice Lispector


    Uma grande amiga minha se deu ao trabalho de ir anotando numa folha de papel o que eu lhe dizia numa conversa telefônica.

    Deu-me depois a folha e eu me estranhei, reconhecendo-me ao mesmo tempo. Estava escrito: “Eu às vezes tenho a sensação de que estou procurando às cegas uma coisa; eu quero continuar, eu me sinto obrigada a continuar.

    Sinto até uma certa coragem de fazê-lo. O meu temor é de que seja tudo muito novo para mim, que eu talvez possa encontrar o que não quero.

    Essa coragem eu teria, mas o preço é muito alto, o preço é muito caro, e eu estou cansada. Sempre paguei e de repente não quero mais.

    Sinto que tenho que ir para um lado ou para outro. Ou para uma desistência: levar uma vida mais humilde de espírito, ou então não sei em que ramo a desistência, não sei em que lugar encontrar a tarefa, a doçura, a coisa.

    Estou viciada em viver nessa extrema intensidade.

    A hora de escrever é o reflexo de uma situação toda minha. É quando sinto o maior desamparo.”



    — Clarice Lispector, no livro “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999


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    Mensaje por Maria Lua Lun 15 Mar 2021, 09:40

    ‘Não escrevo para agradar ninguém’ – Clarice Lispector

    Clarice Lispector, a escritora inqualificável no estilo e na forma, dona de uma personalidade enigmática e de uma linguagem poética e inovadora, autora foi reconhecida como uma das mais importantes literatas do século XX e forjou para si uma lenda que segue atual
    – por Alberto López/El País

    “Não escrevo para agradar ninguém”, repetiu Clarice Lispector inúmeras vezes, sempre que alguém se queixava de não entender o que ela queria dizer em suas obras. Jamais se importou com o que pensariam, especialmente depois que um jornal de Pernambuco rejeitou os contos que, ainda menina, enviava à seção de ficção infantil da publicação. Porque, enquanto as outras crianças enviavam textos narrativos, os seus continham apenas “sensações”.

    Sempre teve certeza de que se dedicaria a escrever, e de fato atuou não só como escritora, mas também como jornalista, escrevendo artigos de opinião, de cozinha e de moda. Lispector desejava ser considerada uma mulher normal, e aparentemente era, como mãe de dois filhos, esposa e cidadã de classe média. Entretanto, destacava-se em tudo, porque não era normal em nada do que fazia, e sim uma artista genial, impossível de enquadrar, reconhecida em seus círculos íntimos e nos ambientes literários do Brasil, mas quase nada no exterior, apesar de ter viajado muito durante seu pouco mais de meio século de vida.








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    Mensaje por Maria Lua Lun 15 Mar 2021, 09:41

    Clarice Lispector é considerada, junto com Guimarães Rosa, a grande escritora brasileira da segunda metade do século XX, graças ao seu estilo, entre a poesia e a prosa. Uma marca que enchia os detalhes cotidianos de espiritualidade e que se caracterizava por utilizar a primeira pessoa na narrativa. Não se parecia com ninguém, e sua visão não recorda nenhum movimento, embora pertença à terceira fase do modernismo brasileiro, da chamada Geração de 45.
    haya Pinkhasovna Lispector foi o nome que recebeu ao nascer, em 10 de dezembro de 1920, na localidade ucraniana de Chetchelnik. De origem judaica, foi a terceira filha de Pinkhas e Mania. Seu nascimento motivou uma pausa no caminho de fuga da família numa época de fome, caos e perseguição racial. Seu avô foi assassinado, sua mãe foi estuprada, e seu pai foi exilado, sem dinheiro, para o outro lado do mundo.

    No ano seguinte ao nascimento de Clarice, toda a família fugiu dos pogroms antissemitas, primeiro para a Moldávia e Romênia, e mais tarde, em 1922, para Maceió, onde alguns parentes já estavam. Ao chegar ao Brasil, todos adotaram nomes portugueses: Pinkhas se tornou Pedro, Mania virou Marieta, e Chaya recebeu seu novo nome de Clarice.

    A mãe dela, que tinha sido estuprada durante a Primeira Guerra Mundial e contraíra sífilis, morreu 10 anos depois. Havia no Leste Europeu a crença popular de que uma gravidez poderia curar uma mulher afetada por essa doença venérea, mas não foi o caso. Clarice nasceu desse afã de salvá-la, e desde muito pequena soube da sua origem, daí o sentimento de culpa ter marcado também sua vida e sua criatividade como escritora.
    No Brasil, seu pai, um homem inteligente e liberal, sobrevivia vendendo roupas e mal conseguia sustentar a família. Mas ele estava decidido a mostrar ao mundo quem eram suas filhas. Quando Clarice tinha cinco anos, a família se mudou para o Recife, e aos 10 foi para o Rio. Graças a esse empenho do chefe da família, Clarice continuou sua educação até muito além do que era habitual mesmo para as meninas economicamente mais favorecidas, entrando num dos redutos da elite, a Faculdade de Direito da Universidade do Brasil. Ali, na escola de leis, não havia judeus, e só três mulheres.
    Mas seus estudos de Direito deixaram poucas marcas na futura escritora, porque seu sonho ela perseguia nas redações dos jornais da então capital brasileira, onde sua beleza e seu brilhantismo já deslumbravam, com seus traços asiáticos, as maçãs do rosto salientes e os olhos um pouco rasgados. Era, além disso, uma jovem culta, que conhecia e lia com assiduidade os autores nacionais e estrangeiros de maior relevância, como Machado de Assis, Rachel de Queiroz, Eça de Queiroz, Jorge Amado e Fiodor Dostoievski.

    Em 25 de maio de 1940 publicou sua primeira história conhecida, O Triunfo. Três meses depois, seu pai morreu, com apenas 55 anos, de modo que antes dos 20 anos Clarice já era órfã. Aos 21 anos publicou Perto do Coração Selvagem, obra que escrevera aos 19 e que lhe valeu o prêmio Graça Aranha de melhor romance.

    Em 1943, Clarice Lispector se casou com um homem católico, algo raro naquele momento no Brasil. Tratava-se do diplomata Maury Gurgel Valente, que ela conheceu enquanto estudava Direito. No final daquele ano, o casal começou a viajar, por isso em pouco tempo ela não só tinha deixado a sua família, a sua comunidade étnica e seu país, mas também sua profissão, o jornalismo, no qual tinha uma reputação em alta.
    Durante 15 anos, até que se separaram, em 1959, Clarice levou uma vida tediosa de esposa perfeita, mas sempre saudosa do Brasil. Sua primeira viagem foi a Nápoles em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, como voluntária em hospitais para ajudar pracinhas brasileiros feridos. Em 1946 publicou seu segundo romance, O Lustre, e nos cinco anos seguintes a escritora viajou inumeráveis vezes da Inglaterra a Paris, até que, finalmente, a família se instalou em Berna, onde nasceu seu filho, Pedro.
    Clarice nunca encontrou seu lugar fora do Brasil e era propensa à depressão, mas na verdade foi graças a seu marido que conseguiu escrever, já que sua origem imigrante a tornou menos permeável às ideias da sociedade brasileira, e seu casamento foi um passo à frente em termos econômicos, porque nunca foi rica, mas tampouco teve que trabalhar em nada além de escrever. Era esposa e mãe, mas tinha ajuda em tempo integral para se dedicar a escrever, e podia fazê-lo num cômodo só para si.

    Os temas tradicionais e cotidianos que tinham a ver com as mulheres, a maternidade, o cuidado com casa e os filhos – tudo isso já havia sido escrito antes, mas ninguém escrevera como ela. Talvez essa necessidade de ir além tenha significado para Clarice um novo idioma, com uma gramática estranha, que talvez possa ser atribuída à influência do misticismo judaico que seu pai lhe ensinou. Mas outra parte de sua estranheza no estilo e na forma podem decorrer da sua necessidade de inventar e transmitir sensações além dos fatos. Quem lê suas histórias do começo ao fim se vê afetado por uma busca linguística incessante e uma instabilidade gramatical que impedem uma leitura muito veloz e que às até dificulta uma compreensão imediata.
    Em 1949 Clarice Lispector publica A Cidade Sitiada. Começa a escrever contos, e em 1952 publica Alguns Contos. Viaja com seu marido aos Estados Unidos, onde nasce seu segundo filho, Paulo, em 1953. Um ano depois, em 1954, saiu a primeira tradução de um livro dela, Perto do Coração Selvagem, em francês, com capa de Henri Matisse.

    Em 1959, separou-se do marido diplomata e retornou ao Rio de Janeiro, onde retomou a atividade jornalística para conseguir o dinheiro necessário para viver de maneira independente. Um ano depois publicou Laços de Família, um livro de contos aplaudido pela crítica, e um ano mais tarde o romance A Maçã no Escuro, depois levado ao teatro. Em 1963 publicou aquela que é considerada sua maior obra, A Paixão Segundo G.H., escrita em poucos meses.
    A Paixão Segundo G.H. relata a vivência de uma mulher que um dia encontra uma barata no armário do quarto da empregada. A protagonista não pode evitar ficar paralisada pela contemplação desse inseto, que está preso na porta e que, apesar da repulsa que lhe causa, ela continua olhando obsessivamente, até fazer dessa experiência o estopim de uma renovação vital.

    No final da década de 60, Clarice publicou no Jornal do Brasil alguns artigos mais pessoais nos quais se retratava de maneira íntima e que fizeram dela um nome popular, a tal ponto que seu cão Ulisses, que aparecia nesses relatos, se tornou uma lenda na cidade, como um dos poucos elos com a realidade brasileira, já que ela praticamente não falava de temas locais ou nacionais.

    Mas a escritora continuou sendo um enigma inexpugnável, que respondia com monossílabos à imprensa ou não se apresentava nas entrevistas, o que também aumentou sua lenda de artista e quase de mito. Como se sua ansiedade e tendência à depressão fossem pouco, um fato intensificou essa parte de sua personalidade. Em 1966, a escritora dormiu com um cigarro aceso, e seu quarto ficou destruído. Ela sofreu queimaduras em grande parte de seu corpo e passou vários meses internada. Sua mão direita, muito afetada, quase teve que ser amputada e jamais recuperou a mobilidade anterior. O acidente afetou seu estado de ânimo, e as cicatrizes e marcas no corpo lhe causaram contínuas depressões.

    Entretanto, Clarice já tinha um reconhecimento global por sua trajetória, razão pela qual entre o final dos anos 60 e começo dos 70 ela se dedicou a publicar livros infantis e algumas traduções de obras estrangeiras, que reuniu com palestras e conferências em várias universidades do Brasil. Seu último livro, A Hora da Estrela, é um volume que escreveu no verso de cheques e em maços de cigarro. Tem menos de 100 páginas e fala de uma moça que, assim como ela anos antes, migra do Nordeste para o Rio.
    Clarice Lispector morreu na capital fluminense em 9 de dezembro de 1977, na véspera de completar 57 anos, vítima de um câncer. Sua despedida no hospital, a uma enfermeira, foi: “Morre meu personagem!”, talvez a melhor definição de sua literatura. Foi enterrada dois dias depois no cemitério do Caju, pelo rito judaico ortodoxo, envolta em linho branco. Sua lápide, simples, leva seu nome hebraico: Chaya Bat Pinkhas, que significa “Chaya, filha de Pinkhas”.

    Seu estranho nome estrangeiro, que sempre tinha sido um tema de especulação constante durante sua vida, virou lenda após sua morte. Os críticos haviam sugerido que até poderia ser um pseudônimo, enquanto outros se perguntaram em mais de uma ocasião se era um homem. No fundo, tudo reflete a inquietação de que ela era algo diferente do que parecia e do que era conhecido até então.

    Nas 85 histórias que escreveu, Clarice Lispector sempre evocou, em primeiro lugar, a própria escritora, ela mesma. Desde sua primeira história, publicada aos 19 anos, até a última, encontrada depois de sua morte, há uma vida de experimentação através de diferentes estilos e experiências que nem todos entendem: até mesmo alguns brasileiros cultos se viram desconcertados pelo ardor que inspira, sem serem capazes de compreender o que escreve.
    Mas a arte de Clarice Lispector convida sempre a querer conhecer a mulher, e através de suas histórias se pode rastrear sua vida artística, da promessa da adolescência e da maturidade assegurada, até chegar à proximidade inexorável da morte.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 15 Mar 2021, 09:53

    Insônia infeliz e feliz – Clarice Lispector


    De repente os olhos bem abertos. E a escuridão toda escura. Deve ser noite alta. Acendo a luz da cabeceira e para o meu desespero são duas horas da noite. E a cabeça clara e lúcida. Ainda arranjarei alguém igual a quem eu possa telefonar às duas da noite e que não me maldiga. Quem?

    Quem sofre de insônia? E as horas não passam. Saio da cama, tomo café. E ainda por cima com um desses horríveis substitutos do açúcar porque Dr. José Carlos Cabral de Almeida, dietista, acha que preciso perder os quatro quilos que aumentei com a superalimentação depois do incêndio. E o que se passa na luz acesa da sala? Pensa-se uma escuridão clara. Não, não se pensa. Sente-se.

    Sente-se uma coisa que só tem um nome: solidão. Ler? Jamais. Escrever? Jamais. Passa-se um tempo, olha-se o relógio, quem sabe são cinco horas. Nem quatro chegaram. Quem estará acordado agora? E nem posso pedir que me telefonem no meio da noite pois posso estar dormindo e não perdoar. Tomar uma pílula para dormir? Mas e o vício que nos espreita? Ninguém me perdoaria o vício. Então fico sentada na sala, sentindo. Sentindo o quê? O nada. E o telefone à mão.

    Mas quantas vezes a insônia é um dom. De repente acordar no meio da noite e ter essa coisa rara: solidão. Quase nenhum ruído. Só o das ondas do mar batendo na praia. E tomo café com gosto, toda sozinha no mundo. Ninguém me interrompe o nada. É um nada a um tempo vazio e rico. E o telefone mudo, sem aquele toque súbito que sobressalta. Depois vai amanhecendo.

    As nuvens se clareando sob um sol às vezes pálido como uma lua, às vezes de fogo puro. Vou ao terraço e sou talvez a primeira do dia a ver a espuma branca do mar. O mar é meu, o sol é meu, a terra é minha. E sinto-me feliz por nada, por tudo. Até que, como o sol subindo, a casa vai acordando e há o reencontro com meus filhos sonolentos.



    — Clarice Lispector, no livro “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999


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    Mensaje por Maria Lua Lun 15 Mar 2021, 09:55

    Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O “amar os outros” é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca."


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    Mensaje por Maria Lua Miér 24 Mar 2021, 10:15

    A PARTIDA DO TREM

    A partida era na Central com seu relógio enorme, o maior do mundo. Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa. Chega-se a um certo ponto – e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas para o caminho.

    Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:

    – A senhora deseja trocar de lugar comigo?

    Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou a mão pelo broche, tirou-a, levou-a ao chapéu de feltro com uma rosa de pano, retirou-a. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini:

    – É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar?

    Angela Pralini disse que não, surpreendeu-se, a velha se surpreendeu pelo mesmo motivo: não se recebe favor de uma velhinha. Ela sorriu um pouco demais e os lábios cobertos de talco se partiram em sulcos secos: ela estava encantada. E um pouco agitada:
    – Que amabilidade a sua, disse-lhe, que gentileza.

    Houve um movimento de perturbação porque Angela Pralini riu também, e a velha continuava a rir, mostrando a dentadura bem areada. Deu discretamente um puxão para baixo na cinta que a apertava demais.

    – Que amabilidade, repetiu.

    Recompôs-se um pouco depressa, cruzou as mãos sobre a bolsa que continha tudo o que se pudesse imaginar. As rugas, enquanto ela rira, haviam tomado um sentido, pensou Angela. Agora estavam de novo incompreensíveis, superpostas num rosto de novo imodelável. Mas Angela tirara-lhe a tranquilidade. Já vira muita moça nervosa que se dizia: se eu rir um pouco mais estrago tudo, vai ser ridículo, tenho que parar – e era impossível. A situação era muito triste. Com imensa piedade, Angela viu a cruel verruga no queixo, verruga da qual saía um pelo preto e espetado. Mas Angela lhe tirara a tranquilidade. Via-se que sorriria a qualquer momento: Angela pusera a velha nas pontas dos pés. Agora ela era uma dessas velhinhas que parecem pensar que estão sempre atrasadas, que passaram da hora. Daí a um segundo não se conteve, ergueu-se e espiou pela sua janela, como se fosse impossível manter-se sentada.

    – A senhora está querendo levantar o vidro? disse um rapaz que ouvia no rádio de pilha Haendel.

    – Ah! exclamou ela aterrorizada.
    Oh não!, pensou Angela, estava se estragando tudo, o rapaz não deveria ter dito isso, era demais, não se devia tocá-la de novo. Porque a velha, quase a ponto de perder a atitude de que vivia, quase a ponto de perder certa amargura, tremia como música de cravo entre o sorriso e o extremo encanto:

    – Não, não, não, disse ela com falsa autoridade, de modo algum, obrigada, só queria olhar.
    Sentou-se imediatamente como se a delicadeza do rapaz e da moça a vigiasse. A velha, antes de subir no trem, persignou-se com três cruzes no coração, beijando discretamente as pontas dos dedos. Estava de vestido preto com gola de renda verdadeira e um camafeu de ouro puro. Na escura mão esquerda as duas alianças grossas de viúva, grossas como não se faziam mais. Ouvia-se do outro vagão o grupo de bandeirantes que cantavam o Brasil agudamente. Felizmente no outro vagão. A música do rádio do rapaz entrecruzava-se com a música de outro rapaz: estava ouvindo Edith Piaf que cantava “J’attendrai”.
    Fora então que o trem de repente deu um solavanco e as rodas se puseram em movimento. Começara a partida. A velha disse baixinho: Ai Jesus! Ela se banhava na calda de Jesus. Amém. Pelo rádio de pilha de uma senhora soube-se que eram seis e trinta da manhã, manhã friagenta. A velha pensou: o Brasil melhorava a sinalização de suas estradas. Um tal de Kissinger parecia mandar no mundo.

    Ninguém sabe onde estou, pensou Angela Pralini, e isso assustava-a um pouco, ela era uma fugida.
    – Meu nome é Maria Rita Alvarenga Chagas Souza Melo – Alvarenga Chagas era o sobrenome do meu pai, acrescentou em pedido de desculpa por ter que falar tantas palavras só em dizer seu nome. Chagas, acrescentou com modéstia, eram as Chagas de Cristo. Mas pode me chamar de dona Maria Ritinha. E o seu nome?, a sua graça qual é?
    – Meu nome é Angela Pralini. Vou passar seis meses na fazenda de meus tios. E a senhora?
    – Ah, eu vou para a fazenda de meu filho, vou ficar lá para o resto da vida, minha filha me trouxe até o trem e meu filho me espera com a charrete na estação. Sou como um embrulho que se entrega de mão em mão.
    Os tios de Angela não tinham filhos e tratavam-na como filha. Angela lembrou-se do bilhete que deixara para Eduardo: “Não me procure. Vou desaparecer de você para sempre. Te amo como nunca. Adeus. Tua Angela não foi mais tua porque você não quis.”
    Ficaram em silêncio. Angela Pralini entregou-se ao ruído cadenciado do trem. Dona Maria Rita olhou de novo para o próprio anel de brilhantes e pérola no seu dedo, alisou o camafeu de ouro: “Sou velha mas sou rica, mais rica que todos aqui no vagão. Sou rica, sou rica.” Espiou o relógio, mais para ver a grossa placa de ouro do que para ver as horas. “Sou muito rica, não sou uma velha qualquer.” Mas sabia, ah bem sabia que era uma velhinha qualquer, uma velhinha assustada pelas menores coisas. Lembrou-se de si, o dia inteiro sozinha na sua cadeira de balanço, sozinha com os criados, enquanto a filha “public relations” passava o dia fora, só chegava às oito da noite, e nem sequer lhe dava um beijo. Acordara-se neste dia às cinco da manhã, tudo ainda escuro, fazia frio.

    Depois da delicadeza do rapaz estava extraordinariamente agitada e sorridente. Parecia enfraquecida. No riso ela se revelava uma dessas velhinhas cheias de dentes. A crueldade deslocada dos dentes. O rapaz já se tinha afastado. Ela abria e fechava as pálpebras. De repente bateu com os dedos na perna de Angela, com extrema rapidez e suavidade:
    – Hoje todos estão verdadeiramente, mas verdadeiramente amáveis! que gentileza, que gentileza
    Angela sorriu. A velha ficou sorrindo sem tirar os olhos profundos e vazios dos olhos da moça. Vamos, vamos, chicoteavam-na de todos os lados, e ela espiava para cá e para lá como se fosse escolher. Vamos, vamos! empurravam-na rindo de todos os lados, e ela se sacudia ridente, delicada.

    – Como todos são amáveis neste trem, disse.

    Subitamente procurou se recompor, pigarreou falsamente, se conteve toda. Devia ser difícil. Receava ter chegado a um ponto de não poder interromper-se. Manteve-se em severidade e tremor, fechou os lábios sobre os inúmeros dentes. Mas não podia enganar a ninguém: seu rosto tinha uma tal esperança que perturbava os olhos que a viam. Ela já não dependia de ninguém: uma vez que a tinham tocado, podia-se ir embora – ela sozinha se irradiava magra, alta. Ainda quereria dizer qualquer coisa e já preparava um gesto social de cabeça, cheio de graça prévia. Angela se perguntava se ela saberia se exprimir. Ela pareceu pensar, pensar, e achar com ternura um pensamento já todo feito onde mal e mal podia aconchegar seu sentimento. Disse com cuidado e sabedoria de ancião, como se precisasse tomar esse ar para falar como velha:
    – A juventude. A juventude amável.

    Riu um pouco fingida. Ia ter uma crise de nervos? pensou Angela Pralini. Porque estava tão maravilhosa. Mas pigarreou de novo com austeridade, deu no banco uma batidinha com as pontas dos dedos como se ordenasse com urgência à orquestra uma nova partitura. Abriu a bolsa, tirou um quadradinho de jornal, desdobrou-o, desdobrou-o, até torná-lo um jornal grande e normal, datado de três dias atrás – Angela viu pela data. Pôs-se a ler.

    Angela tinha perdido sete quilos. Na fazenda iria comer que não era vida: tutu de feijão e couve mineira, para recuperar os preciosos quilos perdidos. Estava magra assim por tentar acompanhar o raciocínio brilhante e ininterrupto de Eduardo: bebia café sem açúcar sem parar para se manter acordada. Angela Pralini tinha os seios muitos bonitos, eram seu ponto forte. Tinha as orelhas em ponta e uma boca bonita arredondada, beijável. Os olhos com olheiras profundas. Ela aproveitava o apito gritado do trem para que ele fosse o seu próprio grito. Era um berro agudo, o seu, só que virado para dentro. Era a mulher que mais bebia uísque no grupo de Eduardo. Aguentava de 6 a 7 de uma vez, mantendo uma lucidez de terror. Na fazenda iria beber leite grosso de vaca. Uma coisa unia a velha a Angela: ambas iam ser recebidas de braços abertos, mas uma não sabia isso da outra. Angela de súbito estremeceu: quem daria o último dia de vermífugo ao cachorro. Ah, Ulisses, pensou ela para o cão, não te abandonei por querer, é que eu precisava fugir de Eduardo, antes que ele me arruinasse totalmente com sua lucidez: lucidez que iluminava demais e crestava tudo. Angela sabia que os tios tinham remédio contra picada de cobra: pretendia entrar em cheio na floresta espessa e verdejante, com botas altas e besuntada de remédio contra picada de mosquito. Como se saísse da estrada Transamazônica, a exploradora. Que bichos encontraria? Era melhor levar uma espingarda, comida e água. E uma bússola. Desde que descobrira – mas descobrira realmente com um tom espantado – que ia morrer um dia, então não teve mais medo da vida, e, por causa da morte, tinha direitos totais: arriscava tudo. Depois de ter tido duas uniões que haviam terminado em nada, esta terceira que terminava em amor-adoração, cortada pela fatalidade do desejo de sobreviver. Eduardo a transformara: fizera-a ter olhos para dentro. Mas agora ela via para fora. Via através da janela os seios da terra, em montanhas. Existem passarinhos, Eduardo! existem nuvens, Eduardo! existe um mundo de cavalos e cavalas e vacas, Eduardo, e quando eu era uma menina cavalgava em corrida num cavalo nu, sem sela! Eu estou fugindo do meu suicídio, Eduardo. Desculpe, Eduardo, mas não quero morrer. Quero ser fresca e rara como uma romã.
    A velha fingia que lia jornal. Mas pensava: seu mundo era um suspiro. Não queria que os outros a acreditassem abandonada. Deus me deu saúde para eu viajar só. Também sou boa de cabeça, não falo sozinha e eu mesma é que tomo banho todos os dias. Cheirava a água de rosas murchas e maceradas, era o seu perfume idoso e mofado. Ter um ritmo respiratório, pensou Angela da velha, era a coisa mais bela que ficara desde que dona Maria Rita nascera. Era a vida.

    Dona Maria Rita pensava: depois de velha começara a desaparecer para os outros, só a viam de relance. Velhice: momento supremo. Estava alheia à estratégia geral do mundo e a sua própria era parca. Perdera os objetivos de maior alcance. Ela já era o futuro.
    Angela pensou: acho que se eu encontrasse a verdade, não poderia pensá-la. Seria impronunciável mentalmente.

    A velha sempre fora um pouco vazia, bem, um pouquinho. Morte? era esquisito, não fazia parte dos dias. E mesmo “não existir” não existia, era impossível não-existir. Não existir não cabia na nossa vida diária. A filha não era carinhosa. Em compensação o filho era tão carinhoso, bonachão, meio gordo. A filha era sequinha como seus beijos rápidos, a “public relations”. A velha tinha certa preguiça de viver. A monotonia, porém, era o que a sustentava.


    Continuará...

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    Mensaje por Maria Lua Dom 28 Mar 2021, 11:47

    Estar viva —sintió— tendría, de ahora en adelante, que ser su motivo y su tema. Con curiosidad tierna, envuelta por el olor de jazmín, atenta al hambre de existir, y atenta a la propia atención, parecía estar comiendo delicadamente viva lo que era muy suyo. El hambre de vivir, Dios mío. Hasta qué punto ella estaba en la miseria de la necesidad: cambiaría una eternidad de después de la muerte por la eternidad mientras estaba viva.



    Aprendizaje o el libro de los placeres.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 05 Abr 2021, 09:13

    Fotografío cada instante. Profundizo en las palabras como si pintase, más que un objeto, su sombra. No quiero preguntar por qué se puede preguntar siempre por qué y seguir siempre sin respuesta: ¿consigo entregarme al expectante silencio que sigue a una pregunta sin respuesta? Aunque adivine que en algún lugar o en algún tiempo existe la gran respuesta para mí.


    Fragmento de Agua Viva


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    Mensaje por Maria Lua Mar 13 Abr 2021, 14:55

    Quiero tener acceso a mí misma en el momento en que quiera, como quien abre las puertas y entra. No quiero ser víctima del azar liberador. Quiero tener yo misma la llave del mundo y transitarlo como quien transita de la vida a la muerte y de la muerte a la vida.
    En la hora de mi muerte ¿qué haré? Enseñadme cómo se muere. Yo no lo sé.

    Un soplo de vida.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 19 Abr 2021, 07:19

    Un pintor



    La sorpresa de ver que el pintor empieza por no temer
    a la simetría. Es necesaria experiencia o valor para revalorizarla, cuando fácilmente se puede imitar lo «falsamente
    asimétrico», una de las originalidades más comunes. La
    simetría es concentrada, lograda. Pero no dogmática. Es
    también vacilante, como la de los que han pasado por la
    esperanza de que dos asimetrías se encuentren en la simetría. Una tercera solución: la síntesis. De ahí tal vez ese aire
    despojado, esa delicadeza de cosa vivida y después revivida,
    y no ese arrojo de los que no saben. No es exactamente
    tranquilidad lo que hay ahí. Hay una dura lucha de cosa
    que a pesar de estar corroída se mantiene allí, y en los colores más densos está la lividez de lo que incluso torcido
    se mantiene en pie. Sus cruces están torcidas por siglos de
    mortificación. ¿Son altares? Por lo menos el silencio del altar. El silencio de los portales. Lo verdoso adquiere el tono
    de algo que está entre la vida y la muerte, una intensidad
    de crepúsculo. Hay bronce viejo en los colores quietos, y
    acero; y todo ampliado por un silencio de cosas encontradas en el camino. Se siente un largo y polvoriento camino
    antes de llegar al cobijo del cuadro; de alguna manera éste
    es un cobijo, por fin, y acoge. Aunque los portales no se
    abran. ¿O ya es iglesia el portal de la iglesia, y ante él ya se
    ha llegado? Todavía falta la lucha para no traspasarlo. Y en
    ningún cuadro se dice: «iglesia». Son muros de un Cristo
    que está ausente, pero los muros están allí, y todo es tangible, finalmente tangible para quien viene de lejos. Porque
    es pintura tangible: las manos también la miran. El pintor
    crea el material antes de pintarlo, y la madera se vuelve tan
    imprescindible para su pintura como lo sería la madera
    para un escultor. Y el material creado es religioso: tiene
    el peso de las vigas de un convento. Es compacto, cerrado
    como una puerta cerrada. Pero en él se han rasgado aberturas, como desolladas por uñas. Y a través de esas brechas
    se ve lo que está dentro de una síntesis. Color coagulado,
    violencia, martirio son las vigas que sustentan el silencio de
    una simetría religiosa.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 19 Abr 2021, 07:21

    Los espejos

    ¿Qué es un espejo? No existe la palabra espejo, sólo espejos, porque uno solo es una infinidad de espejos. ¿En
    algún lugar del mundo hay una mina de espejos? No hacen
    falta muchos para tener una mina centelleante y sonámbula: bastan dos y uno refleja el reflejo de lo que el otro
    reflejó, con un temblor que se transmite como un mensaje intenso e insistente ad infinitum, liquidez en la que
    se puede sumergir la mano fascinada y retirarla goteando
    reflejos, los reflejos de esa agua dura. ¿Qué es un espejo?
    Como la bola de cristal de los videntes, me arrastra al vacío
    que para el vidente es su campo de meditación y para mí
    el campo de silencios y silencios. Ese vacío cristalizado que
    tiene dentro de sí espacio para seguir siempre adelante sin
    parar; porque el espejo es el espacio más profundo que
    existe. Y es algo mágico: quien tiene un trozo roto puede irse a meditar con él al desierto. De donde volvería también
    vacío, iluminado y translúcido, y con el mismo silencio vibrante de un espejo. Su forma no importa; ninguna forma consigue circunscribirlo y alterarlo, no existe un espejo
    cuadrangular o circular: un pequeño pedazo es siempre todo el espejo: se saca de su marco y crece como se derrama
    el agua. ¿Qué es un espejo? Es el único material inventado
    que es natural.
    Quien mira un espejo y consigue al mismo tiempo la
    independencia de sí mismo, quien consigue verlo sin verse,
    quien entiende que su profundidad consiste en que está
    vacío, quien camina hacia el interior de su espacio transparente sin dejar en él el vestigio de la propia imagen, ha
    entendido su misterio. Para eso hay que sorprenderlo en
    su soledad, cuando está colgado en un cuarto vacío, sin olvidar que la más fina aguja frente a él podría transformarlo
    en la imagen de una aguja.
    Debo de haber necesitado mi propia delicadeza para
    no atravesarlo con mi propia imagen, porque un espejo en
    el que me veo soy yo, pero el espejo vacío es realmente el
    espejo vivo. Sólo una persona muy delicada puede entrar
    en el cuarto vacío donde hay un espejo vacío, con una ligereza tal, con una ausencia de sí misma tal, que la imagen
    no se marque. Como premio, esa persona delicada habrá
    penetrado entonces en uno de los secretos inviolables de
    las cosas: he visto el espejo propiamente dicho.
    Y he descubierto los enormes espacios helados que tiene en sí, sólo interrumpidos por algún que otro bloque de
    hielo. En otro instante, éste muy infrecuente –y es necesario estar al acecho días y noches, ayunando de uno mismo,
    para poder captar ese instante–, en ese instante conseguí
    sorprender la sucesión de oscuridades que hay dentro de
    él. Después, sólo en blanco y negro, recobré también, con
    un escalofrío, una de sus verdades más difíciles: su gélido
    silencio sin color. Hay que entender la violenta ausencia de
    color de un espejo para poder recrearlo, como si se recrease la violenta ausencia de sabor del agua


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    Mensaje por Maria Lua Lun 19 Abr 2021, 07:23

    Felicidad clandestina

    Ella era gorda, baja, pecosa y de pelo excesivamente crespo, medio amarillento. Tenía un busto enorme, mientras que todas nosotras todavía éramos chatas. Como si no fuese suficiente, por encima del pecho se llenaba de caramelos los dos bolsillos de la blusa. Pero poseía lo que a cualquier niña devoradora de historietas le habría gustado tener: un padre dueño de una librería.
    No lo aprovechaba mucho. Y nosotras todavía menos: incluso para los cumpleaños, en vez de un librito barato por lo menos, nos entregaba una postal de la tienda del padre. Encima siempre era un paisaje de Recife, la ciudad donde vivíamos, con sus puentes más que vistos.
    Detrás escribía con letra elaboradísima palabras como "fecha natalicio" y "recuerdos".
    Pero qué talento tenía para la crueldad. Mientras haciendo barullo chupaba caramelos, toda ella era pura venganza. Cómo nos debía odiar esa niña a nosotras, que éramos imperdonablemente monas, altas, de cabello libre. Conmigo ejerció su sadismo con una serena ferocidad. En mi ansiedad por leer, yo no me daba cuenta de las humillaciones que me imponía: seguía pidiéndole prestados los libros que a ella no le interesaban.
    Hasta que le llegó el día magno de empezar a infligirme una tortura china. Como al pasar, me informó que tenía El reinado de Naricita, de Monteiro Lobato.
    Era un libro gordo, válgame Dios, era un libro para quedarse a vivir con él, para comer, para dormir con él. Y totalmente por encima de mis posibilidades. Me dijo que si al día siguiente pasaba por la casa de ella me lo prestaría.
    Hasta el día siguiente, de alegría, yo estuve transformada en la misma esperanza: no vivía, flotaba lentamente en un mar suave, las olas me transportaban de un lado a otro.
    Literalmente corriendo, al día siguiente fui a su casa. No vivía en un apartamento, como yo, sino en una casa. No me hizo pasar. Con la mirada fija en la mía, me dijo que le había prestado el libro a otra niña y que volviera a buscarlo al día siguiente. Boquiabierta, yo me fui despacio, pero al poco rato la esperanza había vuelto a apoderarse de mí por completo y ya caminaba por la calle a saltos, que era mi manera extraña de caminar por las calles de Recife. Esa vez no me caí: me guiaba la promesa del libro, llegaría el día siguiente, los siguientes serían después mi vida entera, me esperaba el amor por el mundo, y no me caí una sola vez.
    Pero las cosas no fueron tan sencillas. El plan secreto de la hija del dueño de la librería era sereno y diábolico. Al día siguiente allí estaba yo en la puerta de su casa, con una sonrisa y el corazón palpitante. Todo para oír la tranquila respuesta: que el libro no se hallaba aún en su poder, que volviese al día siguiente. Poco me imaginaba yo que más tarde, en el curso de la vida, el drama del "día siguiente" iba a repetirse para mi corazón palpitante otras veces como aquélla.
    Y así seguimos. ¿Cuánto tiempo? Yo iba a su casa todos los días, sin faltar ni uno. A veces ella decía: Pues el libro estuvo conmigo ayer por la tarde, pero como tú no has venido hasta esta mañana se lo presté a otra niña. Y yo, que era propensa a las ojeras, sentía cómo las ojeras se ahondaban bajo mis ojos sorprendidos.
    Hasta que un día, cuando yo estaba en la puerta de la casa de ella oyendo silenciosa, humildemente, su negativa, apareció la madre. Debía de extrañarle la presencia muda y cotidiana de esa niña en la puerta de su casa. Nos pidió explicaciones a las dos. Hubo una confusión silenciosa, entrecortado de palabras poco aclaratorias. A la señora le resultaba cada vez más extraño el hecho de no entender. Hasta que, madre buena, entendió a fin. Se volvió hacia la hija y con enorme sorpresa exclamó: ¡Pero si ese libro no ha salido nunca de casa y tú ni siquiera querías leerlo!
    Y lo peor para la mujer no era el descubrimiento de lo que pasaba. Debía de ser el horrorizado descubrimiento de la hija que tenía. Nos espiaba en silencio: la potencia de perversidad de su hija desconocida, la niña rubia de pie ante la puerta, exhausta, al viento de las calles de Recife. Fue entonces cuando, recobrándose al fin, firme y serena le ordenó a su hija: Vas a prestar ahora mismo ese libro. Y a mí: Y tú te quedas con el libro todo el tiempo que quieras.
    ¿Entendido? Eso era más valioso que si me hubiesen regalado el libro: "el tiempo que quieras" es todo lo que una persona, grande o pequeña, puede tener la osadía de querer.
    ¿Cómo contar lo que siguió? Yo estaba atontada y fue así como recibí el libro en la mano. Creo que no dije nada. Cogí el libro. No, no partí saltando como siempre. Me fui caminando muy despacio. Sé que sostenía el grueso libro con las dos manos, apretándolo contra el pecho. Poco importa también cuánto tardé en llegar a casa. Tenía el pecho caliente, el corazón pensativo.
    Al llegar a casa no empecé a leer. Simulaba que no lo tenía, únicamente para sentir después el sobresalto de tenerlo. Horas más tarde lo abrí, leí unas líneas maravillosas, volví a cerrarlo, me fui a pasear por la casa, lo postergué más aún yendo a comer pan con mantequilla, fingí no saber dónde había guardado el libro, lo encontraba, lo abría por unos instantes. Creaba los obstáculos más falsos para esa cosa clandestina que era la felicidad. Para mí la felicidad siempre habría de ser clandestina. Era como si yo lo presintiera. ¡Cuánto me demoré! Vivía en el aire... había en mí orgullo y pudor. Yo era una reina delicada.
    A veces me sentaba en la hamaca para balancearme con el libro abierto en el regazo, sin tocarlo, en un éxtasis purísimo. No era más una niña con un libro: era una mujer con su amante.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 19 Abr 2021, 07:24

    Clandestina felicidade

    Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

    Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".

    Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

    Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

    Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

    Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

    No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

    Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.

    E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

    Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

    Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

    E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

    Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

    Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

    Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

    Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.


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    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
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    Mensaje por Maria Lua Sáb 24 Abr 2021, 08:00

    En algún punto debe de haber un error:
    es que al escribir, por más que me
    exprese, tengo la sensación de nunca
    haberme expresado en verdad. A tal
    punto eso me desalienta que me parece,
    ahora, haber pasado a concentrarme más
    en querer expresarme que en la
    expresión misma. Sé que es una manía
    muy pasajera. Pero, de cualquier forma,
    intentaré lo siguiente: una especie de
    silencio. Aun cuando siga escribiendo,
    usaré el silencio. Y, si existiera lo que
    se llama expresión, que se exhale de lo
    que soy. Ya no va a ser más: «Me
    expreso, luego soy». Será: «Soy, luego
    soy».



    Descubrimientos.


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    y en ese vuelo y en ese sueño
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    Mensaje por Maria Lua Lun 26 Abr 2021, 10:08

    No se comprende la música, se la oye. Óyeme entonces con tu cuerpo entero. Cuando vengas a leerme preguntarás por qué no me restrinjo a la pintura y a mis exposiciones, ya que escribo tosco y sin orden. Es que ahora siento necesidad de palabras –y es nuevo para mí l oque escribo porque mi verdadera palabra ha sido hasta ahora intocada. La palabra es mi cuarta dimensión.


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    Mensaje por Maria Lua Vie 30 Abr 2021, 09:26

    Aun cuando siga escribiendo,
    usaré el silencio. Y, si existiera lo que
    se llama expresión, que se exhale de lo
    que soy. Ya no va a ser más: «Me
    expreso, luego soy». Será: «Soy, luego
    soy».

    Escribiendo, tengo observaciones
    por así decir pasivas,
    tan interiores que se escriben
    al mismo tiempo en que se sienten,
    casi sin lo que se llama proceso.
    Es por eso que en el escribir no elijo,
    no puedo multiplicarme en mil,
    me siento fatal a pesar de mí.





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    Mensaje por Maria Lua Vie 30 Abr 2021, 19:29

    Nueva era esta mía, y ya se me anuncia. ¿Tengo valor? Por ahora lo tengo: porque vengo de lo sufrido lejos, vengo del infierno del amor pero ahora estoy libre de ti. Vengo de lejos, de una fuerte ancestralidad. Yo, que vengo del dolor de vivir. Y ya no lo quiero. Quiero la vibración de lo alegre. Quiero la neutralidad de Mozart. Pero también quiero la inconsecuencia. ¿Libertad?, es mi último refugio, me he obligado a la libertad y la soporto no como un don sino con heroísmo: soy heroicamente libre. Y quiero la fluencia.


    Agua Viva


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    Mensaje por Maria Lua Dom 02 Mayo 2021, 06:17

    El secreto del éxito de Clarice Lispector, la escritora brasileña para la que “la realidad no tiene sinónimos”

    Evanildo da Silveira
    De Vera Cruz (RS) para BBC News Brasil


    Comparada con Virginia Woolf y James Joyce, es considerada hermética, permeada por la experimentación lingüística, entre líneas y "silencios".

    Sus tramas son prácticamente inexistentes y es conocida por sus rupturas de las reglas de puntuación, con una novela, por ejemplo, que comienza con una coma y termina con dos puntos.

    La obra de Clarice Lispector (1920-1977) no es fácil de leer.



    Vuelta al mundo


    Nacida en Chechelnyk, Ucrania, llegó a Brasil cuando era bebé, en 1922, con su familia que huyó debido a la persecución de los judíos después de la Revolución rusa de 1917.

    Los Lispector arribaron a Maceió, desde donde se trasladaron a Recife, en 1924, y de allí a Río de Janeiro, en 1935, ciudad donde se asentaron definitivamente.

    En Brasil, los miembros de la familia cambiaron sus nombres. El padre Pinkhas se convirtió en Pedro y la madre Marian, en Marieta. De las hijas, Lea pasó a llamarse Elisa; Tcharna, Tânia y ella, Chaya (o Haya), Clarice.

    Casada con un diplomático brasileño, la escritora vivió fuera del país de 1944 a 1959 (Italia, Suiza, Inglaterra y Estados Unidos). Cuando se separó, regresó a Brasil, donde vivió hasta su muerte, el 9 de diciembre de 1977, un día antes de cumplir 57 años.

    En relación a la obra de Clarice, Noeli Lisbôa, investigadora en Teorías del Texto y del Discurso en la Universidad Federal de Rio Grande do Sul (UFRGS), dice que en las novelas de Lispector prácticamente no hay trama.

    "En "Agua Viva" dice: 'el género ya no me atrapa', realmente rompe con la estructura de los géneros literarios", explicó Lisbôa.

    "Lo que realmente me interesa de Clarice es su cuestionamiento del lenguaje, de sus límites, de su incapacidad para expresar la experiencia humana. Hay dos frases que expresan esto: 'Vivir no es reportable' y 'La realidad no tiene sinónimos'.

    "Su obra me parece sumamente importante, porque es innovadora precisamente en este cuestionamiento que hace del lenguaje".

    Según Amaral, lo que destaca en la obra de Lispector es la interioridad de los personajes, sus movimientos de alienación y la búsqueda de la trascendencia.

    "La palabra 'Clariceano' quiere ser lo que representa, de ahí que el lenguaje esté impregnado de líneas, a través de las cuales se pretende ir más allá de lo que se dice", explicó a BBC News Brasil.

    "Es una literatura metalingüística, que se indaga mientras se realiza, conquistando tanto por el proceso de escribir como por el producto: el texto".

    Para Antônio Marcos Vieira Sanseverino, coordinador del Programa de Postgrado en Letras de la Universidad Federal de Rio de Jaineiro (UFRGS), en la obra de Lispector hay un giro hacia adentro, hacia la experiencia interior, hacia el impacto de las cosas del mundo en la subjetividad de sus personajes.

    "Tal experiencia interior, colocada de manera radical, es desagregadora, pues revela la extrañeza de cada uno, lo que no se corresponde con los roles sociales vividos en la rutina", explicó Vieira Sanseverino.

    "En Clarice, eso se ve en una experiencia del lenguaje, o la búsqueda de un lenguaje capaz de hacerse cargo de esta extrañeza".

    El profesor Arnaldo Franco Jr., de la Universidad Estadual Paulista (Unesp), señaló que Clarice Lispector se encuentra entre los grandes creadores del campo de la literatura.

    "Su obra, marcada por la hibridación de géneros, por la experimentación lingüística, por la afirmación de una óptica femenina, contribuyó a expandir los valores temático-formales del sistema literario brasileño".

    "Se puede decir que, a partir de la traducción de sus textos, también afectó a la literatura de otros países. Ella hizo una literatura que inquieta al lector, instalando una perspectiva crítica en relación a los esquemas, que alienan al ser humano del contacto vigoroso con si mismo, con el otro, con la vida ".

    Según el académico, quizás la gran marca de la obra de Clarice Lispector sea la afirmación de la libertad de crear sin subordinación a las normas, criterios y parámetros idealizados de lo que debería ser el texto literario.

    "Junto a esta afirmación, que afecta los planos temático y formal de su literatura, también existe una desconfianza permanente en relación al lenguaje, a los juegos de poder y jerarquías que se establecen entre el yo y el otro, a valores y prácticas idealizadas socialmente ", añadió.


    Leer todo el artículo:

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    Mensaje por Maria Lua Dom 02 Mayo 2021, 06:25

    Los nombres de Clarice Lispector


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    En los últimos años se han multiplicado las publicaciones –libros, artículos, tesis doctorales– sobre la obra de Clarice Lispector. La escritora brasileña cuenta con tres biografías, cada una de ellas ahondando más y más en sus orígenes, en su carácter, en la relación de sus libros con su periplo vital, en las anécdotas que cuentan de ella sus amigos, familiares y conocidos. Los lectores españoles que tengan interés en la vida de la escritora pueden consultar también el libro Ladrona de rosas, de Laura Freixas, que resume inteligentemente las tres biografías y apunta sensatos comentarios acerca de su personalidad, de la forma cómo abordó su feminidad, de su obra.

    En lo que se refiere a los trabajos críticos, hay tal variedad que se hace difícil clasificarlos. Desde los primeros estudios existencialistas o de la llamada «escritura femenina», tradición que inauguró la escritora Hélène Cixous, hasta los propios de la mística hebraica, cristiana e incluso zen, desde análisis psicoanalistas a trabajos de literatura comparada, la obra de Clarice Lispector ha sido susceptible de diferentes lecturas. Sus libros –novelas, cuentos, artículos y fragmentos– han sido interpretados siguiendo las coordenadas filosóficas de Nietzsche o de Benjamin, y se han comparado a los de escritoras y pensadoras como Teresa de Jesús o María Zambrano, como defiende en su libro Myriam Jiménez Quenguan, o a la luz del existencialismo sartriano, como expone Carolina Hernández Terrazas en su libro Clarice Lispector. La náusea literaria.

    ¿A qué se debe tal proliferación de textos, comentarios, análisis semánticos o académicos? ¿Cuál es el secreto de su obra? ¿Qué misterios encierra? El poeta Drummond de Andrade comentaba en su poema dedicado a la escritora que:

    Clarice

    vino de un misterio, partió para otro.

    Quedamos sin saber la esencia del misterio.

    O el misterio no era esencial,

    era Clarice viajando en él.

    Esta era, por lo general, la imagen de la escritora entre sus contemporáneos. Como fue también, según contaba Ángel Crespo, el comentario de la escritora Rosa Chacel tras su visita a la escritora en la década del sesenta del siglo pasado: «No se trata de una mujer», dijo, «es una pantera». Su misterio de felino, su belleza eslava, su atractivo personal son recordados por todos los que la conocieron. Luego se supo de sus orígenes judíos, de los pogromos que su familia sufrió antes de su nacimiento, de la parálisis de su madre, de la muerte prematura de sus padres y de su infancia pobre y oscura en la que se vio obligada a ser feliz, aunque esa felicidad fuera simulada como una dura máscara.

    Aquella infancia, aquel pasado remoto que ella no conoció y del que tuvo conocimiento a través de sus hermanas y de los comentarios de su padre, se reflejan en una obra que hace de lo oculto, del secreto y del silencio un edificio literario y, posiblemente, un templo. En ese pasado remoto estaba escondido su nombre originario, que no era Clarice, sino Haia o Chaya, según se quieran transcribir los caracteres hebraicos. Chaya, en yidddish, significa vida, aunque también tenga la connotación de animal. Y ciertamente las reflexiones más profundas, más intensas de su obra, versan sobre la vida, Un soplo de vida es el título de su última y póstuma narración, así como la materia sobre la que reflexionan las protagonistas de Agua Viva, de La pasión según G.H., de tantos cuentos y fragmentos de su obra. También hallaremos en sus libros numerosas referencias a los animales: «A veces me electrizo al ver a un bicho. Ahora estoy oyendo el grito ancestral dentro de mí: parece que no sé quien es más criatura, si yo o el animal. Y me confundo completamente», escribe en Agua viva.

    Pero, según el Levítico, no todos los animales son similares, pues hay que distinguir los puros de los impuros, y ambas clases de bichos están descritos con intenso apasionamiento en la obra de la escritora brasileña. Los caballos con su fuerza salvaje, su ímpetu, su orgullo vital, se encuentran en novelas como La ciudad sitiada, en su cuento «Seco estudio de caballos», de su libro Felicidad clandestina, así como en otros muchos escritos literarios o periodísticos. Lo mismo puede decirse de las gallinas, de las que Clarice decía conocer su vida interior, cuyas historias se cuentan en diversos relatos y en cuentos infantiles como «La vida íntima de Laura» hasta desembocar en un texto, ¿ficción o ensayo?, como «El huevo y la gallina», reproducido en su libro La legión extranjera.Curiosamente escogería este texto para ser leído en el Congreso de Brujería en Bogotá al que fue invitada en agosto de 1975. Lo mismo podría decirse de los conejos, del búfalo y hasta de su propia mascota, el perro Ulises, que aparecerá retratado en sus últimas obras. De los animales impuros quizás el más significativo sea la cucaracha, que adquiere un protagonismo inquietante en La pasión según G.H. El interior blanco, insaboro, nauseabundo de este insecto será ingerido por la protagonista de la novela transgrediendo así tanto la tradición cristiana como la judía.

    En el cristianismo la comunión es un sacramento en el que se ingiere el cuerpo de Cristo, simbolizado por una forma de pan ácimo, que por su color, densidad y sabor se asemeja a la pasta «fofa y blanca» de la entraña de la cucaracha, tal como la describe la narradora y protagonista de la novela, y que supone su forma de entrada al núcleo neutro de la vida. Pero también, como explica el personaje que se identifica con las iniciales G.H., «hice el acto prohibido de tocar lo que es inmundo», citando la Biblia que prohíbe comer los bichos abominables que andan sobre cuatro patas y son alados. En esta novela, que su autora consideraba la más importante de las que había escrito, también se aborda el significado de la vida, su sentido más profundo, aquel que se remonta al origen de los orígenes, que representa el insecto, pues es anterior a lo humano y, posiblemente, sobrevivirá al hombre con sus capas y capas sólidas, finas como las de una cebolla, que pudieran ser alas endurecidas, que ya no sirven para volar, sino para encerrarlo en una coraza dura e impenetrable. La entraña de la cucaracha es blanca como el semen, «en lo neutro del semen está inherente el ritual de la vida», no tiene sabor y es nauseabundo, pero integrarlo en nuestro organismo supone un acto de humildad y de celebración religiosa, que la narradora expresa en la última frase del libro: «la vida se me es, y no entiendo lo que digo. Y entonces adoro».

    Clarice Lispector

    A la preocupación por lo trascendente se une en la obra de Lispector una sensibilidad plenamente femenina: la mayoría de los personajes de sus cuentos y novelas son mujeres, que lidian con sus maridos y sus amantes, con las limitaciones de la vida cotidiana, con su condición de amas de casa, madres o esposas en su intento de conseguir una autonomía personal que no siempre pueden alcanzar. De alguna forma, esta actitud entre beligerante y sumisa se puede encontrar en algunos cuentos del libro Lazos de familia y, concretamente, en el relato que lleva ese mismo título. Por su parte, la propia escritora demostró esta lucha por la independencia de la mujer y por su desarrollo intelectual al separarse de su marido e irse a Río de Janeiro con sus hijos. En Brasil, a finales de los años cincuenta, cuando esto ocurrió, esta conducta se consideraba una insensatez: las mujeres podían, en todo caso, irse con otro hombre, pero nunca abandonaban a su marido por cuestiones profesionales y optaban por vivir solas.

    A la rebeldía personal de Clarice se une su reivindicación de una temática en sus novelas y cuentos ajena a los patrones y coordenadas literarias de su tiempo. Lispector es contemporánea de Jorge Amado y de João Guimarães Rosa, tan distintos en sus planteamientos narrativos como en sus estilos, pero ambos epígonos de la novela regionalista con historias con principio, desarrollo y final. Ningún otro escritor o escritora de su generación se había atrevido a escribir novelas o ficciones que no tuvieran argumento, o que éste fuera tan enclenque como el de una mujer que come una cucaracha, o una pintora que intenta atrapar el instante en sus cuadros y con su voz, tal como cuenta en primera persona la protagonista de Agua viva. Sus novelas y cuentos están hechos de impresiones, de sensaciones, de sentimientos, que cualquier anécdota de la vida cotidiana puede provocar. La escritora, que residió en diferentes ciudades europeas y en Washington, cuando fue la mujer de un diplomático, no nos ofrece novelas de viajes, ni historias mejor o peor armadas que hubiese podido conocer como ciudadana del mundo. Se tratan de anécdotas como las descritas o de historias aparentemente intrascendentes: una mujer que se encuentra con un mendigo que mastica chicle, una esposa que aguarda a su marido y queda atrapada por el encanto de unas rosas silvestres, un huevo en la mesa de la cocina, el encuentro de dos mujeres en un tren. Cualquiera de estos temas le sirve como asunto de un cuento como las simples impresiones le servían para organizar obras de ficción como Agua viva o Un soplo de vida.

    Sus cuentos describen, dentro de su variedad, una anécdota vital que muchas veces puede quedar inconclusa, pues a una sensación sucede otra como ondas en la inmensidad de una vida humana. Sin embargo, sus novelas se podrían dividir no temática, pero si formalmente en dos grandes bloques narrativos que coinciden además con su peripecia vital. El primero iría desde su primera novela, Cerca del corazón salvaje, que se publicó cuando acababa de casarse, hasta La manzana en la oscuridad, que sería editada poco después de su separación. El segundo bloque se iniciaría con La pasión según G.H. y concluiría con su novela póstuma Un soplo de vida. Estas dos etapas lo son en función a los esfuerzos por dar una coherencia a sus narraciones como sucede en sus primeras novelas o en el abandono definitivo de semejante pretensión en las últimas.

    De todos modos, esta división, como suele suceder con las clasificaciones literarias, no es totalmente exacta, pues ninguna de las novelas de la primera etapa es realmente coherente, ya que no es susceptible de ser leída como una narración habitual. Tal vez la que más se acerque a esta concepción narrativa decimonónica sea La manzana en la oscuridad, pero es tan endeble su argumento –un hombre que, al parecer, ha asesinado a su mujer, debe asumir su culpa y es, poco antes de concluirse la narración, detenido por la policía, aunque, finalmente, se descubra que tal crimen nunca se ha producido– que no justifica las más de trescientas páginas del texto. No son por tanto novelas propiamente dichas, sino narraciones que, ya en su segunda etapa, se desvinculan de todo tratamiento habitual de una novela con principio y final. G.H. cuenta su experiencia de comer la entraña de una cucaracha, pero lo que realmente quiere describir es su desorganización psicológica y mental, su caída en lo neutro del ser, su extraña forma de religiosidad, de adoración a una divinidad desconocida. No es tampoco una novela propiamente dicha.

    Sin embargo, en la novela que se publicó poco antes de su muerte, La hora de la estrella, vuelve a insistir en la creación de una historia narrativa. La escritora brasileña quiere contar la vida de una emigrante que llega de Recife, una ciudad del noreste brasileño, a la cosmopolita Río de Janeiro. Para urdir la historia de Macabea, la protagonista, se inventa un autor, Rodrigo S.M., de modo que su real autora –Clarice Lispector– pueda desdoblarse en su papel de escritor y personaje. Macabea tiene mucho que ver con Clarice: ambas emigraron a la gran ciudad que era Río desde la provinciana Recife, las dos llegaron sin medios económicos y comenzaron a trabajar como dactilógrafas. Clarice Lispector rápidamente se hizo un nombre como periodista, autora de relatos y sorprendió a la crítica con su primera novela. Macabea se queda en dactilógrafa sin otro oficio ni ambición. Pero el personaje del narrador también tiene que lidiar, como la novelista, con la escritura y sus dificultades, sus riesgos, sus extraños hallazgos. Al final, los personajes parecen ser reflejos de un mismo cuerpo en espejos opuestos. La infinitud de imágenes vuelve a representar la continuidad de una vida que, como sucedía con el relato de G.H., nunca acaba y es inútil, sin sabor, como un vacío imposible de llenar. En cierto momento Macabea, en cuyo nombre resuena la heroica lucha de los judíos palestinos contra los seleúcidas recogida en la Biblia, trata de explicar a su novio que no sabe bien quien es, a lo que éste le pregunta:

    –Pero sabes que te llamas Macabea, ¿al menos eso?

    –Es verdad. Pero no sé lo que está dentro de mi nombre.

    Nuevamente nos encontramos con el nombre. En el caso de este personaje, reflejo de su autora, sabemos que tiene un nombre, pero sin nada dentro, si no es a una mujer que se desconoce a sí misma: es una máscara vacía. Como el nombre oculto de la escritora brasileña –Haia o Chaya– que no puede decirse, pues ha sido transformado en otro que será el que use para vivir e integrarse en el mundo, para pertenecer a un grupo, a un país, a una literatura. Cuenta su biógrafo Benjamin Moser que a lo largo de su vida Clarice fantaseó acerca del significado de su apellido Lispector. Decía que podría ser latino y derivar de los términos lis, lirio, flor de lis, y pector, pecho. Sólo así tendría sentido una de las últimas anotaciones de la escritora poco antes de morir:

    Soy un objeto querido por Dios. Y eso hace que me nazcan flores en el pecho. Él me creó igual que lo que escribí ahora: «Soy un objeto querido por Dios» y a él le gustó haberme creado como a mí me gustó haber creado la frase. Y cuanto más espíritu tenga el objeto humano más se satisface Dios.

    Lirios blancos recostados en el pecho desnudo. Lirios que ofrezco a lo que está doliendo en ti.

    Posiblemente habría asumido en ese momento su vida con todos sus secretos de una niña judía, con todo el peso de las persecuciones, de la oculta sabiduría que sólo puede encontrarse en el corazón humano. Un corazón que es también un templo, como enseñan los hasídim, que vivieron en las tierras en las que nació la escritora más misteriosa de las letras brasileñas y autora de una de las obras más abiertas de toda su literatura.

    _____________________

    Antonio Maura (Bilbao, 1953), licenciado en Filosofía y en Periodismo, es doctor en Filología Románica por la Universidad Complutense de Madrid con la tesis El discurso narrativo de Clarice Lispector. Entre 2005 y 2009 ha sido director de la Cátedra de Estudios Brasileños en dicha Universidad. Ha coordinado diversas revistas sobre cultura brasileña como El Paseante, El Urogallo y Revista de Cultura Brasileña. Es el único miembro español de la Academia Brasileña de Letras y ha recibido la medalla de la Ordem do Rio Branco (1997) concedida por el Ministerio de Asuntos Exteriores de Brasil, el premio Os Melhores de 1996, de la Associação de Críticos de Arte de São Paulo a la mejor divulgación en el exterior de la literatura brasileña, y el premio Machado de Assis (1993) por su labor en favor de la cultura brasileña. Ha publicado cerca de un centenar de artículos y trabajos de investigación sobre temas brasileños, y libros de creación como Piedra y cenizas, Voz de humo (Premio Castilla-La Mancha de Novela Corta en 1989), Ayno y Semilla de eternidad.



    POR ANTONIO MAURA




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    Mensaje por Maria Lua Dom 02 Mayo 2021, 07:46

    La mujer más pequeña del mundo, un cuento de Clarice Lispector





    En las profundidades del África Ecuatorial, el explorador francés Marcel Petre, cazador y hombre de mundo, se encontró con una tribu de pigmeos de una pequeñez sorprendente. Más sorprendido, pues, quedó al ser informado de que un pueblo de tamaño aún menor existía más allá de florestas y distancias. Entonces, él se adentró aún más.

    En el Congo Central descubrió, realmente, a los pigmeos más pequeños del mundo. Y —como una caja dentro de otra caja, dentro de otra caja— entre los pigmeos más pequeños del mundo estaba el más pequeño de ellos, obedeciendo, tal vez, a una necesidad que a veces tiene la naturaleza de excederse a sí misma.

    Entre mosquitos y árboles tibios de humedad, entre las hojas ricas de un verde más perezoso, Marcel Petre se topó con una mujer de cuarenta y cinco centímetros, madura, negra, callada. «Oscura como un mono», informaría él a la prensa, y que vivía en la copa de un árbol con su pequeño concubino. Entre los tibios humores silvestres, que temprano redondean los frutos y les dan una casi intolerable dulzura al paladar, ella estaba embarazada.

    Allí en pie estaba, pues, la mujer más pequeña del mundo. Por un instante, en el zumbido del calor, fue como si el francés hubiese, inesperadamente, llegado a la conclusión última. Con certeza, solo por no ser loco, es que su alma no desvarió ni perdió los límites. Sintiendo la necesidad inmediata de orden y de dar nombre a lo que existe, la apellidó Pequeña Flor. Y para conseguir clasificarla entre las realidades reconocibles, pasó enseguida a recoger datos relacionados con ella.

    Su raza está, poco a poco, siendo exterminada. Pocos ejemplares humanos restan de esa especie que, si no fuera por el disimulado peligro de África, sería un pueblo muy numeroso. A más de la enfermedad, el infectado hálito de aguas, la comida deficiente y las fieras que rondan, el gran riesgo para los escasos likoualas está en los salvajes bantúes, amenaza que los rodea en silencioso aire como en madrugada de batalla. Los bantúes los cazan con redes, como lo hacen con los monos. Y los comen. Así, tal como se oye: los cazan con redes y los comen. La pequeña raza de gente, siempre retrocediendo y retrocediendo, terminó acuartelándose en el corazón del África, donde el afortunado explorador la descubriría. Por defensa estratégica, habitan en los árboles más altos. De allí descienden las mujeres para cocinar maíz, moler mandioca y cosechar verduras; los hombres, para cazar. Cuando un hijo nace, se le da libertad casi inmediatamente. Es verdad que, muchas veces, la criatura no aprovechará por mucho tiempo de esa libertad entre fieras. Pero también es verdad que, por lo menos, no lamentará que, para tan corta vida, largo haya sido el trabajo. Incluso el lenguaje que la criatura aprende es breve y simple, apenas esencial. Los likoualas usan pocos nombres, llaman a las cosas por gestos y sonidos animales. Como avance espiritual, tienen un tambor. Mientras bailan al son del tambor, mantienen una pequeña hacha de guardia contra los bantúes, que aparecerán no se sabe de dónde.

    Fue así, pues, que el explorador descubrió, toda en pie y a sus pies, la cosa humana más pequeña que existe. Su corazón latió, porque esmeralda ninguna es tan rara. Ni las enseñanzas de los sabios de la India son tan raras. Ni el hombre más rico del mundo puso ya sus ojos sobre tan extraña gracia. Allí estaba una mujer que la golosina del más fino sueño jamás pudiera imaginar. Fue entonces que el explorador, tímidamente, y con una delicadeza de sentimientos de la que su esposa jamás lo juzgaría capaz, dijo:

    —Tú eres Pequeña Flor.

    En ese instante, Pequeña Flor se rascó donde una persona no se rasca. El explorador —como si estuviese recibiendo el más alto premio de castidad al que un hombre, siempre tan idealista, osara aspirar—, tan vivido, desvió los ojos.

    La fotografía de Pequeña Flor fue publicada en el suplemento a colores de los diarios del domingo, donde cupo en tamaño natural. Envuelta en un paño, con la barriga en estado adelantada, la nariz chata, la cara negra, los ojos hondos, los pies planos. Parecía un perro.

    En ese domingo, en un departamento, una mujer, al mirar en el diario abierto el retrato de Pequeña Flor, no quiso mirarlo una segunda vez «porque me da aflicción».

    En otro departamento, una señora sintió tan perversa ternura por la pequeñez de la mujer africana que —siendo mucho mejor prevenir que remediar— jamás se debería dejar a Pequeña Flor a solas con la ternura de aquella señora. ¡Quién sabe a qué oscuridad de amor puede llegar el cariño! La señora pasó el día perturbada, se diría que poseída por la nostalgia. A propósito, era primavera, una bondad peligrosa rondaba en el aire.

    En otra casa, una niña de cinco años, viendo el retrato y escuchando los comentarios, quedó espantada. En aquella casa de adultos, esa niña había sido hasta ahora el más pequeño de los seres humanos. Y si eso era fuente de las mejores caricias, era también fuente de este primer miedo al amor tirano. La existencia de Pequeña Flor llevó a la niña a sentir —con una vaguedad que solo años y años después, por motivos bien distintos, habría de concretarse en pensamiento—, en una primera sabiduría, que «la desgracia no tiene límites».

    En otra casa, en la consagración de la primavera, una joven novia tuvo un éxtasis de piedad:

    —¡Mamá, mira el retratito de ella, pobrecita!, ¡mira como ella es tristecita!

    —Pero —dijo la madre, dura, derrotada y orgullosa—, pero es tristeza de bicho, no es tristeza humana.

    —¡Oh, mamá! —dijo la joven desanimada.

    En otra casa, un niño muy despierto tuvo una idea inteligente:

    —Mamá, ¿y si yo colocara esa mujercita africana en la cama de Pablito mientras él está durmiendo? Cuando despierte, qué susto, ¿eh? ¡Qué griterío, viéndola sentada en su cama! Y nosotros, entonces, podríamos jugar tanto con ella, haríamos de ella nuestro juguete, ¿sí?

    La madre de este niño estaba en ese instante enrollando sus cabellos frente al espejo del baño y recordó lo que una cocinera le contara de su tiempo de orfanato. Al no tener una muñeca con qué jugar, y ya la maternidad pulsando terrible en el corazón de las huérfanas, las niñas más despiertas habían escondido de la monja la muerte de una de las chicas. Guardaron el cadáver en un armario hasta que salió la monja, y jugaron con la niña muerta, le dieron baños y comiditas, le impusieron un castigo solamente para después poder besarla, consolándola. De eso se acordó la madre en el baño y dejó caer las manos, llenas de horquillas. Y consideró la cruel necesidad de amar. Consideró la malignidad de nuestro deseo de ser felices. Consideró la ferocidad con que queremos jugar. Y el número de veces en que habremos de matar por amor. Entonces, miró al hijo sagaz como si mirase a un peligroso desconocido. Y sintió horror de su propia alma que, más que su cuerpo, había engendrado a aquel ser apto para la vida y para la felicidad. Así fue que miró ella, con mucha atención y un orgullo incómodo, a aquel niño que ya estaba sin los dos dientes de adelante: la evolución, la evolución haciéndose diente que cae para que nazca otro, el que muerda mejor. «Voy a comprar una ropa nueva para él», resolvió, mirándolo, absorta. Obstinadamente adornaba al hijo desdentado con ropas finas, obstinadamente lo quería bien limpio, como si la limpieza diera énfasis a una superficialidad tranquilizadora, obstinadamente perfeccionando el lado cortés de la belleza. Obstinadamente apartándose y apartándolo de algo que debía ser «oscuro como un mono». Entonces, mirando al espejo del baño, la madre sonrió intencionadamente fina y pulida, colocando entre aquel su rostro de líneas abstractas y la cruda cara de Pequeña Flor, la distancia insuperable de milenios. Pero, con años de práctica, sabía que este sería un domingo en el que tendría que disfrazar de sí misma la ansiedad, el sueño y los milenios perdidos.

    En otra casa, junto a una pared, se dieron al trabajo alborotado de calcular, con cinta métrica, los cuarenta y cinco centímetros de Pequeña Flor. Y fue allí mismo donde, deleitados, se espantaron: ella era aún más pequeña de lo que el más agudo en imaginación la inventaría. En el corazón de cada uno de los miembros de la familia nació, nostálgico, el deseo de tener para sí aquella cosa menuda e indomable, aquella cosa salvada de ser comida, aquella fuente permanente de caridad. El alma ávida de la familia quería consagrarse. Y, entonces, ¿quién ya no deseó poseer un ser humano solo para sí? Lo que es verdad no siempre sería cómodo, hay horas en que no se quiere tener sentimientos:

    —Apuesto a que si ella viviera aquí, terminaba en pelea —dijo el padre sentado en la poltrona, virando definitivamente la página del diario—. En esta casa todo termina en pelea.

    —Tú, José, siempre pesimista —dijo la madre.

    —¿Ya has pensado, mamá, de qué tamaño será el bebé de ella? —dijo ardiente la hija mayor, de trece años.

    El padre se movió detrás del diario.

    —Debe ser el bebé negro más pequeño del mundo —contestó la madre, derritiéndose de gusto—. ¡Imaginadla a ella sirviendo a la mesa aquí en casa! ¡Y con la barriguita grande!

    —¡Basta de esas conversaciones! —dijo confusamente el padre.

    —Tú has de concordar —dijo la madre inesperadamente ofendida— que se trata de una cosa rara. Tú eres el insensible.

    ¿Y la propia cosa rara?

    Mientras tanto, en África, la propia cosa rara tenía en el corazón —quién sabe si también negro, pues en una naturaleza que se equivocó una vez ya no se puede confiar más—, algo más raro todavía, algo como el secreto del propio secreto: un hijo mínimo. Metódicamente, el explorador examinó, con la mirada, la barriguita madura del más pequeño ser humano. Fue en ese instante que el explorador, por primera vez desde que la conoció, en lugar de sentir curiosidad o exaltación o victoria o espíritu científico, sintió malestar.

    Es que la mujer más pequeña del mundo estaba riendo.

    Estaba riéndose, cálida, cálida. Pequeña Flor estaba gozando de la vida. La propia cosa rara estaba teniendo la inefable sensación de no haber sido comida todavía. No haber sido comida era algo que, en otras horas, le daba a ella el ágil impulso de saltar de rama en rama.

    Pero, en este momento de tranquilidad, entre las espesas hojas del Congo Central, ella no estaba aplicando ese impulso a una acción —y el impulso se había concentrado todo en la propia pequeñez de la propia cosa rara—. Y entonces ella se reía. Era una risa de quien no habla pero ríe. El explorador incómodo no consiguió clasificar esa risa, y ella continuó disfrutando de su propia risa apacible, ella que no estaba siendo devorada. No ser devorado es el sentimiento más perfecto. No ser devorado es el objetivo secreto de toda una vida. En tanto ella no estaba siendo comida, su risa bestial era tan delicada como es delicada la alegría. El explorador estaba perturbado.

    En segundo lugar, si la propia cosa rara estaba riendo era porque, dentro de su pequeñez, una gran oscuridad se había puesto en movimiento.

    Es que la propia cosa rara sentía el pecho tibio de aquello que se puede llamar Amor. Ella amaba a aquel explorador amarillo. Si supiera hablar y le dijese que lo amaba, él se inflaría de vanidad. Vanidad que disminuiría cuando ella añadiera que también amaba mucho el anillo del explorador y que amaba mucho la bota del explorador. Y cuando este se sintiera desinflado, Pequeña Flor no entendería por qué. Pues, ni de lejos, su amor por el explorador —puédese incluso decir su «profundo amor», porque, no teniendo otros recursos, ella estaba reducida a la profundidad—, habría de quedarse desvalorizado por el hecho de que ella también amaba su bota. Hay un viejo equívoco sobre la palabra amor y, si muchos hijos nacen de ese equívoco, muchos otros perdieron la única posibilidad de nacer solamente por causa de una susceptibilidad que exige que sea de mí, ¡de mí!, que el otro guste. Pero en la humedad de la floresta no existen esos refinamientos crueles y amor es no ser comido, amor es hallar bonita una bota, amor es gustar del color raro de un hombre que no es negro, amor es reír del amor a un anillo que brilla. Pequeña Flor guiñaba sus ojos de amor y rió, cálida, pequeña, grávida, cálida.

    El explorador intentó sonreírle en retribución, sin saber exactamente a qué abismo su sonrisa contestaba, y entonces se perturbó como solamente un hombre de tamaño grande se perturba. Disfrazó, acomodando mejor su sombrero de explorador, y enrojeció púdico. Se tornó de un color lindo, el suyo, de un rosa-verdoso, como el de un limón de madrugada. Él debía de ser agrio.

    Fue, probablemente, al acomodar el casco simbólico cuando el explorador se llamó al orden, recuperó con severidad la disciplina de trabajo y recomenzó a hacer anotaciones. Había aprendido a entender algunas de las pocas palabras articuladas de la tribu y a interpretar sus señales. Ya lograba hacer preguntas.

    Pequeña Flor le respondió que «sí». Que era muy bueno tener un árbol para vivir, suyo, suyo mismo. Pues —y eso ella no lo dijo, pero sus ojos se tornaron tan oscuros que ellos lo dijeron—, es bueno poseer, es bueno poseer, es bueno poseer. El explorador pestañeó varias veces.

    Marcel Petre tuvo varios momentos difíciles consigo mismo. Pero, al menos, pudo ocuparse de tomar notas. Quien no tomó notas, tuvo que arreglarse como pudo:

    —Pues mire —declaró de repente una vieja cerrando con decisión el diario—, yo solo le digo una cosa: Dios sabe lo que hace.





    —————————————

    Autora: Clarice Lispector. Traductora: Elena Losada. Título: Todos los cuentos. Editorial: Siruela. Venta: Amazon, Fnac y Casa del Libro.



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    Mensaje por Maria Lua Lun 03 Mayo 2021, 20:23

    Pero el instante-ya es una luciérnaga que se enciende
    y se apaga. El presente es el instante en que la rueda
    de un automóvil a gran velocidad toca mínimamente el
    suelo. Y la parte de la rueda que aún no lo ha tocado,
    lo tocará en un futuro inmediato que absorbe el instante
    presente y hace de él pasado. Yo, viva y centelleante
    como los instantes, me enciendo y me apago, me enciendo
    y me apago, me enciendo y me apago. Pero aquello
    que capto en mí tiene, ahora que está siendo transpuesto
    a la escritura, la desesperación de que las palabras ocupen
    más instantes que la mirada. Más que un instante
    quiero su fluencia.

    Agua Viva.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 10 Mayo 2021, 09:19

    La mudez del conejo, su modo de comer rapidito-rapidito las zanahorias, su desinhibida relación sexual tan frecuente como veloz —no sé por qué encuentro esas relaciones mutuas de los conejos de una gran futilidad, no parecen tener raíces profundas. El conejo me provoca un vacío
    meditativo: es que simplemente nada tengo que ver con él,


    Revelacion de un mundo


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    Mensaje por Maria Lua Miér 19 Mayo 2021, 07:10

    Pero el instante-ya es una luciérnaga que se enciende

    y se apaga. El presente es el instante en que la rueda

    de un automóvil a gran velocidad toca mínimamente el

    suelo. Y la parte de la rueda que aún no lo ha tocado,

    lo tocará en un futuro inmediato que absorbe el instante

    presente y hace de él pasado. Yo, viva y centelleante

    como los instantes, me enciendo y me apago, me enciendo

    y me apago, me enciendo y me apago. Pero aquello

    que capto en mí tiene, ahora que está siendo transpuesto

    a la escritura, la desesperación de que las palabras ocupen

    más instantes que la mirada. Más que un instante

    quiero su fluencia.




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    Mensaje por Maria Lua Jue 20 Mayo 2021, 07:02

    “Todos aquellos que hicieron grandes cosas las hicieron para salir de una dificultad, de un callejón sin salida.” Traduzco esto del francés, frase encontrada en un antiguo cuaderno de notas. Pero, ¿quién escribió esto?; ¿cuándo? No importa, es una verdad de vida y muchos podrían haberla escrito."

    Cuaderno de notas


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    Mensaje por Maria Lua Jue 20 Mayo 2021, 07:03

    Nueva era esta mía, y ya se me anuncia. ¿Tengo valor? Por ahora lo tengo: porque vengo de lo sufrido lejos, vengo del infierno del amor pero ahora estoy libre de ti. Vengo de lejos, de una fuerte ancestralidad. Yo, que vengo del dolor de vivir. Y ya no lo quiero. Quiero la vibración de lo alegre. Quiero la neutralidad de Mozart. Pero también quiero la inconsecuencia. ¿Libertad?, es mi último refugio, me he obligado a la libertad y la soporto no como un don sino con heroísmo: soy heroicamente libre. Y quiero la fluencia.

    Agua Viva


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    Mensaje por Maria Lua Jue 20 Mayo 2021, 07:06

    "E ter a obrigação de ser o que se chama de apresentável me irrita. Por que não posso andar em trapos, como homens que às vezes vejo na rua com barba até o peito e uma bíblia na mão, esses deuses que fizeram da loucura um meio de entender? E por que, só porque eu escrevi, pensam que tenho que continuar a escrever? Avisei a meus filhos que amanheci em cólera, e que eles não ligassem. Mas eu quero ligar. Quereria fazer alguma coisa definitiva que rebentasse com o tendão tenso que sustenta meu coração.

    E os que desistem? Conheço uma mulher que desistiu. E vive razoavelmente bem: o sistema que arranjou para viver é ocupar-se. Nenhuma ocupação lhe agrada. Nada do que eu já fiz me agrada. E o que eu fiz com amor estraçalhou-se. Nem amar eu sabia, nem amar eu sabia. E criaram o Dia dos Analfabetos. Só li a manchete, recusei-me a ler o texto. Recuso-me a ler o texto do mundo, as manchetes já me deixam em cólera. E comemora-se muito. E guerreia-se o tempo todo. Todo um mundo de semiparalíticos. E espera-se
    inutilmente o milagre. E quem não espera o milagre está ainda pior, ainda mais jarros precisaria quebrar. E as igrejas estão cheias dos que temem a cólera de Deus. E dos que pedem a graça, que seria o contrário da cólera.
    "


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 19 Jun 2021, 11:10

    "Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca." (Clarice Lispector )

    "Amar a los otros es la única salvación individual que conozco: nadie estará perdido si da amor y a veces recibe amor a cambio". (Clarice Lispector)


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    Mensaje por Maria Lua Miér 29 Sep 2021, 05:40


    Dar la mano a alguien ha sido siempre lo que esperé de la alegría. Muchas veces, antes de dormirme –en esa pequeña lucha por no perder la conciencia y entrar en un mundo más vasto–, muchas veces, antes de tener el valor de embarcarme en el gran viaje del sueño, finjo que alguien me tiende la mano y entonces avanzo, avanzo hacia la enorme ausencia de forma que es el sueño. E incluso cuando, así acompañada, me falta la valentía, entonces sueño.




    Del libro: La Pasión según G.H.





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    Mensaje por Maria Lua Lun 04 Oct 2021, 08:06

    Estamos sentados cerca y mirando distraidos. Y entonces ellas indolentes se van abriendo y se entregan a la nueva estación bajo nuestra mirada maravillada; es la primavera que se instala.
    Pero cuando viene el invierno yo doy y doy y doy. Regalo mucho. Acojo camadas de personas en mi pecho tibio. Y se oye el ruido de quien toma sopa caliente. Vivo ahora días de lluvia; ya se acerca mi tiempo de dar.



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    Mensaje por Maria Lua Lun 04 Oct 2021, 08:07

    Siento que hay tantas cosas sobre las que escribir. ¿Por qué no? ¿Qué me lo impide? La exigüidad del tema, tal vez, que haría que se agotase en una palabra, en una línea. A veces es el horror de tocar una palabra que desencadenaría otras miles, éstas no deseadas. Sin embargo, el impulso de escribir. El impulso puro, incluso sin tema. Como si tuviese un lienzo, los pinceles y los colores y me faltase un grito de libertad, o la mudez esencial que es necesaria para que se digan ciertas cosas. A veces mi mudez hace que busque a las personas que, sin ellas saberlo, me darán la palabra-clave. Pero ¿quién? ¿Quién me obliga a escribir? El misterio es ése: nadie, y sin embargo la fuerza me impele.


    Aprendiendo a vivir.


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